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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

30.— Duas palavras-chave “artificial”/”maior”

ANO
 11
A bordo do Vision of the seas
FÉRIAS 17/24
EDIÇÃO
 326


Em Dubai, de onde escrevo esta edição, começa a segunda-feira. Vou agendar a blogada para entrar em circulação, dentro de seis horas, quando começará a segunda-feira no Brasil, para os que estão na zona territorial do horário de Brasília.
O cruzeiro está terminando. Às 23h já foram levadas nossas malas. No começo da madrugada, ao amanhecer, após o café, será nosso turno para deixar o Vision of the seas, que por uma semana foi nossa referência residencial. Não é muito trivial, saber que da cabine 8543 não veremos mais as águas azuis esverdeadas do Golfo Pérsico e que não acompanharemos mais o balé de centena de pássaros que voavam, nadava e pescavam aos nossos olhos.
Está noite o clima era de despedida. As pessoas pareciam simultaneamente mais tristes e mais alegres. Os tripulantes, que vivem rituais de despedidas a cada semana, pareciam que experimentavam despedidas pela vez primeira. Nós passageiros, alguns já com muitos cruzeiros, se assemelhavam a Gelsa e a mim, estreantes na gostosa maneira de fazer turismos, vez ou outra secamos lágrimas incontidas.
Houve desfiles, bailes, orquestras mais dolentes, discursos, abraços, beijos, acenos de mãos contidos e organização de grupos no Whatsapp. Dar um tchau ao indiano Willy Fernandes, que a cada noite preparava nossa cama adornando-a com uma escultura diferente feita com toalhas de banho, dizer para a queniana Carolynne o quanto ela foi querida conosco nas atenções nos jantares festivos no Aquarium ou agradecer montenegrino Artan as sugestões de pratos especiais foi algo muito saboroso. Refiro apenas três entre as dezenas de mulheres e homens que nos serviram a quem distribuímos muitos ‘chogrun’ (o muito obrigado árabe). Há muito a agradecer a todos. A tripulação é competente e atenciosa.
Entre os passageiros há muitos que ganharam só um sorriso, outros ‘many thanks’ com vários nos alternamos como interrogantes e respondentes a pergunta ‘where you from?’ que catalisava um início de conversa. Despedirmo-nos das paulistas Christina e Larissa e da Rita e da Giulia envolveu muito afeto. Não faltou dizer a alguns ‘nos vemos em um próximo cruzeiro’.
Caberia, aqui e agora, fazer um relato do domingo, no qual estivemos das 09h às 18h fora do navio curtindo a gigantesca Dubai. Tenho tempo limitado.    Várias vezes relatei nesta semana o que vimo e o que fizemos. Não vou fazer agora.
Vimos neste domingo principalmente rasca cielos (adequadíssima aqui esta palavra espanhola). Em duas fotos da Gelsa faço uma síntese, mostrando o maior edifício do mundo com seus imponentes 828 metros de altura. Só enumerar tudo que se diz conter no prédio demandaria quase uma blogada. Só falar dos shoppings centers daria um livro. Vimos em oposição às alturas dos arranha-céus muitas diferentes de mesquitas. O governo de Dubai faz ter presente que não tenha mesquitas mais distantes de 500 metros uma da outra (e assim as há centenas na maior cidade dos Emirados Árabes Unidos). Elas não são apenas locais de orações a Alá mas servem para de maneira continuada lembrar a necessidade de se dizer ‘oxalá’ ou ‘assim queira Alá!’ Vou referir algo que chega parecer uma página de ficção científica e cuja visitação nos encantou. As ilhas artificiais de Dubai em um relato com a ajuda da Wikipédia podem ser assim resumidas.
A Palm Islands sobre os quais grandes obras de infra-estruturas comerciais e residenciais são construídas. As ilhas são os maiores projetos de saneamento em todo o mundo e se constituirão como as maiores ilhas artificiais do mundo. Elas estão já em uma parte muito significativa prontas. As ilhas são a Palm Jumeirah, a Palm Jebel Ali e da Palm Deira.
Cada assentamento será no formato de três palmeiras, encimado com uma crescente, e vai ter um grande número de edifícios residenciais, centros de entretenimento e lazer. As ilhas Palm estão situadas ao largo da costa dos Emirados Árabes Unidos, no Golfo Pérsico e vai acrescentar 520 km de praias para a cidade de Dubai.
As primeiras duas ilhas são composta de aproximadamente 100 milhões de metros cúbicos de rochas e areia. Todos os materiais serão importados dos EAU. Entre as três ilhas haverá mais de 100 hotéis de luxo, residencial exclusivo de praia ao lado vilas e apartamentos, marinas, parques de diversão, restaurantes, shoppings, centros esportivos e de spas.
Aliás as duas palavras-chave são: ‘artificial’ e ‘maior do mundo’. Ilha artificial, baia artificial, porto artificial, marina artificial.... maior edifício, maior shopping, maior mesquita, maior riqueza.
Encerro o relato destes oito dias navegando por mares nunca antes navegados, dizendo que valeu apena e que o Vision of the seas    já faz saudades. Oxalá, um dia faremos mais um cruzeiro.

4 comentários:

  1. Chassot, caro amigo.
    Escrevo-te de terras nas quais graçam (des)valores com estranho cheiro aos anos 30 e 40. Algo no ar infesta a esperança.
    Uma miasma eloqüente não nos deixa apaziguar o pensamento sobre o devir de um mundo no qual se dobram os sinos por canetaços de um megalômano narcisista. Ainda hoje comentei com minha mãe sobre talvez estarmos nós a ver o que viram, com a mesma perplexidade e deficiência de compreensão (ou talvez aceitação), aqueles que estavam na Europa pré-holocausto. Já temos um projeto de muralha, quando virão os lagers? A diferença da direita daqui é que são imprevisíveis e fogem à lógica da direita brasileira, sempre óbvia e pouco criativa - não sei se para bem ou para mal. Fiquei abismado com tua percuciente observação sobre o regime de trabalho nos barcos. Sinto esta urticária, vez que outra, quando vejo os subalternos nestas bandas a trabalhar dia e noite. Terás tu embarcando num navio negreiro da era da pós-verdade? Certa vez surpreendi amigos ao perceber, sem querer, ser uma série de TV sobre mortos-vivos nada menos que propaganda de armas. Acabava-se tudo: água, alimento, combustível. Mas sempre havia pólvora, bala e arma. Ah! E o mais importante. A única coisa que matava os mortos-vivos era tiro. Imagino que tu também padeças desta capacidade de ver, certas vezes, o que é desagradável saber. Hoje, lendo Cioran, dei barrigadas ao ler no "Breviário de Decomposição", um dizer do autor sobre ser o "completo imbecil" aquele que "chegou à alguma conclusão e sentiu-se tranquilo e feliz".
    Ao contrário da ópera, na arquitetura estética contemporânea me agrada. Acho fascinantes as ilhas, os arranha-céus e as traquitanas de Dubai. Sim, tudo tem, à vista de quem vê de longe, um cheiro-gosto-cor a plástico, mas não deixa de impressionar pela grandeza. Entretanto, o que mais me encantou até agora foi teu navio e sua proa atrevida. Que delícia deve ser flutuar no pélago profundo e pensar até aonde levam as águas salgadas pelas lágrimas de Portugal.
    Abraço carinhoso,
    Guy

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    1. Meu querido amigo,
      mesmo tendo te lido há tempo neste teu inquietante comentário, só venho dizer obrigado, desde uma Paris chuviscosa que esta tarde no Jardin de Plantes para mais uma vez te evocar muito
      Um bom retorno à Pátria desalmada

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  2. Confesso que o relato sobre despedir-se da tripulação demonstra o quanto de humano há no mestre. Eis a prova da grandeza dos sábios.

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    1. Meu querido amigo Vanderlei,
      convenhamos que teu comentário tem o exagero dos amigos.

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