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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

28. – Um morto, imortal ≠ um imortal, morto.

Porto Alegre * Ano 5 # 1670

E o segundo mês do ‘ano novo’ se esvai. O fevereiro que vai para o ocaso sem carnaval. Ontem, de repente o domingo, que se anunciava ensolarado se anuviou: era a crônica de uma morte anunciada há mais de um mês: morreu Moacyr Scliar.

Talvez a pergunta que neste domingo aflorou a muitos: Por que sentimos tanto a morte de alguém que não temos como de nosso clã familiar ou no grupo de amigos? Talvez porque Scliar fizesse parte de nosso cotidiano, onde pelo menos 3 ou 4 vezes por semana tínhamos como parceiro de leitura em pelo menos dois jornais que assino. Perdemos, sim alguém que era próximo. A imortalidade do escritor fica na perenidade de suas obras. Ainda ontem, ao ouvir com entrevistas em espaço-homenagem dei-me conta quantos livros me faltam ler e há muitos que quero reler.

Não vou escrever um necrológio; a maioria dos jornais do brasileiro traz hoje muito merecidas loas. Este blogue ontem, já na madrugada, lamentava: As letras brasileiras estão enlutadas!

Talvez a nota da Presidente Dilma seja uma boa síntese para oferecer a meus leitores: “Recebi com muito pesar a notícia da morte de Moacyr Scliar, um dos mais respeitados escritores do nosso País. Integrante da Academia Brasileira de Letras desde 2003 e ganhador do prêmio Jabuti por três vezes [na verdade foram quatro1988, 1993, 2000 e 2009], Scliar foi um ícone da literatura gaúcha, brasileira e latino-americana. Com mais de 70 obras publicadas e colunista em dezenas de jornais, ele representou nossa sociedade em diversos gêneros literários, sem perder de vista sua condição de filho de imigrantes e sua formação médica. É com tristeza que nos despedimos desse mestre da nossa literatura.”

Nascido em Porto Alegre e formado em medicina, o escritor e membro da Academia Brasileira de Letras desde 2003, publicou nos mais diversos gêneros literários: romance, crônica, conto, literatura infantil e ensaio, editado em dezenas de idiomas em diferentes países. Sua obra tem forte influência nas narrativas bíblicas e na tradição judaica.

Não tive o privilégio de ter privado da intimidade de Scliar. Lembro que uma vez conversamos em uma livraria. Era tempo (1993) em que eu era diretor do Colégio Israelita. Parece-me que seu filho Beto, que neste 09 de janeiro ganhou uma das últimas crônicas em que o pai celebrava a deixada da casa paterna, pelo filho. Outra vez, em 1999, escrevia ‘Uma rapsódia prostática’ e queria citar um texto que Scliar escrevera uns dias antes da cirurgia [O estresse de não ter estresse Caderno Vida, p. 2, Zero Hora, 11/DEZ/1999]. Então ainda não havia edições eletrônicas. Escrevi-lhe uma mensagem eletrônica e ele por correio postal me enviou o texto.

Ontem ao anoitecer estive no seu velório. Os funerais judaicos impedem a visualização de corpos mortos. O esquife fechado era coberto por um pano preto, com a estrela de Davi. Fosse um ato cristão certamente veríamos o ‘imortal’ com o fardão da Academia Brasileira de Letras. A propósito, o presidente da ABL, Marcos Vinicius Vilaça afirmou: Moacyr foi um trabalhador literário incansável, um ser humano agradabilíssimo que nos vai fazer muita falta.

Voltei à pé do Palácio Farroupilha, Calculo que são cerca 2,5 km até a minha casa. Espaço-tempo propício para boas reflexões. Caminhei circunspectos pelas ruas de minha cidade. Pensei na vida. Pensei na morte.

Encerro esta blogada dedicada a Moacyr Scliar, com dois poemetos de Gustavo Dourado um poeta brasiliense, que recebi na manhã de ontem.

Moacyr Jaime Scliar:
Mestre da Literatura...
Romance, conto, ensaio:
Quintessência na leitura...
Alquimista da palavra:
Aleph na escritura...

Foi-se o mestre Moacyr:
Rumo à eternidade...
Sua arte é infinita:
De sábia diversidade...
Escreverá no além:
Obra da imortalidade..
.

Mas ao lado de viver lutos, vivemos vida. O Antonio passou a noite conosco e curtimos muito o avonado. Pela manhã. Literalmente deitou e rolou comigo. Depois fomos a dois museus.

Primeiro visitamos a Mostra Panorâmica sobre Henrique Fuhro (1938–2006) no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Serviu para apreciar o trabalho de um pintor, gravador e desenhista conectado com o seu tempo e tocado por questões universais, que bebeu das mesmas influências de outros artistas brasileiros contemporâneos ligados à pop art sem deixar de construir sua iconografia de forma muito particular.

Depois visitamos a segunda edição do FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (assistíramos a primeira em 2008) no Santander Cultural.
Em sua segunda edição em Porto Alegre, apresenta trabalhos interativos, como Games, e de instalações em ambientes imersivos, nos quais o participante é convidado a interagir das maneiras mais diversas possíveis. Há mostra de filmes que tem sido desenvolvido graças aos jogos em 3D disponíveis na rede. Tais filmes, usualmente chamados machinimas ou maquinemas, podem ser tão desenvolvidos quanto os filmes realizados nas mídias convencionais, mas com baixos custos de produção e acessibilidade a todos.

Claro que a segunda atividade da manhã foi muito apreciada pelo Antônio, que tem habilidades motoras com os games que superam em muitos seus avós.

Desejo que este dia que faz a clausura de fevereiro 2011 seja o melhor. A mim está reservado o privilégio de esta manhã estrear em meias uma turma de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa. È um grupo de licenciatura em Música. Lemo-nos uma vez mais, quando for março.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

27. –Cisne negro: é (des) recomendável?

Porto Alegre * Ano 5 # 1669



Moacyr Scliar morre aos 73 anos Escritor gaúcho e membro da Academia Brasileira de Letras morreu à 01h da madrugada deste domingo no Hospital de Clínicas de Porto Alegre por falência múltipla de órgãos devido às consequências de um acidente vascular cerebral (AVC). As letras brasileiras estão enlutadas.

O sábado chuviscoso de ontem nos levou ao cinema. Os fortes candidatos a Oscar desta noite seduzem e se pensa que devem ser bons. Fomos assistir ‘O cisne negro’. Uma pergunta que aflora à saída: (des)recomendarias este filme?

As cenas de violência psicológica e física tornam doloridas as lindas cenas da clássica música de Tchaikovsky. Deixa-se a sala de espetáculo zonzo pela violência. Há alguns dias, por ocasião da despedida de Ronaldo, comentaristas mostravam com propriedade que ‘esporte (com exigências de atingir além do máximo) faz mal à saúde. Na mesma dimensão se pode dizer que balé faz mal à saúde.

Mas não tenho expertise em cinema. Dou voz a Fabricio Ataide que publicou em 04FEV2011 em pipocamoderna.mtv.uol.com.br Cisne Negro surpreende, assusta e seduz com arte e pesadelo. É o texto que transcrevo a seguir.

A simples menção do nome Darren Aronofsky faz qualquer cinéfilo tremer de excitação. Com apenas cinco longas no currículo, o diretor americano nascido no Brooklyn já possui uma sólida carreira de prestígio quase incontestável entre público e crítica. Depois de levar o Leão De Ouro por seu trabalho anterior, “O Lutador”, Aronofsky retorna com uma obra que aborda a fragilidade da mente humana e a perturbadora ambição que a move em busca de um sonho. “Cisne Negro”, que já acumula mais de 20 prêmios ao redor do mundo, além de concorrer em cinco categorias no Oscar 2011, é um misto de sonho e realidade que surpreende, assusta e seduz.

Desde o início é possível deduzir no que o filme se tornará no decorrer de sua trama: um pesadelo. Ambientado nos bastidores do prestigiado New York City Ballet, a trama gira em torno de Nina (Natalie Portman, aposta certa para o Oscar de Melhor Atriz), uma bailarina que se vê diante da chance de interpretar o papel principal em uma montagem de “O Lago dos Cisnes”, de Piotr Ilitch Tchaikovsky.

Insegura e sem amigos, Nina vive exclusivamente para a dança, sempre limitada à superproteção de sua mãe (a sumida Barbara Hershey, de “A Última Tentação De Cristo”). Pressionada por seu mentor e coreógrafo Thomas (Vincent Cassel, de “À Deriva”), Nina terá sua competência posta em xeque: sua fragilidade comprometeria a interpretação do papel que almeja, a Rainha dos Cisnes, visto que teria que interpretar simultaneamente o cisne branco (símbolo da pureza e ingenuidade) e o cisne negro (metáfora para a malícia, sensualidade e maldade).

O pesadelo da bailarina toma forma na figura de duas colegas de profissão: a veterana Beth (competente aparição de Winona Ryder), que foi forçada a abandonar a equipe por conta da idade, e a novata sedutora Lily (impressionante atuação de Mila Kunis, da série “That 70′s Show”). Enquanto Beth ilustra passado e futuro, Lily personifica o inimigo interno de Nina no presente.

Na busca pela perfeição e na tentativa de provar a Thomas que é capaz de expor seu lado mais selvagem, Nina é conduzida de tal forma pelo papel que interpreta que não consegue perceber os limites entre sonho e realidade, que começam a definir sua vida. Aos poucos, seu destino se sobrepõe ao enredo de “O Lago Dos Cisnes”. Seu lado negro, exemplificado pela essência de sua feminilidade, aflora e toma conta de sua personalidade sem que ela consiga controlá-lo. Dá-se inicio a uma metamorfose (física, mental, imaginativa, real, ou todas ao mesmo tempo) que conduzirá a protagonista a conflitos que levarão, personagens e plateia, a um destino perturbador.

Natalie Portman, a alma do filme, brilha grandiosamente neste papel que lhe exigiu

esforço intenso em conhecimento, aprimoração e domínio das técnicas de dança. Foram quase 12 meses de preparo para que a atriz conseguisse expor, de maneira plausível, o retrato de uma bailarina devorada pela ambição. A atriz, que já havia sido indicada ao Oscar pelo seu papel coadjuvante em “Closer – Perto Demais”, dificilmente sairá da cerimônia deste ano sem a estatueta de Melhor Atriz em mãos. “Cisne Negro” concorre ainda nas categorias de Melhor Filme, Diretor, Fotografia e Edição – reconhecimento mais que merecido. Lamenta-se apenas a Academia não ter indicado a avassaladora atuação de Mila Kunis como coadjuvante.

Aronofsky arquiteta uma trama de padrões narrativos complexos, cujo ritmo é determinado pela constante mudança entre sonho e realidade, que tornam o filme uma experiência sensorial inebriante. O estilo visual de “Cisne Negro” se molda por cortes rápidos, movimentos vertiginosos de câmera e close-ups espetaculares que promovem uma assombrosa harmonia entre o que se vê, o que se ouve e o que se sente na tela. Enquanto os olhos são paralisados pela beleza da composição cênica (principalmente a cena em que Nina dança e se “transforma” em cisne), os ouvidos são tomados pela penetrante trilha sonora – que utiliza trechos da peça de Tchaikosvky, música eletrônica dos Chemical Brothers e as composições de Clint Mansell, parceiro tradicional de Aronofsky.

É possível sentir na pele cada arranhão, cada sangramento, cada ferida a cicatrizar no corpo da personagem. À medida em que cresce a paranóia de Nina, cresce o interesse do espectador pelo desfecho da trama.

Ao optar por elucidar as artimanhas do roteiro através de imagens e não por palavras, como usualmente acontece em Hollywood, o diretor convida o público a apreciar a loucura e a sensatez de sua protagonista sem propor julgamentos. “Cisne Negro” é construído sobre a ambiguidade e reside aí seu maior atrativo. Darren Aronofsky monta espelhos e materializa ilusões que promovem excitação, curiosidade, medo e angústia a quem se propor imergir completamente em sua história. Cenas que se mostram inofensivas revelam-se brutais e momentos de extremo impacto psicológico acabam por prestar-se inspiradores.

Depois da recepção morna do fantasioso “A Fonte Da Vida” (2006) e de toda a badalação em torno de “O Lutador” (2008), o cineasta adota um estilo narrativo que aproxima “Cisne Negro” de seus primeiros trabalhos: assim como em “Pi” (1998) e “Requiem Para Um Sonho” (2000), o espectador não conseguirá sair indiferente ao final da sessão. Seja pelo impacto do desfecho, seja pela pressão psicológica compartilhada com os personagens, o lado branco ou o lado negro do cisne interior que cada um carrega em si será convidado a se manifestar.

Repito que não tenho status de comentarista de cinema. Persiste uma pergunta: Por que usar um tema de extrema beleza e permeá-lo de cenas de filme de terror? Penso que Cisne negro oferece um espetáculo que provoca sofrimentos exacerbados. Logo eu desrecomendo.

Com votos de um muito bom domingo, um convite para nos lermos amanhã na clausura de fevereiro. Até lá.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

26.- Guerrilheiros da intolerância


Porto Alegre * Ano 5 # 1668

Sobre meu périplo da semana que se encerrou ontem às 14h com a chegada em Porto Alegre vale um comentário da manhã de ontem. Mesmo que sejam emoções não equiparáveis, não sei o que fruí mais: a visita à germânica e pitoresca Pomerode ou fazer-me, com o colega e amigo Celso Kramer, um filosofo peripatético pós-moderno. É saboroso conversar com um estudioso.

Por de vez em vez se aditarem novos leitores a este blogue, repito que aos sábados, aqui há quase três anos, trago dicas da leitura. Estas usualmente, livros que estou lendo.

Já perguntei aqui, porque relemos livros, mesmo quanto temos pilhas esperando uma primeira leitura. Uma leitora respondeu: queremos repetir um encontro que foi bom. Nas duas ultimas semanas, com intensidade reli um livro. Estava na rede, mirando as lombadas de meus livros – curto fazer isso – e atraiu-me um livro precioso.

Ele se faz querido pela dedicatória – adereço que faz muitos de meus livros mais valiosos – aposta por Ricardo Gauche, um dos ícones da Educação Química da Universidade de Brasília: Ao amigo Chassot, um verdadeiro guerrilheiro contra a intolerância acadêmica, educacional e social, esperando que lhe seja útil para compreender por é denominado “ALQUIMISTA DA EDUCAÇÃO”. Jesus. O verdadeiro Mestre da Educação, ilumine seus caminhos, e o sustente nos momentos difíceis! Um forte abraço! Ricardo, o eterno admirador e servo e servo infiel. 21/10/97

Está mais que justificada a dica de hoje.

MIRANDA, Hermínio Corrêa de. Guerrilheiros da intolerância. Série: Mecanismos Secretos da História Niterói: Publicações Lachâtre, 1997, 256 p. ISBN 85-86081-24-8 Preço: esgotado, mas disponível por preço acessível em vários sebos.

O autor é Hermínio Corrêa de Miranda (Volta Redonda, 5 de janeiro de 1920) é um dos principais pesquisadores e escritores espíritas da atualidade. Habitualmente assina Herminio C. Miranda. Formou-se em ciências contábeis, tendo trabalhado na Companhia Siderúrgica Nacional até se aposentar.

Autor de cerca de 40 livros, dentre eles, diversos clássicos obrigatórios da biblioteca espírita, como Diálogo com as sombras, Diversidade dos carismas e Nossos filhos são espíritos.

Na pesquisa psíquica, o autor não é apenas um escriba, como se intitula, mas experimentado magnetizador. Dialogando por décadas com espíritos, suas obras relatam vivências, fatos e fenômenos reais. Seu primeiro livro, Diálogo com as Sombras, foi publicado em 1976. Seus direitos autorais foram sempre cedidos a instituições filantrópicas.

Em Guerrilheiros da intolerância, que não é um livro psicografado, como escrevi em outros textos e sim fruto de intensa pesquisa bibliografada do autor. No excelente texto, profusa documentado, destaca-se a história de Annie Besant, uma das grandes místicas de nossa época, e de duas de suas prováveis encarnações anteriores, como Giordano Bruno, na Itália renascentista, e como a filósofa grega Hipácia, nos séculos 4º e 5º . Um estudo fascinante, desvendando os mecanismos secretos da história, narrado com o estilo simples e a clareza expositiva de Hermínio Miranda.

Annie Wood Besant nasceu em 1847 e casou-se em Hasting, Sussex, com o reverendo Frank Besant, irmão mais novo de Walter Besant. Seu casamento durou seis anos e eles se separaram em 1873. Foi dada a seu marido a custódia permanente de seus dois filhos, Mabel e Arthur. Ela lutou pelas causas que acreditava serem justas, iniciando com a liberdade de pensamento, direitos das mulheres, secularismo (ela era membro líder da Sociedade Nacional Secular, ao lado de Charles Bradlaugh), controle de natalidade – algo considerado, então, obsceno e que os levou a prisão –, socialismo e direito dos trabalhadores.

Sua mais notável vitória neste período foi a greve que ela liderou em 1888 para melhorar a saúde e segurança das trabalhadoras de uma fábrica de fósforos. Durante aquele período a indústria de fósforo era extremamente poderosa, uma vez que a energia elétrica não estava ao alcance de todos e fósforos eram essenciais para acender velas, lampiões de gás etc. A greve de Annie Besant marcou história, pois foi a primeira vez que alguém desafiou com sucesso os fabricantes de fósforos; também foi considerada uma marca de vitória dos primeiros anos do movimento socialista na Inglaterra.

Ao final de sua vida, algo aparentemente paradoxal, aderiu à teosofia – Doutrina religiosa que tem por objeto! a união com a divindade – por influencia como Helena Blavatsky ou Madame Blavatsky (1831-1891), foi uma prolífica escritora, filósofa e teóloga da Rússia, que é destaque no meu livro A Ciência é masculina?

Desejo que o sábado que por estas bandas se faz densamente nublado seja apetecível e com sol ameno àqueles que curtirão a praia. Amanha nos reencontraremos aqui.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

25.- Sobre uma quinta-feira prenhe de emoções

Blumenau * Ano 5 # 1667

Ainda é de Blumenau a postagem de hoje. O primeiro registro é de celebração muito especial. Um pouco antes das 12h recebo uma notícia que me faz exultante: A Fernanda Wanderer é aprovada em primeiro lugar em concurso público para a área de Educação Matemática no Departamento de Ensino e Currículo da UFRGS, Ela foi orientanda da Gelsa (quando também minha aluna) no Mestrado e no Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos. Recordo quando, ainda quase menina, veio de Estrela para fazer licenciatura em Matemática na UFRGS. Depois acompanhei sua trajetória como aluna na sua formação pós-graduada e também como professora da Unisinos e onde atualmente é co-responsável pela seleção e formação de professores da mesma Universidade. É muito bom ver o sucesso de uma educadora estudiosa. Esse registro celebra uma vitória que me encanta.

Meu dia de tríplice jornada na FURB foi excelente. Foi daqueles dias que parece que não se cansa, tal é a fruição intelectual.

Era meia noite, quando retornava depois de quase 16 horas ao hotel. Em verdade para ser exato, devo registrar que depois do almoço, passei no hotel para apanhar meu notebook, pois a tecnologia ontem, mais uma vez, pregou-me uma peça.

Ao chegar à FURB, desejando imprimir a fala para a banca, que terminara a redação aqui, o pen-drive não abre. Tenta-se em mais de um computador. Do setor de informática, onde foi levado com presteza pelas funcionarias do Mestrado em Educação, vem um diagnóstico: ele está corrompido!

Mas se os ogros conspiram contra, os anjos são generosos. Lembrei-me que enviara uma mensagem com o parecer apensado. Recorro ao gmail, e consegue-se acessar e imprimir o parecer.

A defesa de Daniela Raduenz: “Por que a Química está na Escola? Uma genealogia sobre a matéria e sua prática pedagógica". A manhã transformou-se em uma profícua discussão acadêmica entre a mestranda, os professores Edson Schroeder, Celso Kramer e eu como era desejável. Foi uma memorável manhã. Após em companhia do orientador, dos pais e do noivo da Daniela – que aparece comigo na foto clicada pela Ana Paula– fomos almoçar restaurante Gutes Esen (o nome é registrado para evidenciar a adequada menção de Blumenau como ‘Alemanha Tropical’ – nomes em alemão são comuns em estabelecimentos comerciais). O Plano inicial era irmos a Pomerode – a cidade mais alemã do Brasil, onde reside a Daniela, mas limitações de tempo impediram.

A tarde fiz a conferência: Relações entre as Ciências Naturais e as Ciências Humanas para cerca de uma centena de alunos e professores de quatro dos mestrados FURB: em Educação, em Química. Em Desenvolvimento Regional e o Profissionalizante no Ensino de Ciências Naturais e Matemática. Participaram ainda professores do Instituto Federal de Santa Catarina, que me obsequiaram com um mimo institucional e outros que se deslocaram de outras cidade como o Professor Mateus Andrade que veio de Rio do Sul para a fala trazendo-me um livro. Falei cerca 1h40min e depois de um intervalo seguiu-se um debate muito participado por mais de uma hora acerca do tema.

O momento mais importante foi à noite quando falei para um auditório lotado que comporta 210 pessoas, com dezenas de pessoas em pé e assentadas no chão. O ato foi solenizado com presença do Reitor da FURB, Prof. João Natel Pollonio Machado que destacou a importância de minha presença em evento que reunia onze licenciaturas. O Pró-Reitor Prof. António André Chivanga Barros, titular da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, Ensino Médio e Profissionalizante na abertura destacou o momento de disseminação de conhecimento e experiências que ocorria então, ressaltando meus 50 anos de magistério a cumprir-se dia 13 de março. O tema de minha palestra Ética e Ciência na Educação Básica, proposto pela Prof. Dra. Vera Lúcia de Souza e Silva da Coordenação dos Estágios das Licenciaturas-PROEN. Falei cerca de 1,5 horas e depois seguiu-se um tempo igual de debates, com boa participação de alunos e professores foram coordenados pelo prof. Luciano Florit, do Centro de Ciências Humanas e da Comunicação. Ao encerramento, mais uma vez falou o Pró-Reitor Chivanga, um angolano que há mais de 25 anos reside em Blumenau, trazendo uma vez a metáfora das sementes não transgênicas foram semeadas naquela atividade.

Às 11h devo estar deixando a cidade, para via rodoviária ir a Navegantes – cidade que apresentei um pouco aqui – e desta voar até Porto Alegre. Onde devo chegar antes das 14h.

Mas antes disto, esta manhã, vou a Pomerode, com o Celso Kramer. 90% dos cerca de 27 mil habitantes desta cidade são descendentes de alemães pomeranos e a maior parte dos moradores são bilíngues: falam o português juntamente com o pomerano (Pomerisch ou Pommersch Platt, em alemão). Ao lado do dialeto alemão também conhecido como Hunsrückisch, o Pomerano é o falar germânico mais difundido entre a população teuto-brasileira. Em 1 de setembro de 2010, o município instituiu a língua alemã como co-oficial secundária

Por toda a cidade há casas edificadas de acordo com a típica arquitetura germânica enxaimel, restaurantes de comida alemã e festas que celebram as tradições germânicas, cuidadosamente preservadas por seus habitantes. Assim terei uma bela manha, ates de embarcar para estar em Porto Alegre no começo da tarde.

Aos votos de uma muito boa sexta-feira, adito o convite para nos lermos amanhã, aqui, com dica de leitura sabática.