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terça-feira, 30 de novembro de 2010

30.- Um bon dia desde a AmazôniA


Boa Vista Ano 5 # 1580

Chegamos ao fim de novembro. Encontro-me na região mais Brasil setentrional aonde convivo com (dis)semelhanças no meu ser professor. As semelhanças estão marcadas pelo encontro de pessoas com uma fantástica vontade de aprender, ou melhor, serem ainda mais capazes na formação de mulheres e homens mais críticos. Isto é encantador. As dissemelhanças visivelmente traduzidas por maiores precariedades no ensino de Ciências, especialmente na formação dos formadores de docente. Isto é desafiador.

Esta postagem tem mais um ineditismo em minha história pessoal. Ela ocorre entre duas entrevistas televisivas. Na minha história há um número pequeno intervenções neste tipo de mídia. Hoje às 5h45min (sim! O horário está certo!) o prof. Luiz veio buscar-me no hotel para uma entrevista ao vivo para telejornal Bom dia Amazônia da afiliada da TV Globo em Roraima. A razão do horário é devido a necessidade de sincronizações com o fuso de outros estados da região amazônica onde passa o mesmo noticioso e também pelo fato de na região Norte o os jornais locais entrarem no ar depois do Bom dia Brasil. Às 9h, volto a outra televisão: Televisão Educativa, para nova entrevista, então em companhia de minha ex-orientanda Prof. Dra. Irene Cristina de Melo, da UFMT, com que estive em Cuiabá há uma semana. Leitores poderão dizer, ante a tão densa programação midiática que ‘em terra de cegos, quem tem um olho é rei’. Não discordo.

A entrevista foi tranquila. A Cleise tinha bem preparada a pauta. Para mim não muito familiarizado a estúdios, foi significativo conhecer bastidores e com cenários transformam realidades.

Trago mais algum relato de minhas primeiras horas em Boa Vista. Pela manhã, depois da maratona de 12 horas para chegar aqui, com 35 horas de atraso (que contei ontem) postei a edição 1570B. Após um pequeno descansar, recebi a visita no hotel da Professora Elizabete de Morais Silva e a Médica Veterinária Carla Soares. Elas vieram convidar-me para fazer uma palestra na próxima quarta-feira na Semana Municipal de Educação para a Igualdade. A Carla presenteou-me com o livro “Um passeio no Zoológico” de sua autoria e já programou uma visitação ao Zoo para que veja um trabalho que faz com crianças que dependem de necessidades especiais. Também aditei algo inédito: visitei sua clínica. Esta foi a primeira vez que estive numa clínica veterinária, sendo que a que visitei se assemelha aos mais bonitos consultórios pediátricos que conheço.

A Bete e Carla, trouxeram-me, de uma maneira muito querida, sugestões de passeios. Alguns eu pude aceitar, completando uma agenda até o meio-dia de sexta-feira, quando começo a voltar. A sugestão que mais me seduziu – uma visita à Santa Elena de Uairén, uma cidade venezuelana, de colonização espanhola, que está a 2,5 horas daqui – talvez deva deixar para um outro momento, tal a intensidade da programação no 1º Workshop de Ensino em Química de Roraima e também a paralela.

Ao meio dia com um grupo de colegas saboreamos especialidades do rio Branco na Peixaria Oscar. Em seguida fui ao moderno campus da jovem Universidade Federal de Roraima. A UFRR não foge a regra de outras Federais que tenho estado: é verdadeiro canteiro de obras, que traduz pujança e expansão.

Minha primeira atividade da tarde foram duas das 8 horas do minicurso no “A História e a Filosofia da Ciência catalisando ações transdisciplinares” no recém-inaugurado auditório Hydros (Petrobrás) onde a projeção se faz em uma mega-tela de plasma. Há cerca de 30 inscritos no curso, onde se incluem licenciandos, professores de ensino fundamental, médio e superior. Foi mais uma vez encontro com meus leitores. A professora Ednalva, pró-Reitora de Graduação, que assiste o curso contou-me que há muitos anos meus textos são referência em suas aulas e que em 2001 fora escolhido patrono de uma turma de licenciandos em Química, algo que só soube ontem.

À noite, no moderno auditório do Núcleo de Biotecnologias – PRONAT da UFRR houve a abertura oficial do 1º WEQR realização da Divisão Regional da Sociedade Brasileira de Química. Coube-me fazer a conferência de abertura: A Ciência é Masculina? É, sim senhora!”. Foi muito bom estar em auditório muito atento e também autografar exemplares de meus livros.

Após a minha palestra assisti a mesa-redonda “Qual o professor de Química que Roraima precisa?” com as participações das Professoras Irene Cristina de Mello (UFMT); Ednalva Dantas Rodrigues (UFRR) e Josimara Cristina Carvalho de Oliveira (UERR. Esta atividade se estendeu até 22h30min, que para mim, biologicamente já era terça-feira.

Após com um grupo de colegas fomos outra peixaria, para mais uma vez comer dos pratos típicos locais, a base de peixe.

Nos meus deslocamentos – gentilmente realizados pela Ana, e eu dizia do privilégio de ter uma professora da UERR como motorista – já tive oportunidade de sentir um pouco das belezas de Boa Vista, capital e o município mais populoso do estado brasileiro de Roraima. Concentrando aproximadamente dois terços dos roraimenses, situa-se na margem direita do rio Branco. Moderna, a cidade destaca-se entre as capitais da Amazônia pelo traçado urbano organizado de forma radial, planejado no período entre 1944 e 1946, lembrando um leque, em alusão às ruas de Paris, na França, pois as principais avenidas do Centro da cidade convergem para a Praça do Centro Cívico Joaquim Nabuco, onde se concentram as sedes dos três poderes — Legislativo, Judiciário e Executivo. Além de pontos culturais (teatros e palácios), hotéis, bancos, correios e catedrais religiosas. Não há prédios altos nas largas e urbanizadas avenidas.

Ainda, nas três próximas três edições boa-vistenses conto mais da cidade. Por ora, com limitações internéticas uma boa terça-feira, neste advento de dezembro. Lemo-nos amanhã, ainda nos calores amazônicos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

29. Desde a Amazonia

Manaus Ano 5 # 1578A

A blogada desta segunda feira se faz em dois tempos. O primeiro registro é desde Manaus às 2h (=4h pelo horário de Porto Alegre/Brasília). Saímos de São Paulo com 55 minutos de atraso, a meia-noite e pousamos aqui depois 3horas e 40 minutos. A saída de Porto Alegre foi às 20h30min, com 70 minutos atrasados, o que uma vez mais gerou tensões acerca de ‘quase perda’ da conexão.

A primeira vez que estive em Manaus foi em janeiro de 1975, quando passei um mês em Porto Velho, lecionando em uma Licenciatura de Ciência, no campus avançado que a UFRGS mantinha na capital do então Território de Rondônia. Manaus a época seduzia pela Zona Franca, pois aqui se comprava produtos do mundo inteiro, á preços convidativos, pois isentos de impostos. Ainda não havia a globalização de mercados como hoje. Depois estive mais recentemente fazendo palestras e dando minicurso na SBPC jovem. Nas duas oportunidades estive no singular encontro das águas, com o rio Negro e o rio Solimões formando o majestoso Amazonas. Hoje apenas vi as luzes da cidade ao lado de uma grande mancha negra, tenuemente iluminada pela lua: era a massa d’água do rio-mar.

Agora tenho a continuação de um voo de cerca de 1h15min até Boa Vista quando completo esta edição.

Boa Vista Ano 5 # 1578B

Pela primeira vez, estando no Brasil este blogue é postado no Hemisfério Norte, pois Boa Vista, aonde cheguei às 03h20min (=05h20min BSB), é a única das 27 capitais brasileiras acima – numa linguagem eivada de colonialismo – da linha do Equador.

Aqueles e aqueles que me leram ontem foram partícipes de minha frustração de ter que postergar em 24 horas minha viagem depois, depois de ter já ter feito o check-in enfrentar distrato em termos de viagem acordado, recuperar bagagens e ser tratado como um fantoche na busca de ressarcimento de prejuízos gerados. Os agentes de aeroportos – pessoas competentes que nestas horas sofrem assédios de passageiros transtornados que perdiam conexões mais distante que a minha para Boa Vista: Toronto, Milão, Nova York, San Francisco, Paris... – nos forneciam um número de telefone para: Fale com o Presidente. Convenhamos que esse marketing de uma empresa, querendo se fazer íntima, fornecendo-nos o ‘número do presidente’ me parece, no mínimo, uma contrapropaganda. No entardecer de domingo a cena se repetiu com o cancelamento de três voos. Em Guarulhos na virada de domingo para segunda-feira o cenário era caótico, também.

No aeroporto, mesmo que fosse madrugada tardia, era esperado pelo Prof. dr Luiz Antonio Mendonça Alves da Costa, Secretário Regional da Sociedade Brasileira de Química de Roraima e do Departamento de Química do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Federal de Roraima. O Luiz confirmou minha agenda. Para que não começasse, ainda quase madrugada de agora, a entrevista em estúdio, no telejornal Bom dia Amazônia da afiliada da TV Globo em Roraima foi transferida para amanhã. À tarde tenho a primeira sessão no minicurso de História e Filosofia da Ciência; à noite faço a palestra de abertura do 1º Workshop de Ensino em Química de Roraima que tem como tema “O Ensino de Química do Monte Caburaí ao Chuí.” Este mote é para ser uma contestação a usual menção do Oiapoque, como ponto mais setentrional (e, não o rio Oiapoque, como usualmente mencionado).

O Monte Caburaí

, com 1.465 metros de altitude, localiza-se na Serra do Caburaí, que consiste na borda de um imenso planalto, com mais de 1000 metros de altitude, delimitando a fronteira norte do Brasil com a República Cooperativista da Guiana e com a Venezuela. A ênfase na condição de extremo setentrional do país deve-se à antiga tradição de se considerar como extremo norte do país o Cabo Orange, no Oiapoque, estado do Amapá, popularizada pelo uso da expressão "do Oiapoque ao Chuí", para designar os extremos norte e sul do Brasil. No entanto, o Cabo Orange, cuja latitude é 4º 30' 30" norte, situa-se 84,5 km mais ao sul que o Monte Caburaí. Obrigado Wikipédia


Cheguei ao hotel às 4h – 24 horas depois do previsto –, exatas 12 h depois de sair de minha casa. Realmente o Brasil é extenso; e, o transporte aéreo ainda precário e desconfortável em terra e no ar.

Ainda não tenho muito a dizer daqui. Mas esta é a primeira de cinco edições que farei da capital de um dos estados mais jovens do Brasil. Com a Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988, o Território Federal de Roraima deixou o estatuto de Território Federal e transformou-se em Estado membro da Federação. A posse do primeiro governador ocorreu em 1 de janeiro de 1991.TO Território Federal do Acre foi o primeiro Território Federal brasileiro, em 1903. Quarenta anos mais tarde, em 1943, Getúlio Vargas, presidente do Brasil à época, criou cinco Territórios Federais: Rio Branco (depois Roraima), Guaporé (depois Rondônia), Amapá, Iguaçu e Ponta Porã. Iguaçu e Ponta Porã foram extintos em 1946. O objetivo da criação de tais Territórios federais era o de ocupar os espaços vazios do território nacional e em especial na Amazônia, tendo ocorrido tais criações durante a Segunda Guerra Mundial. Penso que durante estes dias terei bons assuntos.

Votos de uma boa segunda-feira a cada uma e cada um. Amanhã, ocaso de

novembro, um convite para um novo encontro, antecipando já verificadas dificuldades com a internet.

Um convite: leia o apelo do Presidente da Wikipédia. Pode ser usado o logo Na lateral direita deste blogue


domingo, 28 de novembro de 2010

28. Nilson Pimenta, o mago do Pantanal mato-grossense.

Porto Alegre Ano 5 # 1578

Imaginava que começaria assim esta blogada dominical: Depois de viajar da capital mais meridional do Brasil posto esta blogada na capital mais setentrional. Ledo engano. Ainda estou, ainda em Porto Alegre. Ontem às 18h deixei a Morada dos Afagos, fui ao aeroporto e fiz check-in. Na sala de embarque tomo conhecimento que meu voo terá atraso superior a duas horas, o que tornava impossível tomar a conexão em São Paulo para Manaus e Boa Vista. Em imensas e demoradas filas remarco minha passagem para 24 horas depois, pois há, um único voo para Boa Vista, pela Tam. Depois de muitas dificuldades consigo apropriar-me de novo de minha bagagem e volto, depois de mais de duas horas para casa.

Na blogada da última quinta-feira contei aqui de minha visita ao atelier de Nilson Pimenta, no campus da UFMT em Cuiabá. Comentei que fora bom visitar, uma vez mais, o artista naïf inspirado no Pantanal, que conheço desde 1993, do qual tenho três obras em minha casa. Cumpro hoje uma promessa que fiz então: voltar a falar sobre este mago do Pantanal em outro momento.

Assim, trago mais dois ‘instantâneos’ (numa acepção de fotografia) da ultima quarta-feira numa das quais aparece também o artista plástico Valques Rodrigues, filho de Nilson Pimenta, que desde os seis anos está ao lado do pai no atelier e hoje com luz própria.


Nilson Pimenta pinta suas telas com base na espontaneidade que caracteriza os criadores talentosos e representantes da cultura popular contemporânea de uma nação. Seu principal foco de inspiração é, cada vez mais, o Brasil, independente de quantas outras terras diferentes tenha conhecido. Em suas telas, revela aspectos multifacetados de um país caracterizado pelo trabalho árduo, pela natureza frondosa e por um povo que, a seu modo, sempre celebra a vida. Suas obras retratam personagens do campo e da paisagem agreste de Mato Grosso e cenas típicas do Pantanal.

Aline Figueiredo em http://www.art-bonobo.com/catalogo/pimentadacosta/index.html faz um bonito desenho do artista que me encanta e sempre surpreende:

"Nilson Pimenta, tanto homem quanto artista, é pessoa singular. Pinta o que sabe, viu e experimentou, portanto traduz um conhecimento vivencial. Daí a sinceridade encantadora de suas telas narrativas da verdade de uma facção da sociedade brasileira: o trabalhador rural, o roceiro e o peão. Esse homem esquecido do interior, brabo e surdo, e suas duras lides. Homens cuja única riqueza são os seus braços que tiram do agreste da terra - que não é sua - o seu minguado sustento e cujo único bem a perder são as suas resignadas vidas. Valiosos construtores que nada sabem de suas valias.

Nilson foi desses homens e, se preciso for, o será novamente, pois diligências não lhe faltam. Baiano de nascimento, saiu de lá ainda nos braços rumo a Prata dos Baianos, no Espírito Santo, e com seis anos de idade dava com os costados no leste do Mato Grosso. Os campos de Barra do Garças, Brasilândia, Finca-Faca, Irenópolis e Jacira o viram crescer plantando arroz, feijão, milho, amendoim em terra de toco, isto é, apenas derrubada e não mecanizada, Um ou dois anos depois da mata derrubada e feita a primeira e precária colheita, essas terras arredondadas eram entregues para o dono, já beneficiava pelo seu suor. Mudanças. Outros municípios, novos ranchos. Taperas guardam mimos e abandonos, vestígios da breve morada do roceiro nômada que não consegue se enraizar.

Nessas andanças, à procura de novos alqueires para plantar e novas empreitadas a enfrentar, fossem matas para derrubar, campos para limpar, cercas para esticar ou cana para cotar, Nilson se fez homem e formou sua memória. Para retê-la, rabiscava num papel qualquer, carteira de cigarro vazia. Com pedaços de carvão desenhava numa cancela, com gravetos riscava o chão ou com os dedos deixava marcas na porta da lateral de algum automóvel. Os primeiros desenhos em papel fez com um lápis de cor, em 1979, já em Cuiabá, expulso do campo devido à má sorte com os roçados. Durante esse ano foi guarda do campo de vigilante (Cormat). Como o serviço era pouco, ficava só com aquele revolvão na cintura, ele rememorava visualizando no lápis e no papel o seu recente passado que colocara à margem dos seus afazeres.

Assim como presente deste domingo, para mim tão fora de agenda prevista para hoje em um pouco de Nilson Pimenta – “Cenas do garimpo” e “Mutirão na roça” e votos de excelente domingo. Talvez amanhã de Boa Vista.



sábado, 27 de novembro de 2010

27. - A Majestade do Xingu

Porto Alegre Ano 5 # 1577

Um sábado que começo no sul e deve terminar em voo rumo a mais setentrional das 27 capitais brasileiras. No final desta tarde inicio viagem rumo a Boa Vista, capital de Roraima, onde devo chegar às 3h (4h horas pelo horário de Brasília) em uma viagem de cerca de 10 horas.

É primeira vez que vou a este estado brasileiro. Não estive ainda em um dos 8 estados dos Nordeste (Piauí), um dos 5 do Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal (Tocantins) e em três dos 7 do Norte (Acre, Amapá e Roraima). Assim já dei aulas/palestras em 22 das 27 unidades federadas. Este número passará na próxima semana para 23. Da minha extensa estada em Roraima (só retorno na sexta-feira) falarei durante a semana. Na minha agenda para 4 dias, estão 3 palestras, 1 mesa-redonda, 1 fala para um grupo indígena e 4 x 2 horas de minicurso.

Coincidentemente a dica de leitura tem a ver com um dos estados brasileiros onde o tema do livro – questão indígena – é mais significativo.

SCLIAR, Moacyr. A Majestade do Xingu. São Paulo: Companhia de Bolso. 1ª Ed, Companhia das Letras, 2000. 201 p. 12.50 x 18.00 cm ISBN 978-85-359-1438-2

Primeiro algo do autor, depois acerca do livro. O autor – já muito presente neste blogue por suas apreciadas crônicas e também por livros que foram dicas de leitura – e um dos 40 ‘imortais da Academia Brasileira de Letras.

Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre (RS), no Bom Fim

, bairro que até hoje reúne a comunidade judaica, a 23 de março de 1937. Cursou, a partir de 1943, a Escola de Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche. Transferiu-se, em 1948, para o Colégio Rosário, uma escola católica. Em 1963, após se formar pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciou sua vida como médico, fazendo residência médica. Especializou-se no campo da saúde pública como médico sanitarista. Iniciou os trabalhos nessa área em 1969. Em 1970, frequentou curso de pós-graduação em medicina em Israel. Posteriormente, tornou-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Já foi professor na faculdade de medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Scliar publicou mais de setenta livros, entre crônicas, contos, ensaios, romances e literatura infanto-juvenil. Seu estilo leve e irônico lhe garantiu um público bastante amplo de leitores, e em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tendo recebido antes uma grande quantidade de prêmios literários como o Jabuti (1988, 1993 e 2009), o Associação Paulista de Críticos de Arte (APC

Suas obras frequentemente abordam a imigração judaica no Brasil, mas também tratam de temas como o socialismo, a medicina (área de sua formação), a vida de classe média e vários outros assuntos. O autor já teve obras suas traduzidas para doze idiomas

Abro meu comentário do livro com uma resenha da página da editora: A majestade do Xingu é uma história de imigrantes, de russos, de judeus, de comunistas, de índios, de Noel Nutels, de pequenos comerciantes, de várias formas de ser brasileiro, de pais e mães, de filhos e amigos, de diferentes qualidades de amor e ódio, de cartas que não escrevemos, de lutas contra a dor. Dando voz a um dono de armarinho que dispersou afetos entre miudezas empoeiradas, Moacyr Scliar enlaça todas as histórias neste romance. Elas às vezes nos fazem rir, sempre nos confrontam com uma melancolia irremediável e se incorporam à nossa experiência de leitores de forma definitiva.

Adito a ela uma frase que está na quarta capa do livro: “No centro da história, iluminando-a, está a figura singular de Noel Nutels, o médico judeus de origem russa que dedicou sua vida a cuidar dos índios brasileiros. Marcado por estas duas citações, acrescento um pouco desconfortado: Senti-me um pouco vítima de propaganda enganosa. Comprei o livro porque queria conhecer mais a figura quase mítica de Noel Nutels. Continuou, ao terminar a leitura, realizada nos meus longos voos desta semana, apenas o mito. Finda a leitura, conhecemos bem, ou melhor muito bem, o menino imigrante russo, companheiro de travessia de Nutels que se transforma em mal sucedido comerciante no Bom Retiro em São Paulo. Noel Nutels, ao longo de todo o livro, não passa de objeto de fixação do comerciante que conta a sua história (e pretensamente a história de Nutels) para um médico quando parece viver seus últimos momentos de vida em hospital.

Esta minha observação não significa que o livro não seja de agradável leitura ou por sua comicidade ou até por algumas pitadas de ‘sacanagem’. [Na acepção de tabuísmo: palavra, locução ou acepção tabus, consideradas chulas, grosseiras ou ofensivas demais na maioria dos contextos. São os chamados palavrões e afins, e referem-se geralmente. ao metabolismo, aos órgãos e funções sexuais, incluem ainda disfemismos pesado. Isto, como ensina Houaiss, trata-se do emprego de palavra ou expressão depreciativa, ridícula, sarcástica ou chula, em lugar de outra palavra ou expressão neutra (p.ex.: ficar puto por ficar com raiva)].

Acrescento ainda: a leitura é, às vezes, cansativa, pois opera na tecla da continuada repetição. Há cenas ou situações que são repetidas quase em demasia, mesmo que aceite que ocorram em uma situação usual de um paciente terminal querendo narrar para um médico toda a sua vida.

Votos de um muito bom sábado e amanhã nos lemos de Boa Vista, Roraima.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

26.- A Universidade do Adulto Maior em pesquisa

Porto Alegre Ano 5 # 1574

Uma sexta-feira que sabe a fim de semana. Tenho hoje almoço com meu trio ABC (André + Bernardo + Clarissa). Mas o shabath para curtir só começará depois das aulas de Metodologia da Pesquisa no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão esta noite, quando também a Gelsa estará voltando do ITerra em Veranópolis, onde está em atividade de campo desde ontem.

Como prometi ontem, apresento um comentário acerca da defesa da dissertação de Sarisa da Rosa Barbosa ocorrida na tarde de ontem. É oportuno, em uma descrição melhor da sessão, que se traga destaque a dimensões extra-defesa que marcaram a sessão que foi instalada pelo Prof. Dr. Jerri Luiz Ribeiro, Coordenador do Programa de Mestrado Profissional em Reabilitação e Inclusão.
Destaquei, então, na minha fala, que o ato acadêmico estaria marcado por duas dimensões antípodas. Uma de tristeza, onde aflora saudade e outra pela alegria, traduzida pela expectativa.

A primeira, com a evocação de 2 de julho quando o Centro Universitário Metodista do IPA foi atingido pela dolorosa noticia da morte prematura do Prof. Dr. Atos Falkenbach (1968-2010). O Atos era o orientador da Sarisa e, evidentemente, a tarefa que me coube em sucedê-lo foi ingente, porque todos ainda nos lembramos do orientador e pesquisador prestigiado que fora e quanto migrar de padrasto para orientador se fez não sem dificuldades.

A segunda, a notícia que está em toda imprensa gaúcha: a escolha do Prof. Dr. José Clovis de Azevedo como futuro Secretário de Educação do governo que se instalará no Rio Grande do Sul em 1º de janeiro. A presença do José Clovis nesta tarde, nesta banca, vencendo o assédio da imprensa, traduz o quando o apreço que ele dá à dimensão acadêmica. Todos temos uma imensa expectativa com novas possibilidades para a Educação gaúcha.

Destaquei que, a estas duas dimensões que permeiam nossos sentimentos nesta

defesa de dissertação, não poderíamos deixar de considerar o significado institucional da Universidade do Adulto Maior. A UAM é coordenada pela professora Rosane Papaleo Freire, que prestigiou não apenas a sessão de defesa, mas ofereceu a maior colaboração durante realização da pesquisa. Eu pessoalmente destaco que minha ação enquanto docente da UAM se constitui em um dos meus fazer acadêmicos mais relevante. Isto parece ratificado enquanto adentrei no relato da Sarisa.

Vencido estes atos, que classifiquei como extra-defesa, trago o resumo da dissertação: ‘O presente estudo volta seu olhar para as Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras e práticas sociais de inclusão desenvolvida no Centro Universitário Metodista – IPA. Surge da necessidade de resgatar, descrever e interpretar aspectos fundamentais do movimento de inclusão desenvolvido, nas últimas décadas. No caso desse estudo têm por objetivo principal investigar a origem, a organização, os impactos sociais do projeto Universidade Adulto Maior no Centro Universitário Metodista – IPA, bem como suas repercussões nos participantes das atividades. O referencial teórico está fundamentado em temas relacionados ao idoso, movimentos inclusivos de IES privadas no Brasil e o tema da inclusão social. A metodologia com abordagem qualitativa etnográfica, na modalidade do estudo de caso, que busca descrever os significados do grupo em estudo. Foram utilizadas as entrevistas, as observações e a análise documental como coleta de informações. A pesquisa pretende contribuir para a análise e reflexão do movimento social de inclusão na IES, bem como descrever e avaliar a repercussões e impactos do referido projeto na IES e nos participantes do Projeto, favorecendo o desenvolvimento relacional entre conhecimento acadêmico e atividades sociais’.

Ao final a exposição oral do trabalho pela mestranda, esta prestou esta homenagem: Dedico está dissertação ao querido Mestre e Orientador Prof. Dr. Atos Prinz Falkenbach (*04/06/1968 +02..07/2010), falecido no decorrer deste trabalho. Um grande amigo que foi um exemplo de dedicação, sempre me incentivando. Agora permanece a saudade do grande pesquisador que tinha como preocupação o desenvolvimento humano, a inclusão, a acessibilidade, as pessoas com deficiência. Doutor Atos deixou muitos seguidores de seus ensinamentos e estará sempre em nossa memória.

A arguição da mestranda se iniciou com os comentários da Prof. Ane Lise Dalcul, coordenadora do curso de Engenharia de Produção, que fora a orientadora da Sarisa quando esta se graduou em Administração de Empresa. A professora Ane Lise ao destacar o significado do trabalho mostrou a poderiam ser acrescentados alguns detalhes descritivos metodológicos que poderiam dar mais consistência a redação. O Professor José Clovis reconheceu relevante a produção, mas mostrou o quanto poderia haver um maior adensamento da parte histórica e também um comparativo ente as posturas de diferentes culturas em relação ao velho.

Registrei ainda o quanto a Sarisa foi uma orientanda muito decidida nas suas ações. Disse da minha satisfação em estar levando mais uma dissertação – a 21ª – a defesa.

Ao final a banca elaborou um parecer considerando aprovada a dissertação Universidade Adulto Maior do Centro Universitário Metodista- IPA: Um estudo etnográfico e estando Sarisa da Rosa Barbosa apta a receber o título de Mestre em Reabilitação e Inclusão.

Com votos de uma excelente sexta-feira, um convite para nos lermos amanhã. Lembrando que sábado dia de dica de leitura.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

25. Mais um presente no mistério dos encontros

Porto Alegre Ano 5 # 1574

Depois de algumas horas de voos, cheguei, quando já era quase 01h desta quinta-feira na Morada dos Afagos. Um dia para participar da ‘unção’ da Sarisa Barbosa: como o/a 21º/ª mestre que levo a defesa.

Amanhã pretendo contar a cerca da defesa da dissertação que tem como tema algo que para mim é particularmente caro: Universidade Adulto Maior do Centro Universitário Metodista- IPA: Um estudo etnográfico. Mesmo que reserve para amanhã os comentários deste ato acadêmico, ele enseja um destaque: participa da banca de arguição da Sarisa o Professor Dr. José Clovis Azevedo. A imprensa de hoje anuncia que o governador eleito, Tarso Genro, o escolheu como Secretário de Educação. Vibro com a indicação do amigo e colega competente.

Trago algo do diário de um viajor: Ontem o dia em Cuiabá foi pleno. Primeiro

participei da mesa-redonda que detalhei na edição anterior. Minhas duas colegas e eu tivemos um auditório atento e questionador por cerca de três horas. Foi uma experiência mais uma vez muito gratificante em que eu aprendi muito com minhas parceiras de mesa: Ana Canen (UFRJ) e Heloísa Salles Gentil (UNEMAT). Sou reconhecido pelos mimos do artesanato cuiabano e especialmente às demonstrações de afetos de meus leitores.

No final da manhã participei de dois momentos artísticos. Visitei a exposição da Caixa, que ocorre simultaneamente em 27 capitais brasileiras. A de Cuiabá e no Salão das artes da UFMT, que apresenta 15 obras de renomados artistas brasileiros da pintura e fotografia. Em um segundo momento, visitei o atelier de Nilson

Pimenta, artista mato-grossense de arte naïf inspirado no Pantanal. Foi bom reencontrar um artista que desde 1993 conheço e do qual tenho três obras em minha casa. Mostrou-me suas últimas produções e contou também de sua exposição individual que realizou em Londres. Brindou-me com catálogo e com uma aquarela. Quero voltar a falar sobre esta visita em outro momento.

O almoço foi uma vez mais em uma peixaria em companhia da Elane e da Ana Carolina. Esta é mestre em Ensino de Ciências, orientada pela Irene, que foi minha primeira orientanda de mestrado. A Ana contou que na época das eleições, mais de uma vez, assuntos trazidos neste blogue a municiaram nas discussões políticas.

Na parte da tarde com Elane, minha muito ‘querida biógrafa’ fiz um pouco de turismo. Revi, mesmo a distância duas atrações que sempre me encantam em Cuiabá: a igreja de Nossa Senhor do Bom Despacho, que querem alguns seja uma miniatura da Notre Dame de Paris e imponente mesquita islâmica. Mas o destaque ficou para estar dentro do grande templo da Assembleia de Deus que tem a capacidade para 22 mil pessoas sentadas e mais 8 mil em pé. Claro que me imaginei ali fazendo a palestra ‘A Ciência é masculina?’ com templo lotado. Em matéria de mega-construção surpreendeu-me a maquete da ‘Universidade das Assembleias de Deus’: uma construção de 12.000 m2 com um auditório de 1.220 m2 e mais 72 sala. Esta Universidade será formada pelas atuais faculdades ‘Cantares de Salomão’ e Cuiabá.

Depois de visitarmos a “Casa do Artesão’ a Elane, carinhosamente, me deixou no aeroporto. A viagem de volta merece um registro muito significativo.

Algo que deveria receber uma indenização muito especial das companhias aéreas é o stress causado pela ‘quase’ perda das conexões. Na viagem de ontem aconteceu um paradoxo. Houve um atraso crucial porque o voo Campo Grande Guarulhos chegou ante e por tal não havia local para desembarque. Por cerca de mais de 30 minutos aguardamos confinados na pista. A isto se aditou um congestionamento de ônibus que faziam transbordos, seguido de uma muito extensa fila para um novo raios-X das bagagens de mão.

Mas, há brindes de viagem que recebemos dos deuses que regem os encontros que são quase inenarráveis. Nos trechos Cuiabá/ Campo Grande /Guarulhos tive o privilégio da companhia da Ana. Mesmo que ela tenha a metade de minha idade e em trânsito de sua primeira viagem ao exterior, ela tem uma das mais densas histórias de vida. Talvez não tenha ouvido outra semelhante. Ontem, depois de fazer 400 km por via rodoviária, realizou entrevista final da seleção do mestrado de Ciências Sociais na UFMT, tendo que implorar para antecipar a atividade para que pudesse tomar o voo que a levaria a São Paulo para daí ir a Montevidéu, onde esta manhã apresenta uma comunicação em um congresso sobre direitos humanos e pobreza, sem a ajuda financeira de nenhuma instituição.

Sobre pobreza ela não precisa teorizar: menina boia fria da colheita de algodão até os 12 anos, desejava adoecer para ter o ‘privilégio’ de uma de suas irmãs que ia para hospital, onde recebia comida. Muitas vezes perdia as aulas, pois o vestido ralinho e os os chinelos de dedo não eram abrigos suficientes para caminhar no frio até a escola. Um de seus sonhos de então era ter um ‘par de conga com solado branco’. Sonhava que um dia pudesse ver chegar a sua casa uma sacola de supermercado que contivesse mais que as vísceras e os miúdos que pai ganhava no matadouro, que então substituía o café – na verdade uma solução de açúcar queimado, cor de café – que era o quebra-jejum cotidiano em sua infância. Aos 14 anos a vida melhora; pela manhã vai à escola e a tarde e a noite trabalha em uma padaria e com os ganhos ela e outros de seus sete irmãos garantem o sustento familiar.

Poucas vezes – ou para ser mais fiel: nenhuma vez – ouvi relato de uma pessoa que hoje vive tão feliz com sua filha e com seu marido. Isto me emocionou por demais.

Se torcer é uma forma agnóstica de rezar, Ana, tu podes saber que terás as mais fervorosas orações esta manhã, quando estiveres apresentando tua comunicação em Montevidéu. Torço também para que sejas selecionada no mestrado, pois ninguém tem um melhor currículo que o teu.

A história da Ana conecta-me a data de hoje – dia de ação de graças – que tem significados no mundo ocidental, mesmo que possa ser vista como mais uma macaqueada no imitar os Estados Unidos de quem se tenta importar – felizmente sem muito sucesso – o Haloween, ou dia das bruxas. Apesar de todo o esforço da imprensa em destacar essa festividade estadunidense, os brasileiros não costumam se apegar à festa. É na maioria das vezes comemorada pela elite, pessoas que vivem apenas do que é estrangeiro e por poucas pessoas das classes médias e baixas dão considerações à noite do halloween. Já a celebração do dia (nacional) de ação de graças, parece que já foi mais comemorado.

O Dia de Ação de Graças (em inglês: Thanksgiving Day) é um feriado celebrado nos Estados Unidos e no Canadá, observado como um dia de gratidão, geralmente a Deus, pelos bons acontecimentos ocorridos durante o ano. Neste dia, pessoas dão as graças com festas e orações. Dia de Ação de Graças é geralmente um dia em que as pessoas utilizam o tempo livre para ficar com a família, fazendo grandes reuniões e jantares familiares. É também um dia em que muitas pessoas dedicam seu tempo para pensamentos religiosos, serviços na igreja e orações.

A data é celebrada também com grandes desfiles e, nos Estados Unidos, com a realização de jogos de futebol americano. O principal prato típico do Dia de Ação de Graças, geralmente, é peru, o que dá ao Dia de Ação de Graças o apelido de "Dia do Peru" (turkey day).

No Brasil, o presidente Gaspar Dutra instituiu o Dia Nacional de Ação de Graças, através da lei 781, de 17 de agosto de 1949, por sugestão do embaixador Joaquim Nabuco, entusiasmado com as comemorações que vira em 1909, na Catedral de São Patrício, quando embaixador em Washington. Em 1966, a lei 5110 estabeleceu que a comemoração de Ação de Graças se daria na quarta quinta-feira de novembro. Esta data é comemorada por muitas famílias de origem estadunidense, igrejas cristãs, universidades confessionais metodistas.

Há não muitos anos um grande banco privado patrocinava a celebração da data em nível nacional; Certamente tina razões para dar graças, até por que sua sede fica na Cidade de Deus – um complexo, com diversos prédios abrigam a Diretoria e Departamentos do mencionado Banco, em uma grande área verde. Boa parte dos equipamentos de informática responsáveis pelo processamento das operações bancárias também está localizada na Cidade de Deus, que comporta ainda o Museu do mesmo banco e q primeira Escola da Fundação deste banco. A Cidade de Deus começou a ser construída em 1953, no município de Osasco, e foi inaugurada seis anos mais tarde.

Já me excedi em extensão e emoções. Uma boa quinta-feira a cada uma e cada um. Amanhã poderemos nos encontrar aqui.