TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

segunda-feira, 30 de abril de 2012

30.- PARA DESPEDIR ABRIL



Ano 6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2098
As muito densas blogadas acerca da “Teoria” do Design Inteligente da semana que passou — as mais concorridas e discutidas nos quase seis anos deste blogue — fizeram esquecida a especulativa edição de 18 de abril que teve como manchete: ‘O elefante que quebrou (a perna d)o rei’.
Alertava, então, que se enganava, todavia, quem pelo título acreditasse que narraria uma fábula moral de Esopo. Não! Trouxe naquela edição uma história imoral, pois há algo mais quebrado que um quadril real no reino de Espanha de agora. Contesta-se a monarquia como forma de governo.
Na esteira do assunto, especialmente pelo ato desencadeador — Sua Majestade Real, Don Juan Carlos de Bourbon, Presidente Honorário da Fundação Mundial de Proteção à Natureza WWF caçava elefantes na Namíbia, na foto — surgiram vários assuntos acerca do comportamento animal.
Nesta última blogada aprilina de 2012, trago excertos de um interessante artigo, do qual fiz uma tradução livre. Pareceu-me oportuno compartir com meus leitores.
Poucas pessoas que convivem ou conviveram com animais vão duvidar de seus sentimentos expressos durante eventos comoventes e memoráveis ​​para seus proprietários. Um renomado etólogo [especialista em comportamento animal], o canadense Jeffrey M. Masson, entrevistado pelo jornalista espanhol Sebastian Moreno* quando ele publicou o livro "Quando os elefantes choram", disse que seria não-científico reduzir o comportamento animal só termos de hormônios, porque substância químicas, como a oxitocina, a serotonina, epinefrina e a testosterona — que se acredita afetando as ações e sentimentos humanos — também são encontrados em animais.
Estudos de campo desse reconhecido etólogo mostram que a maioria das pessoas que lida com animais sempre acreditou: que animais amam e sofrem, choram e riem. E mais, seus corações se elevam com a esperança e caem com desânimo. Sentem-se sozinhos, se apaixonam, apreciam a beleza, sofrem decepção ou são curiosos, olham para trás com nostalgia e sentem a felicidade futura. Este cientista relatou estudos impressionantes de muitos animais, não só os animais de estimação mais comuns, como gato e cachorro. Ainda mais, ele disse que os cães sentem mais do que qualquer outro animal, incluindo os seres humanos.
O etólogo apresentou estudos surpreendentes sobre o comportamento de muitos animais: aranhas, lobos, papagaios, macacos, crocodilos, ratos. Ratas, por exemplo, são muito sociáveis, capazes de adotar filhotes de coelhos, gatos e também são tão limpas quanto os gatos, pois estão constantemente higienizando-se. A higiene de ratos pode ser verificada no Hospital Ramon y Cajal, Madrid, em cujo sótão os ensaios para produzir animais de laboratório são importantes para o transplante, porque seu corpo é muito semelhante aos seres humanos. Prefere-se ratos ao invés de suínos devido a sua higiene. Um transplante de intestino completo foi realizado pela primeira vez na Espanha, neste Hospital, foi testado primeiro em ratos.
Um guia de uma reserva, distante cerca de 140 km, notou que no dia de uma caçada, 80 elefantes desapareceram dos lugares que frequentava; foram encontrados vários dias mais tarde, escondido no fundo da reserva. Manson relaciona este episódio com a recente descoberta de que os elefantes comunicam através de ondas de longe subtônicas, sons de baixa frequência que o ouvido humano não pode perceber.
Acerca dos elefantes e seu senso de solidariedade para com qualquer outra raça há um episódio com registros impressionantes e várias testemunhas. Durante um safári na África, como este que compareceram ao Rei de Espanha e sua comitiva, quando o rei fraturou o quadril, um grupo de animais, girafas, elefantes, rinocerontes, foram vistos fugindo em massa para a selva mais densa, perseguidos por carros e tiros dos caçadores.
Durante uma fuga, um rinoceronte pequeno foi preso em uma armadilha, incapaz de acompanhar o grupo. Os perseguidores furiosos ficaram surpresos quando viram um elefante, que era o último do grupo, virou um tronco esticado e salvou o rinoceronte do grupo humano de perseguidores. Manson ficou ainda mais espantado porque ele diz que o rinoceronte é o único inimigo natural do elefante.
Solidariedade entre os animais, uma lição para os humanos, tais como o Rei de Espanha que são capazes de fazer milhares de quilômetros e pagar muito dinheiro para a emoção de matar elefantes que viviam felizes.
*http://www.extraconfidencial.com/articulos.asp?idarticulo=9387#

domingo, 29 de abril de 2012

29.- UMA DOMINGUEIRA COM REFLEXÕES



Ano 6***  WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR    ***Edição 2097
A semana foi de muitas leituras de propostas dos defensores do criacionismo. Muitos comentários no blogue, com destaque às competentes refutações e aulas magistrais da paleotóloga Prof. Dra. Silvia Gobbo e, certamente o e-book “Fomos planejados: a maior descoberta científica de todos os tempos” disponível em www.marcoseberlin.com.br foi o texto que mais fez aflorar dúvidas.
Assisti  http://www.youtube.com/watch?v=PZokHt1Z3iM uma reportagem da inauguração do minicentro criacionista de Educação Adventista em Botafogo, Rio de Janeiro.  Ao ouvir aulas de religião ser chamadas de aulas de Ciências fiquei com muitas interrogações. Também tive pena da lavagem cerebral imposta a crianças.
Como os criacionistas acreditam que Jonas tenha ficado por três dias e três noites dentro do estômago de uma baleia (Jonas 1,17) — lembro ainda da ilustração que havia na ‘Historia Sagrada’ das aulas de catequese —, fiquei pensando nos problemas que deve ter enfrentado Noé na manutenção por 40 dias numa arca com aquele bando de casais que ainda são responsáveis pela descendência que há hoje no Planeta.
Assim gostaria de ter respostas dos criacionistas a algumas questões: 1) Como Noé conseguiu trazer até a arca os animais de outros continentes e como eles voltaram a suas terras de origem? 2) Como era feita a climatização do ambiente para que espécies vindas dos polos (pinguins, por exemplo) pudessem conviver com elefantes e girafas de regiões equatoriais? 3) Como estavam alojadas as numerosas espécies de vírus e bactérias na arca? 4) Ao terminar o dilúvio como os carnívoros se alimentavam, para não eliminar as espécies levadas para arca para serem reprodutoras? 5) Como depois do dilúvio Deus teve que criar todas plantas novamente, pois todas foram destruídas, por que ele não poupou o trabalho de Noé também criou novos animais, assim ele poderia ter feito apenas um barquinho para salvar sua família? 6) Com quem ele aprendeu hidrodinâmica para construir uma arca como aquela que há na maquete da escola acima referida e que aparece no vídeo citado?
Teria mais uma dezena de perguntas, mas não posso macular mais o domingo de um criacionista ‘com o trabalho’ de responder-me.

sábado, 28 de abril de 2012

28.- UM SÁBADO COM DICA DE LEITURA



Ano 6*** Frederico Westphalen/Porto Alegre    ***Edição 2096
Como a edição anterior, esta postagem ocorre a bordo, agora no sentido inverso de ontem. Depois de um frutuoso dia em Frederico Westphalen, estou retornando para chegar a Porto Alegre, cerca das 6h.
Merece um registro: já ao tomar o ônibus lotado na noite de quinta-feira em Porto Alegre e ao chegar saber que não havia mais vaga em nenhum dos hotéis da região, tomei ciência que minha palestra à noite teria uma estrela de primeira grandeza como concorrente: Michel Teló estava na cidade. Resisti... Os participantes me honraram com atenção até o fim e eu posso registrar que estava no mesmo hotel do astro.
Mas o melhor acontecimento da noite foi encontrar, quando jantava com colegas, o Prof. Dr. Antonio Marcos Sanseverino, que estava na URI em palestra no Programa de Pós-Graduação em Letras. Poder na rodoviária enviar para seus pais um exemplar de Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto. A Maria Tereza e o Sanseverino estão densamente presentes no capítulo do ano 1968.
Antes uma nota lateral. Os assuntos que movimentaram a semana, provavelmente granjearam novos leitores a este blogue, para eles um esclarecimento: aos sábados, honrando uma tradição de mais de quatro anos é usual uma dica de leitura. Hoje a sugestão sabática se faz desde Frederico Westphalen, quase nas barrancas do Uruguai, em região fronteiriça com o Oeste catarinense.
Talvez por ontem termos, sentimentalmente, visitado o Uzbequistão e este ser limítrofe do Afeganistão — o mais conhecido desta plêiade de países ***stão, que se vê no mapa que ilustrou a edição de ontem e são uma quase abstração, para mim e certamente para maioria de meus leitores — lembrei-me de O livreiro de Cabul — um dramático relato de uma jornalista norueguesa que viveu com a família do livreiro e conta com crueza e lirismo o cotidiano de personagens que lemos com avidez, como se fosse um romance, mas dolorosamente é um livro acerca da dura realidade de homens e mulheres no século 21.
Li o livro em 2006, quando do lançamento no Brasil e esta resenha é requentada a partir de texto que publiquei então em www.letraselivros.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=243
SEIERSTAD, Åsne. O livreiro de Cabul. Rio de Janeiro: Record, 2006. 316 p. ISBN: 85-01-07287-
O livreiro de Cabulque no seu título traduz meu apreço a esse sítio que semeia livros. É um livro que classifico como bonitamente triste. Terminada sua leitura, a sensação que senti foi de uma imensa tristeza. Talvez, não sem egoísmo, dissesse-me ‘ainda bem que aqui não é o Afeganistão’. Mas esse país existe. também é século 21. Ou ainda é tempo de cavernícolas?
Mesmo que seja uma sugestão ‘velha’; afinal o livro já tem seis anos, parece oportuno lembra-lo aqui. Como vimos ontem, parece que a situação não mudou muito. Todavia, peço a indulgência de meus leitores por não trazer ‘novidade’. Também no vou culpar a momentosa “T”DI.
Há época que li a dica de hoje, havia lido vários livrosNiketche: uma história de poligamia, As boas mulheres da China, Amêndoa: um relato erótico e Um lugar chamado Brick Lane e Shrin-Gol e a burca – que nos ensejam conhecer realidades bastante diferentes de nosso mundo ocidental. A estes poderia juntar o admirável Caçador de pipas, que também nos leva ao Afeganistão. Falamos muito em mundo globalizado, porém há, ainda, quistos geográficos que são exóticos aos nossos costumes, muito especialmente na maneira como são tratadas as mulheres. Nenhum dos livros antes mencionados parece ser tão impactante quanto O livreiro de Cabul. Aliás, se pudesse dizer o que me pareceu Cabul, pela leitura desse e outros livros ambientados, diria: um pandemônio.
A autora Åsne Seierstad é uma jornalista norueguesa, nascida em 1970. Ela cobriu a guerra no Iraque e os conflitos em Kosovo e no Afeganistão. Merece, aqui uma referência especial, por ter construído com a renda do livro aqui apresentado uma escola para 600 meninas afegãs, que têm aulas em dois turnos diários.
Åsne escreve seu depoimento feito livro por ter vivido na casa de Sultan Khan, o livreiro de Cabul, conhecendo então as intimidades dos universos masculinos e femininos no fundamentalista Afeganistão, após a ditadura talibã. Sultan é uma figura crucial. Amante dos livros, culto, trabalhador, vítima da tirania em função da profissão – foi preso, teve seus livros queimados – mas um déspota no exercício do patriarcado familiar. Suas esposas, seus filhos e filhos, empregados o temem como se fosse apenas um verdugo. Talvez essa seja uma situação paradoxal do livro: um homem de letras, herói na disseminação de livros não fundamentalistas, não tem essas posturas machistas, como foi a Noruega, não para impedir a circulação do livro, como também para exigir uma reparação judicial, por se sentir difamado no livro.
Não é sem razão que esse livro, lançado no Brasil no mês de junho de 2006, passado um mês do lançamento tivesse vendido 20 mil cópias. No mundo foram dois milhões de exemplares comercializados, com direitos vendidos para 30 países. Logoporque recomendar entusiasticamente às leitoras e aos leitores deste blogue, no último sábado aprilino O livreiro de Cabul.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

27.- UMA BARBARIE (AINDA) NO SÉCULO 21



Ano 6*** Porto Alegre/Frederico Westphalen   ***Edição 2095
Uma vez mais este blogue entra em circulação quando recém percorri a primeira hora das seis que me separam de Frederico Westphalen, onde nesta sexta-feira tenho atividades. Tenho dito que trabalho em duas instituições: uma a 6 minutos, outra a seis horas de minha casa.
Esta manhã, me envolvo com a segunda sessão do seminário “Escrever é preciso!” no Programa de Pós-Graduação em Educação e depois tenho encontro com minhas orientandas Camila e Quielen. À noite faço uma palestra no II Simpósio de Ciências Biológicas e sua Multidisciplinaridade. Retorno após para Porto Alegre.
Depois de uma semana envolvidos no discutirmos a “Teoria” do Design Inteligente, que irritou a mais de um leitor pela impropriedade do tema, trago algo dolorosamente relevante.
Hoje há um pedido de solidariedade às mulheres do Uzbequistão — um país na Ásia Central e uma das repúblicas que formavam a extinta União Soviética. Além do território principal, inclui também os enclaves no Quirguistão. Sua capital é a cidade de Tashkent.
O ditador do Uzbequistão está forçando médicos a removerem os úteros de mulheres sem o conhecimento ou consentimento delas para promover o "controle de natalidade" em todo o país. É um crime perverso e sangrento contra as mulheres orquestrado por um homem poderoso e abominável. Chegou a hora de acabar com isso.
Islam Karimov é um dos piores ditadores do mundo e até mesmo já cozinhou ativistas da oposição vivos. Mesmo assim, ele é financiado com milhões de dólares pelo governo dos EUA, que lhe pagam pelo transporte de tropas militares através do Uzbequistão. Essa última rodada de brutalidade, dessa vez contra as mulheres de seu país, trouxe à tona, numa escala global, as atrocidades desse monstro. Vamos usar esse momento terrível para persuadir seu maior financiador e dar um fim em Karimov.
A Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, pode restabelecer sanções militares e pressionar os EUA e outros poderes a apoiá-la. Ela já condenou publicamente Karimov por abusos de direitos humanos e esse mais novo recente ataque às mulheres — um assunto que lhe é caro — somente torna a situação mais grave. Assine a petição abaixo exigindo que Hillary acabe com o reinado de Karimov e pare o ataque brutal às mulheres:
secure.avaaz.org/po/uzbekistan_sterilisation_meme/?vl
Ativistas estimam que dezenas ou mesmo centenas de milhares de mulheres foram esterilizadas em segredo quando estavam no hospital para procedimentos de rotina ou para dar a luz — acordando da mesa de cirurgia sem ter ideia de que seus úteros tinham acabado de serem removidos. Uma ginecologista uzbeque admitiu, "A todo médico é dito... quantas mulheres ele deve esterilizar... minha cota é de quatro mulheres por mês". O uso de prisões arbitrárias e de tortura é tão generalizado que as mulheres não se manifestam por medo de represálias, e jornalistas estrangeiros e ativistas de direitos humanos são frequentemente expulsos do país.
Não tem que ser assim — os EUA podem ser duros com Karimov, que depende do constante fluxo de recursos que transitam para o Afeganistão para financiar seu estilo de vida pródigo. O show de horrores de direitos humanos no Uzbequistão sumiu dos radares por anos — mas temos uma chance real de acabar com o silêncio agora, usando a reportagem explosiva da BBC que entra em detalhes sobre as esterilizações forçadas e apoiando as corajosas mulheres uzbeques que ousaram contar suas histórias diante da opressão colossal.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

26.- TRÉPLICA COZZUOL versus ERBLIN



Ano 6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR  ***Edição 2094
Uma vez mais a ‘Teoria’ do Design Inteligente (TDI) é tema aqui; reconheço que já é a quarta edição consecutiva. Sei que o assunto desagrada a alguns. “Caro Chassot, continuo me recusando a gastar meus parcos neurônios nessa polêmica estéril sobre criacionismo. Enquanto durar o foco nessa pseudociência e seus seguidores bitolados, deixarei de comentar no teu blogue”.
Minha leitura é um pouco diferente. Um blogue que pretensamente quer fazer alfabetização científica deve ser a ágora onde esses assuntos se discutem.
Um eminente biólogo escreveu: Caro Professor, novamente foi muito bom ler os textos do seu Blog e seus comentários. Passei o tema também para os meus alunos e minhas relações de grupo no Facebook.
Nestas discussões, sempre lembro uma frase: “Crença não constitui uma teoria”, na crença não existem fatos verificáveis.
Com certeza, “Se a Teoria da Evolução for REFUTADA, outra teoria CIENTÍFICA entrará em seu lugar... Não existe esta quimera de achar que, se a Evolução cair, o criacionismo seria imediatamente aceito.”, como escreveu Silvia Gobbo, criacionismo ou DI, não seria assim. Gostei muito da frase do prof Guy Barcelos “Vimos aqui o Thomas Huxley respondendo ao Richard Owen...”. Parabéns pelas explicações e argumentos, Martin Sander
Dou voz a seguir ao paleontólogo Prof. Dr. Mario Alberto Cozzuol, da UFMG que inaugurou este debate aqui em 02 de abril. Há aqui uma tréplica muito mais contundente e mais embasada do que aquela que escrevi ontem.
Graças à generosidade do Prof. Attico, agrego algumas reflexões a as expostas dias atras, agora a luz da réplica do Dr. Marcos Eberlin. Fiquei surpreso com o texto porque esperava argumentação, mas achei somente perguntas. Algumas até pertinentes, mas a maioria meramente retóricas. Todas podem ser resumidas em apenas duas: 
1. É a DI uma teoria com status científico ou é apenas criacionismo disfarçado?
 2. Ela tem realmente laços estreitos com crenças religiosas.
A primeira já foi respondida várias vezes. A DI não é ciência porque não pode ser testada, como o método cientifico requer. Mas então, porque alguns cientistas destacados a apoiam, como o próprio Dr. Eberlin? Ele e outros fazem parte da estratégia denominada em inglês de “Wedge”, ou Cunha, em português, que já foi mencionada nos comentários à resposta do Prof. Attico de ontem.
Sem entrar em tecnicismos, as evidências científicas de DI sempre mencionadas, como a “complexidade irredutível” do flagelo bacteriano e outros exemplos já tem sido desmitificadas (http://www.talkdesign.org/faqs/icdmyst/ICDmyst.html). O Dr. Eberlin tem um exemplo da sua preferência, os aminoácidos, compostos bioquímicos que constituem as proteínas nos seres vivos. Eles existem nas formas L ou D, segundo suas propriedades geométricas. Ele destaca que a vida é constituída apenas por L-aminoácidos o que só pode ser explicado por design, não por seleção natural. O que me surpreende é que muito facilmente achei referencias que mostram que isso não é absoluto (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422009000200046&script=sci_arttext) e que isso é conhecido já faz um tempo. Como é possível que ele, um especialista não soubesse? É claro que a maioria dos aminoácidos dos seres vivos são L, mas essa minoria de D-aminoácidos mostra, no contexto da DI, uma “falha” inexplicável para o design, mas que não é falha num contexto de seleção natural, apenas variação normal e esperável. Aquelas “belas falhas” nas que Darwin se debruçava porque são muito mais informativas que a perfeição.
O Dr. Eberlin acusa os detratores da DI de serem autoritários e promover perseguição sobre os seus proponentes. O que gostaríamos de ver é quais são as credenciais de tal “teoria”, o que toda vez é evitado, como o foi no seu texto. A afirmação de Dr. Eberlin "E que vença a melhor teoria, a que estiver seguindo os dados, e do lado da razão!" mostra que eu estava certo ao suspeitar que ele desconhece os a metodologia científica. Dizer que a teoria segue e se origina nos dados acumulados é conhecido como inductivismo que é epistemologicamente falho, sendo substituído pelo método hipotético-dedutivo. Curiosamente Darwin, que viveu no auge do inductivismo, sabia que não era assim que a mente funciona, tanto que escreveu para Charles Lyel, em 1860, que “Without the making of theories I am convinced there would be no observations”  (Sem se fazer teorias estou convencido que não pode existir observação).
O Dr. Eberlin ainda, compara-se, ainda que indiretamente, com Pasteur e Copérnico. Foi uma comparação pífia, por dois motivos. Primeiro porque muitos dos que tem suas ideias refutadas refugiam-se nessa estratégia, colocando-se no mesmo patamar que grandes homens perseguidos na sua época (como o fazem os defensores da existência do pé-grande, ou do mapinguarí nestas latitudes). Porém, para cada grande mente injustiçada teve milhares de pessoas erradas que estavam apenas erradas mesmo. Segundo, porque expõe seu desconhecimento da história. Copérnico nunca foi perseguido. Ele teve inclusive o apoio do papa Clemente VII. Pasteur, por sua parte, não só não foi perseguido, mas amplamente reconhecido em vida.
O Dr. Eberlin se pergunta se os detratores da DI leem os livros que sustentam essa “teoria”. Sim, os lemos. Inclusive o escrito por ele. E justamente nele nos mostra que desconhece não apenas a teoria evolutiva modera, mas ate os dados que ele utiliza. Quando fala do LUCA (sigla para último acentral comum universal, em inglês) se refere a ele como “o primeiro ser vivo”. Last, em inglês, último, em português... tem uma dica aí. Não é o primeiro ser vivo, é o mais recente acentral a todos os seres vivos modernos, implicando que muitos milhões de anos de evolução se passaram para chegar até ele. Por todo isso preocupa-me que um pesquisador que, pela sua posição na academia hoje não pode reclamar de ser perseguido, exiba semelhante despreparo.
Finalmente a segunda pergunta. A DI tem realmente laços estreitos com crenças religiosas?
Isso também já foi respondido, inclusive no famoso julgamento de Dover, já mencionado nos comentários de postagens anteriores (a transcrição completa do qual pode ser encontrada aqui: http://www.aclupa.org/legal/legaldocket/intelligentdesigncase/dovertrialtranscripts.htm). Mas se restava alguma dúvida, basta ver o já citado documento “Wedge” do qual um dos autores citados pelo Dr. Eberlin (Stephen Meyer) é co-redator, pelas declarações do Dr. Michael Behe reconhecendo seu objetivo de uma ciência cristã, e do próprio Dr. Eberlin, como esta explicito no texto do Prof. Attico de ontem. Não que um cientista não possa ser religioso. Já foram apresentados por aqui exemplos de sobra de casos assim. O que não é admissível é forçar dados para concordar com certa interpretação literal da religião.
Não, quem defende a teoria evolutiva moderna não quer que seus críticos se calem, queremos, apenas, mas nada menos, que forneçam dados e hipóteses bem fundadas, não delírios e meias verdades. Não tem cale-se aqui, Dr. Eberlin, tem apenas um explique-se.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25.- UMA TRÉPLICA AO DESIGN INTELIGENTE



Ano 6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR  ***Edição 2093
Em dois momentos a autodenominada ‘Teoria’ do Design Inteligente (TDI) pontificou neste abril aqui. Nos dias 02 e 03, quando, atendendo a convite pessoal, o paleontólogo argentino Prof. Dr. Mario Alberto Cozzuol, da UFMG, criticando a TDI e citou ao Prof. Dr. Marcos Nogueira Eberlin da Unicamp, muito provavelmente o mais eminente cientista brasileiro a professar a TDI.
Na rodada de abertura (na primeira semana aprilina) o assunto teve repercussão com sete (dia 02) e seis (dia 03) comentários. A propósito desta publicação o Prof. Eberlin, solicitou e obteve direito de resposta. Esta foi exercida na segunda-feira e ontem. A ressonância no primeiro dia foi excepcional, mais de 230 acessos, com 87 comentários, estes cerca de 20 vezes a média diária, com a participação de quase uma dezena de comentaristas. A situação foi inédita nos quase seis anos deste blogue. A publicação de ontem também teve muito boas repercussões com 24 comentários. Nas duas edições, mesmo solicitado, por leitores, silenciei minha participação. Ontem, anunciei para hoje uma tréplica.
A propósito, antes de anuncia-la e enuncia-la uma declaração: qualquer leitor que quiser trazer um texto pró ou contra a TDI poderá publicá-lo aqui. Há só uma exigência: o texto não pode abrigar agressões pessoais e, muito menos, vitimisar com preconceitos a outrem.
Pretendo na minha tréplica apresentar três movimentos. Antecipo que não flui em mim o sabor/ o saber de um polemista. Enxergo-me, de maneira recorrente intimidado na contestação. Eis minha proposta:
1.-  Contestar algo do livro “Fomos planejados”.
2.- Assinalar divergências na entrevista do Prof. Eberlin em “Academia em Debate” da Universidade Mackenzie.
3.- Comentar sobre a réplica publicada aqui nos dia 23 e 24 de abril.
Pensara também trazer algo acerca dos comentários dos leitores. Há neles preciosidades. Mas, para hoje não é possível, por falta de tempo. Assim enuncio os três movimentos anunciados.
1.- Li com muito interesse (é verdade de maneira muito dinâmica) o livro ‘Fomos planejados: a maior descoberta científica de todos os tempos’ disponível em www.marcoseberlin.com.br O livro é riquíssimo em informações. O e-book tem excelente proposta gráfica, com figuras excepcionais. Muitos trechos são exclusivos para leitores que detenham mais sólidos conhecimentos de bioquímica e outros são de meridiana simplicidade. Como um todo: é um texto agradavelmente coloquial.
Depois trazer seus posicionamentos se encerra um capítulo assim: “Fomos planejados, gente, não resta dúvida, gostem ou não gostem. E esta é sem dúvida a maior descoberta científica de todos os tempos!” Uma Ciência que não tem dúvidas, não é Ciência. Logo não é com este livro que o paladino brasileiro da TDI fará conversos.
2.- Na entrevista do Prof. Eberlin em “Academia em Debate” da Universidade Presbiterana Mackenzie nos encantamos como com cativante didatismo, quando o entrevistado assume uma postura não dogmática em relação a Ciência mostrando a transitoriedade das verdades.
Mas, quando o entrevistador pergunta-lhe acerca da origem do homem: macaco ou um boneco de barro, Eberlin é categórico: assume a defesa intransigente do relato do Gênesis. E pasmem, diz ter evidências teóricas para tal. Fala em outro momento que vê nas moléculas as impressões digitais do Criador: “Em todas as moléculas vemos ‘a mão e a mente’ de nosso Criador. [...] Por isso, sabemos que não há no Céu e não há na Terra Deus como o Senhor!”*
Ao lado disso, diz algo que, para quem conhece o minucioso trabalho de Darwin por dezenas de anos, é um deboche: “Na época de Darwin, o “equipamento científico” mais utilizado era a cadeira de balanço, onde Darwin e outros pensadores e filósofos elaboraram as teorias naturalistas sobre a origem da vida.” Aceitemos, que isso não é argumento que dê crédito à TDI, ao contrário a desvaloriza.
3.- Algo sobre a réplica publicada aqui nos dia 23 e 24 de abril: qualquer tentativa de responder a interrogações pífias propostas por um dos mais importantes químicos do Brasil se esboroam no insustentável. Talvez a trazida pela Profa. Dra. Silvia Regina Gobbo, do dragão invisível que estava na garagem de Carl Sagan (vale ler os sumarentos comentários da edição de ontem) traduza o convite do inteligente e didático Prof. Eberlin. Pediu uma réplica neste blogue para nos mostrar a TDI, só que ela invisível, inquestionável e acima de tudo inexplicável.
O mais exótico em tudo isso é que um dos cientistas brasileiros de maior expressão acredita que nos possa fazer crer que dragões existem, mas são invisíveis e mais são incorpóreos, mesmo que cuspam fogo atérmico.
Agradeço aos muitos parceiros que trouxeram aqui suas ideias pró/contra a TDI. Sou grato especialmente ao Prof. Marcos Eberlin. Fruí com ele, entre outros saberes, fazer ficção científica. Foi/é muito bom.