ANO
11
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Amigo é prá essas coisas...
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EDIÇÃO
3239
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Sim... Chico Buarque diz: “Amigo é prá essas coisas” Milton Nascimento completa: “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete
chaves, dentro do coração”. Poetas cantam sempre muito bonito a amizade.
Todos convimos: amigos são preciosidades.
Talvez, a rapidação dos dias atuais
tenha banalizado a palavra amigo. Há que convir que aqueles para guardar a sete
chaves no fundo do coração muitas vezes rareiam ou as dificuldades de encontros
os fazem esquecer.
O Facebook definiu, há mais de dois
meses, que não posso mais aceitar convites de amizades, pois já atingi 5 mil
facefriends. De vez em vez o meu número de amigos tem uma redução, por exemplo,
a 4990 e, então, posso ir a lista de espera e aceitar dez. Isso me parece no
mínimo ridículo.
Claro. há muitos amigos do Facebook que
quero muito bem. Mas há uma significativa maioria que não conheço. Eu aceito as
solicitações por saber a origem do pedido. Poucos deles estão a sete chaves.
Mas, nesta quinta-feira, concretizei um
encontro, marcado desde o ano passado, com um amigo daqueles que fazem
juntar-me ao poetas para tecer loas. Reencontrei-me, depois de algumas semanas,
com o Edni Oscar Schroeder. Tínhamos muito a conversar. Vimos, ao abrir distintíssimos
registros, que nossa amizade completa jubileu de ouro.
Nos conhecemos há 50 anos na
disciplina de Química Orgânica 2 (o regime acadêmico era anual) e eu era
professor desta disciplina que pertencia ao 3º ano do curso de Química da PUC,
de quatro anos. Fomos depois, por muitos anos colegas, enquanto professores, no
departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química da UFRGS. Deste
período a nosso fazer mais significativo foi construir, vencendo muitas
resistências, a Área de Educação Química que se constituiu em núcleo que
ofereceu cursos de pós-graduação. Ainda na UFRGS, nos sucedemos enquanto
diretores do Decordi. No Instituto de Química nos envolvemos juntos em várias
disputas; perdemos a maioria.
Nos alternamos no Centro
Universitário do IPA (quando ele saiu, tempos depois eu entrei). Tivemos filhos
em períodos relativamente próximos e hoje trocamos figurinhas de netos, um e
outro achando os seus mais bonitos e mais inteligentes.
Já fomos companheiros de caminhadas no
Parcão de madrugada. Então, como agora curtimos muitas (des)ilusões. Sem querer
ser catastrofistas, hoje quando olhamos para o Brasil somos levados a aceitar
que ponte para o futuro que o presidente usurpador sonhou ser é uma frágil
pinguela que desdenha a democracia. Gostaríamos de ter ilusões. Perdê-las sabe
a amargo.
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