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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

05.- Uma amizade cinquentenária

ANO

 11
Amigo é prá essas coisas...
EDIÇÃO
 3239


Sim... Chico Buarque diz: Amigo é prá essas coisas Milton Nascimento completa: “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração”. Poetas cantam sempre muito bonito a amizade. Todos convimos: amigos são preciosidades.
Talvez, a rapidação dos dias atuais tenha banalizado a palavra amigo. Há que convir que aqueles para guardar a sete chaves no fundo do coração muitas vezes rareiam ou as dificuldades de encontros os fazem esquecer.
O Facebook definiu, há mais de dois meses, que não posso mais aceitar convites de amizades, pois já atingi 5 mil facefriends. De vez em vez o meu número de amigos tem uma redução, por exemplo, a 4990 e, então, posso ir a lista de espera e aceitar dez. Isso me parece no mínimo ridículo.
Claro. há muitos amigos do Facebook que quero muito bem. Mas há uma significativa maioria que não conheço. Eu aceito as solicitações por saber a origem do pedido. Poucos deles estão a sete chaves.
Mas, nesta quinta-feira, concretizei um encontro, marcado desde o ano passado, com um amigo daqueles que fazem juntar-me ao poetas para tecer loas. Reencontrei-me, depois de algumas semanas, com o Edni Oscar Schroeder. Tínhamos muito a conversar. Vimos, ao abrir distintíssimos registros, que nossa amizade completa jubileu de ouro.
Nos conhecemos há 50 anos na disciplina de Química Orgânica 2 (o regime acadêmico era anual) e eu era professor desta disciplina que pertencia ao 3º ano do curso de Química da PUC, de quatro anos. Fomos depois, por muitos anos colegas, enquanto professores, no departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química da UFRGS. Deste período a nosso fazer mais significativo foi construir, vencendo muitas resistências, a Área de Educação Química que se constituiu em núcleo que ofereceu cursos de pós-graduação. Ainda na UFRGS, nos sucedemos enquanto diretores do Decordi. No Instituto de Química nos envolvemos juntos em várias disputas; perdemos a maioria.
Nos alternamos no Centro Universitário do IPA (quando ele saiu, tempos depois eu entrei). Tivemos filhos em períodos relativamente próximos e hoje trocamos figurinhas de netos, um e outro achando os seus mais bonitos e mais inteligentes.
Já fomos companheiros de caminhadas no Parcão de madrugada. Então, como agora curtimos muitas (des)ilusões. Sem querer ser catastrofistas, hoje quando olhamos para o Brasil somos levados a aceitar que ponte para o futuro que o presidente usurpador sonhou ser é uma frágil pinguela que desdenha a democracia. Gostaríamos de ter ilusões. Perdê-las sabe a amargo.

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