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sexta-feira, 29 de maio de 2020

29MAIO2020 a livecizaçao me ejetou do ostracismo




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Uma edição para encerrar o imprevisível maio. Quando no começo da segunda quinzena de março, nos insertamos em uma quarentena, jamais se imaginava que ao findar o mês de maio estaríamos encerrando a segunda quarentena. E, ora temos interrogações de como serão nossas agendas ao se completar a terceira quarentena, em meados de junho.
O leitor está a perceber que me faço ortodoxo. Considero uma quarentena como período de 40 dias. Aqui recordo nossa afiliação continuada a influências religiosa. O Gênese dá margem a pelo menos três interpretações acerca da duração do dilúvio por uma quarentena: 150 dias (Gn 7:24; 8:3); apenas 40 dias (Gn 7:4,12,17); um ano (Gn 8:13,14; cf. Gn 7:6).
Uma das festas marianas mais populares do catolicismo romano, ainda nos dias atuais, é Purificação de Nossa Senhora, a dois de fevereiro — 40 dias depois do Natal — quando Maria, cumprindo a lei mosaica de guardar 40 dias de quarentena, comparece ao templo para purificação, pois o sangue do parto deixava a mulher impura. Existem menções que se negava sepultura cristã a mulheres que morressem impura pelo parto.
 Se é discutível de quanto foi a extensão da quarentena diluviana, a duração de nossa quarentena pandêmica é não sabida. Certo é que já ultrapassamos o mítico septuagésimo dia. Quem está prevendo mais duas quarentenas, talvez, não exagere.
Depois de me arrostar na mitológica arca diluviana chego a tempos pandêmicos do 2020, sem que surja uma pomba anunciando que as águas estejam a vislumbrar esperanças.
Lanço redes na internet e ratifico a edição anterior: a livecização me ejetou do ostracismo.
 No dia treze de maio, a estreia: III Semana de Química da Universidade Federal do Cariri, câmpus Brejo Santo. A segunda foi em 19 de maio, em um evento do Programa de Pós-graduação Educação em Ciências da UFSM se fez Confabulações acerca da Alfabetização Científica onde durante a fala de mais de 1,5 hora mais de 530 participantes tempo depois os acessos eram mais de dois mil. A terceira na UFFS, campus de Chapecó: “Os impactos da pandemia na educação: diálogo com Chassot’ foi menos boa, também por dificuldades tecnológicas.
A reabilitação ocorre na quarta live na mesma semana: ontem, 28 de maio, na Unipampa Cãmpus quando se buscou resposta à questãoCiência e Religião um diálogo possível? 
Para junho, já há seis lives agendadas:
No dia 01/06, na Universidade Estadual do Ceará campus de Crateús estão previstas algumas Confabulações acerca da Alfabetização Científica.
No dia 16/06, com alunos das licenciaturas de três campi do IFRS (Porto Alegre, Vacaria e Sertão) se assestará óculos para ver o mundo natural’.
No dia do químico, 18 de junho, participarei de uma live no campus de Cerro Largo RS da UFFS. Ainda estão agendas outras três lives: Cinco Revoluções Científicas no CEAPP Salvador BA, em Toledo PR, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e em uma escola de ensino médio de Porto Alegre.
Pensara em dedicar a edição de hoje a pornográfica reunião ministerial de 22 de abril. Resigno-me à minha incapacidade pelo nojo que o tema catalisa a minha impotência para comentar o assunto. Uma reunião na qual a pandemia, que assola o Planeta Terra, só foi referida pelo ministro do meio ambiente para ser usada como distrator para abrir a porteira para deixar passar o gado para mais desmatar.
Não é trivial sermos cidadão de uma republiqueta teocrática cívico militar que tem um ministro da (des)educação que não reconhece a existências de povos indígenas e de ciganos.
Não se consegue comentar os desgovernos deste pais, no qual, ainda ontem o presidente despediu a camarilha que o aplaude diariamente com um sonoro palavrão.
 Melhor é apenas desejar (se possível) um bom fim a cada uma e cada um. Estes são meus votos: saúde a todos.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

22MAIO2020 UMA LIVECIZEÇÃO NOSSAS FONTES DE SABER



ANO
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AGENDA 2 0 2 0
EDIÇÃO
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Não tenho dificuldades de afirmar — mesmo que possa ser taxado de démodé — que há dois anos não conhecia o artefato cultural que mais me envolve nestes dias pandêmicos.
Hoje livros, revistas, aulas, palestras... nossos usuais meios de buscar saberes são suplantados pelas lives. Ops: pelos lives!
Afinal... o que é um live? Primero devo dizer que eu (e acredito que meio mundo) não reconhecia live com substantivo masculino, Ouço dizer, por exemplo: ‘assisti uma live’ e parece que nunca ouvi referir fiz um live. Vou ao dicionário: LIVE|laive|(Palavra inglesa) adjetivo e substantivo masculino LIVE Diz-se de um disco, de uma emissão registrada não em estúdio mas em cena diante de um público. "live", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa https://dicionario.priberam.org/live [consultado em 22-05-2020]Dou-me conta que se usa live mais como substantivo. Dizer o concerto é live, parece ser menos usual. Mas enfim a quarentena promoveu uma livecizeção nossas fontes de saber.
Agora já encontramos notícias como:

Detentos de presídio no Paraná fazem "live" nas redes sociais...istoe.com.br › detentos-de-presidio-no-parana-fazem-li...

Depois, o vídeo da live foi reproduzido no perfil “Vida Bandida”, do Instagram, e replicada no perfil de fofoca “Vem me buscar, bebê”

Lives de hoje: veja o cronograma das transmissões ao vivo ...

 pelas redes sociais para curtir em casa na quarentena. Fique por dentro do destaques da programação de hoje - veja ...
Devo reconhecer que foram os lives que me ejetaram do ostracismo. Há uma semana escrevi aqui: Eu no ano anterior dera mais de meia centena de palestras, agora atender um convite da III Semana de Química da Universidade Federal do Cariri, câmpus Brejo Santo parecia complicado. Sentia-me um debutante. Tentava fazer de uma porção de minha biblioteca em lócus que me permitisse estando aqui estar lá. Tudo parecia exótico. O horário aprazado — 18 horas — não chegava nunca. Depois de dezenas de minutos que pareceram horas chego ao Cariri. Sinto-me um alienígena.
Então uma sensação inusual: chegam comigo à UFCA gente de todo Brasil. Foi uma sensação fantástica ‘ver’ conhecidos e desconhecidos, que identificavam sua pertença a Universidades e Institutos Federais de todo Brasil. E eram centenas em uma e outra plataforma (UFCA e YouTube). Mais de meio milhar.
Então não era mais um alienígena. Era um indígena na minha tribo. Vivera mais um ritual de passagem.
Assim, quando na manhã desta terça-feira, 19/05/2020, em um evento do Programa de Pós-graduação Educação em Ciências da UFSM, organizado pelo Prof. José Francisco, num live Confabulações acerca da Alfabetização Científica me senti como alguém que estava no seu mister. Houve durante a fala de mais de 1,5 hora mais de 530 participantes tempo depois os acessos eram mais de dois mil. Claro que senti falta de ver o público. Também, às perguntas estava cansado. Há que migrar nas palestras da bipedestação à sedestação. 
Assim, depois do debut no mundo dos/das lives minha agenda ressuscita. Mesmo que em mais de 2.000 participantes, uma qualificara a palestra de ruim, pois tinha pouca Ciência e muita política, recebo novos convites.
Na próxima semana na segunda-feira, na UFFS, campus de Chapecó, participo de “Os impactos da pandemia na educação: diálogo com Chassot’ com mediação do Prof. Dr. Antônio Valmor de Campos, que foi meu orientando de mestrado e coorientando de doutorado.
Na 28MAI2020, quinta-feira, às 10h, participo na Unipampa, campus de Uruguaiana de Mesa Redonda organizada e mediada pela Prof. Dra. Andréia Fernandes Salgueiro participo com o Prof. Dr. Vanderlei Folmer da busca de resposta a questão:Ciência e Religião um diálogo possível?
Em 09 de junho, por convite da Prof. Dra. Jaqueline Rabelo de Lima, do campus de Crateús da Universidade Estadual do Ceará, vou levar ao Ceará algumas Confabulações acerca da Alfabetização Científica.
Em 16JUN2020 no IFRS, com alunos das licenciaturas dos campi de Porto Alegre, Vacaria e Sertão participarei do Ensino de Ciências Pontos e contrapontos, a convite da Profs. Aline Grunewald Nichele, proferindo a palestra ‘Assestando óculos para ver o mundo natural’.
Ainda um importante comentário final: Não preciso justificativa maior, para em lives fazer o que fiz nas palestras a partir do segundo semestre do ano passado trazer a Laudato Si’ como antidoto às políticas do meio ambiente do atual governo Bolsonaro, que está aproveitando a pandemia para deixar correr a destruição da Amazônia. Agora, esta percepção está expressa nos números: o desmatamento da Amazônia em abril foi o maior dos últimos dez anos, com 529 km² da floresta derrubada, um aumento de 171% em relação a abril de 2019. (Fonte: Ponto de 22/MAI2020)
Recomendo uma vez mais a leitura, a cada sexta-feira, de PONTO WWW.brasildefato.com.br — excelente newsletter semanal do Brasil de fato.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

15MAIO2020 E o real se faz virtual que se faz real


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E a quarentena se espraia, parecendo ilimitada... já completamos oito semanas. Ainda, de vez em vez, somos arrostados a mares brumosos. Não vislumbramos faróis passiveis à orientação. Há tênues indícios de terra à vista.
Houve fabulosa exceção. Nesta quarta-feira, vivi momentos fora da curva. Este 2020 custou a deslanchar, mas nada fazia prever que seríamos lançados em tempestades. Depois de magros janeiro e fevereiro, março entra em cena prenhe de esperanças. Na primeira quinzena tive duas viagens à Amazônia.
A 11ª viagem de 2019 à Marabá, em dezembro, já parecia remota. No bissexto 29 era para reinaugurar minha itinerância. Porém... pela primeira vez, voltei de um aeroporto por ter perdido um voo por minha culpa. Foi osso duro à roeção. Mesmo com multa muito salgada, só viajei 24 horas depois. Cheguei à madrugada de segunda-feira em Marabá. No mesmo dia proferi a aula inaugural para os mestrandos da terceira turma do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Unifesspa. Também nesta primeira estada em Marabá 2020, me reuni coletiva e individualmente com meus quatro mestrandos da Unifesspa e foi planejado um seminário: A arte de escrever Ciência com Arte.
Retorno a Porto Alegre no sábado e na semana seguinte viajo à Manaus, aonde proferi quatro aulas inaugurais na Universidade Federal do Amazonas: duas na Faculdade Medicina e duas no Instituto de Ciências Biológicas. Ainda na UFAM, houve lançamento de livro Sabores que sabem à Extensão do qual sou coautor, junto com a Profa. Dra. Irlane Maia, que orientei no doutoramento.
Vencido, com galhardia a primeira quinzena de março, o (in)esperado ocorre.
Como antes já escrevi aqui: “Em fevereiro apareceram rumores de novo vírus. Não sabíamos o nome. Era lá no outro lado do mundo, no Oriente que povoa nosso imaginário como algo díspar deste ‘maravilhoso’ Ocidente. Houve carnaval no qual se obliterou os tempos viróticos.”
Mas, na segunda quinzena de março tudo mudou. Pandemia [uma doença com distribuição geográfica internacional muito alargada e simultâneauma palavra infrequente no nosso cotidiano, agora se faz senha para assustar pessoas, esboroar agendas, aprisionar viventes, fazer prognósticos tétricos e muito mais.
Minha agenda está derruída. A minha e a de meio mundo.
Na segunda quinzena de março numa agenda vazia, paradoxalmente, nada cabia. Num abril, que parece nunca acabar, se repete o mesmo. Todos os convites a palestras são transferidos. Isto se repete com os compromissos de maio. Não há nada previsto para junho. Se diz, talvez em julho, mas o mais provável em agosto ou mais adiante. Eventos há muito agendados, agora não tem sequer previsão.
Mas não há mal que sempre dure. Nesta quarta-feira, o 13 de maio teve muito mais que lembrar uma dita abolição da escravatura ou início das aparições em Fatima.
Atendo convite da III Semana de Química da Universidade Federal do Cariri, câmpus Brejo Santo: transformar a palestra que fora agendada como presencial em virtual. Acolho sem qualquer preocupação. Com muita antecipação envio a apresentação. Sou despreocupado. Parecia que cumpriria uma rotina... apenas quebrando um jejum de dois meses de vacuidade.
À véspera parece que cai a ficha (metáfora que nos remete a algo agora démodé: quando num orelhão ouvíamos cair a ficha e se estabelecia a ligação). Estou mexido de maneira excepcional. Remexo na palestra. Busco a recomendada inserção no contexto. Vou a Universidade Federal do Cariri. Adito (na acepção de tornar feliz) uma homenagem a escritora, cordelista, poeta Jarid Arraes, a “jovem mulher do vale do Cariri que faz literatura retirante". Dela recordo o livro Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis.
Chega a quarta-feira. Sou insone à madrugada. Tenho a densa sensação que estarei de maneira presencial em Brejo Santo. Nego à pandemia a autoridade de ela nos transmutar em seres virtuais. O dia se esparrama imenso. Confundo-me. Sou real. Sou virtual.
Não me permitia ficar nervoso. Olhei 2019: estive em fazeres acadêmicos, em 21 universidades das quais 4 em São Paulo [USP, Unicamp (2) UNESP (4 São Carlos e Bauru) e UFSCAR] e em oito na região amazônica Pará (3), Amazonas (2), e Macapá (2) e Mato Grosso quando realizei 52 palestras, (incluindo bancas, mesas redondas e minicursos). É... mas então, não era virtual.
Buscava lembrar-me, das várias vezes, que entrara virtualmente em distintas salas de aula para discutir Diálogo de aprendentes[i], um dos meus que mais curto.
 Estava muito atrapalhado. Sentia-me um debutante, como aquele que suando frio deu sua primeira aula em 13 de março de 1961.
 Tentava fazer de uma porção de minha biblioteca o lócus que me permitisse estando aqui, estar lá. A meta era me organizar para falar em pé. Não sei falar sentado.
Tudo parecia exótico. O horário aprazado — 18 horas — não chegava nunca.
Depois de dezenas de minutos que pareceram horas chego ao Cariri. Sinto-me um alienígena.
Imagem: Danila F. Mendonça
Então uma sensação inusual: chegam comigo à UFCA gente de todo Brasil. Foi uma sensação fantástica ‘ver’ conhecidos e desconhecidos, que identificavam sua pertença a Universidades e Institutos Federais de todo estados do Brasil. E eram centenas em uma e outra plataforma (UFCA e YouTube). Então não era mais um alienígena. Era um indígena na minha tribo, com mais de meio milhar envolvidos o nas Ciências.
Finalmente o Prof. Dr. Alessandro Cury Soares, do Instituto de Formação de Educadores da UFCA, dá a partida. Parece que então me acalmei.
Falei cerca de 1,5 hora. Era muito exótico. Não via ninguém. Numa palestra presencial sempre elejo duas ou três pessoas dentre as que identifico como aprovadoras de minha exposição. Isto faz diferença. Também não se ouve a plateia rir a um chiste ou aplaudir uma anuência.
Às perguntas senti-me cansado.
Houve uma surpresa. A primeira pergunta foi do Élcio, um escritor de Sorocaba. Um e outro nos conhecemos apenas virtualmente ou por livros trocados. As questões trazidas foram difíceis e pareciam não terminar nunca, mesmo contendo elogios.
Quando me desconectei, ao descer ao piso inferior de minha Morada dos Afagos, algo muito estranho. Vivi a sensação de estar chegando de uma viagem, como se nas últimas 2,5 horas estivesse ausente de meu ninho.
 Afortunadamente então fui trazido para o mundo real por chamadas no WhatsApp de pessoas queridas. Diziam da apreciação à fala.
Preparei uma janta e com um reserva chileno. Solenizei o feito de centenas de mulheres e homens — que mesmo vivendo em país desgovernado por um genocida — sabem que resistir é preciso.
Ontem, quinta-feira, foi o legítimo day after. Estava derreado física e emocionalmente. Mas, prenhe de gostosas emoções por ter estado no Vale do Cariri e encontrado a minha tribo que comigo são parceiros na busca de mundo mais justo e mais igual.
[1] CHASSOT, Attico. Dialogo de aprendentes, in MALDANER, Otavio Aloisio (Organizador); SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos (Organizador). p. 23-50 Ijuí: Ensino de Química em Foco Editora Unijuí, 2010, 368 p. ISBN 978-85-7429-888-7
Existe uma 2ª edição de 2019.






sexta-feira, 8 de maio de 2020

08MAI2020 Há que aprender a chorar



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Já vencemos (na terça-feira) sete semanas desta inédita quarentena. 7x7=49 dias. Me lembro que minha mãe, quando me ensinava tabuada, dava ênfase — não sei o porquê — a esta multiplicação. Ainda hoje, de vez em vez, evoco a cena.
Nesta quarta-feira, postei em alguns grupos de comunicação do WhatsApp esta inserção: Minhas amigas e meus amigos! Não preciso dizer que estou com saudades de vocês. Porque isto vocês já sabem... Queria contar algo diferente: esta manhã, participei (de maneira remota, é claro!) em Marabá PA, por mais de 3 horas de uma reunião envolvendo cerca de 20 colegas professores, como eu, e mestrandos do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática da UNIFESSPA: esta tarde postei no grupo do PPGECM o que eu transcrevo para vocês a seguir: Gente muito querida! Sabem algo que a reunião dessa amanhã me ensinou? nestes tempos viróticos vamos ter que aprender a chorar juntos!
Com a avassaladora rapidação do aumento do número de óbitos, vitimados pelo Coronavírus cada vez mais os mortos se aproximam de nós. Quando era na China, parecia quase uma abstração. Depois na Europa, começamos ficar mais antenados. Agora, são nossos conhecidos (parentes, vizinhos, colegas, amigos...) e mesmo figuras públicas (filósofos, professores, autores, atores, atrizes, artistas...) como acontece nesta semana. Nos últimos três dias, diariamente, a cada dia, mais 600 pessoas foram a óbito (esta expressão, ora um modismo, me incomoda! Ela parece denotar um falso ato volitivo).
Há muitos rostos nos quais vemos rolar lágrimas. E não as podemos recolher. Vivemos um muito necessário isolamento social. Realmente, como me escreveu nesta quarta-feira, a Prof. Dra. Andréia Fernandes Salgueiro, da Unipampa, campus de Uruguaiana: Nestes tempos viróticos, há que aprender a chorar juntos. Estamos todos envolvidos em mundo em lágrimas. Há que aprendermos o consolar.
Uma observação lateral: nos saberes desta nova era da livecizeção, aprendi que em uma cabeça de alfinete, cabem 100 milhões do vírus que se faz o personagem central desta pandemia. Mesmo que no livro Alfabetização Científica: questões e desafios para educação, tenha escrito um capítulo Do fantasticamente pequeno ao fantasticamente grande, é difícil para mim imaginar as dimensões de um coronavírus.
Na reunião de quarta-feira, que referi antes, um dos pontos de pauta era acerca de exigências atividades acadêmicas remotas, neste momento no qual há ainda mais necessidade de afastamento social. Encaminhou-se, então, proposta pela não-exigência de qualquer atividades dos alunos (exceto aquelas voluntárias, acordadas em comum por discentes e docentes). Três dimensões embasaram a justificativa à proposta:
1) psicológica: em tempos lutuosos e/ou insanos nos quais convivemos, tanto alunos como professores não raro somos intelectualmente incapazes. Muitos de nós, nestas semanas, vivemos em uma quase esterilidade mental. É quase vedado produzir um parágrafo de um texto acadêmico submetido ao aguilhão do luto. Tu choras. Eu choro. Nós choramos.
2) técnica: não é uma pandemia, que de uma maneira mágica, confere a todos, de maneira universal, expertise em Educação à distância. Há que recordar também que nem todos têm acesso a recursos tecnológicos para tal. Vale recordar que um terço dos lares brasileiros não tem internet. Esta dimensão esta, mais extensamente na edição de 17ABR2020 deste blogue. Lembrei, que mesmos nós, na reunião em que estávamos participando, tivemos problemas técnicos. Um bom exemplo ocorreu ontem à noite: o presidente teve que recomeçar pela menos três vezes (depois destas desisti!) sua live para com gabolice relatar a visita que fez ao STF para pedir que deixe o povo trabalhar e isto podiam ratificar seus escudeiros-empresários que atestavam que seu capital estava diminuindo.
3) política: há que dizer não a propostas indecentes do governo às instituições públicas. Se quer barganhar verbas para as instituições que não aderirem ao necessário distanciamento social. Nas escolas de redes privadas (muitas delas ligadas a grupos alienígenas que fazem da Educação uma mercadoria) a situação não é diferente: há que transmitir conteúdos, para cumprir programas, para fazer dos pais devedores das mensalidades às escolas. Nesta situação ocorre, especialmente na Educação Básica, não raro um gasto duplo, pois nem todos pais, avós e/ou domésticas são capazes de se tornar professores num repente. Para assegurar que se transmita todo os conteúdos há famílias que contratam professores particulares.
Estas três dimensões são pertinentes na Educação Básica, na Graduação e na Pós-graduação.
A decisão da reunião foi que se possa orientar os alunos em atividades sem que estas tenham exigências de cobranças obrigatórias.
Adito meus votos de mais uma boa semana, o quanto tal é possível. Saúde a cada uma e cada um do Planeta Terra. Possamos nos ler de novo na próxima sexta-feira. Até então.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

01MAIO2020 um presidente genocida



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AGENDA 2 0 2 0
EDIÇÃO
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Agora...já é maio. Já vivemos um terço deste heterodoxo 2020. Há que confessar, ferreteado por complexo de culpa, que se diz podermos atribuir ao nosso DNA judaico (que com o DNA grego e com o cristão parecem nos constituíram) que temos poucos fazeres a registrar neste primeiro quadrimestre deste bissexto 2020.
Janeiro ainda era clima de ano novo de número bonito. Houve férias. Elas pareciam nos agraciar por termos suportados um primeiro ano dos quatro de (des)governo.
Fevereiro apareceram rumores de novo vírus. Não sabíamos o nome. Era lá no outro lado do mundo, no Oriente que povoa nosso imaginário como algo díspar deste ‘maravilhoso’ Ocidente. Houve carnaval no qual se obliterou os tempos viróticos. Uma vez mais se baliza um senso comum: no Brasil o ano começa mesmo na primeira segunda-feira depois do carnaval e neste ano já era 02 de março.
Parecia que viveríamos tempos como dantes. Na primeira quinzena de março fiz duas viagens à Amazônia.
Primeiro fui à Marabá. Retomei ações que marcaram o início de meu segundo ano enquanto Professor Visitante Sênior da Unifesspa, Isto me enseja estar uma semana a cada mês em Marabá. Na estada de março, fiz a fala da recepção aos mestrandos da terceira turma do PPGECM. Foi muito significativo também me reunir coletiva e individualmente com meus quatro mestrandos da Unifesspa. O Daniel, meu orientando de pós-doutorado, e eu planejamos um seminário A arte de escrever Ciência com Arte para começar em março. Logo transferido para abril. Agora sabemos que não ocorrerá em maio. Talvez em junho.
Voltei à Porto Alegre.
Então, fui à Manaus. Proferi quatro aulas inaugurais na Universidade Federal do Amazonas: duas para alunos da Faculdade Medicina e outras duas para alunos do Instituto de Ciências Biológicas. Também participei do lançamento de um livro do qual sou coautor.
Com esse fazeres na primeira quinzena de março, não imaginaria que na blogada 20/MAR2020: E ... o março de 2020 terminou dia 17 escreveria: minha agenda está derruída. A minha e a de meio mundo. A agenda de março está vazia e (oh paradoxo!) nele nada mais é passível de agendamento.
E, agora que abril passou. Que fazeres — além de dezenas de abluções das mãos — podemos apresentar? Até o saboroso blogar é árduo. Tempos difíceis.
Recomendo uma vez mais a leitura, a cada sexta-feira, de PONTO WWW.brasildefato.com.br — excelente newsletter semanal do Brasil de fato.
Na edição deste dia 1º de maio, Ponto registra: “Se um dia for feito um documentário sobre como o Brasil lidou com a pandemia de coronavírus, uma cena que não poderá faltar é a do shopping center de Blumenau abrindo as portas ao som do saxofone. A cidade catarinense reabriu o comércio no dia 13 de abril. De lá para cá, os casos de coronavírus tiveram aumento de 160%. É bem verdade que a reabertura do shopping ocorreu apenas no dia 22, mas não há como fugir do inevitável: o Brasil vinha conseguindo timidamente achatar a curva de casos até o começo de abril, mas o relaxamento das medidas de distanciamento social fez a curva subir, com tendência à aceleração.”
Esta e muitas outras ocorrências podem creditar ao arauto em favor do não distanciamento social como presidente genocida.  Nesta semana, o Brasil teve os três últimos dias com registros de óbitos acima dos 400, o que sinaliza para uma tendência assustadora: com quase 50 dias desde o registro da primeira vítima, estamos em processo de aceleração, enquanto países que já foram epicentro da doença desaceleravam ou ao menos estabilizavam o ritmo de crescimento de óbitos no mesmo período. E o genocida quer culpar os governadores que não querem a inversão.
Uma recomendação final: Ponto é uma newsletter semanal que pode ser solicitada gratuitamente para newsletter@ponto.jor.br