TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

25.- LOAS A UMA SUPER-SEMANA


ANO
 9
EDIÇÃO
 3012

Vivemos a última semana de fevereiro. Contemplo o mês e o vejo excepcional.  Aliás, o fevereiro de 2015 é o mês padrão de uma das muitas propostas para um calendário permanente. Treze meses de 28 dias e cada mês com desenho deste fevereiro: todos domingos do ano seriam nos dias 01, 08, 15 e 22. Todas as segundas do ano: 02, 09, 16 e 23. Assim por diante. Como 28 X 13 = 364, no fim ou começo de cada ano teríamos um feriado universal sem ser um dos sete dias da semana. De quatro em quatro anos, seriam dois dias feriados. Para garantir o ciclo da terra de 365,5 dias. Agrada-me a proposta.
Estarmos, hoje numa quarta-feira, lembro-me que em alemão, temos uma singularidade única para esse dia da semana: Mittwoch traduz estarmos no meio da semana. Diz a tradição que em torno do ano 1.000 da era cristã, um monge de nome Notker 'cunhou' o termo in mit-tauuechun (no meio da semana) para substituir o nome do Deus pagão Mercúrio; aliás, o iídiche também refere-se a metade da semana; acompanha o alemão, do qual sofreu tanta influência, nessa singularidade de um dia da semana não dedicado a Mercúrio (miercoles, mercredi, mercoledi...) ou a Wonden (Wednesday, woensdag...) como outras culturas.
Quando olho, por exemplo, as quatro quartas desde fevereiro, reconheço o quanto foi singular para mim. Na primeira, dia 4, retornava de três semanas de férias muito saborosas em Berlin, Varsóvia e Cracóvia. No dia 11, depois de um dia de seminário no Centro Universitário Metodista do IPA, viajei para um dia de formação em São Valentim. Na terceira, dia 18, preparava meu bate-volta manauara, que plenificou a semana que passou, com a titulação de mais uma doutora, como contei na última edição.
Nesta quarta-feira, dia 25, faço outro bate-volta. Voo hoje ao Rio e daí à Salvador e desta cidade vou à Catu, na Bahia e volto amanhã. Faço uma fala e ministro um minicurso no Instituto Federal Baiano. A palestra se constitui na aula magna na turma 2015 do curso de especialização em Educação Científica e Popularização das Ciências. Havia, para mesma data, uma fala para 600 professores de Campo Formoso, também na Bahia, mas agenda, lamentavelmente, não comportou.
Nesta semana, além dos dois compromissos na Bahia, terei ao todo cinco estreias (das quais duas já aconteceram) e uma aula inaugural no Centro Universitário Metodista do IPA.
Assim, o que faz esta semana distinguida são os primeiros contatos: na manhã de segunda e na noite de terça tive as primeiras aulas com duas turmas de licenciatura em Música, para mais de quarenta alunos cada uma, com a disciplina Teorias do Desenvolvimento Humano. Houve emoções no encontrar estes dois grupos de estudantes pela primeira vez. O esperado encontro com a turma de 2015 na Universidade do Adulto Maior foi postergado para dia 2 de março. É sabido, que dos fazeres acadêmicos que me envolvo, a UAM é uma atividade muito gratificante para mim. Neste semestre terei um grupo com o qual desenvolverei o seminário Enfoque Histórico e Sócio Antropológico  do envelhecimento.
Após o bate-volta baiano, tenho reservado mais duas estreias. No Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão estarei envolvido em dois seminários em sextas e sábados alternados: A.- Pesquisa e Desenvolvimento II compartilhado com a Prof. Dra. Marlis Morosini Polidori; B.-Teoria e Prática de Inclusão, com Prof. Dr. Jose Clovis de Azevedo. Estes dois seminários se iniciam nestes 27 e 28 de fevereiro.
Mas, o mais relevante desta semana está programado para noite de sexta, quando profiro a aula inaugural do semestre para docentes e mestrandos dos dois mestrados do Centro Universitário Metodista do IPA: Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão e Mestrado Acadêmico de Biociências e Reabilitação. A proposta é que desenvolva o tema Exigências ao estar no novo mundo (da Academia). Vou tentar apresentar quatro exigências: Paz total (quatro dimensões individual, social, ambiental e militar), curiosidade, postura indisciplinar (marcada pela incerteza) e ética no múnus acadêmico. Claro que a dificuldade desta aula inaugural é falar para os meus pares com quem tenho convívio cotidiano.
Assim esta semana é digna de ser ícone da celebração inaugural de meu 55º ano de docência. Parece ser uma fértil partida. Há bons prognósticos para 2015. 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

19.- UM BATE-VOLTA MANAUARA


ANO
 9
EDIÇÃO
 3011

Na manhã desta quinta-feira viajo para Manaus com escala em Campinas. Será um quase um bate-volta. Retorno amanhã à noite.
Justifico o ‘quase’, pois a expressão popular bate-volta significa: Ir a um determinado evento, em geral, sem que seja necessária hospedagem. Vai, participa do evento e retorna.
Talvez mais adequada seja locução: Buscar fogo que significa visita muito rápida; ir e voltar logo. Refere-se a uma visita que se demora pouco
Exemplo de seu uso: Já vais? Parece que vieste buscar fogo. Veio buscar fogo? Ou então, uma marcada por uma dose de preconceitos: Parece visita de médico.
Este preambulo tem a ver com ações que me levam a capital do Amazonas: a valorização de sabores primevos. Quando nos envolvemos com estes estudos temos, muitas vezes, na linguagem popular oral uma fonte rica de material folclórico e filológico, marcada por vocabulário pleno de curiosidades, não raro com sumarento rol de frases feitas de cunho nitidamente tradicional. Muitas vezes jovens investigadores não se dão conta de precioso subproduto, perdendo esses detalhes.
Está em posição heliocêntrica nesta minha meteórica viagem a defesa de tese doutoral de minha orientanda Célia Maria Serrão Eleutério que submete a banca formada pelos professores doutores Wagner Rodrigues Valente, da Universidade Federal de São Paulo, Josefina Barrera, da Universidade do Estado do Amazonas, Sidilene Aquino de Farias da Universidade Federal do Amazonas e Rafael Jovito Souza e Adriano Marcio Santos, ambos da Universidade do Estado do Amazonas a tese O Diálogo entre Saberes Primevos, Acadêmicos e Escolares: potencializando a formação inicial de professores de Química na Amazônia.
A Célia, professora da Universidade do Estado do Amazonas, no Campus de Parintins é a minha primeira doutoranda que defenderá tese ligada à Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática (REAMEC), a qual sou vinculado há mais de quatro anos. A REAMEC é formada por mais de duas dezenas de universidades dos nove estados amazônicos que tem como meta formar doutores em ensino de Ciências.
A tese a ser defendida amanhã tem a intenção de sustentar as relações de diálogos possíveis entre três culturas: a cultura local (saberes primevos), a cultura acadêmica e a cultura escolar. Destas relações se busca fortalecer a formação inicial de professores de Química na Amazônia. Isso determinou a necessidade de verificar as possibilidades de engajamento na vida cotidiana do caboclo da Amazônia para a apropriação do saber sistematizado da Química; criar um mecanismo para trilhar os caminhos da pesquisa etnográfica, assim como, identificar o tipo de estratégia que melhor se adequaria para encontrar os saberes primevos do caboclo da Amazônia e deles fazer saberes escolares.
O lócus da pesquisa foi o Distrito de Mocambo do Arari onde foram realizadas três Oficinas Temáticas com colaboração de ceramistas, agricultores familiares, caboclos extratores de produtos de subsistência, professores e estudantes do ensino superior e educação básica. O estudo envolveu vinte estudantes da formação inicial, três professores do Curso de Química da Universidade do Estado do Amazonas, Campus Parintins. Os dados foram obtidos por meio de observação in loco, entrevistas realizadas durante as visitas de campo no período compreendido entre 2012 a 2014 onde foram contatadas aproximadamente 20 pessoas mais anosas de duas comunidades. Os resultados das Oficinas Temáticas e das experiências controladas foram organizados, analisados e se constituíram elementos imprescindíveis para que os diálogos entre a cultura local, cultura acadêmica e escolar acontecessem. As experiências anteriores e este estudo direcionam o olhar para aspectos da educação química, no contexto da educação em ciências.
Enquanto orientador deste extenso e denso trabalho apraz-me destacar a seriedade acadêmica e uma atilada postura ética da Célia. Trabalhadora com uma persistência e uma independência intelectual impares. Encanto-me em ver uma ribeirinha cabocla amazônica vencer percalços ingentes e fazer-se doutora. A professora diligente, cercada de filhos e netos, muito provavelmente, ensinou-me muito mais do que eu ofereci enquanto orientador. Foi um privilégio excepcional orientar a Célia.
Ainda ligado a minha atividade à REAMEC aproveito horários, especialmente na tarde e noite de hoje para ampliar em orientações presenciais as muitas sessões por Skype com a doutoranda Irlane Maia, que busca entender os saber primevos que sabem à extensão.
Ainda na tarde de amanhã participo da defesa de mestrado de Maria Valcirlene de Souza Bruce no Programa de Mestrado em Educação em Ciências na Amazônia, da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, que apresenta a dissertação Os saberes tradicionais locais como possibilidades de inserção no ensino de ciências na Escola Pedro Reis Ferreira em Parintins/AM.
Assim, o fogo que vou buscar em Manaus se traduz em privilegiadas oportunidades de aprendizado. O bom será voltar e estar na manhã de sábado em Porto Alegre.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

15.- PINGOS e RESPINGOS NUM TRÍDUO MOMESCO

ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3010

Abro esta edição, inserida no tríduo momesco, anunciando que não vou falar em carnaval. Mesmo que não adira ao senso comum de que ‘nestes dias 200 milhões de brasileiros são súditos do rei momo’ as folias não precisam espaço aqui. Comento apenas três tópicos.
A jornada em São Valentim, que anunciei na última edição deste blogue, foi muito boa. Cheguei à Erechim, 01h10min, depois de mais de cinco horas de viagem desde Porto Alegre. Esperava-me o Arnaldo Roberto Putrick, jovem secretário de Educação de São Valentim, que também é agricultor. Os 30 km foram curtos para ouvir sua história e o quanto ele me acompanha desde 2006 quando estive na URI de Erexim falando sobre Darwin e por tal fez uma pós graduação em História da Ciência na UFFS. De seu relato o mais significativo é como os pequenos municípios da região diminuem em população. Escrevera no blogue que São Valentim tem 4 mil; são já 3,6 mil. Claro que isso faz diminuir o número de alunos e como consequência o número de escolas.
Falei a mais de uma centena de professoras e professores das redes municipais de Erval Grande, Faxinalzinho e São Valentim. Avalio as atividades da manhã como muito boas. À tarde, apiedei-me de meus ouvintes (e de mim): estávamos como de manhã, em desconfortável galpão de CTG, onde os participantes sentavam em cadeiras de palha trançada, como aquelas da casa de minha avó. Ocorre que a tarde foi muito quente e não havia forro no galpão. Não fiz uma boa fala.
Mais importante não foi o que falei e sim os aprendizados que amealhei. Realmente tive muitas aprendizagens laterais nessa estada em um pequeno município. O professor Arnaldo, secretário de Educação, me impressionou não porque estava me esperando à 1h da madrugada, em Erechim, a 30 km de São Valentim. Não porque após o evento, à tardinha, retornou comigo à Erechim e ficou ‘me fazendo sala na rodoviária’ conversando produtivamente até o ônibus partir. Mas vi o Secretário de Educação carregando mesas, arrumando cadeiras, fazendo conexões de aparelhos, resolvendo problemas de almoço... e vi, muitas vezes, professoras e professores se referir carinhosamente ao trabalho de seu líder. Isso foi maior aprendizado de são Valentim
A cultura gaúcha enlutou-se. Morreu na manhã desta sexta-feira, dia 13, aos 67 anos, o jornalista e escritor gaúcho Carlos Urbim. Ele se encontrava no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, onde se recuperava de um aneurisma. Autor de clássicos da literatura infantil, Urbim buscava na própria infância a inspiração para suas histórias. Como cresceu em Santana do Livramento, elas vinham com um sotaque próprio da fronteira, o mesmo que ele manteve depois de deixar a cidade e se mudar para Porto Alegre.
Duas lembranças pessoais. Uma: lembro-me muito de ler a meus filhos os livros do Urbim. O Menino daltônico, muito autobiográfico, pois Urbim era daltônico, encantava. Era um dos mais apreciados entre muitos. A outra, em 23 de agosto de 2006, no ônibus que ia para Ijuí, éramos três passageiros que íamos palestrar em quatro cidades (Ijuí, Santo Ângelo, Cruz Alta e Horizontina) em um mesmo evento (O Circão da cultura): um era o escritor Carlos Urbin e outro o físico e romancista Carlos Alberto dos Santos, autor do premiado “O plágio de Einstein". O terceiro era eu. Foram horas de agradável conversação. Também por isso me emocionei, quando li nos jornais neste sábado acerca da morte prematura de Carlos Urbim.
Por diferentes razões, usualmente esse período oscarizado vamos mais ao cinema. Já assistimos nesta semana ao excelente filme polonês, IDA; ao discutível francês, A FAMÍLIA BÉLIER, neste sábado chegou a vez do esperado britânico /estadunidense O JOGO DA IMITAÇÃO. Há dias meu amigo e cinéfilo de Belém do Pará, Geziel Moura, postou algo acerca deste filme e acrescentou que conhecera Alan Turing em uma de minhas dala. Neste blogue e em palestras, várias vezes, rendi merecidas e comovidas homenagens ao excepcional matemático inglês.
Com o colega Guy Barros Barcellos, a Gelsa e eu assistimos: O Jogo da Imitação (no original em inglês The Imitation Game), um filme de suspense histórico lançado em 2014. A companhia foi preciosa e a satisfação de espraiou na janta que os três compartilhamos após o cinema.
O filme é a cinebiografia de Alan Turing, um pioneiro na computação que levou um grupo de estudiosos no projeto Ultra, a fim quebrar os códigos de guerra da Alemanha Nazista, ajudando a salvar milhões de vidas e diminuir a guerra em pelo menos dois anos para mais tarde ser condenado por sua homossexualidade.
Ajuda-me nos comentários Público de Lisboa: O criptoanalista, matemático e filósofo britânico Alan Mathison Turing (1912-1954) é hoje considerado um dos precursores da computação moderna. Durante a Segunda Grande Guerra, ele e a sua equipe garantiram uma ajuda fundamental aos Aliados na descodificação do código Enigma, que os nazis utilizavam para comunicar secretamente os planos de ataque. Já durante o pós-guerra, Turing projetou um dos primeiros computadores programáveis no laboratório nacional de física do Reino Unido. Entre muitas outras coisas, os seus estudos serviram ainda para abrir portas a uma das questões mais pertinentes da tecnologia da atualidade: a possibilidade teórica da inteligência artificial.
Apesar de todo o reconhecimento, a sua carreira terminou abruptamente em 1952, depois de ter sido processado por atentado ao pudor, acusação que culminou numa condenação por homossexualidade, à época ilegal no Reino Unido. A 8 de Junho de 1954, dois anos depois de iniciar um tratamento com injeções de hormônios femininos que provocam castração química (que ele preferiu à prisão), Turing foi encontrado morto na sua própria casa. A morte foi classificada como suicídio, embora muitos, começando pela sua mãe, refutem a conclusão.
Em Setembro de 2009, depois de uma campanha liderada por John Graham-Cumming, o primeiro-ministro Gordon Brown fez um pedido oficial de desculpas público em nome do Governo britânico, devido à maneira pela qual Turing foi tratado. Finalmente, a 24 de Dezembro de 2013, o matemático recebeu o perdão da rainha Elizabeth II.
Realizado pelo norueguês Morten Tyldum ("Headhunters - Caçadores de Cabeças"), um filme dramático sobre a vida de Alan Turing, o lendário gênio da matemática que decifrou códigos nazis e que acabou perseguido pela sua orientação sexual. O elenco conta com os atores Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode e Mark Strong, entre outros. Escolhido pelo público como o melhor filme em competição no prestigiado Festival de Cinema de Toronto (Canadá), "O Jogo da Imitação" recebeu ainda cinco nomeações para os Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Cumberbatch), Melhor Atriz Secundária (Knightley), Melhor Argumento (Graham Moore) e Melhor Banda Sonora Original (Alexandre Desplat). 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

11.- UM SÃO VALENTIM... ANTECIPADO


ANO
 9
AGENDA 2015 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3009

Depois de uma série de cinco blogadas que trouxeram excertos do diário de um viajor em Berlin, Varsóvia e Cracóvia, volto a uma edição catalisada por uma muito significativa jornada, que abre as viagens profissionais de 2015. Ainda neste fevereiro tenho previstas duas outras viagens: Amazonas e Bahia.
Em muitos países ocidentais do Hemisfério Norte celebra-se a 14 de fevereiro o ‘dia dos namorados’. Há uma associação à festa de São Valentim, como entre nós esta mesma comemoração está associada à festa de Santo Antônio.
Desde o século 17, ingleses e franceses passaram a celebrar são Valentim como o Dia dos Namorados. A data foi adotada um século depois nos Estados Unidos, tornando-se o The Valentine's Day. A homenagem é ao bispo Valentim lutou contra as ordens do imperador romano Claudius II (séc. 3º d.C), que havia proibido o casamento durante as guerras acreditando que os solteiros eram melhores combatentes.
Valentim continuou celebrando casamentos, apesar da proibição do imperador. A prática foi descoberta e ele foi preso e condenado à morte. Enquanto estave preso, muitos jovens lhe enviavam flores e bilhetes dizendo que ainda acreditavam no amor. Enquanto aguardava na prisão o cumprimento da sua sentença, ele se apaixonou pela filha cega de um carcereiro e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Antes da execução, Valentim escreveu uma mensagem de adeus para ela, na qual assinava como “Seu Namorado Valentim”.
Considerado mártir pela Igreja Católica, a data de sua morte - 14 de fevereiro – o dia de sua festa litúrgica. A mesma se associa de maneira sincrética a vigília das lupercálias, festas anuais celebradas na Roma antiga em honra de Juno (deusa da mulher e do matrimônio) e de Pan (deus da natureza). Um dos rituais desse festival era a passeata da fertilidade, em que os sacerdotes caminhavam pela cidade batendo nas mulheres com correias de couro de cabra para assegurar a fecundidade. Celebrava-se também, então, a loba que alimentou Rômulo e Remo, os fundadores de Roma. E na Idade Média, dizia-se que o dia 14 de fevereiro era o primeiro dia de acasalamento dos pássaros.
Mas eu este ano vou celebrar São Valentim antecipado. Esta noite, após a edição de hoje do Seminário Pedagógico do Centro Universitário Metodista do IPA viajo cinco horas por ônibus a Erechim, na região norte do Rio Grande do Sul e de lá vou à cidade de São Valentim, que tem como orago o mesmo santo casamenteiro. A igreja matriz da cidade está ao lado.
Um é jovem município — fundado em 17 de fevereiro de 1959 — com cerca de 4 mil habitantes. Assim como há dois são Valentim no martirológico romano, celebrados na mesma data (14 de fevereiro), há dois municípios no Rio Grande do Sul com o mesmo nome. Um deles, com a metade da população, se chama São Valentim do Sul. Não fica muito distante deste em que estarei nesta quinta.
Em São Valentim vão juntar-se nesta quinta-feira, dia 12, a professoras e professores são-valentinenses, educadores das redes municipais de Erval Grande e Faxinalzinho. Pela manhã e pela tarde envolvo-me com os mesmos para uma jornada de formação preparando o ano letivo de 2015.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

03.- UM ADEUS A DUAS SEMANAS POLONESAS ou POLACAS

ANO
 9
Varsóvia / Paris / Guarulhos / Porto Alegre
EDIÇÃO
 3008

Nesta terça e quarta-feira faremos a longa viagem de volta. No começo da tarde deixamos Varsóvia rumo a Paris. Depois de algumas horas no Charles De Gaulle, voamos durante à noite, cerca de 12 hora de Paris rumo ao Brasil. Depois de alguma espera em Guarulhos, vamos a Porto Alegre, para chegar ao destino, na metade da manhã desta quarta.
Foi muito bom estar de novo em Varsóvia. Foram três dias que se fizeram saborosa sobremesa destas duas semanas polonesas. Chegamos aqui, a segunda vez, quando já era noite de sábado. Cracóvia nos despediu em alto estilo.
A manhã era muito fria. A visita ao Collegium Maius (Escola Maior), na parte antiga de Cracóvia, no prédio mais antigo da Universidade Jaguelônica (polonês: Uniwersytet Jagielloński) foi fantástica. Vimos salas (bibliotecas, refeitórios, sala de conselhos) do século 14. Foi emocionante ver a primeira edição de 1453 manuscrita por Copérnico obra De revolutionibus orbium coelestium (Sobre as revoluções das esferas celestes), dedicada ao papa Paulo III. O livro, publicado algumas horas antes morte de Copérnico, em 24 de maio de 1543, aos setenta anos, vítima de um acidente vascular cerebral, esteve quase 300 anos no index.
Quando quase 14h íamos para estação de trem, o sol, o grande ausente destes dias, surgiu esplendoroso espelhando-se na neve que caíra densa na noite. Foi tudo para ter vontade de um dia voltar.
Parece que quando estávamos no trem Cracóvia/Varsóvia, a viagem adquiria sabor de fim de férias. Lembramos Michel Onfray que em sua Teoria da viagem# estuda a viagem em três momentos: o Antes; o Durante; e o Depois. Para cada desses momentos ele traz oportunas teorizações. Na verdade a viagem começa muito antes de partirmos, nos rituais de programarmos e fazermos roteiros. Mas também começa terminar antes. Sentia como as nossa estão começando a terminar. Em muitos momentos, já anseio pelo meu cotidiano na Morada dos Afagos.
#ONFRAY, Michel. Teoria da viagem, poética da geografia. [Théorie Du Voyage (Libraire Générale Française, 2007)] Tradução Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2009. 112 p. 21 cm. ISBN 978-85-254-1918-7
Ainda na noite de sábado fomos aproveitar a gélida noite de sábado, buscando comida típica polonesa. Nesses dias, a Gelsa não deixou de evocar em nenhuma das refeições a sua avó materna.
O domingo se fez ensolarado com temperatura de zero grau. Fomos a dois museus. Nos encantamos antes com imponente Palácio da Cultura, que contrasta com modernos arranha-céus, com movimentados shoppings centers.

Primeiro fomos ao
Museu Fryderyk Chopin (em polonês: Muzeum Fryderyka Chopina). Abro uma explicação gramatical. O aeroporto de Varsóvia chama-se Aeroport Fryderyka Chopina. Por exemplo, uma avenida que homenageia o papa polonês se chama Aleja (avenida) Jana Pawla II. Ocorre que o polonês, como o latim, o grego e alguns outros idiomas, têm declinações. Assim o museu, o aeroporto ou a rua são de Chopin, logo deve ser colocada no genitivo, que termina com o sufixo –a. Muitas ruas terminam em —a. Isto não quer significar que mulheres sejam as homenageadas. São nomes de homens, escrito no genitivo, Jan Pawl II fica Jana Pawla II, Kopernica, Chopina...
A proposito de situações linguísticas, mais uma observação. Por aqui se vê, com frequência a palavra droga, muitas vezes seguida de uma seta. Não é indicação para compra de narcóticos, Droga, em polonês significa caminho.
Há uma outra palavra, agora em português, que temos dificuldade. ¿Qual o gentílico para ‘polish’ (habitante da Polônia)? Polonês ou polaco? Na Espanha, por exemplo, em catalão é polonês e nas outras parte é polaco. No Brasil, esta é uma questão delicada, marcada por preconceitos, com defensores radicais de uma e outra modalidade. Fica a promessa da volta ao assunto. Quem quiser antecipar-se na ilustração e conhecer alguma das vertentes: www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1082537
O moderno Muzeum Fryderyka Chopina, reinaugurado em março de 2010 para celebrar o bicentenário do compositor polonês Fryderyc Chopin (1810-1849), é hoje um dos maiores atrativos da capital polonesa. Uma interessante forma de imergir o visitante na história de Chopin. O museu apresenta uma concepção nova e audaciosa em termos de interatividade e permite que viajemos de maneira suave na história de um dos maiores compositores do século 19, tendo suas músicas a embalar uma inserção de quem mesmo tendo morrido aos 39 anos deixou um dos maiores legados à humanidade. Um exemplo de museu!
O segundo museu do domingo foi o Muzeum Powstania Warszawskiego, que quer contar a história do Estado Secreto Polonês, também conhecido como Estado de Resistência Polonesa (polonês: Polskie Państwo Podziemne), é um termo coletivo para organizações designadas resistência clandestina durante a Segunda Guerra Mundial na Polônia, militares e civis, que permaneceram leais ao governo no exílio-polonês em Londres. Os primeiros elementos do estado secreto surgiram nos últimos dias da invasão da Polônia, que começou em setembro de 1939. O Estado Secreto Polonês foi concebido por seus defensores como uma continuação jurídica da República da Polônia antes da guerra (e suas instituições) travada uma luta armada contra as forças de ocupação no país: a Alemanha nazista e a União Soviética. O estado subterrâneo englobava não só a resistência militar, um dos maiores do mundo, mas também civis, tais como estruturas de serviços educacionais, culturais e sociais.
Existem várias exposições que ocupam suas várias plantas em que você pode ver fotografias, reproduções de áudio, vídeos, imagens interativas, artefatos, escritas entre outros testemunhos que refletem o que era a vida durante a ocupação alemã de Varsóvia, a revolta e suas consequências de modo que a amostra abrange virtualmente todos os aspectos deste acontecimento histórico. Há apresentações dedicadas para cada distrito da cidade de Varsóvia e muitos panfletos e folhetos que os visitantes possam ter livre (atualmente os textos estão apenas em polonês e Inglês). Também estão disponíveis 63 páginas que cobrem as datas do calendário a partir de 1 de agosto de 1944 até 02 de outubro de 1944, cada uma contendo um resumo dos acontecimentos mais importantes que aconteceram naquele dia durante a revolta. Algumas das muitas seções e exposições incluem:
A sala de "insurgente pequeno" dedicado aos insurgentes mais jovens e as experiências das crianças durante a revolta. O quarto inclui uma réplica do monumento ao pouco rebelde e uma fotografia colorida Goździewska Róża Maria, uma jovem conhecida como "a pequena enfermeira".
Palladium cinema: uma pequena sala de projeção, onde você pode ver continuamente cenas tiradas por alguns dos insurgentes, em 1944, que foram usados para produzir cinejornais que foram exibidos no Palladium Cinema de Varsóvia durante a revolta.
Duas réplicas de esgoto: um localizado no mezanino e um no porão oferecem uma oportunidade para experimentar como era a movimentação subterrânea através do território ocupado pelos alemães (as réplicas são, obviamente, de higiene, sem sujeira em um rede de esgotos real).
O hospital dos insurgentes, que forneceu ajuda médica e de saúde para os feridos durante a revolta.
Hangar: uma sala contendo um Liberator tamanho real B-24.
Uma torre se observação: Varsóvia vistas panorâmicas a partir do topo do edifício.
Impressão: Uma sala que pode ser visto máquinas de escrever e impressoras usadas para produzir jornal durante a ocupação alemã.
O filme City of Ruins: Uma curta-metragem em D que representa uma vista aérea das ruínas de Varsóvia em 1945.
Seção sobre o nazismo: dedicado aos horrores e atrocidades cometidas pelos alemães e seus colaboradores durante a revolta.
Seção sobre o comunismo: dedica-se a ocupação da Polônia pela União Soviética; o governo de Stalin; levantando a resistência polonesa e revolta na Polônia do pós-guerra, sem a participação do período comunista.
Depois de banho de história e também de tecnologia museológica fomos em busca de algo para comer em direção ao Stare Miasto. Em espanhol diríamos ‘casco viejo’. Agora no Brasil estamos chamando a região central de ‘Centro Histórico’. Com duas diferenças para a situação. O centro histórico é de uma cidade milenar e outra que campeia uma moda presente ainda recente entre nós: demolirmos o velho, para fazer prédios novos, sem respeito à História.
Estávamos ávidos por aproveitar o ensolarado dia ensolarado de ontem, o último de viagem — mesmo que os pensamento fugava Porto Alegre. Fomos segurados: muitos museus de nossa lista estavam fechados por se segunda-feira. Fomos uma vez mais Stare Miasto. Admiramos as casas seculares. Ainda adornada com enfeites natalinos, pois aqui o período das festas de fim de ano é muito expandido. E vimos muitos monumentos. Aqui nestes abundam motivos bélicos pois é um país que sempre sofreu com guerras. Estivemos lojas, visitamos igrejas (estas abundam na Polônia).
À noite fomos fazer nossa despedida de Varsóvia. Voltamos ao Stare Miasto. Jantamos. No cardápio algo que comemos a cada dia nestas duas semanas: pierogue (também escrito perogi, pierogy, perogy, pierógi, pyrohy, pirogi, ou pyrogy; forma diminutiva: pierożki. A palavra polonesa pierogi está no plural; a forma singular pieróg é raramente utilizada, já que tipicamente a porção individual consiste em vários pieróg) são pasteis de farinha de trigo, tradicionalmente recheados de batata e ricota (mas atualmente existindo recheios que se estendem de carne a doces), que são cozidos em água fervente (como usualmente se cozinha massas) e servidos com "molho" de cebola frita. Proveniente do centro e do leste europeu, eles têm formato normalmente semicircular. A Gelsa realizou um de seus sonhos, comer pierogue todos os dias.
Nesta terça-feira, ao lado de arrumar malas, antes de irmos ao aeroporto vamos a um mercado muito singular que há próximo ao hotel. Depois começar uma longa viagem. Mais de vinte quatro horas em trânsito (Varsóvia/Paris/São Paulo/Porto Alegre) rumo a nossos mundos de verdade. Nestas três semanas vimos muitas coisas. Não cabe aqui e agora fazer retrospectos. Uma síntese: a palavra que não cessa de martelar em meus ouvidos: Auschwitz.
Releio a frase de Lin Yutang que encerra a primeira edição destas cinco blogadas especiais. "Bom viajante não é o que não sabe para onde vai, mas o que sabe de onde veio!" Acredito que tenhamos sido bons viajantes. Hoje sei mais sobre a Alemanha e a Polônia. Alguém há de perguntar: ¿para que? Para ser mais humano. Para entender mais a vida. Quando saímos de um museu, por exemplo, saímos diferentes que entramos. Isso é importante. Acredito que o fazer profissional de 2015, que me espera já nesta semana, será realizado com mais competência. Isso para mim é muito significativo. Também, por isso, viajo.
Obrigado, a cada uma e cada um que me acompanhou na leitura destas cinco edições, que se iniciaram com a postagem de 13 de janeiro. É bom escrever. É, ainda melhor, ter leitores. Agora, desde Porto Alegre, de novo.