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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

29.—AGORA! QUE VENHA UM MARÇO TÃO DIFERENTE


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3142


Fevereiro, que neste 2016 bissexto tem uma sobrevida com este 29, está terminando. Março espera passar algumas horas para assumir a tempus machina. Então, o mês dedicado ao deus da guerra marcará nossos viveres e fazeres. Entre suas muitas benesses (é, verdade que as águas de março em pleno verão, nem sempre são benfazejas) a mais esperada dádiva é o outono. Esta, nestas plagas, é a estação mais agradável. Assim, tchau calorento fevereiro e... que venha o apetecível março outonal. 
É obvio que em nossas histórias não há dois marços iguais! Mas, este que começará amanhã será um março muito destoante de todos que já vivi em mais de meio século. Desde 1961, março me obsequiava alunas e alunos. Este ano será muito diferente. Não terei o inebriante cotidiano de ser professor em uma sala de aula.
Quase ao findar da manhã da primeira sexta feira desta quaresma, sou chamado a gabinete do Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação do Centro Universitário Metodista do IPA. Imaginava que se desenhava um aumento de carga horária, como me fora oferecido no semestre passado ou o convite para proferir a aula magna dos mestrados, como ocorrera nos dois semestres anteriores.
Ledo engano. Soube, emoldurado por vagas e inconsistentes preliminares, que a igreja metodista me impunha a mais severa penitência quaresmal. Estava demitido sumariamente depois de 8,5 anos de serviços exercidos com muita dedicação.
Decapite-se. Pedi arreglo: deixem-me terminar a orientação dos quatro mestrandos que estão com seus trabalhos quase prontos. Não. Já que é por razões econômicas que sou decapitado, deixem-me continuar com uma aula semanal na Universidade do Adulto Maior, onde recebo como uma atividade de extensão. Não. As leis do capital são claras. Não queremos/precisamos mais comprar tua força de trabalho. Agora ela não nos interessa. Ontem, te precisávamos. Hoje, tu não nos apeteces.
Naquela mesma sexta-feira, 12 de fevereiro, mais 42 colegas tiveram a mesma sina que eu. Mesma, não. Alguns muito pior, pois às vésperas de começar um ano letivo perdiam a sua única fonte de renda. Muitos como eu — ouviram ao buscar uma desejada recolocação — nossos quadros estão completos, pois aulas já começam.
Mesmo me excluído, não fiquei pagão. Tenho afiliação acadêmica à Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática, onde sou orientador de doutorado. Desenham-se, com as dificuldades marcadas pela situação econômica, algumas tênues possibilidades. Tenho já para este semestre algumas palestras e seminários. Não tenho aquele elixir revitalizante da sala de aula. Busco. Aqui um explícito pedido de ajuda.
Tenho saudades das turmas de licenciatura em Música para as quais nos últimos semestre me encantava em lecionar Teorias do Desenvolvimento Humano e Ética, Sociedade e Meio Ambiente. Tenho saudade da UAM.
Tenho recebido inúmeras manifestações de solidariedade e até de perplexidade por meio de telefonemas, mensagens, whatsapp e visitas. Isto conforta. Vou trazer apenas um exemplo. O José Carlos H Ferreira, 84 anos, médico; meu aluno em vários semestres na Universidade do Adulto Maior, de maneira usual em campos ideológicos distintos, escreveu:
23/02/2016 Assunto: Uma notícia muito triste. Claro que essa é uma péssima noticia não só para mim como para todos alunos da UAM!
Já recebi telefonemas de colegas inconformados com a situação, tanto que em principio combinamos uma reunião para quarta, 02/03, que vem! A razão de não ser imediata a reunião é para haver tempo de colocarmos a par da situação maior número possível de colegas....
Professor Attico o sr. é um grande mestre que marca seus alunos em cada aula pelo sr. administrada...Tenho bem em mente nossas ´posições as vezes opostas e contrarias e posso afirmar que jamais presenciei qualquer palavra sua mais ríspida ou autoritária! Isso é próprio dos grandes homens e por traz disso notáveis e compreensivos professores.
Aguarde que vamos nos reunir e não aceitar como cordeirinhos a perda do melhor mestre da UAM. ESTOU INTEGRALMENTE E TOTALMENTE AO SEU LADO!!!! Abraços do aluno chato e inquisidor Zéca Ferreira
Privado, momentaneamente, da sala de aula, estas mensagens de alunos e ex-alunos me acarinham e confortam.  Manifesto minha gratidão a cada uma e cada um por tão consistentes afagos. Repito: busco recolocação.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

27.—ECOS DO ECO


ANO
 10
A G E N D A 2016 em www.professorchassotpro.br
EDIÇÃO
 3141

A edição do último domingo de nosso tríduo voltas às aulas [dias 18/21/24] foi tarjada de luto com um ciao!... Umberto Eco (1932—2016). Mesmo que nos textos do tríduo não nos referíssemos explicitamente ao renomado intelectual recém-falecido, permito-me considerar que a defesa ao livro em suporte papel trazida então pode ser considerada uma homenagem a ele.
Não padece dúvidas que ele aderiria à discussão que defendi: não é possível (talvez, não seja salutar) fazer uma tese ou uma dissertação sem frequentar uma biblioteca. Mesmo que Eco tivesse uma biblioteca pessoal de mais de 30 mil volumes, era presença assídua em espaços da Biblioteca Ambrosiana em Milão: uma biblioteca histórica como aquela não poderia ser, senão uma espécie de jardim — para ele — das maravilhas.
A obra Não Contem com o Fim do Livro, escrito em parceria com o francês Jean-Claude Carrière (no Brasil: editora Record, 2010) lançado em um momento em que o avanço tecnológico prometia abreviar (até mesmo encerrar definitivamente) a carreira da publicação em papel, Eco revelava seu ceticismo em relação à tecnologia. “O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído”, afirmou, categórico.
Mas, nesta edição sabatina especial, permito-me transcrever o comentário Hume & Eco que postei na quinta-feira em um grupo de filósofos:
Realizou-se na tarde desta terça-feira, 23, no Castelo Sforzesco de Milão, o funeral de Umberto Eco, intelectual, semiólogo, escritor, falecido na sexta-feira, 19 de fevereiro, aos 84 anos.
A propósito dos atos fúnebres (não religiosos, a pedido de Eco) ouvi nesta quarta-feira a Rádio Vaticano,* que entrevistou o Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi, amigo pessoal de Eco. Ele fez uma afirmação que parece pertinente trazer a este fórum:
“Foi Eco que me fez recordar uma frase, que eu cito frequentemente, do filósofo inglês David Hume: ‘Os erros da filosofia são sempre ridículos, os erros da religião são sempre perigosos’”.
Realmente há porque nos sentirmos um pouco órfãos. Ele deixou marcas em nós.
*A Radio Vaticano pode ser ouvida em br.radiovaticana.va com programação em muitos idiomas. Em Porto Alegre, a Aliança, FM 106,3 retransmite de segunda a sexta, às 13h a programação para ouvintes de língua portuguesa.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

24.— AGORA, ALGO SOBRE ARTEFATOS PARA LEITURA

24.— AGORA, ALGO SOBRE ARTEFATOS PARA LEITURA
ANO
 10
A G E N D A 2016 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3140

Hoje, concluímos nosso tríduo voltas às aulas que teve suas duas primeiras edições nos dias 18 e 21. Agora, do binômio escritaDleitura, vamos comentar algo acerca de nossas ferramentas de leitura.
Quero contemplar, as transições do outro componente de nosso binômio, se olhei as transições da escrita no espaço de 50 anos, para a leitura há pelo menos 600 anos quase imutáveis. Se colocar em Johannes Gutenberg (1398-1468), com a invenção da prensa de tipos móveis, em 1439*, a grande transmutação no artefato cultural chamado livro como, talvez a invenção mais importante do segundo milênio (há os que colocam a invenção da imprensa como marco da transição da Idade Média para a Idade Moderna). Chegamos à aurora do terceiro milênio com quase os mesmos suportes de leitura do final do medievo. Mas, a partir do século 21, temos uma rapidação (um neologismo que quer caracterizar uma ação rápida) impressionante dos suportes de leitura.
Quem de nós, há apenas 10 anos, usava tablete, e-book, smartphone? Quem de nós, antes um leitor contumaz, ainda lê um livro por semana, como antes? Quem ainda vê, em aeroportos ou em metrôs, muitas pessoas lendo livros? Quem não encontra em diferentes espaços públicos ou privados um número muito grande de pessoas usando smartphones? Quem não conhece mestrandos ou doutorandos que não frequentam bibliotecas, antes lugares indispensáveis numa mais sólida formação acadêmica? Quantos de nós, mais recentemente consultamos um dicionário ou uma enciclopédia em suporte papel? Minhas perguntas são feitas quando transformo a assinatura do último dos jornais que assino de suporte papel para leitura em suporte digital.
Conheço professores universitários, excelentes pesquisadores, que se gabam de não ter nenhum livro em seu gabinete e de não ter recentemente impresso nenhum artigo. Alguém dirá que estou entoando um réquiem ao livro. Ao contrário: quisera chamar um coral para cantar, aqui e agora, um Aleluia de Händel ao livro.
Antes de tecer-lhe loas vou concordar que ecologicamente ao invés de ler, em papel, Uma casa: uma breve história da vida doméstica** de Bill Bryson de 536 páginas, a natureza e também meus pulsos agradeceriam se eu comprasse uma edição para ler em um e-reader. Outra desvantagem dos livros suporte papel é o espaço para armazená-los. Os apartamentos esmirrados de hoje não comportam mais uma biblioteca de 5 mil volumes, um número que parece adequado a uma biblioteca doméstica.
Minha defesa do livro não tem um tom saudosista. (Como é bom sentir o aroma quase sensual de estar com um livro em uma rede!) Defendo ‘a qualidade da leitura’. É complexo fazer adjetivações. Aceito que esteja laborando em preconceitos. A leitura em suporte papel parece introspectiva e densa; em oposição a uma leitura em suporte eletrônico que se afigura como volátil e ligeira, marcada pela já caracterizada rapidação. Uma soa como especulativa ou reflexiva; outra, volátil ou grácil.
Não quero parecer saudosista, mas advogo ao livro, em sua essência, como um significativo construtor de saberes. Nisso ele está num crescendo (na acepção musical de um aumento gradativo): Informação (como a fornecida pelo Google) < Conhecimento (dado pela Wikipédia) < Saberes.
Isto posto, parece que se pode afirmar que não há como prescindirmos deste artefato cultural presente no mundo ocidental há quase seis séculos e que provavelmente não deixará de ser, cada vez mais, um saboroso produtor de saberes. Eis, porque me encanto quando vejo em trem, num avião, num aeroporto pessoas com livros. Foi significativo recentemente (fevereiro de 2016) passar pela Universidade de Sorbonne, campus de Jussieu e ver dezenas de estudantes em pesquisas, usando um artefato cultural que alguns de nossos alunos parecem desconhecer: livros. Parece-me um quase um suicídio cultural fazer um mestrado ou doutorado sem frequentar uma biblioteca de verdade. Talvez, tenha justificado porque acredito na necessária continuidade do livro em suporte papel. Quem viver... verá.
* Na verdade a primazia do uso de tipos móveis para imprimir é do chinês Bi Sheng, em torno de 1040 da era cristã, logo 400 anos antes de Gutenberg.
** A citação deste apreciado livro deve-se exclusivamente ao fato de ser um dos livros que leio nos dias que elaborava este texto.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

21.—ALGO ACERCA DE NOSSOS ARTEFATOS PARA ESCREVER

ANO
 10
Ciao!.... U M B E R T O    E C O
*1932 +2016
EDIÇÃO
 3139

Terminamos a nossa primeira edição do tríduo volta às aulas (dias 18, 21 e 24) com a pergunta: Por que, ainda, produzir livros (em suporte papel)? E, então, respondia: para ler a escrita de conhecimentos já produzidos e, para então, produzir novos saberes.
Centro, aqui e agora, meu comentário no binômio escritaDleitura, que talvez se possa pensar como aquele que mais distingue os humanos das demais espécies animais. Isto não significa que não considere relevantes posições que colocam na capacidade de produzir trabalho útil o nosso melhor distintivo. É evidente que considero como escrita qualquer expressão codificada que possa ser apreendida por um leitor, como, por exemplo, os sinais gráficos de trânsito ou uma informação como a pintura rupestre antes referida até um texto em qualquer dos cerca de sete mil idiomas existentes.
Mas, por ora, vou considerar apenas o processo evolutivo recente destes dois componentes do binômio referido. E mais, vê-los com velocidades de modificações muito díspares.
Já há 20 anos, escrevi um texto* no qual celebrava o meu cinquentenário de uso da escrita. Neste artigo descrevi como me alfabetizei em uma lousa de ardósia [uma lâmina de ardósia enquadrada em madeira (muito semelhante em alguns aspectos físicos a um tablete de hoje)] nela se escrevia ou desenhava com ponteiros da mesma pedra (ardósia). Quando da escritura do texto referido, eu já usava computador (um artefato tecnológico que então era uma quase novidade; e poderia atualizar os meus instrumentais de escrita: agora, escrevo em smartphone). Depois do uso de uma pedra, escrevi com lápis, pena de aço, caneta tinteiro; a caneta esferográfica (ganhei a primeira em 1954), esta revolucionária, pois escrevia ‘a seco’ eliminando a possibilidade dos borrões nos cadernos e das manchas nas roupas tão temidos, pois muitas vezes determinavam castigo. Antes do computador usei máquina de escrever. Recordo que o primeiro bem material que comprei com meus salários de professor, em 1961, foi uma máquina de escrever Remington, que hoje faria uma boa figura em um museu da escrita ou uma peça de decoração de algum colecionador de antiguidades. Minha história, enquanto ser escrevente, poderia ter esta síntese: da pedra ao smartphone. Ao olharmos este passado tão próximo nos perguntamos: O que ainda virá?
* CHASSOT, Attico. Sobre o ferramental necessário para o trabalho de escrever. Estudos Leopoldenses, v.32, n.148, p.37-55, 1996
Dedico esta edição a Mauro Melo Costa, que na primeira postagem desta série escreveu: Olá Professor, bom dia! Iniciei o meu 1° ano letivo como Professor de Química e logo me deparei com o desafio de trabalhar na EJA aqui em Manaus-AM. Tenho me dedicado a trabalhar com os estudantes (e comigo mesmo através de um blog) o binômio leitura-escrita e o seu texto reforçam minhas concepções. Aguardo ansioso a próxima postagem. Abraço!  M M C.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

18.—ARTEFATOS CULTURAIS PARA APRENDER


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL  em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3138

Fevereiro, já em sua segunda metade, é no hemisfério Sul, o mês de volta às aulas. Este fevereiro bissexto de 2016 não é diferente. Da educação infantil à pós-graduação há uma azáfama de novo ano letivo, marcada por novos materiais. Não sei se o ‘caderno novo’ ainda é ícone deste recomeçar. Mas, já foi...
Proponho nesta e nas duas próximas blogadas (dias 21 e 24) fazer edições temáticas acerca do binômio escritaDleitura. Espero ter a adesão de minhas leitoras e meus leitores.
Para adquirimos qualquer conhecimento precisamos de artefatos culturais que são postos a nossa disposição. Uma ferramenta pode ou não ser adequada para determinada ação. É mais adequado (des)parafusar com uma chave de fenda do que com um martelo. Mas uma chave de fenda não é a mais adequada ferramenta para cortar uma folha de papel. Talvez, nessa situação nossa tarefa seja facilitada com uma tesoura.
Em nossa civilização um dos recursos mais usado para aprendermos é a leitura. Quando um ancestral nosso fez uma fabulosa descoberta: usar uma vara para apanhar um fruto mais alto em uma árvore ou quando um bebê, na altura de seu primeiro aniversário, começa a caminhar, um ou outro não leram um manual. Talvez, a observação, nas duas situações, tenha sido fundamental. Mas, na primeira situação ‘um manual de instrução’ quando composto por um desenho rupestre onde apareça uma árvore com frutos ao alto, e junto desta uma vara sendo empunhada por um ser humano poderia ter servido para transmitir um saber.
Hoje temos a Escola como um aparelho cultural para fazermos aprendizagens. Há já uma gama de conhecimentos que foram aprendidos por nossa civilização, muitos dos quais usando a observação. Vamos à Escola para produzir conhecimentos, mas para não reinventar a roda (seria maravilhosos se estudantes, em uma aula de Ciências, reinventassem a roda!) aprendemos conhecimentos que foram produzidos antes. Para tal, não raro, lemos acerca de conhecimentos já descobertos.
Trago uma questão muito em voga: Por que, ainda, produzir livros (em suporte papel)? E respondo: para ler a escrita de conhecimentos já produzidos e, para então, produzir novos saberes.
No próximo domingo, dia 21, voltamos ao assunto. Referência acerca de nossa história dos objetos para escrever será assunto. Conto com companhia de cada uma e cada um.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

15.—A surpresa de ser um personagem de ficção


ANO
 10
A G E N D A 2016 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3137

Quase ao ocaso deste janeiro, tive uma surpresa. Meu muito querido amigo e colega Carlos Augusto B. M. Normann conferiu-me honra e me fez personagem de um texto de ficção. Acredito que é a vez primeira que me é conferida esta distinção. Fiquei desvanecido.
O Guto, mestre em Biologia pela Unicamp, é professor e músico, de vez em vez, oferece textos — ou melhor: tecidos, como ensina Roland Barthes — que nos encantam pelo narrar saboroso, marcado por fértil imaginação.
Há dias escreveu:
Ao ler o blogue do grande amigo e mestre Attico Chassot, vi que o mesmo esteve pela Romênia lá pelo dia 19 de janeiro. Só fico imaginando um encontro entre o mestre e outra figura acadêmica ilustre, porém fictícia, o holandês MD, PhD Abraham Van Helsing. Tá quem colocou o Tico e o Teco pra funcionar, deve lembrar que Van Helsing é o nêmesis do conde Drácula na cinematografia clássica. Quem botar mais um pouco pra funcionar os neurônios, se dá conta que a Transilvânia, terra do chupador de sangue, fica na Romênia... Daí imagino a coisa, como redijo abaixo uma fictícia blogada do mestre Chassot:
O texto completo está em:
Uma muito boa leitura a cada uma e cada um. Ao Guto dois agradecimentos. Um, pela beleza de suas tessituras, marcadas por uma ficção arguta; outro, pela oportunidade de ver-me, pela primeira vez, catapultado a um personagem ficcional.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

12.— UM FUTURO EM QUE SE PODE ACREDITAR


ANO
 10
Ao retornar de
BOA VISTA DO BURICÁ
EDIÇÃO
 3136
Ontem, quinta-feira, dia 11, dei a largada de fato no meu 56º ano letivo como professor. Fiz palestra “Assestando óculos para olhar o mundo” para cerca de 100 professoras e professores da rede municipal de Boa Vista do Buricá e de São Martinho. Quando esta edição entrar em circulação já terei percorrido a primeira parte dos mais de 500 quilômetros (mais de oito horas de ônibus), que separam de Porto Alegre este munícipio da microrregião  de Três Passos, na região noroeste do Rio Grande do Sul, já próxima da fronteira com a Argentina. Na vinda levei nove horas  visitando dez rodoviárias (São Leopoldo,  Novo Hamburgo, Montenegro, Estrela, Lajeado, Soledade, Carazinho, Sarandi, Palmeira das Missões e São Martinho). Certamente,  este périplo prejudicou mais o meu desejo de dormir que tenha aperfeiçoado meu conhecimento da corografia gaúcha. 
Algo singular acerca de Boa Vista do Buricá, que ainda não havia visto em outro município: A língua alemã, em sua variante rio-grandense, faz parte integral do patrimônio cultural do deste munícipio de cerca de sete mil habitantes. O dialeto falado na região denomina-se Riograndenser Hunsrückisch (Hunsriqueano Riograndense). A maioria dos falantes desta língua minoritária sul-brasileira vivem no Rio Grande do Sul, concentrados em duas grandes zonas de colonização alemã, na chamada Altkolonie ou antiga região de colonização alemã e na Neukolonie ou região de colonização alemã mais recente, que é a situação do município que estive nesta quinta-feira.
A propósito da língua alemã aqui,  algumas das pessoas com quem mais conversei na informalidade  (prefeito, secretária de Educação,  secretário da Cultura e mais 2 ou 3 pessoas,  todas com quase 40 anos) chegaram à Escola sem saber pedir água em Português. 
Sempre surpreende quando alguém ou algo que eu não conhecia é catapultado e torna-se heliocêntrico. Afortunadamente, hoje temos facilidades de nos atualizar. Dou um exemplo de agora.
Há um mês, eu pouco ou nada sabia de Bernie Sanders, ou Bernie como ele prefere ser chamado. Pois este simpático senhor (e, por razões óbvias, não vou me referir a ele com a maioria faz: ‘simpático velhinho’ pois eu nasci quase dois antes que ele) é mais nova sensação na política estadunidense. Seu  mote “um futuro em que se pode acreditar” está encantando inclusive os jovens.
Depois do quase empate nas primárias de Iowa com Madame Clinton e nesta terça uma grande vitória em New Hampshire , — não entendo quase nada o babélico sistema de eleições dos Estados Unidos — há muita chance de Bernie (que sempre disputa eleições como candidato independente) ser o candidato do Partido Democrático, às eleições de novembro.
Sobre o embate Hilary X Bernie há um excelente texto na Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/revista/858/bote-fe-no-velhinho-5440.html
Há quem poderá questionar dar importância a eleições estadunidenses. Tem tudo a ver conosco, sim! Temos pelo menos torcer para que não ganhe Donald Trump, por exemplo. Isto não significa posição de colonizados.  Ao Brasil e a muitos outros países, o que ocorre na nação mais poderosa do Planeta é significativo.
Agora, somos Bernie. Não vou trazer aqui uma descrição de alguns lances deste judeu socialista que poderá ser o mais idoso estadunidense a chegar a ser Presidente do país. O Diário de Notícia de Lisboa publicou: http://www.dn.pt/mundo/interior/e-socialista-e-lava-a-propria-roupa-10-coisas-a-saber-sobre-bernie-sanders-5020030.html
Para quem quiser uma justificativa para alguém de esquerda estar atento nesta eleição recomendo o excelente texto de Guilherme de Paula, doutorando em História, da Universidade Estadual de Maringá, que está em https://espacoacademico.wordpress.com/2016/02/06/a-revolucao-de-bernie-sanders/
Se há quem, usando os óculos do pensamento mágico acreditar que torcer adianta, eu estou na torcida. E nisso tenho fé.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

09.— E... POR FALAR EM FANTASIAS...


ANO
 10
A G E N D A 2016 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3135

Primeiro pensei que o assunto não fosse pertinente à data, Revisei-me. Parece que cabe. Afinal hoje é Carnaval. Dia que evoca fantasias.
Na última edição mostrei a visão antípoda em relação ao corpo, mais especialmente ao nu. Em oposição à pudícia dos visitantes iranianos recebidos em Roma, com estátuas veladas falei das houris ou húris. Longe de ousar ofender ao Sagrado Alcorão parece-me que se trata de uma linda e prazerosa fantasia do paraíso, assim como me parece uma historieta, por exemplo, a arca de Noé.
Quando leio que a vida de uma húri é extremamente submissa. Assim como os muçulmanos devem submeter-se a Deus, no paraíso, a húri deve se submeter a seu marido, que também desempenha um papel de mestre. As húris são criaturas mágicas que não podem dizer não a seu marido, pois não têm a capacidade mental de escolher o que vão ou não fazer com seus corpos. Allah criou as húris para servir aos humanos bons e, portanto, as húris não conhecem nem aspiram a um mundo fora dessa servidão. Seriam perpetuamente satisfeitas com sua condição, sempre a sorrir e expressar alegria; e cujo único próprio seria satisfazer a seus mestres.
Na edição de 12/09/2015 resenhei Golen & o Gênio (Helene Wecker. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2015, 528 p. ilust. ISBN 978-85-66636-48-2). Aprendi, então, que como existem os Golens no imaginário judaico, existem também as Golens.
Agora, aprendo na Wikipédia, que há também debates se “quando as mulheres muçulmanas morrerem, também receberiam húris” É o que defendem certos clérigos. Isso levanta, porém, o debate quanto ao sexo das húris — isto é, quanto à possibilidade de existência de homens húris. Essa lógica - de que existem também húris de sexo masculino, à disposição de quem assim preferir - é defendida por muitos dos clérigos islâmicos. Os adjetivos usados no Alcorão para descrever as (ou os) húris efetivamente não se restringem ao sexo feminino - limita-se a dizer o Alcorão que húris serão "jovens virgens, de olhar modesto, fisionomia atraente, nenhum pelo no corpo além das sobrancelhas e do cabelo, lindos olhos e sorridentes; de traços refinados e em sua melhor forma"
Nada como poder sonhar e construir prazerosas fantasias. A vida futura parece que será pródiga de prazeres.