ANO
10 |
EDIÇÃO
3142
|
Fevereiro, que neste 2016 bissexto tem uma sobrevida com este 29, está terminando. Março espera passar algumas horas para assumir a tempus machina. Então, o mês dedicado ao deus da guerra marcará nossos viveres e fazeres. Entre suas muitas benesses (é, verdade que as águas de março em pleno verão, nem sempre são benfazejas) a mais esperada dádiva é o outono. Esta, nestas plagas, é a estação mais agradável. Assim, tchau calorento fevereiro e... que venha o apetecível março outonal.
É obvio que em nossas
histórias não há dois marços iguais! Mas, este que começará amanhã será um
março muito destoante de todos que já vivi em mais de meio século. Desde 1961,
março me obsequiava alunas e alunos. Este ano será muito diferente. Não
terei o inebriante cotidiano de ser professor em uma sala de aula.
Quase ao findar da manhã
da primeira sexta feira desta quaresma, sou chamado a gabinete do Pró-Reitor de
Pesquisa e Pós-graduação do Centro Universitário Metodista do IPA. Imaginava
que se desenhava um aumento de carga horária, como me fora oferecido no
semestre passado ou o convite para proferir a aula magna dos mestrados, como
ocorrera nos dois semestres anteriores.
Ledo engano. Soube, emoldurado
por vagas e inconsistentes preliminares, que a igreja metodista me impunha a
mais severa penitência quaresmal. Estava demitido sumariamente depois de 8,5
anos de serviços exercidos com muita dedicação.
Decapite-se. Pedi arreglo: deixem-me
terminar a orientação dos quatro mestrandos que estão com seus trabalhos quase
prontos. Não. Já que é por razões econômicas que sou
decapitado, deixem-me continuar com uma aula semanal na Universidade do Adulto
Maior, onde recebo como uma atividade de extensão. Não. As leis do capital são claras. Não queremos/precisamos mais
comprar tua força de trabalho. Agora ela não nos interessa. Ontem, te precisávamos. Hoje, tu não nos apeteces.
Naquela mesma
sexta-feira, 12 de fevereiro, mais 42 colegas tiveram a mesma sina que eu.
Mesma, não. Alguns muito pior, pois às vésperas de começar um ano letivo
perdiam a sua única fonte de renda. Muitos como eu — ouviram ao buscar uma
desejada recolocação — nossos quadros estão completos, pois aulas já começam.
Mesmo me excluído, não
fiquei pagão. Tenho afiliação acadêmica à Rede Amazônica de Educação em
Ciências e Matemática, onde sou orientador de doutorado. Desenham-se, com as
dificuldades marcadas pela situação econômica, algumas tênues possibilidades.
Tenho já para este semestre algumas palestras e seminários. Não tenho aquele
elixir revitalizante da sala de aula. Busco. Aqui um explícito pedido de ajuda.
Tenho saudades das
turmas de licenciatura em Música para as quais nos últimos semestre me
encantava em lecionar Teorias do Desenvolvimento Humano e Ética, Sociedade e
Meio Ambiente. Tenho saudade da UAM.
Tenho recebido inúmeras
manifestações de solidariedade e até de perplexidade por meio de telefonemas,
mensagens, whatsapp e visitas. Isto conforta. Vou trazer apenas um exemplo. O
José Carlos H Ferreira, 84 anos, médico; meu aluno em vários semestres na
Universidade do Adulto Maior, de maneira usual em campos ideológicos distintos,
escreveu:
23/02/2016 Assunto: Uma
notícia muito triste. Claro que essa é uma péssima noticia não só para mim
como para todos alunos da UAM!
Já recebi telefonemas de colegas inconformados com a situação,
tanto que em principio combinamos uma reunião para quarta, 02/03, que vem! A
razão de não ser imediata a reunião é para haver tempo de colocarmos a par da
situação maior número possível de colegas....
Professor Attico o sr. é um grande mestre que marca seus alunos
em cada aula pelo sr. administrada...Tenho bem em mente nossas ´posições as
vezes opostas e contrarias e posso afirmar que jamais presenciei qualquer
palavra sua mais ríspida ou autoritária! Isso é próprio dos grandes homens e
por traz disso notáveis e compreensivos professores.
Aguarde que vamos nos reunir e não aceitar como cordeirinhos a
perda do melhor mestre da UAM. ESTOU INTEGRALMENTE E TOTALMENTE AO SEU LADO!!!!
Abraços do aluno chato e inquisidor Zéca Ferreira
Privado,
momentaneamente, da sala de aula, estas mensagens de alunos e ex-alunos me
acarinham e confortam. Manifesto minha
gratidão a cada uma e cada um por tão consistentes afagos. Repito: busco
recolocação.