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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

31.-OS ‘PRODUTOS’ APAGAM O HOMENAGEADO



Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2343
Último dia do ano: Hoje é dia de São Silvestre. Há que convir que a homenagem ao santo, colocando sua celebração litúrgica no último dia do ano, paradoxalmente, apagou a memória do homenageado. Este desapareceu à medida que ‘produtos’ com seu nome cresceram.
Pelo menos na cultura brasileira falar em São Silvestre é falar na corrida (ou nas corridas, pois agora há também: São Silvestrinho) que ocorre na tarde do último dia de cada ano. Há também anúncios de ‘bailes de São Silvestre’ ou de ‘réveillon de são Silvestre’. São Silvestre é topônimo de bairros e distritos no Brasil e freguesia em Portugal.
Mas, ¿e o santo? O São Silvestre hoje evocado foi um papa. Há outro (Silvestre II) que foi papa de 999 a 1003, num dos ápices do milenarismo no mundo ocidental. Mas como papas já são quase três centenas... qual o destaque deste que é o apagado ‘santo do dia’?
Defendo a tese que não devemos apenas espiar o mundo, mas adentrar nele. Assim convido meus leitores a fazer isso.
São Silvestre I — nascido em Roma em 285 — foi o 33º Papa, por 21 anos, entre 31 de janeiro de 314 até 31 de dezembro de 335 [por isso sua celebração é hoje], durante o reinado do imperador romano Constantino I, que determinou o fim da perseguição aos cristãos, iniciando-se a Paz na Igreja. Constantino entra na História como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na sequência da sua vitória sobre Magêncio na Batalha da Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão.
Silvestre I foi um dos primeiros santos canonizados sem ter sofrido o martírio. Como papa Silvestre I enviou emissários para presidirem ao sínodo de Arles (314) e ao Primeiro Concílio de Niceia (325), convocados por Constantino, a sua ausência é motivo de debate, provavelmente deve-se ao seu estado de saúde. Durante o seu pontificado a autoridade da Igreja foi estabelecida e se construíram alguns dos primeiros monumentos cristãos, como a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, e as primitivas basílicas de Roma (São João de Latrão e São Pedro), bem como das igrejas dos Santos Apóstolos e de Santa Sofia em Constantinopla.
Assim é no papado de Silvestre I que a o cristianismo se torna hegemônico no Império Romano (leia-se mundo ocidental). É também quando a igreja se transmuta de perseguida em perseguidora, assunto usualmente apagado. Assunto que já perambulou neste blogue ultimamente.
E, agora, quando nos lermos de novo, já será 2013. Assim, até o próximo ano, quando colocamos mais um marco balizador de nossos fazeres.

domingo, 30 de dezembro de 2012

30.-UMA VISITA UM TANTO INSÓLITA


Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2342
Um domingo imprensado entre dois grandes feriados sabe mais a recesso de fim de ano. As lépidas e fagueiras blogadas dominicais, neste último domingo de 2012 trazem o registro de uma visita insólita à Morada dos Afagos. 
Dizem que visita de urubu significa purificação, vigilância constante, renascimento, nova visão, limpeza e cura.
Estimo que esta visita — registrada por Silvana Hebel em dia da semana passada — traga os melhores augúrios para cada uma e cada um leitores deste blogue, quando deste último domingo do ano já vislumbramos 2013.

sábado, 29 de dezembro de 2012

29.-O MILAGRE E O SANTO


Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2341
A proposta sabática de falar em leituras hoje se faz diferente. Apenas uma pergunta e uma resposta.
Chassot, queria tua opinião sobre um dos livros que mais me marcou: The Demon-Haunted World, science as a candle in the dark, que Carl Sagan escreveu pouco antes de morrer, e que foi traduzido como Mundo Assombrado pelos Demônios, que ganhou uma versão em 2006 pela Companhia de Bolso. Nele aprendi que ensinar ciência não é jogar sementes ao vento.
Meu querido amigo, convidas comentar um livro e um autor. Mundo assombrado pelos demônios, com seu emblemático subtítulo: A Ciência vista como uma vela no escuro é um texto que poderia ser o ‘livro de cabeceira’ de professores que pretendem fazer alfabetização científica. Certa vez o referi em um seminário e meu colega Prof. dr. Fleming Pedroso anunciou que estava emocionado, pois fora o primeiro livro que dera a sua filha. Há passagens emocionantes em cada um dos seus 25 capítulos.
Gosto de citar um parágrafo, para mostrar aos meus estudantes que se sentem menos por não ‘ter berço na Ciência’: “Meus pais não eram cientistas. Não sabiam quase nada sobre ciência. Mas ao me apresentar simultaneamente ao ceticismo e à admiração, me ensinaram as duas formas de pensar, de tão difícil convivência, centrais para o método científico. Estavam a apenas um passo da pobreza. Mas quando anunciei que queria ser astrônomo, recebi apoio incondicional — mesmo que eles (e também eu) só tivessem uma ideia muito rudimentar da profissão de astrônomo. Nunca sugeriam que, consideradas as circunstâncias, talvez fosse melhor eu ser médico ou advogado.” Esta citação é sempre muito oportuna para aumentar a autoestima de meus alunos da graduação, cuja maioria pertence a uma primeira geração que chega à Universidade. Sagan nos mostra que não é preciso ter pedigree.
Nos parágrafos seguintes soa desolador quando ele diz: “Gostaria de poder contar lhes contar sobre professores de ciência inspiradores nos meus tempos de escola primária e secundária. Mas quando penso no passado, não encontro nenhum.” E as evocações memorialísticas seguem enumerando uma sucessão de inutilidades aprendidas (e esquecidas) muito do tipo que falei neste blogue em 13NOV2012 de meus aprendizados de geografia.
O livro é precioso e há histórias comoventes. Há sugestões envolventes.
Falei do milagre, comentando um livro que se faz bíblico. Agora, um comentário sobre o santo. Carl Edward Sagan (1934 — 1996) foi um cientista, astrônomo, cosmólogo, autor, escritor de ficção científica e um grande divulgador científico estadunidense. Tenho particular admiração pelo escritor. Mas tenho restrições. Estas se assemelham aquelas que faço a Richard Dawkins (1941) um zoólogo, etólogo, evolucionista e popular escritor de divulgação científica britânico, natural do Quênia.
Minha admiração por Dawkins o cientista que é um dos ícones do ateísmo se esboroa na sua militância ateia, fazendo proselitismo igual a fundamentalistas religiosos. Sagan não foi diferente em relação à Ciência. Para ele qualquer tentativa de ler o mundo sem ser com os óculos da Ciência é exorcizada como algo demoníaco.
Há muitas evidências desta afirmação. Fiquemos no título do livro em tela. Mundo assombrado pelos demônios. Quem são os demônios? A pseudociência, medicinas alternativas, religiões, filosofias alternativas, horóscopos, pensamento mágico, anjos, ETs, astrólogos, médiuns... tudo deve ser banido para que a Ciência possa ser vista como uma vela no escuro e traga a luz a um mundo sem as trevas do obscurantismo.
Assim “Carl Sagan acende a vela do conhecimento científico para tentar iluminar os dias de hoje e recuperar os valores da racionalidade”. A capa do livro lembra algo dos ofícios religiosos da Semana Santa: igreja às escuras, e um dos celebrantes acende uma vela e canta: ‘Lumen Christi!’. Ao ver o livro devíamos cantar: ‘Lumen Scientiae!’ Parece-me não ser este o caminho. A Ciência é apenas um dos óculos para ver mundo. Há outros.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

28.-A CIÊNCIA É MASCULINA? É, SIM SENHORA!


Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2340
Na blogada de ontem trouxe em um retrospecto do ano que se esvai, a minha campanha contra os Comitês de Ética na Pesquisa – CEPs, reconhecida como uma das minhas lutas de 2012. Há, para hoje, uma questão que me foi trazida por um leitor, que me obrigou a olhar anos passados e prognosticar os futuros.
 Eis minha resposta: Colega e amigo ACMD, interrogas se a Ciência pode vir a ser feminina, cabe lembrar que não só a Ciência, mas (quase) toda a produção intelectual — não apenas no mundo Ocidental — é predominantemente masculina. Olhemos as Artes, a Filosofia, a Literatura, os lideres políticos e religiosos. Veja as composições da ABL (Academia Brasileira de Letras) e da ABC (Academia Brasileira de Ciência). Tu já referiste o futebol e há uma supremacia masculina em todos os demais esportes.
Em compensação, quais as mulheres similares aos sanguinolentos Hitler, Mussolini, Stalin, Pol Pot, Milosevic, Idi Amin, Pinochet, Bush, Sadan, Mobarak, Kadaffi? Não temos nomes para esta lista.
Mesmo que se possa questionar pesquisa do cientista estadunidense Michael Hart, publicada no livro"The one Hundred” (London: Simon & Schuster, 1996; a lista está em meu livro* a presença de apenas duas mulheres na lista das 100 pessoas que mais influenciaram a humanidade é algo que nos tem a dizer.
Estou preparando uma sexta edição do meu livro para 2013. A primeira é de 2003. Listo a seguir para os três prêmios Nobel de Ciências o número total de laureados (desde 1901, quando começou a premiação) e os anos em que houve mulheres premiadas. Pode se ver que passados 10 anos quase nada mudou em termos de supremacia masculina. Ressalvando que reconheço que esse possa ser um indicador discutível, mas válido para significativas inferências.
FÍSICA 194 laureados com 02 mulheres premiadas: 1903 e 1963# (#dividido com homens)
QUÍMICA 163 laureados com 04 mulheres premiadas: 1911, 1935#, 1964 e 2009#.
MEDICINA ou FISIOLOGIA 201 laureadas com 10 mulheres premiadas:1947#, 1977#, 1983, 1986#, 1988#, 1995#, 2004#, 2008# e 2009(2)#
Desde 1901 a 2012 houve 558 laureados três prêmios Nobel de Ciências dos quais 16 mulheres (o que significa em torno de 2,8%). Desde 2009 não houve mulheres laureadas. 2010, 2011 & 2012 só homens nas premiações de Ciências.
Mas para ratificar que não é só a Ciência que masculina, vale acompanhar os outros três prêmios Nobel:
LITERATURA entre 102 premiados há ONZE mulheres laureadas.
PAZ entre 98 pessoas e 31 organizações premiadas há QUINZE mulheres laureadas.
ECONOMIA: Distribuído desde 1969, para 61 pessoas; apenas UMA mulher, Elinor Ostrom (1933 USA) foi premiada em 2009 juntamente com um homem.
Assim, meu muito querido amigo ACMD, a Ciência e ‘alguns algo mais’ continuam masculinos. A eleição de uma presidente no Brasil e várias mulheres se fazendo respeitadas líderes políticas certamente diminuem a misoginia, mas estão distantes os tempos que nós teremos
mais igualdade na presença de mulheres na Ciência.
Talvez os filhos, mais provavelmente os netos minhas netas Maria Antônia, Maria Clara, Carolina e Cecília — esta expectativa desta virada de ano —, contemplarão estes tempos. Vivamos, agora, embalando expectativas.
*CHASSOT, Attico. A Ciência é masculina? São Leopoldo: Editora UNISINOS. (2012, 5ª. ed.) 2003 ISBN 978-85-7431-448-8

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

27.- UM (QUASE) VÍRUS INFECTANDO A PESQUISA


Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2335
As viradas de ano são invenções salutares daqueles que as propuseram em um calendário que acompanha a transladação anual da Terra em redor do Sol. Vale o mesmo para os ciclos diários marcados pela rotação da Terra em redor de seu eixo.
Os primeiros ensejam balanços do ano que passou e planos (envolvendo mudanças) para o novo ano. Não vou, quando 2012 se despede, fazer miradas do ano que passou. Já disse que foi de muitas viagens. Na nova ‘pasta’ do Lattes que acolhe registros de ‘divulgação da Ciência' neste ano registrei 53 palestras.
Mas, para 2012 há um destaque que merece, uma vez mais registro aqui. Em 16jul2012 publiquei uma blogada histórica: Um (quase) vírus infectando a pesquisa. Ela não determinou apenas a retirada, por uma instituição do convite de uma palestra, mas desencadeou uma campanha que levei a pelo menos 10 Estados (AM, BA, ES, PB, PI, RJ, RR, RS, SC, SP) denunciando as ações ditatoriais dos Comitês de Ética na Pesquisa (CEP).
Observação óbvia: a campanha não é contra a ética na pesquisa. Esta defendo e postulo, mas é contra as intransigências de (alguns) CEPs e, também, contra o burocratismo da Plataforma Brasil.
O chicote dos CEPs ~~ novo algoz do fazer pesquisa ~~ é o TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ou TCLE. Quem não teve o (des)prazer de se envolver com o mesmo coloque a sigla TCLE — a varinha mágica do comportamento ético dos pesquisadores brasileiros — no Google e encontrará centenas de modelos, alguns verdadeiras peças jurídicas que envolvem minudências mais complexas que escrever o capítulo ‘metodologia da pesquisa’ de uma proposta de tese de doutorado.
O pedido de assinatura do TCLE ao entrevistado implica em situações de constrangimento como informa-lo que ele não receberá nem valor monetário ou material pela sua colaboração (levando-o a inferir que o pesquisador está levando vantagens, da qual ele fica de fora).
Hoje a instituições que já pedem TCLEs com assinaturas de testemunhas, aditadas de CPF e RG, pois se exige ‘O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e / ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à participação na pesquisa!’
Espera-se para 2013 novos ares do medieval e torturante exercício de poder dos CEPs, para evitar que se faça em certas áreas pesquisas apenas documentais. 
Sonhar é preciso, mas se mais gente sonhar junto.... Façamos isso!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

26.-ESPECIALISTA versus GENERALISTA: UMA ANEDOTA


  

Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2040

Passada as festas natalinas, já temos no horizonte a celebração da virada do ano. Para voltar aquilo que é mote aqui, vou tentar responder ~~ parcialmente ~~ a uma pergunta recebida, há não muito: Professor, há um saber escolar que contemple o ensino de Ciências?
As discussões acerca do tema envolvem pelo menos duas dimensões: uma, talvez, coubesse por primeiro uma discussão: “generalista versus especialista” e a outra quais são os saberes escolares que garantem uma ‘razoável’ alfabetização científica nos estudos que precedem à Universidade.
Sabemos que Ciência cresce, particularmente, pelas ações dos especialistas. Todavia são os generalistas, com sua visão mais holística do mundo, que são cada vez mais importantes não só para a transmissão dos saberes científicos, mas também para sinalizações de possíveis direções para que os especialistas possa conduzir espraiamentos da Ciência. Talvez, devêssemos sedimentar o pressuposto de que o ensino fundamental e o médio não são locais para formar especialistas. Aliás, vale o mesmo para os cursos de graduação.
Há uma anedota escolar que sempre aflora quando se traz esta discussão. Narro a mesma em dois cenários.
Manhã de segunda-feira, em um curso de licenciatura: Professor! O senhor viu, na noite de ontem, na televisão, aquela experiência de fizeram num ‘show de Ciência? Qual é a explicação? Vi sim! Isto é um assunto de Química, eu sou físico. Procurado o professor de Química, ele responde que o experimento é importante na área de Química Orgânica, mas...’eu sou inorgânico! O professor de Química Orgânica, ao ser questionado responde que sua área é de compostos acíclicos, e o problema envolve compostos cíclicos. Buscado um especialista em compostos cíclicos, este sublinha a importância do problema, mas diz tratar-se de compostos com anéis hexagonais, mas que ele em seu doutoramento trabalhou com compostos com anéis pentagonais. Procurado um novo expert, ele diz que realmente é uma significativa questão envolvendo anéis pentagonais — assunto que já lhe rendeu várias publicações e um pós-doutoramento, mas sempre teve seu campo de investigação em anéis pentagonais homocíclicos, no caso em tela trata-se de compostos com anéis heterocíclicos. Poderíamos continuar nossa história por mais meia dúzia de especialistas que só entendem de seu mundinho, ou para ser menos elegante, entendem da ‘cacaca da cacaquinha’.
Um segundo cenário: manhã de segunda-feira, em uma escola de ensino fundamental: mesma pergunta inicial, para o professor de Ciências. Certamente, com uma visão holística do mundo, traria uma resposta que satisfaria a curiosidade do aluno.
Deixemos momentaneamente a Escola. Vamos a uma situação de nosso cotidiano. Qual é a primeira coisa que precisamos saber, para consultarmos um médico? Que doença temos; assim podermos procurar o especialista em nossa enfermidade. Cena possível, após procura de um otorrino que é credenciado por nosso convênio: ‘Doutor! Tenho um zumbido no ouvido direito... Após breve exame, um laudo estimulante: Provavelmente tens tinitus, vou te recomendar a colega meu que é especialista em ouvido direito, minha especialização é em ouvido esquerdo!
Sei que trouxe uma situação caricata. Se pensarmos um pouco, ela tem muito de situações que vivemos em nosso cotidiano. Apenas uma síntese: não é a escola o lócus de formar especialistas. Lá somos generalistas.
A outra dimensão acerca dos saberes escolares que garantem uma ‘razoável’ alfabetização científica nos estudos que precedem à Universidade falo outro dia.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

25.-SOBRE POETAR ACERCA DE UMA DATA (QUASE) MÁGICA


Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2037
Não existe na cristandade uma data que tenha o apelo cultural (e comercial ¿e comércio não é cultura?) como a celebração de hoje. Mesmo no oriente (e se diz que os magos eram do oriente), especialmente na China ela movimenta fortunas no fabrico de quinquilharias natalinas.
Em todas as artes ela cantada, esculpida, rimada, pintada, musicada... tivesse eu a veia literária do Jair Lopes, que traz aqui diariamente limeriques, arriscaria uma ode. Resolvo seguir o conselho de Carlos Drummond de Andrade e dizer:
Menino, peço-te a graça
de não fazer mais poema
de Natal.
Uns dois ou três, inda passa...
Industrializar o tema,
eis o mal.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

24.-NA EVOCAÇÃO DE (DES)ILUSÕES


Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2036
É muito provável que não exista data na história da maioria de meus leitores que amealhe evocações de tantas (des)ilusões como a noite de hoje. Estas embalaram (e se esboroaram), não raro, na data mais aguardada do ano.
Elas podem ser desde a ameaça de uma varada do Papai-noel por desafinar a ‘Noite Feliz’ (situação comum a maioria dos canoros) até ver, sob a árvore, a sonhada Monark azul (mesmo sabendo que o presente seria compartido com mais três irmãos, onde havia um que se adonaria, pois era aquele que sabia andar sozinho).
Assim a blogada de hoje se faz silente para deixar aflorar lembranças e sonhar que estas tragam alegrias para a noite de hoje. Nela crentes ou não crentes no mistério de um Deus se fazendo homem repetem emocionados aquele que também é o meu desejo para cada leitora ou leitor: FELIZ NATAL.

domingo, 23 de dezembro de 2012

23.-UMA COLABORAÇÃO PARA A MELHOR COPA DO MUNDO



Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2035
Uma bem humorada (e culta) blogada dominical, adaptada de mensagem que recebi. Parece válida para aliviar tensões neste primeiro domingo postpseudo-fim do mundo.
 O Brasil sediará a Copa de 2014. Como muitos turistas de todo mundo estarão por aqui, é imprescindível o aprendizado de outros idiomas (em particular o inglês) para a melhor comunicação com eles.
Pensando em auxiliar no aprendizado, foi formulada uma solução prática e rápida!!
Chegou o sensacional e insuperável curso 'The Book is on the Table', com muitas palavras que você usará durante a Copa do Mundo de 2014.
Veja como é fácil!
a.) Is we in the tape!= É nóis na fita.
b.)Tea with me that I book your face = Chá comigo que eu livro sua cara.
c.) I am more I= Eu sou mais eu.
d.) Do you want a good-good? = Você quer um bombom?
e.) Not even come that it doesn't have! = Nem vem que não tem!
f.) She is full of nine o'clock = Ela é cheia de nove horas.
g.) I am completely bald of knowing it. = To careca de saber.
h.) Ooh! I burned my movie! = Oh! Queimei meu filme!
i.) I will wash the mare.= Vou lavar a égua.
j.) Go catch little coconuts! = Vai catar coquinho!
k.) If you run, the beast catches, if you stay the beast eats! = Se correr, o bicho pega, se ficar o bicho come!
 l.) Before afternoon than never.= Antes tarde do que nunca.
m.) Take out the little horse from the rain = Tire o cavalinho da chuva.
n.) The cow went to the swamp. = A vaca foi pro brejo!
o.) To give one of John the Armless = Dar uma de João-sem-Braço.
Em outro momento, prosseguiremos esta graciosa e útil colaboração para fazermos a melhor copa do mundo. Um bom domingo a cada uma e cada um.

sábado, 22 de dezembro de 2012

22.-UMA SÁBATICA ACERCA DE ESCRITOS



Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2034
O badaladíssimo 21 de dezembro passou. Aqui na região sul não só não vimos o fim dos tempos, como também não deu para curtir o solstício, pois a chuva obscureceu o sol. Mas vale curtir agora o primeiro sábado da nova era.
 Hoje, guardado uma tradição falo de escritos. E não vou me considerar despudorado por trazer aqui um texto meu. Afinal faço em um período que literalmente aqui é de vacas magras. Os cerca de 300 leitores, neste entorno das festas ficam reduzidos a esmirrados 200. Assim falar em causa própria não é impudico.
Quando já é sábado, seduzido por uma mensagem que recebi na quarta-feira, resolvi falar de “Diálogos de aprendentes#”. Cada artista, artesão, escritor ou cientista tem a sua ‘obra mais querida’. Os filhos, no mítico ciúme, dizem que, até entre eles temos o preferido, logo porque, entre, nossos muitos escritos, não vamos ter um ‘que mais gostamos’.
A maneira original (para mim) de como ‘os diálogos’ foram tecidos e o uso do texto são as duas dimensões que me autorizam fazer deste capítulo inserido em uma coletânea como a minha obra prima. Mesmo que tenha sete livros em circulação e destes haja um (A ciência através dos tempos) que já vai completar 20 anos de sucessivas reedições, superando já os 100 mil exemplares ou outro (Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto) que tem mais de meio milhar de páginas, uma bela capa e uma apresentação primorosa de um Secretário de Estado da Educação, é um texto de um pouco mais de duas dúzias de páginas que leva os louros e quero trazê-lo aqui.
Em “Diálogos de aprendentes” houve a proposta de trazer algumas discussões acerca de uma ‘Educação científica para cidadania’ para um livro organizado com a contribuição de expertos da Educação Química brasileira. O capítulo é apresentado sob forma de um diálogo internético entre uma jovem aluna, que cursa a segunda metade do curso de licenciatura em Química e um professor que há muito se envolve com a formação de docentes para a área das Ciências da Natureza. O ponto de partida são interrogações que Maria Clara, uma jovem estudante de uma instituição no interior da Amazônia, faz para Giordano, um professor já mais experiente. Aqui termina a ficção.
O capítulo se constrói com uma produção real formada por mensagens, consultas e comentários no blogue que recebo. Nas respostas trago meu ponto de vista, analiso postura de outros teóricos, recomendo leituras de textos e apresento sugestões de como abordar determinados assuntos que envolvem uma alfabetização científica em um espectro muito amplo. Tudo está centrado em termos daquilo que é central no capítulo: ‘Educação científica para cidadania’. Há uma continuada troca entre a aluna e o professor. Ambos fazem tessituras com as aprendizagens de uma e de outro. Nessa troca de experiência faço uma arqueologia de alguns de meus textos e postulo uma expansão de fronteiras para Educação Científica e Alfabetização científica.
Outra dimensão do texto é seu uso. Nada gratifica tanto um autor quanto saber do uso de sua produção. A escrita só tem sentido se houver leitura. Então ocorre o desiderato; a plenificação do binômio: Escrita<>Leitura. Depois da produção do texto, fiz visitas ‘escaipadas’ a várias salas de aulas de licenciaturas em diferentes Estados, onde alunos haviam lido e discutido “Diálogos de aprendentes” passaram a analisar o texto comigo. É fácil inferir o quanto estas ações ampliaram aprendizagens.
Adito algo mais para fazer deste texto um preferido: ele foi escrito em fevereiro e março de 2010, enquanto Professor Visitante da Aalborg Universitete, na Dinamarca. As fortes emoções do mais rigoroso inverno branco de minha história, para quem deixar uma Porto Alegre de quase 40ºC fertilizaram alguns dos escritos de então.
Eis a mensagem que recebi nesta quarta-feira, desde Hanói, no Vietnã, de um brasileiro ligado ao Itamaraty:
"Obrigado professor Attico Chassot, por me aceitar como amigo no face. Eu tenho `A Ciência através dos Tempos`, que gostei muito e é livro de referencia pra mim e estou lendo `Ensino de Química em Foco`. O capítulo um é o melhor de todos, hehehe. Não deviam colocar o seu texto logo no primeiro capítulo, aí os outros capítulos parecem chatos... (os demais capítulos de ensino de Química em foco são bons, mas são mais técnicos, não tem a poesia, a contemporaneidade, a leveza e a profundidade de alma do primeiro capítulo)... Enfim, é um privilégio ser amigo no Facebook de um professor, cientista, poeta, filósofo e blogueiro que admiro muito.
Parece que minha escolha teve um bom endosso. Agradeço o aval de Juliano de Almeida Elias. Ele me fez ainda mais entusiasmado com o “Diálogos de aprendentes”.
# O texto está publicado em MALDANER, Otavio Aloisio (Organizador); SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos (Organizador). p. 23-50 Ijuí: Ensino de Química em Foco Editora Unijuí, 2010, 368 p. 15 X 21 cm. ISBN 978-85-7429-888-7

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

21.-FELIZ VERÃO/FELIZ INVERNO



Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2033
Não sei a que horas o prezado leitor me lê. Certamente o dia 21 já tem algumas horas, e não se verificou ~~ ainda ~~ nenhum estertor de fim do mundo. Se não for hoje e os maias estiverem certos, preparem-se para daqui a 5.126 anos, quando se completar o segundo ciclo.
Assim a prosseguir a vida por aqui, que se bem me recordo dela rezava “A vós bradamos os degredados filhos de Eva, a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas” por primeiro desejo feliz verão aos meus leitores do Hemisfério Sul; feliz inverno para aqueles do Hemisfério Sul e aos das regiões equatoriais ventos suaves e frescos.
Ontem, mesmo sendo ainda oficialmente primavera, nestas plagas tivemos uma amostra de verão com temperaturas de 40ºC a isto seguiu um temporal com ventos com velocidades quase 100 km/h, com várias horas sem energia elétrica e sem internet. Na foto: Porto Alegre ontem pelas 16h. Como em vários países já era então dia 21, pode parecer cenas dos próximos momentos. Mas além de muitos transtornos tivemos gostoso refrigério na temperatura.
Mas não ter fim do mundo nos enseja viver um solstício: Época em que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral, e durante a qual cessa de afastar-se do equador. Os solstícios situam-se, respectivamente, nos dias 22 ou 23 de junho para a maior declinação boreal, e nos dias 22 ou 23 de dezembro para a maior declinação austral do Sol. No hemisfério sul, a primeira data se denomina solstício de inverno e a segunda, solstício de verão; e, como as estações são opostas nos dois hemisférios, essas denominações invertem-se no hemisfério norte. Aqui teremos hoje o maior dia (ou menor noite) e no Hemisfério Norte a maior noite (ou menor dia).
Uma pergunta sempre recorrente: o que este solstício tem haver com a data do Natal?
O Natal — diferentemente da Páscoa, uma festa móvel (celebrada entre 22 de março e 25 de abril), pois determinada pelo calendário lunar — ocorre sempre em 25 de dezembro, com data definida pelo calendário solar, provavelmente para fazer-se sincrética às festas pré-cristãs celebradas pela passagem solstício de inverno no hemisfério Norte.
A data de 25 de dezembro começou a ser celebrada como o Natal de Jesus, a partir do século 4º e foi escolhida porque que esta era a data que no Império Romano se celebrava o início das saturnais, uma das festas mais populares e que coincidia com o solstício do inverno no hemisfério Norte. Os incas realizavam sua festa maior ao Deus Sol, no solstício de inverno. As fogueiras, ainda tão populares na celebração da vigília de São João Batista (23 de junho) são resultado do sincretismo com as comemorações do solstício de inverno do hemisfério Sul. Há nos relatos bíblicos indícios que parecem fortalecer a tese que Jesus tenha nascido no verão e não no inverno. Lucas (2, 7) fala de pastores que estavam no campo naquela noite e dificilmente estes ficariam ali em uma noite de inverno.
Assim, que bom que possamos curtir este solstício de hoje, mesmo que exageradamente chamado de ‘vale de lágrimas’.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

20.-TALVEZ A BLOGADA DERRADEIRA



Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2032
Talvez, esta seja a última edição deste blogue. Há muitas profecias definindo que amanhã, sexta-feira, dia 21, o mundo acaba. Como não sei a hora e também, parece não haver informação acerca do fuso-horário no qual ocorrerá a catástrofe, não sei se edição do solstício de verão para o Hemisfério Sul/inverno Hemisfério Norte circulará, pois usualmente as edições deste blogue circulam às 00h de Brasília.
Marcelo Gleiser, articulista da Folha de S. Paulo, explicou no último domingo, a profecia relacionada com “o calendário maia que recomeça a cada 13 ‘baktuns’ e cada ciclo tem 5.126 anos. O calendário maia foi iniciado no dia 13 de agosto de 3114 a.C. É apenas o fim de um ciclo e o começo de outro, típico de culturas que acreditam num tempo circular, ao oposto da nossa, onde o tempo é linear, com apenas um começo e um fim”.
Porém se tudo terminar amanhã, resta para alguns apenas uma despedida com um ‘até nunca!’. Àqueles que creem em uma vida futura — entre os quais parece que não me alinho — hoje apenas será um momento de dizer: ‘Até breve!’ pois já amanhã todos nós crentes e não crentes estaremos em outra vida com novos reencontros e possibilidade até de viver, então, os amores que aqui foram impossíveis.
Não vou perder mais tempo em bobagens. Encerro com uma citação do mesmo físico brasileiro antes citado: “Temos um poder enorme para nos defender de medos ancestrais e infundados: a razão. Nossa compreensão da natureza não nos traz apenas celulares e DVDs mas também a certeza de que o conhecimento é a melhor forma de liberdade”.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

19.-PARA QUE(M) É ÚTIL O ENSINO?


  
Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2031
Posso imaginar, inferindo que a maior parte de meus leitores seja ligada ao meio acadêmico, que muitos já estejam prelibando o recesso de fim de ano. Por estes dias mantenho as edições diárias, mas talvez mais curtas.
Hoje trago resposta que dei a uma pergunta que recebi: Professor, será que “ensinar menos” não significa, na verdade, ensinar mais? Respondo com um sim garrafal. Mais de uma vez, nestes seminários para professores, que somos convidados a falar no início de um ano letivo, desagradei o alto clero de escolas (=coordenadores etc.), ao colocar como metas do novo ano escolar: ensinar menos.
Na minha tese de doutorado1, parte da qual se fez livro2 mostrei que a maioria dos conteúdos de Química que ensinamos anterior a universidade não serve para nada. Concordemos que esta é uma dolorosa conclusão para quem consumiu parte de sua vida ensinando Química.
Então, cabe a pergunta: por que ensinamos Ciência? E, muito provavelmente, não se faz isso para que tenhamos homens e mulheres que saibam, com os conhecimentos de Ciências que têm, ler melhor o mundo em que vivem. Ainda, é preciso ir além: o ensino das Ciências precisa ajudar para que as transformações que se fazem nesse mundo sejam para que um maior número de pessoas tenham uma vida mais digna. É para isso que se busca hoje fazer uma alfabetização científica. Nossos alunos e alunas, assim, não precisam aprender, por exemplo, o que são isótonos ou a classificação taxionômica de um vegetal ou definições do número um, quase incompreensíveis para os mais expertos algebristas.
Já perguntei, em mais de uma oportunidade, em auditório onde os presentes eram eminentes pesquisadores da área da Química, (e faço aqui e agora, para qualquer leitor desta blogada) quem já precisou um dia saber o que são isótonos, salvo para responder alguma pergunta destas que testam conhecimentos inúteis em vestibular. Não sem certo mal-estar, se constatou que ninguém, jamais, precisou saber (e todos sabiam!) o que são isótonos. Mas os alunas e alunos de escolas do ensino fundamental do interior deste Brasil sabem... Esse é um dos muitos exemplos de conhecimentos desnecessários que poderíamos amealhar com facilidade.
[1] CHASSOT, Attico. Para que(m) é útil o nosso ensino de Química? Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Educação, UFRGS, 316 p.(tese de doutorado; orientador: Prof. Dr Lætus Mario Veit). 1994
2 CHASSOT, Attico Para que(m) é útil o ensino? [1 ed. 1996] 2. ed. Canoas: ULBRA, 2004. v. 1. 196 p. ISSN: 85-85692-13-8