ANO
9 |
EDIÇÃO
3033
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Neste abril, evocamos o centenário de algo que, se conhecemos pouco, é preciso não esquecer, simbolizado numa florinha de miosótis*: o Genocídio armênio ou o holocausto
armênio, ou ainda, o massacre dos
armênios é como é chamada a matança e deportação forçada de centenas de
milhares ou até mais de um milhão de pessoas de origem armênia que viviam no
Império Otomano, com a intenção de exterminar sua presença cultural, sua vida
econômica e seu ambiente familiar, durante o governo dos chamados Jovens
Turcos, de 1915 a 1917. [*miosótis ou ‘não-esqueça-de-mim’ ou “Vergiss mich nicht” como a minha mãe
chamava, em alemão sua língua materna].
Caracterizou-se pela sua brutalidade nos
massacres e pela utilização de marchas forçadas com deportações, que geralmente
levava a morte a muitos dos deportados. Outros grupos étnicos também foram
massacrados pelo Império Otomano durante esse período, entre eles os assírios e
os gregos de Ponto. Alguns historiadores consideram que esses atos são parte da
mesma política de extermínio.
Está firmemente estabelecido que foi um
genocídio, e há evidências do plano organizado e intentado de eliminar
sistematicamente os armênios. É o segundo mais estudado evento desse tipo,
depois do Holocausto dos judeus na Segunda Guerra Mundial.
A destruição premeditada de objetos do
patrimônio cultural, religioso, histórico e comunitário armênio foi mais um
objetivo genocídio em si e da campanha de negação pós-genocídio. Igrejas
armênias e mosteiros foram destruídos ou transformados em mesquitas, cemitérios
armênios foram destruídos, e, em várias cidades (como Van), bairros armênios
foram demolidos.
Além das mortes, os armênios perderam suas
propriedade e bens, sem compensação, empresas e fazendas foram perdidas, e
todas as escolas, igrejas, hospitais, orfanatos, conventos, e cemitérios
tornaram-se propriedade do Estado turco. Em janeiro de 1916, o Ministro Otomano
do Comércio e Agricultura emitiu um decreto ordenando a todas as instituições
financeiras que operavam dentro das fronteiras do império para entregar os
ativos armênios ao governo. Há registros de que, tanto quanto £ 6.000.000 de
ouro turco foi apreendidos junto com bens imóveis, dinheiro, depósitos
bancários e joias. Os ativos foram então canalizados para os bancos europeus,
incluindo Deutsche Bank e Dresdner Bank.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, os
sobreviventes do genocídio tentaram retornar e recuperar seus antigos lares e
bens, mas foram expulsos pelo governo de Ancara. Em 1914, o patriarca Armênio
de Constantinopla apresentou uma lista dos locais sagrados armênios sob sua
supervisão. A lista continha 2.549 lugares religiosos, dos quais 200 eram
mosteiros, enquanto 1.600 foram igrejas. Em 1974, a UNESCO declarou que, após
1923, de 913 monumentos históricos deixados armênios na Turquia oriental, 464
desapareceram completamente, 252 estão em ruínas, e 197 estão em necessidade de
restauração .
Acredita-se que cerca de 1,5 milhão de armênios
foram mortos durante o genocídio. Dentre eles, vários morreram assassinados por
tropas turcas, em campos de concentração, queimados, enforcados e até mesmo
jogados amarrados ao Rio Eufrates, mas a maior parte dos armênios morreu por
inanição, ou seja, falta de água e alimento.
Os sobreviventes do genocídio saíram do Império
Otomano e instalaram-se em diversos países. Esse fato é chamado de diáspora
armênia. É estimado que a diáspora armênia contou com mais de oito milhões de
armênios. O número de armênios no Brasil, conforme estimativas, chega a 25
mil, sendo em sua maioria em São Paulo (com auxílio da Wikipédia).
Uma referência de armênios importantes: Calouste Sarkis Gulbenkian, (Üsküdar,
23 de março de 1869 — Lisboa, 20 de julho de 1955), foi um engenheiro e
empresário armênio otomano naturalizado britânico (1902), ativo no setor do
petróleo e um dos pioneiros no desenvolvimento desse sector no Médio Oriente. Foi
também um mecenas, tendo dado um grande contributo para o fomento da cultura em
Portugal. A sua herança esteve na origem da constituição da Fundação Calouste Gulbenkian.