ANO
10 |
EDIÇÃO
3098
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Sinop entrou para minha história. A auto-denominada “capital do
Nortão” entrou para minha história. Foram momentos de três falas muito
significativas. Tive o privilégio de conviver com pessoas muito especiais. Mais
uma vez, aprendi muito. Sou especialmente grato ao Mauro e a Viviane anfitriões
atenciosos. Também reconheço o competente trabalho dos meus queridos livreiros Clenir e Leonan, que ensejaram que não sobrasse nenhum dos exemplares que levara. Sou muito
reconhecido ao Eduardo Mueller meu doutorando da Reamec, que veio a Sinop para
orientação, que se estendeu até a pista do aeroporto de Cuiabá. Emocionou-me a
mensagem de Patirosinke Rosinke, postada na edição anterior: Chassot não passou por Sinop, ele ficará
conosco para sempre... em suas palestras além do conhecimento ele nos ensinou a
generosidade. Desejo que hoje, exatamente agora, tenhas um bom retorno ao RS...
sucesso nas pesquisas do Reamec, obrigada por nos ensinar sobre a
INdisciplinaridade... Abraços e abraços.
Desejo trazer, em outro momento, algo das impressionantes
pinturas da catedral de Sinop e dos sumarentos momentos com Mari Bueno, a
artista que na pintura busca dimensões muito instigantes para fazer conexões
com o sagrado. Recebi excelente material para entebder este segmento da arte;
Durante o longo retorno de quase Sinop / Cuiabá / Foz do Iguaçu
/ Porto Alegre dez horas faço tessituras acerca do último dia de outubro. Salvo
no segundo trecho que aprendi muito com a Juliana, uma jovem engenheira
agrônoma mato-grossense envolvida na produção de alimentação para animais.
Neste 31 de outubro não vou exorcizar as comemorações colonizadoras
do dia das bruxas e muito menos a artificial alternativa do dia de Saci. Este
dia tem algo muito especial.
Dentro de exatos dois anos, na terça-feira 31 de outubro de
2017, será o momento máximo das comemorações do quinto centenário de um dos
maiores eventos do mundo Ocidental. Foi em 31 de outubro de 1517 que, Martinho Lutero (Eisleben, norte da Alemanha, 1483-1546) através da publicação de suas 95 teses, na porta da Igreja do
Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja
Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano.
Há — no período
mais fértil do Renascimento — uma meia dúzia de propostas de eventos, que
decretaram modificações significativas na Europa, para marcar o fim da Idade
Média. Assim, para o seu término são propostos os seguintes eventos (aqui
citados em ordem cronológica): 1439: invenção da imprensa // 1453: queda de
Constantinopla // 1453: fim da Guerra dos 100 anos // 1492: descoberta da
América // 1517: Reforma Luterana // 1534: Reforma Anglicana.
Não há sentido de
fazermos um plebiscito entre estes eventos e eleger o fulcral. A escolha
daquele que foi mais relevante ou mais revolucionário vai muito de opiniões.
Mesmo que eu não
seja historiador, se tivesse eleger um, a minha escolha seria: a Reforma
Luterana, desencadeada por Lutero, talvez marcado pelo meu viés dito
‘igrejeiro’, (leia-se querer ler a história marcada de maneira significativa
pela presença da religião).
Há extensa
literatura para destacar as muitas consequências políticas, sociais,
econômicas, culturais e educacionais advindas de diferentes cisões no até então
quase monolítico domínio da igreja católica (romana). Destas cisões são
relevantes as consequências da Reforma Luterana. Talvez um dos feitos mais
significativos foi traduzir toda Bíblia para o alemão, em uma edição de 1534.
Antes houve outras traduções parciais (especialmente dos evangelhos) em
diferentes idiomas.
A Bíblia de Lutero
se torna referência na manutenção da ortodoxia nas igrejas reformada. Ela
confere ao alemão o status de língua culta e com isso fortalece o emergente
conceito de ‘Estado nação’. Há quem mostre que a língua alemã e mesmo a
Alemanha seja gerados pela existência da Bíblia traduzida por Lutero.
Importância mais
significativa desta tradução foi que agora a Bíblia estava acessível a todos
(que soubessem ler). Aqui, vale destacar uma ação muito significativa: para
ajudá-lo na tradução Lutero fez incursões nas cidades próximas e nos mercados
para ouvir as pessoas falando. Ele queria garantir que sua tradução fosse a
mais próxima possível da linguagem contemporânea. A tradução de toda a Bíblia
em outras línguas (nos anos seguintes surgiram edições em francês, espanhol,
tcheco, inglês, neerlandês) foi considerada um divisor de águas na história
intelectual da Humanidade Ocidental.
Os cultos nas
igrejas reformadas passaram a ser no vernáculo (nome dado à língua nativa de um
país ou de uma localidade), pois além da Bíblia os hinos foram traduzidos (ou
produzidos) na língua local. Ocorre que essa inovação não pode ser fruída pela
população, que era em sua maioria analfabeta. Criaram-se, então, escolas junto
a cada igreja reformada para se ensinar a leitura, assim o povo poderia ler a
Bíblia e ler os hinos nos cultos.
Na educação, o
pensamento de Lutero produziu uma reforma global do sistema de ensino alemão,
que inaugurou a escola moderna. Seus reflexos se estenderam pelo Ocidente e
chegam aos dias de hoje.
Tão importante
quanto Lutero para a educação foi Philipp Melanchthon (1497-1560). Durante o
período que Lutero passou impedido de se manifestar publicamente, Melanchthon
foi o porta-voz da causa reformista e se encarregou de reorganizar as igrejas
dos principados que aderiram ao luteranismo. Esse trabalho resultou no projeto
de criação de um sistema de escolas públicas, depois copiado em quase toda a
Alemanha. A reforma da instrução era uma das principais reivindicações das
camadas mais pobres da população, insatisfeitas com as más condições de vida e
com o ensino escasso e ineficaz oferecido pela Igreja. Esses foram alguns dos
motivos da revolta armada dos camponeses, sangrentamente reprimida em 1525.
Tanto Melanchthon,
quanto Lutero viam na educação um assunto do interesse dos governantes. “A
maior força de uma cidade é ter muitos cidadãos instruídos”, escreveu Lutero.
Para isso, foi criado um sistema que atendia à finalidade de preparar para o
trabalho e à possibilidade de prosseguir os estudos para elevação cultural. O
currículo era baseado nas ciências humanas, com ênfase na história.
Paradoxalmente, a
Reforma Luterana é muito benéfica à igreja romana, pois com a contrarreforma há
a refontização, na busca das verdades e das práticas que haviam sido perdidas.
Assim a Escola como
conhecemos hoje é produto da Reforma Protestante. A primeira ordem religiosa
ensinante da igreja romana (antes as ordens religiosas são pregadoras,
esmolantes, orantes, hospitalares, militares...) é a Companhia de Jesus
(jesuítas) fundada por Inácio de Loyola em 1531.
Nestes dois anos
que nos separam da data do 5º centenário da Reforma, neste espaço quero trazer
outras edições acerca do tema. Desejo que cada uma e cada um vivam na raiz
deste evento possibilidades de manifestações acerca das religiões.