ANO
7
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Livraria
virtual em
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EDIÇÃO
2489
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Encerro junho/o primeiro
semestre com uma edição extra para presentear a prováveis visitantes dominicais
deste blogue. Já escrevi em outros momentos aqui o quanto o escrever para mim é
terapêutico. Nesta grafoterapia o escrever sobre si mesmo é significativo (e
problemático).
Dentro desta dimensão trago uma
entrevista realizada com Ruy Castro por Luiza Piffero que foi publicada no
Segundo Caderno de Zero Hora, desta sexta-feira, dia 28JUN13. Vale fruí-la.
O jornalista Ruy Castro
contabiliza 65 anos vividos com intensidade: escritor e biógrafo reconhecido,
três casamentos, experiências com drogas, internação por alcoolismo, câncer.
Esses temas são explorados com humor no livro Morrer de Prazer: Crônicas da Vida
por um Fio.
A obra vem se somar a uma bibliografia que
inclui títulos sobre Garrincha, Nelson Rodrigues e a Bossa Nova. Embora Castro
abomine autobiografias, encontrou nas crônicas a saída para um livro confessional.
O material, 59 textos curtos, foi selecionado a partir de escritos publicados
por Castro no jornal Folha de S.Paulo desde 2007. Confira a entrevista
concedida por e-mail.
Zero Hora – Tanto na hora de
escrever como de selecionar as crônicas que foram para o livro Morrer de
Prazer: Crônicas da Vida por um Fio, você tentou manter um distanciamento
crítico com relação às suas próprias experiências?
Ruy Castro – Na biografia, o
autor não existe. Ele não tem o direito de presumir, deduzir, calcular,
adivinhar e muito menos inventar nada sobre a vida do seu personagem – ou tem
as informações, ou não pode escrever. A primeira pessoa não existe. Já na
crônica de jornal é diferente. O cronista se sente convidado a se sentar na
mesa do café da manhã com o leitor e bater um papo com ele. Nesse sentido, pode
falar eventualmente de si próprio. Os textos de Morrer de Prazer foram
selecionados em função do interesse que podem ter para o leitor, e foram
bastante reescritos.
ZH – Você já afirmou que pode
ser bastante problemático fazer biografias de pessoas vivas. Como foi a
negociação que você precisou travar com você mesmo para decidir o que entrava e
o que não entrava no livro?
Castro – (Risos) Boa pergunta.
A verdade é que, assim como os biografados vivos não são confiáveis – mentem
pra burro e obrigam seus amigos a mentir por ele –, o cronista (ou
memorialista) também não é. As autobiografias, então, costumam ser uma
antologia de meias-verdades. Mas, como já disse, o cronista não tem a pretensão
de estar definindo o mundo, mas apenas batendo um papo com o leitor. Não quer
dizer que não esteja tentando dizer a verdade sobre si mesmo. Pelo menos, esse
é o meu caso.
ZH – Esse mergulho na sua
própria vida funcionou como uma espécie de terapia? Teve alguma epifania?
Castro – Não, quem me desperta
epifanias é a própria vida. Escrever é uma reflexão sobre elas. Claro que,
nessa reflexão, descubro coisas que não sabia a meu próprio respeito.
ZH – Como foi a experiência de
escrever sobre momentos dolorosos como o seu embate com o câncer e o problema
com o alcoolismo?
Castro – Não tenho nenhuma
vergonha disso e acho que escrever a respeito é apenas minha obrigação. Como
todo mundo, eu era profundamente ignorante sobre esses assuntos. Depois que
passei por eles, espero ter aprendido bastante – e a forma de retribuir é
espalhando esse aprendizado.
ZH – Qual o seu próximo
projeto? Já tem um novo biografado em vista?
Castro – Biografado, não. Mas
estou preparando para o ano que vem um livro que tem a ver com... biografias.
ZH – Você tem acompanhado a
polêmica em torno da Lei das Biografias. Qual a avaliação que você faz dela?
Castro – O projeto de lei que
as liberava tinha passado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e
só faltava passar pelo Congresso, onde seria aprovado. Mas, aí, um deputado
safado devolveu o projeto para o plenário da Câmara, a fim de melá-lo de novo –
o que conseguiu. Mas parece que, em breve, teremos boas notícias numa outra
frente da luta, que é a que define a obrigação da autorização como
inconstitucional.