ANO
ANO 14 |
AGENDA 2 0 2 0
|
EDIÇÃO
3473
|
Chegamos com vida à última sexta-feira de março. Se na edição pretérita
dizia que minha agenda estava derruída... imaginem hoje. A manchete da última
edição: E ... o março de 2020
terminou dia 17 merece uma revisão.
Aposso-me de PONTO* — excelente newsletter
semanal do Brasil de Fato — e devo dizer que março não terminou
dia 17. Ao contrário, como assinala
PONTO, esta semana durou cem dias. E acrescento: o dia trágico foi a memorável
terça-feira, 24, quando o Presidente Messias pareceu tomado de uma diarreia
mental, falou por rádio televisão para todo Brasil e além fronteiras. Em 4
minutos proferiu um conjunto de baboseiras, que me permito não evocar. Basta o
envergonhamento que vivemos quando falamos com colegas de outras latitudes.
Ontem, quinta-feira,
já se atualizou, quando disse algo como ‘o
brasileiro é caso de estudo... se atirado ao esgoto, ele volta imunizado’.
Parece que uma salutar recomendação seria sugerir que ele fizesse tal mergulho.
Talvez, ele teria alguma cura.
Hoje completo meu
décimo primeiro dia da quarentena, iniciado dia 17. Devo me reconhecer que fui comportado.
Ou melhor: muito comportado. Furei o confinamento apenas duas vezes: dia 18,
fui a uma farmácia comprar dopamina, cujo consumo é parte de minha rotina há
mais de cinco anos e aproveitei para uma refeição no Manifesto, algo ora impossível.
Dia 25, muito temeroso, pois havia restrições de estar em praças, atravessei o Parcão,
na busca de um posto de vacinação. Soube, ao atingir minha meta, que as 400
doses disponíveis se esgotaram quase à madrugada. Na volta embalado no dia
ensolarado, passei mercado Goethe 43, para comprar de frutas e verduras.
A fala insana do
dia 24 encontra ressonância. À meia tarde vejo a passagem de uma carreata
bradando pela abertura do comércio, dizendo que povo quer trabalhar. Há um mês, se dizia na Itália: “Milão não pode
parar!”. Hoje se reconhece o erro.
Há uma semana
apresentei aqui planos para os dias da quarentena: colocar em dia fazeres atrasados
(Lattes, IRPF, atualizar a catalogação em minha Biblioteca…). E oferecer uma
maior disponibilidade ao meus SEIS orientandos (4 mestrandos, 1 doutoranda e 1
pós-doutorando).
Dos fazeres atrasados devo
conferir-me grau zero. Da disponibilidades a orientandos vou auto avaliar com
7. Acenei com uma meta muito saborosa: Ler e escrever ficção. Cada uma das
ações verbais tem, respectivamente, notas sete e dois.
Cabe, ante tão
parvo desempenho a pergunta: em que ocupei meu tempo? Perdi tempo com tentativa
de cancelamento de viagens e agendamentos bancários.
Gastei muito tempo
no WhatsApp, lendo e ouvindo mensagens. E, de uma maneira muito crítica selecionar
para quem poderia (ou não) repassar determinadas mensagens. O começo quase
massivo no entorno de um posicionamento, lamentavelmente, já apresenta
disrupção.
Muitos de meus
fazeres foram para tornar habitável meu cartuxo monastério. Concedi a D. Ceni —
que duas manhãs por semana cuida de minha casa — o direito de não precisar
trabalhar, por tal cuido dos jardins, colho pimentas (já houve produção e
distribuição de 27 vidros com pimentas em conserva), limpo os cocôs das
rolinhas que dormem na parreira do meu latifúndio. Na cozinha o sucesso não
avaliado por algo que cozi, pois sou zero em cocção. Meu êxito na área e não
ter nem um prato o colher por lavar. E isto eu consigo. Afortunadamente o viver solitário não exige
roupa passada, pois em pranchar sou zero.
Meus quase
insignificantes fazeres desta semana de confinamento, já foram detalhados a
rodo. Agora é torcer pela vida, antes de priorizar o capital. Perdas monetárias
se recuperam. Vidas, não!
É apenas uma opção.
· *
Esta edição é dedicada a PONTO* — newsletter semanal do Brasil de Fato. Para recebe-lo, gratuitamente peça para newsletter@ponto.jor.br
Esta edição é dedicada a PONTO* — newsletter semanal do Brasil de Fato. Para recebe-lo, gratuitamente peça para newsletter@ponto.jor.br