TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

sexta-feira, 27 de maio de 2022

O CADERNO SECRETO DE DESCARTES

ANO 16*** 20/05/2022***EDIÇÃO 2049

Há edições passadas prometi a reedição desta Resenha referenciada ao final. 

O legado de Descartes: bem mais que as coordenadas cartesianas

Attico Chassot

achassot@gmail.com

ACZEL, Amir D. O caderno secreto de Descartes: Um mistério que envolve filosofia, matemática, história e ciências ocultas. [Original estadunidense: Descartes’ Secret notebook – A true Tale of Mathematics, Mysticism, and Quest to Understand the Universe]; tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 230 p.ISBN 978-85-7110-973-5 


Muito provavelmente, quando referimos o nome de René Descartes (1596-1650), no imaginário da maioria dos leitores de Educação UNISINOS aflore sua célebre frase: “Penso, logo existo!”. É razoável essa emergência, pois podemos considerar que Descartes, com esta máxima, tenha  “inaugurado” uma nova relação entre corpo e mente, marcando a teorização [e não apenas a experimentação, e quase fazemos uma oposição a seu coetâneo  Francis Bacon (1561-1626) a quem creditamos a proposta  de um Método Científico] como uma possibilidade de construirmos conhecimento. Mesmo que usemos Descartes diariamente, quando queremos localizar espacialmente um ponto, ou mesmo um móvel, no espaço, muitas vezes, não nos damos conta de estarmos usando um dos mais significativos e úteis resultados de suas várias teorizações e descobertas: as coordenadas cartesianas, ainda de muito significado na atualidade. 

Amir D. Aczel, um estadunidense, professor universitário de Matemática e Estatística, conta que muito recentemente estava perdido em uma nevasca no Canadá e foi salvo pelo rastreamento de seu carro por GPS. Deu-se em conta, então, que fora algo baseado nas coordenadas cartesianas que garantiu que pudesse ser levado ao conforto e à segurança de um hotel. Desejoso, a partir desse evento, de saber mais acerca do inventor que lhe proporcionara ter a vida salva, passa a investigar sua história. Vai viver em Paris, em um edifício do século 17, próximo à igreja de Saint-Germain-des-Prés – aí se diz repousarem os restos mortais de René Descartes –, nas imediações do local em que, há 400 anos, vivera em diferentes oportunidades o genial matemático. Aczel fez então descobertas surpreendentes que nos conta em O caderno secreto de Descartes, um primoroso lançamento recente no Brasil da Jorge Zahar. 

Conhecer a vida daqueles que são “nossas bibliografias” é algo que sempre me entusiasma. Como professor de História da Ciência e de Educação nas Ciências, freqüentemente, Descartes está em minhas falas e, é natural, no meu cotidiano, por exemplo, toda vez que preciso me localizar espacialmente. Foi, para mim, das mais enriquecedoras e sumarentas leituras que fiz sobre a vida e obra do filósofo e matemático da aurora da Revolução Científica. 

Aczel nos oferece uma sumarenta biografia do francês que perambulou por quase uma dezena de países da Europa. Sabemos sobre seu nascimento em berço protestante e próspero, mas também de sua adesão à fé católica romana devido aos ensinamentos recebidos de sua devota governanta católica. Conhecemos sobre seus significativos anos de estudos no magnífico colégio La Fleche dos jesuítas e do seu ser soldado voluntário de Nassau na Holanda. Recebemos detalhes de seu vagar, por mais de nove anos, por muitos países da Europa em busca de voluntariado em exércitos envolvidos em guerras religiosas, quando sempre achava tempo para “entreter-se com seus pensamentos em seu “forno”, como chamava seu quarto superaquecido. Nesse peregrinar, sempre com seu fiel camareiro, Descartes está resolvendo problemas como aqueles dos geômetras gregos, insolúveis há dois séculos, como duplicar o volume do cúbico templo de Apolo em Delos. Foi nesse perambular que teve contacto com a filosofia rosa-cruz, havendo dúvidas se chegou a aderir à mesma, mas que serviu duramente para discriminá-lo posteriormente. 

Talvez coubesse uma pergunta: como se sustentava o filósofo nessas viagens sempre acompanhado de criadagem? Seu pai era proprietário de terras. De tempos em tempos, ele voltava a Touraine, sua região natal, para vender partes de seu valioso quinhão. Sabia fazer bons investimentos e assim se mantinha. 

Acompanhamos também a sua decisão de se estabelecer na Holanda, aonde parece teria ido em busca de liberdades religiosas que temia não encontrar entre os católicos da França, e termina alvo da intolerância dos protestantes holandeses, sendo condenado por ateísmo e por discutíveis ligações com a Ordem Rosa-Cruz. 

Mas é na Holanda, onde viveu por 20 anos, em dezenas de locais, que o cartesianismo passa ser ensinado nas universidades com a publicação do “Discurso sobre o Método”. Descartes, com a filosofia matemática, tenta fazer o casamento da geometria com a álgebra; com isso, ganha adeptos fervorosos e inimigos ferrenhos. As disputas que houve em torno do cartesianismo na Universidade de Utrech envolveram não só o julgamento da filosofia como questionamentos severos ao filósofo, pelo seu racionalismo, que poderia ser visto como um questionamento à teologia e uma flagrante desconsideração à escolástica, que ainda se faz sustentáculo na nascente universidade européia. Suas continuadas tentativas de evidenciar com a matemática a existência de Deus valem-lhe a acusação, então quase hedionda, de ateu. Pasmem! Isso na liberal Holanda. 

É também do período em que perambulou pelos Países Baixos que se tem referência de dois amores, ambos sempre mantidos quase como secretos, talvez por razões de mesma natureza, mesmo que opostas. O primeiro, com Hélène, que por ser uma empregada doméstica não estava no nível de ser esposa de um rico e reputado filósofo. Desta união nasceu Francine (a pequena França, em homenagem à pátria do pai), que foi batizada no protestantismo, religião da mãe. Nos registros batismais de Francine aparece como se Hélène e René fossem casados. Francine morreu em torno dos 5 anos de escarlatina, fazendo o pai mergulhar em profunda tristeza. O romance não prosperou, pois sempre foi escondido e considerado impróprio socialmente. Uma outra douradora paixão – talvez não concretizada pelo fato de o filósofo não ser da nobreza – foi com a Princesa Elizabeth, filha do deposto rei da Baviera. A princesa foi das mais apaixonadas discípulas do cartesianismo; visitas e cartas, sempre censuradas por familiares da moça, sucederam-se por bom tempo, mas não se sabe se houve encontros mais íntimos entre os dois enamorados. 

Uma figura que tem destaque no enredo é o matemático, teórico musical, padre, teólogo e filósofo francês Marin Mersenne (1588-1648), um amigo muito próximo de Descartes. Ficou conhecido pelo seu estudo dos chamados números primos de Mersenne. O asteróide 8191 Mersenne foi batizado em sua honra. Mersenne, ainda que sacerdote católico, era também muito ligado a Galileu Galilei (1564-1642), mesmo enquanto a Igreja tinha as maiores objeções ao cientista italiano condenado pelo Santo Ofício. É em Mersenne que Descartes encontra apoio às suas dúvidas teológicas e no seu desejo de permanecer ligado ao catolicismo e, mais especialmente, como fugir da ira da Igreja por estar convencido do copernicanismo, como seu protetor e orientador Mersenne. 

É importante destacar o quanto as notícias do julgamento e condenação de Galileu abalaram a Descartes, especialmente na produção de sua obra O mundo, que renuncia publicar, ameaçando queimar um trabalho de quatro anos. Esta obra só se tornará conhecida alguns anos depois da morte do autor, quando então é publicada. 

Em meio aos dissabores amealhados na Holanda, Descartes recebe continuados convites para ir à corte da jovem rainha Cristina da Suécia, que se tornara rainha aos 6 anos, é coroada como soberana do país aos 18 anos e transforma Estocolmo na “Atenas do norte”, tal o número de sábios de diferentes países que reuniu em sua corte. Como estudiosa do cartesianismo, quis ter o seu inspirador como professor particular na corte. Após muitas resistências, Descartes aceita o convite e transfere-se, já com frágil saúde, para a frígida Estocolmo. A rainha quer suas aulas às 5 h da manhã. O clima frio do inverno mais severo que se tinha registro faz Descartes  doente. Em 11 de fevereiro de 1650, menos de cinco meses depois de ter chegado à Suécia, o grande filósofo morre. Há suspeita de que tenha sido envenenado por algum membro da corte protestante, invejoso da aproximação de preceptor católico junto à Rainha Cristina, então protestante. Esta, um tempo depois da morte de seu ídolo, renuncia ao trono, torna-se católica e não nega que faz isso influenciada por seu preceptor, cujo falecimento lhe trouxera tristezas e dissabores políticos. 

É nesta narrativa, trazida aqui resumidamente, tecida saborosamente, que o autor nos envolve com uma trama muito bem posta. Esta se inicia 26 anos após a morte de Descartes, com chegada a Paris de Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), o matemático que divide com Isaac 

Newton (1642-1727) o mérito de ter criado o cálculo diferencial integral. Leibniz procura por um caderno secreto de Descartes, que teria sido remetido da Suécia, quando seu autor lá morrera aos 54 anos. Em rápidos momentos em que tem contato com o Diário, é permitido a Leibniz copiar algumas páginas. 

Qual o segredo que continha o caderno de Descartes? O que Leibniz decifrou? A ratificação de Descartes das idéias copernicanas era motivo de ocultação de suas descobertas? Respondo apenas a última das questões: sim. Não podemos esquecer que o século 17 foi inaugurado com a levada de Giordano Bruno (1548-1600) à fogueira e que Galileu, condenado ao silêncio sem poder dar aulas e publicar, morreu um pouco antes de Descartes. Logo, havia razões para Descartes, que não queria perder a comunhão com a Igreja católica, manter segredos e estes parecem estar no famoso caderno secreto. 

Assim, mais do que sabermos como Descartes propõe uma solução geométrica ao modelo de Nicolau Copérnico (1473-1543), O caderno secreto de Descartes nos traz detalhes saborosos da vida e da obra de um dos maiores gênios da Ciência ocidental. Por tal motivo e também para conhecermos mais acerca de um dos balizadores da Ciência moderna, vale ler o texto aqui resenhado. 


Chassot, Attico O legado de Descartes: bem mais que as coordenadas cartesianas Educação Unisinos volume 11, número 2, maio • agosto 2007

sexta-feira, 20 de maio de 2022

APRM


ANO 16*** 20/05/2022***EDIÇÃO 2048

 

*** APRM *** Ad perpetuam rei memoriam (locução latina que significa "para perpetuar a memória do  fato") Fórmula que se inscrevia no alto de determinadas bulas pontifícias, e que se encontra igualmente em monumentos comemorativos, medalhas, etc.

Este tempos pandêmicos (alerta: não estou me referindo a tempos pós-pandêmicos) tem nos obsequiado com múltiplos relatos quase apocalípticos: Por ora já tivemos lua vermelha, buraco negro, eclipse lunar, neve, chuva de gelo, recordes de temperaturas baixas em locais nunca antes mencionados, jovem brasileira caçando asteroide, Coreia do Norte inaugurando temporada do Corona Vírus. Nos faltava algo muito original: acompanhar, em tempo real, o deslocamento de uma tempestade sub-tropical, labelada com um insosso nome Yakecan. Isto tivemos. Nossas recordações desta terça-feira, 17 de maio de 2022, adicionaram relatos inéditos. 

Mais que acompanhar deslocamento de uma tempestade real (ou subtropical) e a passagem da mesma sobre nossas cabeças, algo que conhecíamos somente em boletins noticiosos acerca de regiões que vez ou outra seus moradores precisam se esconder de furacões ou em cenas de filmes.

Após o alerta emitido pela Defesa Civil para a passagem da tempestade Yakecan no sul do país, as autoridades gaúchas não registraram nenhum ferido nem grandes transtornos no Estado durante a madrugada da quarta-feira, dia 18. Foi singular na meia tarde de terça-feira ver em Porto Alegre (e outras localidades) ter o trânsito quase se apagar com o desaparecimento dos automóveis catalisando a suspensão de aulas das creches às universidades. Também o comércio nos shopping e em mercados foi fechado.


Quando na tarde de terça-feira, no momento que houve uma estiada na chuva com cessação da dança das cadeiras no meu jardim, aproveitei por uma recolocação mais segura de cadeiras e vasos. Tudo parecia marcado por catastróficas expectativas. 

Na tarde de quarta-feira, no Rio Grande do Sul, o principal problema era o continuado desabastecimento de energia elétrica, já que cerca de 226 mil clientes ficaram sem luz durante a noite da terça-feira (17). A suspensão de energia elétrica por algumas horas determina, de maneira usual, a falta de água. Afortunadamente nada diferente disso aconteceu.

Houve também -- matizado pelo nome Yakecan -- que terminou sendo greminalizado --, algo trivial por estas plagas. O nome Yakecan se faz representante do demônio que veio para esparzir o mal e anunciar o fim do mundo ou Yakecan era o anjo da guarda para abençoar e nos guardar nesse momento de perigos. Foi bom que anjos e demônios se engalfinharam em dois belicosos clãs e nada grave aconteceu. Sobrou tempo para saborearmos votos de nos sextar um muio bom fim de semana.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Quando três horas de aula se parecem com uma festa de Babete.

ANO 16*** 29/04/2022***EDIÇÃO 2045

  •  Este bloguear parece  pedir que traga algo muito sumarento de cada um dos três momentos de meu ser professor. Cada um deles merecia uma ou duas edições. Mas com me envolvo com duas falas na semana que vem: uma no Câmpus de Santa Rosa RS do Instituto Federal Farroupilha e outra na UFOPA no Câmpus de Oriximina PA, cumpro aqui um blogar ligeiro.
  • Na tarde de terça-feira na aula de História e Filosofia da Ciência no PPGCEM  na UNIFESSPA em Marabá o destaque era Revolução Darwiniana e nesta foram destacadas as leituras acerca do Design Inteligente.  A avaliação de Richard Dawkins, considerando que o Design inteligente parece ser um casaco apertado e puído teve oportuna aceitação dos evolucionistas. Já a não-teoria do Design Inteligente não empolgou os  criacionistas.
  • Na manhã de quarta-feira em Belém na UFPA no IENCI no seminário Bases epistemológicas da Ciência o tema foi Rene Descartes onde se discutiu o quanto as coordenadas cartesianas que é central no GPS e o sempre evocado ‘Cogito ergo sum’ anunciam outras contribuições no fazer Ciência.  Fico a dever de uma resenha do livro  O caderno secreto de Descartes;  

  1. Na quinta-feira, em Vila Velha ES, no IFES EDUCIMAT, em Tópicos Especiais em Ciências 1, dentre os três momentos de cada uma das aulas (aperitivos / prato principal/ sobremesa).Com um cardápio assim, três horas de aula se parecem como uma festa de Babete. No destaque central houve análise de capítulos de cartas que falam de Ciências do Alfabetização Científica: questões e desafios para Educação. Esta temática ensejou a trazida análise do prefácio escrito por Silvia Nogueira Chaves para Festshrift, produzido pela Unipampa, Campus de Uruguaiana onde o chassotear foi destacado. Amealhamos na sobremesas diferentes realidades do momento difícil deste tempo pós-pandêmico, no qual os negacionista têm ainda tão presente: a notícia da fotografia do buraco negro; o anúncio do atingimento de um1 milhão de mortos  pela Covid-19 nos Estado Unidos; o informe da primeira vítima pela Covid-19 na Coreia do Norte. 

Votos de um bom fim semana, que começa com o pôr-do-sol desta sexta-feira, 13.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

UMA (QUASE) SAGA DO MANUAL DO ARTILHEIRO


ANO 16*** 06/05/2022***EDIÇÃO 2045

 

Na edição de 08 de abril narrei aqui: entre múltiplos (a)fazeres o Prof. Dr. Nelson Marques (USP) e eu nos envolvemos, retomamos um projeto que há um tempo estudamos: A Inquisição, a Censura Científica e o Índex de Livros Proibidos. Assim, um no Rio Grande do Norte e outro no Rio Grande do Sul estamos estudando algo saboroso: o estudo das tênues fronteiras entre Religião e Ciência catalisado pelo  Index Librorum Prohibitorum. e por tal, não raro cruento.

No primeiro blogar de maio 2022 trago algo do
Exame de Artilheiros.  Esta obra é considerada, na opinião de um grande número de estudiosos, como o primeiro livro escrito no Brasil (mas impresso em Lisboa em 1744, pois no período colonial do Brasil era proibida a existência de impressoras). A Biblioteca Xerox fez da obra primorosa reprodução fac-similar (obra XXVII da referida Biblioteca), acrescida de nota biográfica e análise crítica do Professor Paulo Pardal. Tenho o privilégio de ter (no setor de suas obras raras e preciosas) um exemplar reprografado do Exame de  artilheiro.


Toda e qualquer publicação dentre 1559 e 1966, tinha uma dificuldade adicional: o “zelo” da Igreja. A Inquisição, [acerca da qual se apresenta um texto suplementar na produção que fazemos], influiu tardia, mas nefastamente no Brasil Colônia. Os tribunais inquisitoriais analisavam qualquer obra que se publicava, mesmo que o assunto em nada dissesse respeito a questões da doutrina religiosa, para ver se os cidadãos, católicos ou não, poderiam lê-la. Isto ocorreu em todo o mundo cristão, inclusive aqui no Brasil, onde recém se iniciava a publicação dos primeiros livros.A título de exemplo refiro o que consta nas seis páginas iniciais do Exame de Artilheiros.

Inicialmente o Qualificador do Santo Ofício diz: “Por todos os princípios se faz esta obra digna da imortalidade do prelo; pela pureza da fé, e utilidade dos bons costumes, o julgo, eu, obediente ao decreto de Vossa Eminência pelo relevante das doutrinas com que instrue os Artilheiros, para seu Exame o Sargento mor Engenheiro, Jozé Fernandes Pinto Alpoyim, Cavaleiro professo na ordem de Christo... ”

O frei Qualificador continua seus comentários para após outra autoridade religiosa dizer que: “... pode imprimir-se o Livro de que se trata, e depois de impresso tornará para se conferir, e dar licença que corra, sem o qual não correrá.”

Posteriormente um bispo afirma: “O livro intitulado Exame de Artilheiro, de que faz menção a petição inclusa, não contèm nada contra a nossa Santa Fé, e bons costumes, além de ser de grande utilidade para o conhecimento, e bom uso da Artilharia nos ataques, e defesa das Praças; e combates do mar. ...” Então um arcebispo diz que:“Vista a informação pode-se imprimir o livro, e tornará para se conferir e dar licença para correr....”.

Há então a aprovação do Paço, onde um cavaleiro professo na Ordem de Cristo, Sargento mor e Engenheiro mor, diz: “Vi este livro ... tão útil a doutrina de que trata... que de graça se deve conceder ao Autor a licença, que pede, e tanto não contém cousa que encontre as maximas desta Coroa...”

A seguir vem a autorização de um cardeal: “Que se possa imprimir vista as licenças do Santo Ofício, e ordinário, depois de impresso tornará á Mesa para se conferir e taxar, e dar licença, para que corra e sem ela não correrá...”

Estes trâmites ocorreram em novembro de 1743. Meio ano depois (maio de 1744), depois de impresso o livro retorna para conferência, licença do Santo Ofício, do Ordinário e do Paço, que o taxa em oitocentos réis em papel. Vale repetir que estes extensos cuidados eram para uma obra que oferecia noções de aritmética e de balística.

O livro, excluído  os texto aditados a obra reprografada) tem mais de trezentas páginas e é formadas por perguntas e respostas. Transcrevo as perguntas 1 e 2  para se verificar o nivel da obra:

P. 1 QUE HE ARITMÉTICA? He uma arte, que ensina a fazer bem os calculos, ou seja sobre os números ou sobre as letras do ABC (que se chama Algebra especiosa,)e vem da palavra Arithmos, que significa numero.

P. 2 O QUE  HE NÚMERO? Numero naõ he outra coisa mais que hum nome, que declara, e expressa as partes de huma grandeza, ou a oolecçaõ.