Depois de em 10 dias ir e voltar duas vezes à Amazônia (Manaus e
Macapá) e uma vez ao Araguaia, uma semana mais tranquila que se encerrará como
o EDEQ em Santa Cruz do Sul. A tranquilidade se esboroa no vivermos a tensão da
pré-eleitoral. Mas esta tensão é ônus — ou bônus — da democracia.
A marca maior do domingo foi ler jornais em suporte papel que se
acumularam em minha ausência. Ali encontrei um texto, que adiante comparto com
meus leitores. Primeiro, um registro especial desta segunda-feira. À tarde,
antes de meu esperado reencontro com o grupo da Universidade do Adulto Maior, participo
de uma banca de qualificação.
Mariana Ardenghy, do Mestrado Profissional de Reabilitação e
Inclusão, submente a qualificação sua proposta de dissertação: “A avaliação como instrumento formativo e de
inclusão nas aulas de Educação Física do 6º ano de uma escola publica de Porto
Alegre”. Participam comigo a orientadora Prof. Marlis Morosini Polidori e
Prof. Alexandre Scherer; uma e outro, autoridades de destaque na formação de
educadores físicos.
Brindo a seguir um texto publicado na Folha de S.
Paulo, em 23SET. Seu autor é João Pereira Coutinho, escritor português e doutor
em Ciência Política. É colunista do 'Correio da Manhã', o maior diário
português. Mestrandos do Centro Universitário Metodista do IPA, da URI de Frederico
Westphalen e do Unilasalle conhecem este autor pelo seu magnífico texto “Batalhas Verbais” (publicado neste
blogue em 12SET2012), que analiso nas oficinas de escrita. Hoje ele está aqui
com mais um texto polêmico. Vale conferir. E mais, vale fruir a argumentação.
Será
que Deus existe? Deus não existe, afirmou o cientista Stephen Hawking, de
passagem pela Espanha. Em entrevista a um jornal de "nuestros
hermanos", Hawking repetiu a tese de que o Universo se criou a partir do
nada e que o ser humano acabará por saber tudo sobre tudo no futuro sem
precisar de uma ajuda celestial.
Longe
de mim contestar Hawking: o homem é um gênio, dizem, e com os gênios não se
brinca. Embora me pareça bizarra a declaração de um cientista — repito: de um
cientista, não de um vulgar mortal — de que o futuro será assim ou assado em
matéria de conhecimento humano.
Karl
Popper (1902-1994), um dos mais importantes filósofos da ciência do século 20,
mostrou como essa crença é ridícula (e até anticientífica). Motivo óbvio: o
conhecimento é uma aventura em aberto. O que significa que aquilo que saberemos
amanhã é algo que desconhecemos hoje; e esse "algo" pode mudar as
verdades de ontem. Como?
Derrubando
velhos dogmas e inaugurando novas perplexidades. Sempre foi assim — o
imprevisto é um dos atores principais na história da ciência. É razoável
presumir — presumir, não afirmar categoricamente– que sempre assim será.
Um
cientista que diga como vai ser o futuro, sem obviamente conhecer todos os
fatores que irão moldar esse futuro, não é um cientista. É um charlatão.
Como
Karl Marx (1818-1883), por exemplo, um dos alvos preferidos de Popper e da sua
crítica ao "historicismo". Marx pretendia fornecer aos homens as
"leis científicas da história": um processo de luta entre classes que
acabaria por derrubar o sistema capitalista, conduzindo à "ditadura do
proletariado" e a uma sociedade comunista.
Como
é evidente, as leis "científicas" de Marx nada tinham de ciência.
Eram meras profecias, marcadas por uma radical indeterminação, que nem como
profecias se cumpriram: a revolução não emergiu "inexoravelmente" em
países capitalistas (como a Inglaterra); ela foi violentamente imposta em
antros de pobreza e atraso industrial, como na Rússia campesina e analfabeta de
1917.
Mas
voltemos a Deus: será que Ele existe? Ou devemos curvar-nos perante a sapiência
do prof. Hawking e abandonar essas ilusões primitivas?
Uma
boa forma de responder à pergunta encontra-se na entrevista notável que o
filósofo Keith DeRose, professor na Universidade Yale e um declarado agnóstico,
concedeu ao "New York Times".
É
impossível resumir aqui a complexidade da conversa. Mas é possível chegar ao
ponto capital dela: quando existe uma imensa maioria de pessoas que acredita na
existência de Deus, é preciso um argumento poderoso (e definitivo) para
demonstrar o seu contrário.
DeRose
nunca encontrou esse argumento, apesar de conhecer o mais clássico de todos
eles: como conciliar a existência de Deus com a presença do Mal no mundo? O
filósofo não perde tempo com a resposta, claro. Mas um conhecimento vago da
discussão teológica através dos séculos mostra como a existência de Deus não
anula necessariamente o livre arbítrio das suas criaturas.
Isso
não significa, logicamente, que DeRose recusa a posição ateia e aceite a
posição teísta. Pelo contrário: os argumentos cosmológicos avançados
racionalmente pelos teístas — tudo tem uma causa; Deus é a causa das causas
etc. — também não convencem o autor pela sua fraqueza, digamos, circular.
Em
que ficamos, então?
Simples:
em lado nenhum. Ou, dito de outra forma, Deus não é uma questão rigorosamente
filosófica. E discutir a sua existência (ou inexistência) em termos filosóficos
(leia-se: "racionais") é um diálogo de surdos, que tentam falar
racionalmente sobre um assunto do qual não possuem qualquer prova.
Ou
então é um diálogo de cegos, que insistem em descrever a paisagem que imaginam
ter à frente.
Deus
é uma questão de fé — esse
mistério e, para muitos, essa graça. E a "fé" é um assunto
ligeiramente diferente de equações matemáticas ou observações de telescópio.
Um
cientista que não entende isso não é apenas um ignorante em matéria religiosa.
É sobretudo um ignorante em matéria científica.