ANO
13 |
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EDIÇÃO
3389
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Esta edição já circulava quando soube, envolto em
tristeza, o anúncio da morte escritor israelense Amós Oz (1939-2018), meu eterno
candidato ao prêmio Nobel de literatura. Éramos coetâneos. Isto foi muito
significativo quando li o seu livro de memórias: De amor e de trevas. Evoco a emoção que tive, no ano passado, ao assistir
o memorável pacifista, na Reitoria da UFRGS, no Fronteiras do Pensamento. Obrigado, Amós Oz, pelas lições de PAZ.
Esta edição é a
última da intragável era Temer. Só sabê-lo encagaçado pela possibilidade ser
preso, logo após transferir a faixa presidencial, já se configura como parte do
castigo que é merecedor. Aceito a crítica ao meu sentimento não caridoso, de
uma maneira muito especial se me dou conta estarmos vivendo dias de loas a
fraternidade.
Esta edição não é apenas
a última do ano. Também é aquela que determinará o início do recesso de férias
do blogue até o dia 25 de janeiro. Assim votos que tenhamos todos um 2019 pleno
de (des)esperanças e aos que por ora fazem férias desejo que as mesmas sejam energizantes.
Confiro a esta
edição o status de comemorativa, pois amanhã se celebra dez anos da instituição no Brasil da Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, com a criação dos
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia — IFs —. Esta é uma
celebração significativa na Educação brasileira. Assim, este é mote desta
edição. Parece natural reconhecer que efeméride deste sábado mereça espaço mais
amplo e mais qualificado que este blogue, até porque não sou historiador.
Mesmo não sendo professor de um IF,
não sou um alienígena na Rede, pois já estive, enquanto professor, em mais de um
terço dos 38 IFs e em dezenas de campi e por tal ouso significar
três momentos da trajetória do ensino técnico no Brasil.
23 de setembro de1909: presidente Nilo Peçanha (1867-1924) assina
o decreto 7.566, considerado o marco inicial do ensino profissional, científico
e tecnológico de abrangência nacional no Brasil. O ato criou 19 Escolas de
Aprendizes Artífices, que tinham o objetivo de oferecer ensino profissional
primário e gratuito para pessoas que o governo chamava de “desafortunadas”. Vale destacar que “a inclusão está na genética da educação profissional
no Brasil.”
Assim, estas escolas pioneiras tinham
uma função mais voltada para a inclusão social de jovens carentes ratificando
preconceito milenar no mundo ocidental onde o pensar supera o fazer, basta que
examinemos o nosso DNA grego.
O trabalho manual não era valorizado
pelos gregos. Se atribui a Platão esta afirmação: “É próprio de um homem
bem-nascido desprezar o trabalho” e valorizar atividades intelectuais (a
filosofia, a religião...), artísticas e políticas. Os afazeres domésticos, as
lides do campo, a construção e outros eram executados por escravos.
A Presidente Dilma Rousseff
sancionou, em 9 de junho de 2011, a Lei n° 12.417 que torna o ex-presidente
Nilo Peçanha o patrono da Educação Profissional e Tecnológica Brasileira em uma
homenagem ao ex-presidente, que assinou a Lei antes referida.
29 de dezembro de 2009 o então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona a Lei 11.892 que institui a Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica, cria 38 Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia Federal ao transformar em um só organismo as
estruturas de 31 centros federais de educação tecnológica (Cefets); 75 unidades
descentralizadas de ensino (Uneds); 39 escolas agrotécnicas; sete escolas
técnicas federais; oito escolas vinculadas a universidades.
A análise desta Lei
oferece múltiplas questões; destaco uma: por que, por exemplo, o estado de São Paulo
com significativa extensão territorial e populacional tem apenas um IF e Minas
Gerais tem cinco? Valeria uma discussão a imposição pbrigatória aos IFs de
licenciaturas.
Com a expansão dos
IFs (referida no momento seguinte) a postura elitista, ferreteada na dicotomização entre o pensar e o fazer, herança
cometida ao nosso DNA grego, tentou mais recentemente pôr-se em
evidência. O discriminar pareceu aflorar nas relações Universidades x
Institutos federais, mesmo que estes se envolvam com Educação Básica (Ensino
médio técnico e a Educação de
Jovens e Adultos), um amplo espectro de cursos de graduações (nas quais 20% das
vagas devem ser para licenciaturas) e pós-graduação (especializações,
mestrados e doutorados).
A ressureição do dualismo da proposta
de Nilo Peçanha: de um lado, as Escolas de Aprendizes Artífices preocupada com
a formação para o mercado de trabalho e com o recrutamento de crianças e de
pessoas “desocupadas” que viviam a margem da sociedade e de outro, uma escola
direcionada à classe dominante, uma escola elitista que formava os filhos dos
ricos preparando-os para no futuro controlar o poder econômico e político
afortunadamente parece não ter vingado. Talvez, as associações sindicais,
quando acolheram sob a mesma guarda docentes das universidades e dos institutos
federais tenham contribuído para uma não discriminação. Também as ações do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal
de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) tem contribuído
para uma visão não dicotômica.
29 de dezembro de 2018 simbolicamente se coloca
a data de amanhã como um marco em uma mirada acerca dos 10 anos dos Institutos
Federais no conturbado cenário da Educação brasileira, quando os prognósticos
para 2019 são muito sombrios (para não dizer tsunâmicos). Os IFs e as Universidades públicas estão na alça de mira dos que
querem ver dizimação da escola pública brasileira.
Hoje os 38 IFs estão
presentes nos 26 estados federados e no Distrito Federal com 650 campi, 80 mil
servidores, 11 mil cursos, 6 mil projetos de extensão e 1 milhão de matrículas.
Estes dados têm eloquência... Mas há outro que parece significativo. Neste
dezembro foi publicado matéria*** com manchete que
pode até ser rotulada de ufanista, mas cumpre destacar:
Uma Coreia do Sul dentro do
ensino público brasileiro: Segundo os
resultados mais recentes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
(PISA), de 2015, se a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica fosse um país, ele estaria na 11ª colocação, nas áreas analisadas —
matemática, leitura e ciências — e à frente de países como Estados Unidos,
Alemanha e do próprio Brasil.
Para o presidente do
Conif Roberto Gil Rodrigues de Almeida, o desempenho dos Institutos nos
indicadores internacionais mostra que seus dez anos de funcionamento devem ser
celebrados. “Considerando que nossas instituições promovem a inclusão, isso
comprova que pessoas anteriormente privadas de um ensino de qualidade agora têm
acesso a um modelo de educação profissional e tecnológica socialmente
referenciado”, declara.
Na mesma matéria referida,
Anália Ribeiro, reitora do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), sublinha: “os
números da extensão e da pesquisa são expressivos. Em 2008, o IFPE possuía
apenas 12 estudantes de iniciação científica, enquanto o número atual é de 352
alunos. Já o número de projetos de extensão cresceu de 31 projetos com 52
bolsistas, em 2010, para 191 projetos com 315 bolsistas. “A força do nosso
programa de iniciação deriva do forte investimento que fazemos em formação de
professores, que contam com grande facilidade de liberação para mestrado e
doutorado, posteriormente orientando estudantes de nível médio. No mais, como
atendemos o substrato mais pobre da sociedade, sabemos da importância das
bolsas”, conclui a Reitora.
No caso do IFPE, a
maior parte dos cerca de 24 mil alunos matriculados é oriunda de famílias cuja
renda não ultrapassa um salário e meio per capita. “Isso significa uma mudança
social significativa, porque a partir da educação nossos alunos não só
conseguem mudar suas vidas, como a de suas famílias”, completa a Reitora.
Pernambuco, aliás, entre os IF’s, é o que estado do país que possui o maior
número de estudantes indígenas. “Só no campus Pesqueira, nós temos mais cem
alunos do povo Xucuru. Também atuamos junto a outros grupos vulneráveis, como
campesinos, quilombolas e assentados e trabalhamos com cursos de formação
continuada para menores em processo de ressocialização”, conclui a reitora.
***http://www.leiaja.com/carreiras/2018/12/04/dez-anos-dos-ifs-uma-coreia-dentro-do-ensino-brasileiro
Assim,
aqui e agora,
Só nos cabe cantar loas aos
Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia.
Parabéns aos IFs pelos primeiros 10 anos.