ANO
8 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2548
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Uma pergunta
para abrir uma blogada: Por que hoje é o ‘Dia da secretária’, ‘Dia do tradutor’ e o ‘Dia do bibliotecário’? Uma resposta erudita (que oportuniza
uma classificação recorrente que recebo neste blogue, carola): hoje é dia do celestial patrono dos três importantes (e
correlatos) grupos profissionais: Jerônimo de Estridão. Convenhamos,
uma resposta quase hermética, mesmo que acrescentasse que este patrono na
Umbanda foi sincretizado como Xangô, orixá da justiça, do
relâmpago, do fogo, da pedreira.
Todavia, se
disser que hoje é dia de são Jerônimo,
por extensão, entre algumas denominações cristãs, o Dia da Bíblia, acredito que já tenha migrado, um pouco, do
esoterismo ao exoterismo, até porque não sei quanto dos meus leitores viajam
com esta informação ao começo do medievo para encontrar, então, a operosa e
variada vida do patrono de município da região metropolitana de Porto Alegre, que
assiste o encontro do Taquari com o Jacuí.
Hoje é dia festivo
de um dos santos que tem uma muito significativa produção. Veja-se as três
importantes profissões pós-modernas, que ele abençoa, e que as desempenhou com
garbo há 1.600 anos antes do presente.
São Jerónimo
(português europeu) ou Jerônimo (português brasileiro), nasceu em Estridão na
Ilíria (= Terra dos Livres, na região da Dalmácia, hoje Croácia), entorno do
ano 347 e morreu em Belém, em uma cela monástica, junto à gruta onde teria
nascido Jesus, em 30 de setembro de 420. Nascido como Eusébio Sofrónio Jerónimo
(em latim: Eusebius Sophronius Hieronymus; em grego: Εὐσέβιος
Σωφρόνιος Ἱερώνυμος). Foi
um padre e apologista cristão. Sua família
era rica, culta e de raiz cristã. Na ilustração: São Jerônimo, por Domenico Ghirlandaio, da Wikipédia.
Após a morte dos pais, com a herança que lhe coube Jerônimo foi morar em
Roma. Lá, estudou retórica e oratória, com os melhores mestres da época.
Apesar de vir de uma família cristã, Jerônimo ainda não tinha sido
batizado. Só aos vinte e cinco anos ele tomou uma decisão e pediu o batismo. Foi
batizado pelo Papa Libério.
Então, sentiu o chamado para a vida monástica dedicada à oração e ao
recolhimento e ao estudo. Foi quando encontrou monges que viviam na Gália,
atual França, para onde se transferiu. Incorporou-se a uma comunidade dedicada
ao estudo da Bíblia e das obras de teologia.
Jerônimo tinha um temperamento forte e radical. Por isso, foi procurar o
deserto. No deserto, entrava num ritmo de orações e jejuns tão rigorosos que
quase chegou a falecer. Tempos depois de se fortalecer no deserto, ele foi para
Constantinopla, segunda capital do império romano. Lá, se encontrou com São Gregório. Este lhe encantou com o
estudo das Sagradas Escrituras.
Então Jerônimo decidiu dedicar sua vida ao estudo da Palavra de Deus,
para transmitir o cristianismo em sua máxima fidelidade, ao maior número de
pessoas passível. Por esta causa estudou hebraico e grego. Seu objetivo era
compreender as escrituras nas suas línguas originais.
A fama da cultura e sabedoria de Jerônimo se espalhou e chegou até Roma.
O Papa Damaso o chamou
e o fez seu secretário pessoal e lhe deu a missão de traduzir a Bíblia para o
Latim, a língua ainda corrente entre o povo no Império Romano.
A realização desta tradução de Jerônimo, conhecido como a Vulgata, pois
era acessível ao povo, exigiu vários anos, pois ele procurava, em cada
versículo, a tradução mais fiel possível aos textos originais. Essa tradução se
tornou a base da tradução bíblica da igreja romana. Foi aprovada como a palavra
de Deus, mais de mil anos depois no Concílio de Trento (1545 a 1563), para marcar diferenças com traduções feitas por Lutero, em decorrência
da Reforma Protestante de 1517.
Terminado o extenso trabalho de produção da Vulgata, Jerônimo foi morar
em Belém onde retomou uma vida de reclusão. Morreu com quase 80 anos.
Trancrevo um excerto do que escrevi, há 20 anos, na p. 104 de A ciência através dos tempos acerca de
São Jerônimo: “Considerado o maior
conhecedor de latim de seu tempo (além de grego e hebraico), fez de sua versão
da Bíblia algo agradável de ser lido, podendo ser considerado, na difusão de
obras escritas, um ‘proto-Gutenberg’.” Hoje, sem diminuir minha admiração,
talvez o chamasse de um ‘proto-Lutero.’