ANO
10 |
EDIÇÃO
3078
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Nesta
quarta-feira, substituí nas aulas da Universidade do Adulto Maior, meu colega
Norberto Garin que, como coordenador do Mestrado Profissional de Reabilitação e
Inclusão, compareceu à reunião dos programas interdisciplinares na Capes. O
Garin, enquanto teólogo, tem expertise para desenvolver a disciplina Enfoque
Espiritual. Mesmo que reconheça haver transdisciplinaridade com assuntos da
disciplina que eu sou responsável (Enfoque Histórico e Sócio-Antropológico) e
que os alunos sejam quase os mesmos, havia um friozinho sabor novidade.
Escolhi
um tema que me inspirava confiança: “Religiosos ou não, vivemos em um
mundo impregnado pela religiosidade”. É uma temática que transito
com razoável facilidade e que muito me atrai. O grupo também se fez seduzido
pelo assunto. As perguntas suscitaram inúmeras notas de rodapé apensadas ao fio
condutor principal.
Numa
destas, quando fui remetido por uma pergunta à expulsão dos judeus e dos
islâmicos da península Ibérica, no final do Século 16, citei os reis católicos
Fernando e Isabel e me detetive em comentários de como Isabel se fez poderosa
(falei em Cristóvão Colombo e na cruenta Inquisição espanhola...). Quis, então,
referir o confessor da Rainha e... a memória evocou apenas o Cardeal... e nada
de seu nome. Houve tentativas de socorro googleano pelos alunos que não tiveram
sucesso. Ainda piorei a situação: disse “ele foi o fundador da Universidade de
...” (Eu via sua estátua e nome da universidade me era sonegado). Ficou uma
dívida.
Ela
é saldada aqui e agora. Antes de chegar em casa, parece que repeti a visita que
uma vez fizera, em 2009, à Universidade Complutense de Alcalá. Lá estava
imponente seu fundador e também guia espiritual daquela que não só expulsou
judeus e islâmicos da Espanha, mas também inspirou uma das inquisições mais
extensas e mais cruéis: Cardeal
Francisco Jiménez de Cisneros (1436 - 1517).
Era
filho de fidalgos empobrecidos, estudou no Colégio de São Bartolomeu em
Salamanca, dali foi para Roma, onde foi ordenado sacerdote. Após uma profunda
crise espiritual, ingressa na Ordem dos Franciscanos e, então, substitui o nome
de Gonçalo pelo de Francisco, em homenagem ao fundador, São Francisco de Assis.
Fechou-se no convento da Salceda e durante sete anos levou vida de monge. Dali o
tirou a Rainha Isabel, a Católica, no ano de 1492, quando o escolheu como seu
confessor.
Foi
nomeado Provincial da Ordem Franciscana e a submeteu a uma profunda reforma. Como
Primaz da Espanha, nunca se deixou impressionar pelo fausto, por baixo das
luxuosas vestes sempre levou um humilde hábito franciscano.
Isabel,
a Católica, teve em Cisneros não só um confessor, como também um conselheiro.
Durante sua vida participou em maior ou menor medida de tudo o que se fez no
reinado dos Reis Católicos e contribuiu de forma decisiva para a configuração
do novo Estado espanhol. Em duas vezes o renomado cardeal foi regente do reino
de Espanha.
Reformou
a vida religiosa do clero da Espanha, que havia caído em um grande relaxamento
moral. Soube ver que toda renovação começava pela educação e sem ser um erudito
fundou uma das instituições que mais influiu na cultura espanhola, a
Universidade Complutense de Alcalá de Henares.
A
Universidade Complutense é fundada no ano de 1499, a partir do antigo Studium
General de Alcalá de Henares, do qual Cisneros fora aluno. Esta torna-se a
primeira universidade renascentista, moderada, humanista e universal. Cisneros era
consciente da transcendência de sua fundação e não economizou esforços para transformar
seu Colégio em uma Universidade com detalhes urbanísticos inovadores e financiamentos
generosos e com os melhores mestres da época, pelo que a Vila de Alcalá de
Henares se viu imensamente beneficiada pelo importante cardeal Cisneros. Valeu
ter-me falhado a memória, para voltar em sonhos à cidade universitária e
encantar-me, uma vez mais, com os ninhos de cegonhas no alto das torres.
Meu caro Attico
ResponderExcluirprimeiro meu muito obrigado pela tua disponibilidade em aceitar o convite que te fiz para me substituir na disciplina de Enfoque Espiritual na Universidade do Adulto Maior. Como também testemunhas, esta é uma grande bênção: as turmas da UAM são indescritíveis.
Em segundo, entendo que, como integrante do Núcleo de Espiritualidade do IPA estás sempre muito bem habilitado nessa temática.
Em terceiro, com a capacidade e habilidade que te são inalienáveis tua aula deve ter sido um "passeio" pela história da espiritualidade humana.
Mais uma vez, muito obrigado!
Meu caro Attico
ResponderExcluirprimeiro meu muito obrigado pela tua disponibilidade em aceitar o convite que te fiz para me substituir na disciplina de Enfoque Espiritual na Universidade do Adulto Maior. Como também testemunhas, esta é uma grande bênção: as turmas da UAM são indescritíveis.
Em segundo, entendo que, como integrante do Núcleo de Espiritualidade do IPA estás sempre muito bem habilitado nessa temática.
Em terceiro, com a capacidade e habilidade que te são inalienáveis tua aula deve ter sido um "passeio" pela história da espiritualidade humana.
Mais uma vez, muito obrigado!
O aprender em forma de "bate-papo", o que o mestre faz com maestria. Aguça a sede do saber.
ResponderExcluirQuerido Chassot,
ResponderExcluirComo vai? Espero que tenha sido agradável e proveitoso este
fim-início-de-semana prolongado, que agora caminha para o final.
Solange e eu passamos o dia todo em casa. Estudando. Finalizando um
mestrado profissional, ela; preparando aulas, eu.
Gostei muito da última blogada, com sua memória traindo-o e fazendo-o
esquecer do Cardeal Jimenez Cisnero e do nome da Universidade Complutense.
Isso acontece com nós todos, suponho. Como será com dona Liba, por
exemplo? Sei que essa desagradável manifestação da DNA poupa, felizmente,
algumas pessoas. Do meu círculo pessoal, lembro do Seu Aloizio, uma pessoa
muito querida, que está com 84 anos. Ele tem uma memória fantástica.
Outro, um pouco mais velho, é o professor José Israel Vargas. Ele está com
a visão reduzidíssima, mas a memória continua a ser o prodígio que sempre
assombrou a todos o que conhecemos.
Quanto a mim, sou traído frequentemente pela falta de memória. Como é
mesmo o nome daquele colega distante? Como se chamava aquele hotel? Para
quem foi que emprestei aquele livro? Como se chamava o professor do
Boltzmann, que fez a primeira determinação da constante de Avogadro(de
fato não fez mas poderia ter feito)? Como é mesmo o nome do defeito
cristalino, quando aparece um semipleno extra de átomos numa rede? E assim
vai, sempre traiçoeira. Aprendi que frequentemente um esforço consciente
mais atrapalha que ajuda. Com frequência, horas, dias, muito tempo depois,
me lembro de repente da informação que faltou.
Li no sábado uma entrevista feita por um jornalista aí de Porto Alegre, o
Milton Ribeiro, do portal Sul21, com o matemático uruguaio, Roberto
Markarian, reitor da Universidad de la Republica. É muito interessante a
entrevista. E fiquei muito orgulhoso, com a menção que ele fez à Gelsa,
como alguém que o ajudou a vir para a UFRGS para fazer a sua graduação.
Talvez vocês tenham visto essa entrevista. Caso não, o endereço para
acesso é
http://miltonribeiro.sul21.com.br/2015/09/02/entrevista-com-roberto-markarian-reitor-da-universidad-de-la-republica-do-uruguai/#comments
Desejo-lhe uma excelente semana. Até breve.
Tavinho