ANO
10 |
EDIÇÃO
3085
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Esta manhã chuvosa de terça-feira se faz, de maneira
repentina, muito triste com a chegada da notícia da morte da grande educadora
Beatriz D’Ambrosio, filha dos queridos Maria José e Ubiratan D’Ambrosio.
No dia 3 de agosto, quando assisti a Valter Hugo Mãe, no Fronteiras do Pensamento ouvi algo que caiu naquela coxia do cérebro que, de vez em vez, se faz presente a uma espiadela. O escritor português contou que, com muita frequência é perguntado por que não faz doutorado em literatura. Disse em sua resposta: sou objeto de teses, como iria conviver na Academia com aqueles de quem sou sujeito.
No dia 3 de agosto, quando assisti a Valter Hugo Mãe, no Fronteiras do Pensamento ouvi algo que caiu naquela coxia do cérebro que, de vez em vez, se faz presente a uma espiadela. O escritor português contou que, com muita frequência é perguntado por que não faz doutorado em literatura. Disse em sua resposta: sou objeto de teses, como iria conviver na Academia com aqueles de quem sou sujeito.
Não sei explicar as razões pelas
quais a resposta me fez interrogante. Posso assegurar que, desta vez, não
pequei por inveja, algo muito frequente em mim quando ouço acerca de sucesso de
escritores.
Na manhã desta terça estou numa
banca de qualificação de Daniela Regina Resende no Programa de Pós-Graduação:
Processos Socioeducativos e Práticas Escolares, do Departamento de Ciências da
Educação da Universidade Federal de São João del-Rei. A Daniela, orientanda do
Professor Dr. Paulo César Pinheiro, traz a exame “A interação de professores com as narrativas híbridas do sítio Ciência
na Comunidade: efeitos e desdobramentos”.
Por estas maravilhas da tecnologia
(e também por um dito contingenciamento
de despesas que encolhe as universidades) não estarei, fisicamente, naquela
cidade que desde abril de 1985, me evoca um pedreiro em um interminável
fechamento tumular, quando do sepultamento de Tancredo Neves. A banca ocorrerá
por Skype ou pelo Facebook.
Há de se perguntar qual a conexão da
observação de Valter Hugo Mãe com a proposta de dissertação da Daniela.
Surpreendeu-me já a leitura do sumário, que está transcrito na figura ao lado.
Mas, quando li a proposta me senti um pouco (bastante) sujeito de uma
dissertação.
No primeiro capítulo da proposta a
Daniela faz, em mais de 20 páginas, uma minuciosa análise de quatro textos
meus. O primeiro é de A Educação no
Ensino de Química [Ijuí: Editora Unijuí, 1990]. Talvez um dos primeiros
livros de Educação Química escritos no Brasil.
Ao analisar um dos capítulos deste
livrinho de 118 p. Procurando Resgatar a
Química nos Saberes Populares ela escreve ‘o décimo primeiro capítulo do livro [...] é o único do livro a
tratar do ensino de Química por meio de saberes populares. É um texto de seis
páginas, que vem “mostrar uma linha de trabalho relativamente nova na área de
Educação Química: o resgate de saberes populares”. Tudo indica que esta seja a
primeira publicação em livro sobre este tema feita no Brasil’ (Proposta p. 21). Pois passado um
quarto de século o tema já rendeu teses de doutorado, dissertações de mestrado,
monografias de especialização, trabalhos de conclusão de cursos...
Na proposta está transcrito algo que
eu escrevera na p. 104, em 1990: ‘A proposta que se defende implica na necessidade de resgatar a
Química que está inserida na realidade física e social vivenciada pelos alunos
(ou em outras realidades) e analisar com eles, de forma dialógica, os
diferentes significados atribuídos e as diferentes formas de construção do
conhecimento’ (Proposta, p. 21). Outros textos são do Alfabetização
científica: Questões e desafios para a Educação (2001) e do Sete escritos sobre Educação e Ciências (2008)
são analisados no primeiro capítulo.
No segundo capítulo da proposta a
Daniela analise sete artigos da Revista Química
Nova Na Escola de 2000 a 2013 de diferentes autores e procura nestes as ‘ideias
de Chassot’. A Daniela escreve: ‘todos
os sete artigos encontrados mencionam, de certa forma, a inserção dos saberes
populares em sala de aula como uma prática para promover a valorização dos
mesmos e a sua transformação em saberes escolares, assim como foi sugerido nos
quatro textos de Chassot descritos no capítulo 1. Os artigos propõem trabalhos
que, além de apoiarem a inserção dos saberes populares em sala de aula,
orientam os professores na realização de práticas pedagógicas que busquem a
inter-relação entre os saberes populares e os saberes formais ensinados na
escola, promovendo uma mudança significativa no ensino de ciências’ (Proposta
p. 49).
Trouxe apenas pequenos excertos da
Proposta. Ela espraia-se por várias páginas fazendo tessituras de ideias que se
vem disseminando na Educação Química brasileira. Sinto a importância de minha
contribuição. Este é um orgulho que me entusiasma a continuar estes fazeres. Um
agradecimento muito reconhecido ao Paulo César e à Daniela. Será bom estar com
vocês esta manhã em São João del-Rey.
Soneto-acróstico
ResponderExcluirAssim é
Existe gente que está no mundo a passeio
Como quem aqui nunca deixará sua marca
Há ou outro que diz exatamente a que veio
Assim, com brilho e sentimento de tetrarca.
Se Chassot causa influência no seu meio
Sobre estudiosos do país ou da comarca
Observa-se que do estudante é um esteio
Tamanha amplitude sua sapiência abarca.
É mestre inconteste dos saberes primevos
Onde nada de braçadas nessa relevância
Conduz seu rebanho com carinho e enlevo
Alertando sobre ciência e sua importância.
Racional e sensível, classifica-lo eu devo
Attico Chassot, gaudério alfa da estância.
Meu muito estimado amigo Jair.
ResponderExcluirSaboreei, encantado, teu soneto-acróstico:
Assim é.... E CHASSOT É O CARA,
onde o último verso: Attico Chassot, gaudério alfa da estância. fez-me de ego lustrado.
Além de retemperar-me com teu versejar, alegrou-me saber que ainda te tenho como leitor distinguido.
Nesta semana estarei na UFSC, Pena que não no Campus de Florianópolis, e sim no de Blumenau. Ainda não nesta viagem que nos conheceremos pessoalmente,
Com amizade,
achassot
Caro Chassot,
ExcluirFico deveras satisfeito que você tenha gostado de meu castiço soneto-acróstico. Quanto a visitá-lo no seu blogue, sempre o faço, só não comento porque, o mais das vezes, me faltam palavras inspiradas, como você tão bem as merece.
Abraços, JAIR.
Nada é por acaso. Tudo tem sentido.
ResponderExcluirSabes que é merecido...Freire já advertia sobre não deixar de sonhar sonhos possíveis...
Grande abraço, mestre!!!