sábado, 5 de setembro de 2015

5.- À MEMÓRIA QUE ME TRAIU


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3078

Nesta quarta-feira, substituí nas aulas da Universidade do Adulto Maior, meu colega Norberto Garin que, como coordenador do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão, compareceu à reunião dos programas interdisciplinares na Capes. O Garin, enquanto teólogo, tem expertise para desenvolver a disciplina Enfoque Espiritual. Mesmo que reconheça haver transdisciplinaridade com assuntos da disciplina que eu sou responsável (Enfoque Histórico e Sócio-Antropológico) e que os alunos sejam quase os mesmos, havia um friozinho sabor novidade.
Escolhi um tema que me inspirava confiança: “Religiosos ou não, vivemos em um mundo impregnado pela religiosidade”. É uma temática que transito com razoável facilidade e que muito me atrai. O grupo também se fez seduzido pelo assunto. As perguntas suscitaram inúmeras notas de rodapé apensadas ao fio condutor principal.
Numa destas, quando fui remetido por uma pergunta à expulsão dos judeus e dos islâmicos da península Ibérica, no final do Século 16, citei os reis católicos Fernando e Isabel e me detetive em comentários de como Isabel se fez poderosa (falei em Cristóvão Colombo e na cruenta Inquisição espanhola...). Quis, então, referir o confessor da Rainha e... a memória evocou apenas o Cardeal... e nada de seu nome. Houve tentativas de socorro googleano pelos alunos que não tiveram sucesso. Ainda piorei a situação: disse “ele foi o fundador da Universidade de ...” (Eu via sua estátua e nome da universidade me era sonegado). Ficou uma dívida.
Ela é saldada aqui e agora. Antes de chegar em casa, parece que repeti a visita que uma vez fizera, em 2009, à Universidade Complutense de Alcalá. Lá estava imponente seu fundador e também guia espiritual daquela que não só expulsou judeus e islâmicos da Espanha, mas também inspirou uma das inquisições mais extensas e mais cruéis: Cardeal Francisco Jiménez de Cisneros (1436 - 1517).
Era filho de fidalgos empobrecidos, estudou no Colégio de São Bartolomeu em Salamanca, dali foi para Roma, onde foi ordenado sacerdote. Após uma profunda crise espiritual, ingressa na Ordem dos Franciscanos e, então, substitui o nome de Gonçalo pelo de Francisco, em homenagem ao fundador, São Francisco de Assis. Fechou-se no convento da Salceda e durante sete anos levou vida de monge. Dali o tirou a Rainha Isabel, a Católica, no ano de 1492, quando o escolheu como seu confessor.
Foi nomeado Provincial da Ordem Franciscana e a submeteu a uma profunda reforma. Como Primaz da Espanha, nunca se deixou impressionar pelo fausto, por baixo das luxuosas vestes sempre levou um humilde hábito franciscano.
Isabel, a Católica, teve em Cisneros não só um confessor, como também um conselheiro. Durante sua vida participou em maior ou menor medida de tudo o que se fez no reinado dos Reis Católicos e contribuiu de forma decisiva para a configuração do novo Estado espanhol. Em duas vezes o renomado cardeal foi regente do reino de Espanha.
Reformou a vida religiosa do clero da Espanha, que havia caído em um grande relaxamento moral. Soube ver que toda renovação começava pela educação e sem ser um erudito fundou uma das instituições que mais influiu na cultura espanhola, a Universidade Complutense de Alcalá de Henares.
A Universidade Complutense é fundada no ano de 1499, a partir do antigo Studium General de Alcalá de Henares, do qual Cisneros fora aluno. Esta torna-se a primeira universidade renascentista, moderada, humanista e universal. Cisneros era consciente da transcendência de sua fundação e não economizou esforços para transformar seu Colégio em uma Universidade com detalhes urbanísticos inovadores e financiamentos generosos e com os melhores mestres da época, pelo que a Vila de Alcalá de Henares se viu imensamente beneficiada pelo importante cardeal Cisneros. Valeu ter-me falhado a memória, para voltar em sonhos à cidade universitária e encantar-me, uma vez mais, com os ninhos de cegonhas no alto das torres.

4 comentários:

  1. Meu caro Attico

    primeiro meu muito obrigado pela tua disponibilidade em aceitar o convite que te fiz para me substituir na disciplina de Enfoque Espiritual na Universidade do Adulto Maior. Como também testemunhas, esta é uma grande bênção: as turmas da UAM são indescritíveis.

    Em segundo, entendo que, como integrante do Núcleo de Espiritualidade do IPA estás sempre muito bem habilitado nessa temática.

    Em terceiro, com a capacidade e habilidade que te são inalienáveis tua aula deve ter sido um "passeio" pela história da espiritualidade humana.

    Mais uma vez, muito obrigado!

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  2. Meu caro Attico

    primeiro meu muito obrigado pela tua disponibilidade em aceitar o convite que te fiz para me substituir na disciplina de Enfoque Espiritual na Universidade do Adulto Maior. Como também testemunhas, esta é uma grande bênção: as turmas da UAM são indescritíveis.

    Em segundo, entendo que, como integrante do Núcleo de Espiritualidade do IPA estás sempre muito bem habilitado nessa temática.

    Em terceiro, com a capacidade e habilidade que te são inalienáveis tua aula deve ter sido um "passeio" pela história da espiritualidade humana.

    Mais uma vez, muito obrigado!

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  3. O aprender em forma de "bate-papo", o que o mestre faz com maestria. Aguça a sede do saber.

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  4. Querido Chassot,
    Como vai? Espero que tenha sido agradável e proveitoso este
    fim-início-de-semana prolongado, que agora caminha para o final.
    Solange e eu passamos o dia todo em casa. Estudando. Finalizando um
    mestrado profissional, ela; preparando aulas, eu.
    Gostei muito da última blogada, com sua memória traindo-o e fazendo-o
    esquecer do Cardeal Jimenez Cisnero e do nome da Universidade Complutense.
    Isso acontece com nós todos, suponho. Como será com dona Liba, por
    exemplo? Sei que essa desagradável manifestação da DNA poupa, felizmente,
    algumas pessoas. Do meu círculo pessoal, lembro do Seu Aloizio, uma pessoa
    muito querida, que está com 84 anos. Ele tem uma memória fantástica.
    Outro, um pouco mais velho, é o professor José Israel Vargas. Ele está com
    a visão reduzidíssima, mas a memória continua a ser o prodígio que sempre
    assombrou a todos o que conhecemos.
    Quanto a mim, sou traído frequentemente pela falta de memória. Como é
    mesmo o nome daquele colega distante? Como se chamava aquele hotel? Para
    quem foi que emprestei aquele livro? Como se chamava o professor do
    Boltzmann, que fez a primeira determinação da constante de Avogadro(de
    fato não fez mas poderia ter feito)? Como é mesmo o nome do defeito
    cristalino, quando aparece um semipleno extra de átomos numa rede? E assim
    vai, sempre traiçoeira. Aprendi que frequentemente um esforço consciente
    mais atrapalha que ajuda. Com frequência, horas, dias, muito tempo depois,
    me lembro de repente da informação que faltou.
    Li no sábado uma entrevista feita por um jornalista aí de Porto Alegre, o
    Milton Ribeiro, do portal Sul21, com o matemático uruguaio, Roberto
    Markarian, reitor da Universidad de la Republica. É muito interessante a
    entrevista. E fiquei muito orgulhoso, com a menção que ele fez à Gelsa,
    como alguém que o ajudou a vir para a UFRGS para fazer a sua graduação.
    Talvez vocês tenham visto essa entrevista. Caso não, o endereço para
    acesso é
    http://miltonribeiro.sul21.com.br/2015/09/02/entrevista-com-roberto-markarian-reitor-da-universidad-de-la-republica-do-uruguai/#comments
    Desejo-lhe uma excelente semana. Até breve.
    Tavinho

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