ANO 15 |
Agenda de Lives em página |
EDIÇÃO 3689 |
Foi uma
semana ubérrima. Esta adjetivação ao
nosso milenar hebdomadário de viver os tempos sob o império de Cronos, exige
(a)fazeres. Estes, não raro, nos exaurem. Esta exaustão potencializa saberes e
sabores.
A cereja
do bolo de minha semana foi a promoção do Grupo Ciência e
Espiritualidade da ADufrgs: o (re)encontro com o mestre budista Lama Padma
Samten, que foi professor do Instituto de Física da UFRGS de 1969 a 1994,
quando eu era professor do Instituto de Química. É inarrável aqui as emoções de
ter dialogado, por mais de uma hora com Alfredo Aveline.
Não parece difícil imaginar
o quanto a 53ª live facilitou a compreensão da espiritualidade e da cultura de
paz, como caminho para que se desenvolvam cada vez melhores relações no
ambiente onde vivemos. Em attico
chassot, no You Tube, numa edição artesanal, pode ser conhecida a live.
O ‘day after’, diferente do sonhado, não ensejou a curtição de
louros. Foi me concedido poucas horas para que apresentasse à agencia financiadora
‘Um novo cronograma das ações
propostas’ em relatório de 25 páginas que
entregara na sexta-feira, dia 25/09. Não sem muito esforço, em tempo hábil, em
duas laudas. escrevi que “é impossível fazer novos cronogramas nestes tempos
pandêmicos, nos quais se expande ações de mulheres e de homens envolvidos na
Educação, no realizar com competências que alegram e confortam em tempos
lutuosos comunidades acadêmicas em muitos pontos do Brasil”.
Assim como ouvi de minha mão muitas
vezes ouvi o murmurar: “O que vou
cozinhar amanhã? Éramos nove: mãe, pai e sete filhos. Eu muito me perguntei
até a manhã desta primeira sexta-feira de outubro: o que vou blogar amanhã?
Então veio uma solução. Ela é
camoniana: ‘Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro
valor mais alto se alevanta (Os Lusíadas, Canto 1, excerto da
estrofe 3).
Um dos
nossos maiores escritores, Ignácio de Loyola Brandão, escreveu carta aberta ao
ministro da educação, publicada nesta quarta-feira, 30/09/2020, em O Estado de São Paulo. E ela se faz a blogada inaugural deste
outubro 2020.
Ministro Milton Ribeiro,
deixe-me apresentar. Sou escritor,
publiquei 46 livros, jornalista desde 1952, hoje cronista e pertenço a duas
Academias, a Brasileira e a Paulista. Este breve curriculum se deve a quê? Aos
professores que tive.
Todos de primeira linha, dedicados,
cultos, apaixonados. Desde 1975, junto a outro escritor e acadêmico da
Brasileira, Antonio Torres, atravessamos o Brasil. Convidados por professores,
discutimos a formação de leitores e literatura. Estive várias vezes no
Mackenzie, sua escola, levado por quem? Por professores que adoram seu ofício.
Ao longo destes 50 anos, conhecemos e
nos relacionamos com mais de dois ou três mil professores que desdenharam
outras profissões. Poderiam ter sido médicos, engenheiros, advogados,
ministros, astronautas, cientistas, artistas, executivos, banqueiros, e daí em
diante. Preferiram ser mestres. Ninguém vai ser professor sem paixão pelo
ensino.
Deste modo, ao ler sua entrevista
neste jornal, recentemente, levei um susto com sua escorregadela: “Hoje, ser professor é ser quase que uma
declaração que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”. Ou seja, são
pessoas que fracassaram. Em seguida, percebendo, o senhor tentou consertar: “É preciso a gente olhar com carinho maior
para os professores”. Ou seja, uma no prego e outra na ferradura. Um tapa,
um beijo. Afago e beliscão.
Existem zilhões de profissões. Mesmo
assim, o que se depreende de sua fala é que milhões acabaram sendo professores
por incapacidade, preguiça, deficiência mental, incompetência, ignorância,
burrice, analfabetismo? Exagero?
Como escritor, trabalhando com a
imaginação exacerbada, conhecendo o absurdo da realidade tornei-me, segundo me
definem curiosamente, “vidente”, profeta. Está em meu livro Desta Terra Nada Vai Sobrar..., publicado
em 2018: “O Ministério da Educação foi
eliminado, porque o governo decidiu que quem quiser estudar, estude onde
quiser, como quiser, como puder, onde conseguir, se tiver vontade.”
Antecipei Bolsonaro e o desmantelamento do Ensino. Há dois anos vivemos o caos
educacional.
O senhor, Ministro, pertence a uma
escola de elite em São Paulo, reconhecida pela qualidade. Quer dizer que os
professores que dão aulas ali, e em todas as escolas do Estado, do País, foram
dar aulas porque não acharam mais o que fazer? Ou é gente que sonhou e se
formou para isso, estudou, batalhou à exaustão, conseguiu nível de excelência?
Ou porque idealizaram mudar cabeças, melhorar o País e isso se consegue com
educação?
Sei — e o senhor sabe — que o número
de professores no país, em 2017, passava de 2,5 milhões, segundo revelou
Carolina Gonçalves, da Agência Brasil. A maior parte dos professores é da
educação básica, seguindo os do ensino superior, além dos que estão na zona
rural.
Será que este número enorme é de
gente que não conseguiu outro trabalho? Não puderam ser célebres no cinema, nem
cientistas, caminhoneiros, artistas, garis, bombeiros, mestres de cozinha,
modelos, publicitários, jornalistas, bailarinos, futebolistas, taxistas,
assessores de políticos, de imprensa horticultores, balconistas, metalúrgicos,
motoboys, vidraceiros, caftens, marceneiros, pedreiros, chapeiros de
hambúrguer, agrimensores, bicheiros, pianistas, donos de papelaria ou de
pastelaria?
Andou pelo Brasil, Ministro? Saiu
dessa confortável poltrona em que o vejo sentado na foto do jornal? Esteve nas
escolas rurais de Pirenópolis, interior do Goiás, onde professoras madrugam
para dar aulas a filhos de camponeses? Embarcou nos barcos bibliotecas que
partem de Macapá levando livros para escolas ribeirinhas sobre o Amazonas?
Esteve com as professoras que conseguiram ensinar alunos rebeldes,
tresloucados, filhos de marginais, na Casa Meio Norte, em Teresina, hoje modelo
premiado?
Esteve – como estive – na escola da
aldeia dos índios da tribo Canindé, no Ceará, e viu os jovens mantendo
tradições e manipulando computadores com o pé no futuro? Ou acha, como o
presidente, que os índios estão só queimando matas? Conviveu com professores
dando aulas ao ar livre em Rio Branco, Acre, rodeados por jovens?
Testemunhou o trabalho monumental,
voluntário, dos professores que a cada ano são voluntários nas Feiras de Livros
de Ribeirão Preto, que chega à sua 20ª edição? Ou do esforço feito em Passo
Fundo pelas Jornadas de Literatura de
Tania Rösing e sua equipe? Jornadas extintas por dificuldades financeiras.
Assombre-se, elas reuniam em cada sessão – e eram três por dia – seis mil
professores formadores de leitores.
Ministro, não ignore o fundamento de
uma nação, o professor. Esse que é mal pago, desconsiderado, violentado,
processado por pais, agredido por alunos. Sou escritor por ter tido professores
dignos. Percorra a nossa história e verá quantas figuras fundamentais (ou não)
foram formadas por eles. Peça desculpas a essa gente, base da nação. Seu cargo
é mais importante que o do presidente da nação. Não misture alhos com bugalhos,
libere-se dos preconceitos e entre para a história colocando ordem na
casa.
Loyola é jornalista e escritor, autor
'Zero' e 'Não verás país nenhum'
Uma boa
semana a cada uma e cada um dos leitores desde blogue. Expectante por um
reencontro na próxima sexta-feira.
Caro Mestre, falando em Ministro....percebo duas coisas, que se estende a mais pessoas, grupos, classes, enfim,...Primeiro: Hipocrisia na ideologização desta pretensa "Direita"..Segundo (uma decorrência): Visivelmente uma subserviência ao Capital sem precedentes, algo absurdamente desumano, principalmente quando classificamos as profissões, muito em função dos Ganhos percebidos... Que mentalidade funesta...vindo de um Ministro então!!!
ResponderExcluirAbraços