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sexta-feira, 21 de julho de 2017

21.— ‘A VIDA NA TELA’

ANO
 11
No mês do 12º aniversário
EDIÇÃO
3308

 

Talvez a rapidação destes novos tempos esteja impedido que nós não vejamos algumas das transformações que sofremos [aqui a ação verbal foi escolhida com rigor]. Tenho como certo que a maioria dos minguados leitores deste blogue seja homens e mulheres do século 20.

Por tanto nenhum de nós teve em sua infância as atuais tecnologias de comunicação. Lembram das emoções de escrever uma carta. Envelopa-la. Ir ao correio. Talvez, escolher um selo especial, pois sabíamos que o destinatário era filatelista. Ainda existem filatelista? A filatelia foi o artefato cultural que mais me envolvi e talvez já há um quartel que não mexa no meu álbum de selos.

Falar de fazeres que não existiram na geração de nossos avós e e também não na de nossos filhos, aos quais até o e-mail já é obsoleto, poderá parecer que somos de tempos dinossáuricos. Cada vez mais parece que não estamos vivos se não estivermos conectados.

Há que acreditar que existe vida fora da tela. No esteirar da edição anterior, partilho aqui o texto que o escritor Élcio Mário Pinto, comentarista deste blogue, que escreveu no ROL Região online — www.jornalrol.com.br — desta semana.

 ‘A VIDA NA TELA’

Os três meninos entraram, acompanhados pela mãe. Calculei as idades: 7, 6 e 4 anos. Enquanto o menor brincava, corria e movimentava-se muito, os outros dois se interessavam por outra coisa: o celular. Graças à insistência do caçula, aquele de 6 anos cedeu e começaram a brincar de esconde-esconde. Mas, desde que a mãe entregou-lhe o aparelho, o menino de 7 anos nada mais fez. Sequer olhou para onde pisava enquanto caminhava para dentro do prédio. Lá, também não se importou com mais nada! Os outros dois correram, passaram pelo detector de metais e voltaram com a brincadeira do esconde-esconde. Percebi que sorriam muito e eu entendi que estavam felizes com o que faziam. Mas, o menino maior, sequer olhava para qualquer lado. Nada, absolutamente nada no mundo interessava a ele mais do que os joguinhos apresentados na tela do celular.

Então é assim, eu pensei. É assim que se faz para que alguém, com tão poucas experiências e convivências tenha um só interesse, não se importando com mais nada e com mais ninguém?

Para o menino de 7 anos, a brincadeira não interessava. Também não interessava o que os mais novos faziam. Deviam ser irmãos, foi o meu outro pensamento. E daí? Daí, nada! também não era motivo suficiente para deixar o celular e brincar.

Acompanhei aqueles meninos, do momento que desceram do carro, foram ao prédio, ficaram um tempo lá e voltaram. O menor, muito criativo, já se imaginava abrindo a porta do carro ao lado dizendo que era da polícia. Talvez as cores preta e amarela e aquele desenho que parecia um distintivo, fossem o suficiente para convencê-lo.

Finalmente, pensei que no menino de 4 anos ainda havia a criatividade que sonha, tão necessária a uma criança saudável, cheia de imaginação e que gosta de criar para viver intensamente, muito mais do que o cotidiano oferece. Talvez, seja esta a melhor definição de ser escritor: sua intensidade criadora só se satisfaz com muitas vidas, ainda que imaginadas. Quem sabe em seu interior, todas estejam, sempre, acontecendo vibrantemente!

Bem, a família partiu e eu fiquei pensando nos três meninos e no que as crianças são transformadas quando os recursos tecnológicos separam, segregam, dividem e matam a inventividade de quem deveria brincar, conhecer a Natureza, conviver com as pessoas e ser feliz com as coisas, não com as imagens das coisas. Será que voltamos aos ensinamentos do velho filósofo grego Platão? Dizia o mestre que tudo o que vemos é só um reflexo da Realidade verdadeira e absoluta. Parece-me que invertendo este ensinamento, com a tecnologia das telas pode-se dizer, que a educação das crianças está transformando o virtual em algo absoluto, sem o qual não se pode viver.

Mas, digo agora: a vida, definitivamente, não acontece na tela. Ela acontece na Natureza!

4 comentários:

  1. Belissimo Texto. Achei-o muito convincente no sentido de tudo que hoje ocorre na formação de nossas crianças. Estamos errando ou acertando? Não sei se tenho a resposta.

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  2. Muito querido colega Jairo!
    não sei se estamos fazendo certo ou errado. Sei que procuro fazer o meu melhor.
    Com espraiada admiração

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  3. Respostas
    1. ​Talvez, oportuno não sabermos o que dirá o nosso senhor tempo!​

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