Talvez a rapidação destes novos tempos esteja impedido que nós
não vejamos algumas das transformações que sofremos [aqui a ação verbal foi
escolhida com rigor]. Tenho como certo que a maioria dos minguados leitores
deste blogue seja homens e mulheres do século 20.
Por tanto nenhum de nós teve
em sua infância as atuais tecnologias de comunicação. Lembram das emoções de
escrever uma carta. Envelopa-la. Ir ao correio. Talvez, escolher um selo
especial, pois sabíamos que o destinatário era filatelista. Ainda existem
filatelista? A filatelia foi o artefato cultural que mais me envolvi e talvez
já há um quartel que não mexa no meu álbum de selos.
Falar de fazeres que não existiram na geração de nossos avós
e e também não na de nossos filhos, aos quais até o e-mail já é obsoleto, poderá
parecer que somos de tempos dinossáuricos. Cada vez mais parece que não estamos
vivos se não estivermos conectados.
Há que acreditar que existe vida fora da tela. No esteirar da
edição anterior, partilho aqui o texto que o escritor Élcio Mário Pinto,
comentarista deste blogue, que escreveu no ROL Região online — www.jornalrol.com.br — desta semana.
‘A VIDA NA TELA’
Os três meninos entraram, acompanhados pela
mãe. Calculei as idades: 7, 6 e 4 anos. Enquanto o menor brincava, corria e
movimentava-se muito, os outros dois se interessavam por outra coisa: o
celular. Graças à insistência do caçula, aquele de 6 anos cedeu e começaram a
brincar de esconde-esconde. Mas, desde que a mãe entregou-lhe o aparelho, o
menino de 7 anos nada mais fez. Sequer olhou para onde pisava enquanto
caminhava para dentro do prédio. Lá, também não se importou com mais nada! Os
outros dois correram, passaram pelo detector de metais e voltaram com a
brincadeira do esconde-esconde. Percebi que sorriam muito e eu entendi que
estavam felizes com o que faziam. Mas, o menino maior, sequer olhava para
qualquer lado. Nada, absolutamente nada no mundo interessava a ele mais do que
os joguinhos apresentados na tela do celular.
Então é assim, eu pensei. É assim que se faz
para que alguém, com tão poucas experiências e convivências tenha um só
interesse, não se importando com mais nada e com mais ninguém?
Para o menino de 7 anos, a brincadeira não
interessava. Também não interessava o que os mais novos faziam. Deviam ser
irmãos, foi o meu outro pensamento. E daí? Daí, nada! também não era motivo
suficiente para deixar o celular e brincar.
Acompanhei aqueles meninos, do momento que
desceram do carro, foram ao prédio, ficaram um tempo lá e voltaram. O menor,
muito criativo, já se imaginava abrindo a porta do carro ao lado dizendo que
era da polícia. Talvez as cores preta e amarela e aquele desenho que parecia um
distintivo, fossem o suficiente para convencê-lo.
Finalmente, pensei que no menino de 4 anos
ainda havia a criatividade que sonha, tão necessária a uma criança saudável,
cheia de imaginação e que gosta de criar para viver intensamente, muito mais do
que o cotidiano oferece. Talvez, seja esta a melhor definição de ser escritor:
sua intensidade criadora só se satisfaz com muitas vidas, ainda que imaginadas.
Quem sabe em seu interior, todas estejam, sempre, acontecendo vibrantemente!
Bem, a família partiu e eu fiquei pensando nos
três meninos e no que as crianças são transformadas quando os recursos
tecnológicos separam, segregam, dividem e matam a inventividade de quem deveria
brincar, conhecer a Natureza, conviver com as pessoas e ser feliz com as
coisas, não com as imagens das coisas. Será que voltamos aos ensinamentos do
velho filósofo grego Platão? Dizia o mestre que tudo o que vemos é só um
reflexo da Realidade verdadeira e absoluta. Parece-me que invertendo este
ensinamento, com a tecnologia das telas pode-se dizer, que a educação das
crianças está transformando o virtual em algo absoluto, sem o qual não se pode
viver.
Mas, digo agora: a vida, definitivamente, não
acontece na tela. Ela acontece na Natureza!
Belissimo Texto. Achei-o muito convincente no sentido de tudo que hoje ocorre na formação de nossas crianças. Estamos errando ou acertando? Não sei se tenho a resposta.
Belissimo Texto. Achei-o muito convincente no sentido de tudo que hoje ocorre na formação de nossas crianças. Estamos errando ou acertando? Não sei se tenho a resposta.
ResponderExcluirMuito querido colega Jairo!
ResponderExcluirnão sei se estamos fazendo certo ou errado. Sei que procuro fazer o meu melhor.
Com espraiada admiração
Vejamos o que o TEMPO dirá...
ResponderExcluirTalvez, oportuno não sabermos o que dirá o nosso senhor tempo!
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