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AGORA, ALGO SOBRE ARTEFATOS PARA LEITURA
ANO
10 |
EDIÇÃO
3140
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Hoje, concluímos nosso tríduo
voltas às aulas que teve suas duas primeiras edições nos dias 18 e 21. Agora,
do binômio escritaDleitura, vamos comentar algo acerca de nossas ferramentas de leitura.
Quero contemplar, as transições do outro componente de nosso binômio, se
olhei as transições da escrita no
espaço de 50 anos, para a leitura há
pelo menos 600 anos quase imutáveis. Se colocar em Johannes Gutenberg
(1398-1468), com a invenção da prensa de tipos móveis, em 1439*, a grande
transmutação no artefato cultural chamado livro
como, talvez a invenção mais importante do segundo milênio (há os que colocam a
invenção da imprensa como marco da transição da Idade Média para a Idade
Moderna). Chegamos à aurora do terceiro milênio com quase os mesmos suportes de
leitura do final do medievo. Mas, a partir do século 21, temos uma rapidação (um
neologismo que quer caracterizar uma ação
rápida) impressionante dos suportes
de leitura.
Quem de nós, há apenas 10 anos, usava tablete, e-book, smartphone? Quem
de nós, antes um leitor contumaz, ainda lê um livro por semana, como antes?
Quem ainda vê, em aeroportos ou em metrôs, muitas pessoas lendo livros? Quem
não encontra em diferentes espaços públicos ou privados um número muito grande
de pessoas usando smartphones? Quem não conhece mestrandos ou doutorandos que
não frequentam bibliotecas, antes lugares indispensáveis numa mais sólida
formação acadêmica? Quantos de nós, mais recentemente consultamos um dicionário
ou uma enciclopédia em suporte papel? Minhas perguntas são feitas quando
transformo a assinatura do último dos jornais que assino de suporte papel para
leitura em suporte digital.
Conheço professores universitários, excelentes pesquisadores, que se
gabam de não ter nenhum livro em seu gabinete e de não ter recentemente
impresso nenhum artigo. Alguém dirá que estou entoando um réquiem ao livro. Ao
contrário: quisera chamar um coral para cantar, aqui e agora, um Aleluia de Händel ao livro.
Antes de tecer-lhe loas vou concordar que ecologicamente ao invés de ler,
em papel, Uma casa: uma breve história da vida doméstica** de Bill Bryson de 536 páginas, a natureza
e também meus pulsos agradeceriam se eu comprasse uma edição para ler em um e-reader. Outra desvantagem dos livros
suporte papel é o espaço para armazená-los. Os apartamentos esmirrados de hoje
não comportam mais uma biblioteca de 5 mil volumes, um número que parece
adequado a uma biblioteca doméstica.
Minha
defesa do livro não tem um tom saudosista. (Como é bom sentir o aroma quase
sensual de estar com um livro em uma rede!) Defendo ‘a qualidade da leitura’. É
complexo fazer adjetivações. Aceito que esteja laborando em preconceitos. A
leitura em suporte papel parece introspectiva e densa; em oposição a uma
leitura em suporte eletrônico que se afigura como volátil e ligeira, marcada
pela já caracterizada rapidação. Uma
soa como especulativa ou reflexiva; outra, volátil ou grácil.
Não
quero parecer saudosista, mas advogo ao livro, em sua essência, como um
significativo construtor de saberes. Nisso ele está num crescendo (na acepção
musical de um aumento gradativo): Informação (como a fornecida pelo
Google) < Conhecimento (dado pela Wikipédia) < Saberes.
Isto
posto, parece que se pode afirmar que não há como prescindirmos deste artefato
cultural presente no mundo ocidental há quase seis séculos e que provavelmente
não deixará de ser, cada vez mais, um saboroso produtor de saberes. Eis, porque
me encanto quando vejo em trem, num avião, num aeroporto pessoas com livros. Foi significativo
recentemente (fevereiro de 2016) passar pela Universidade de Sorbonne, campus
de Jussieu e ver dezenas de estudantes em pesquisas, usando um artefato
cultural que alguns de nossos alunos parecem desconhecer: livros. Parece-me um quase um suicídio cultural fazer um mestrado
ou doutorado sem frequentar uma biblioteca de verdade. Talvez, tenha
justificado porque acredito na necessária continuidade do livro em suporte
papel. Quem viver... verá.
*
Na verdade a primazia do uso de tipos móveis para imprimir é do chinês Bi
Sheng, em torno de 1040 da era cristã, logo 400 anos antes de Gutenberg.
** A citação deste apreciado
livro deve-se exclusivamente ao fato de ser um dos livros que leio nos dias que
elaborava este texto.
Penso que a leitura em suporte papel nos propicia a possibilidade de maior reflexão, maior envolvimento com o própria grafia: rabiscar, marcar... Uma plasticidade extensamente densa. Sem comparar ou competir com os demais artefatos. As vantagens em todos eles são distintas e peculiares. Importa LER com atenção, reflexão, interpretando sua(s) mensagem. Boa leitura e correta escrita a todos os alfabetizados.
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