quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

24.— AGORA, ALGO SOBRE ARTEFATOS PARA LEITURA

24.— AGORA, ALGO SOBRE ARTEFATOS PARA LEITURA
ANO
 10
A G E N D A 2016 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3140

Hoje, concluímos nosso tríduo voltas às aulas que teve suas duas primeiras edições nos dias 18 e 21. Agora, do binômio escritaDleitura, vamos comentar algo acerca de nossas ferramentas de leitura.
Quero contemplar, as transições do outro componente de nosso binômio, se olhei as transições da escrita no espaço de 50 anos, para a leitura há pelo menos 600 anos quase imutáveis. Se colocar em Johannes Gutenberg (1398-1468), com a invenção da prensa de tipos móveis, em 1439*, a grande transmutação no artefato cultural chamado livro como, talvez a invenção mais importante do segundo milênio (há os que colocam a invenção da imprensa como marco da transição da Idade Média para a Idade Moderna). Chegamos à aurora do terceiro milênio com quase os mesmos suportes de leitura do final do medievo. Mas, a partir do século 21, temos uma rapidação (um neologismo que quer caracterizar uma ação rápida) impressionante dos suportes de leitura.
Quem de nós, há apenas 10 anos, usava tablete, e-book, smartphone? Quem de nós, antes um leitor contumaz, ainda lê um livro por semana, como antes? Quem ainda vê, em aeroportos ou em metrôs, muitas pessoas lendo livros? Quem não encontra em diferentes espaços públicos ou privados um número muito grande de pessoas usando smartphones? Quem não conhece mestrandos ou doutorandos que não frequentam bibliotecas, antes lugares indispensáveis numa mais sólida formação acadêmica? Quantos de nós, mais recentemente consultamos um dicionário ou uma enciclopédia em suporte papel? Minhas perguntas são feitas quando transformo a assinatura do último dos jornais que assino de suporte papel para leitura em suporte digital.
Conheço professores universitários, excelentes pesquisadores, que se gabam de não ter nenhum livro em seu gabinete e de não ter recentemente impresso nenhum artigo. Alguém dirá que estou entoando um réquiem ao livro. Ao contrário: quisera chamar um coral para cantar, aqui e agora, um Aleluia de Händel ao livro.
Antes de tecer-lhe loas vou concordar que ecologicamente ao invés de ler, em papel, Uma casa: uma breve história da vida doméstica** de Bill Bryson de 536 páginas, a natureza e também meus pulsos agradeceriam se eu comprasse uma edição para ler em um e-reader. Outra desvantagem dos livros suporte papel é o espaço para armazená-los. Os apartamentos esmirrados de hoje não comportam mais uma biblioteca de 5 mil volumes, um número que parece adequado a uma biblioteca doméstica.
Minha defesa do livro não tem um tom saudosista. (Como é bom sentir o aroma quase sensual de estar com um livro em uma rede!) Defendo ‘a qualidade da leitura’. É complexo fazer adjetivações. Aceito que esteja laborando em preconceitos. A leitura em suporte papel parece introspectiva e densa; em oposição a uma leitura em suporte eletrônico que se afigura como volátil e ligeira, marcada pela já caracterizada rapidação. Uma soa como especulativa ou reflexiva; outra, volátil ou grácil.
Não quero parecer saudosista, mas advogo ao livro, em sua essência, como um significativo construtor de saberes. Nisso ele está num crescendo (na acepção musical de um aumento gradativo): Informação (como a fornecida pelo Google) < Conhecimento (dado pela Wikipédia) < Saberes.
Isto posto, parece que se pode afirmar que não há como prescindirmos deste artefato cultural presente no mundo ocidental há quase seis séculos e que provavelmente não deixará de ser, cada vez mais, um saboroso produtor de saberes. Eis, porque me encanto quando vejo em trem, num avião, num aeroporto pessoas com livros. Foi significativo recentemente (fevereiro de 2016) passar pela Universidade de Sorbonne, campus de Jussieu e ver dezenas de estudantes em pesquisas, usando um artefato cultural que alguns de nossos alunos parecem desconhecer: livros. Parece-me um quase um suicídio cultural fazer um mestrado ou doutorado sem frequentar uma biblioteca de verdade. Talvez, tenha justificado porque acredito na necessária continuidade do livro em suporte papel. Quem viver... verá.
* Na verdade a primazia do uso de tipos móveis para imprimir é do chinês Bi Sheng, em torno de 1040 da era cristã, logo 400 anos antes de Gutenberg.
** A citação deste apreciado livro deve-se exclusivamente ao fato de ser um dos livros que leio nos dias que elaborava este texto.

Um comentário:

  1. Penso que a leitura em suporte papel nos propicia a possibilidade de maior reflexão, maior envolvimento com o própria grafia: rabiscar, marcar... Uma plasticidade extensamente densa. Sem comparar ou competir com os demais artefatos. As vantagens em todos eles são distintas e peculiares. Importa LER com atenção, reflexão, interpretando sua(s) mensagem. Boa leitura e correta escrita a todos os alfabetizados.

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