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sexta-feira, 7 de abril de 2023

Seleta acerca dos quatro elementos: Um segundo conto

ANO 17*** 07/04/2023***EDIÇÃO 2079

Hoje publicamos o segundo conto da Seleta acerca dos quatro elementos. Na edição 17MAR2023 se publicou o primeiro: Lilith revisita a Terra que fora Edênica. Estes quatro contos, como se narrou então, estão insertos em uma seleta de quatro contos, cada um acerca de um dos quatro elementos alquímicos: TERRA / ÁGUA / AR / FOGO. 

Seleta contendo quatro ensaios nos quais cada um deles está imbricado em tentativas de relações entre o sagrado e o profano,

sendo estes compilados, traduzidos, e aditados de para saber mais e diagramados por 

Lucas Francisco, o Amauta, 

especialmente, para 

CONTOS QUÍMICOS POR QUÍMICOS CONTISTAS


Sumário

1.- Lilith revisita Terra que fora edênica

2.- E águas purificadoras inundaram o Planeta

3.- O ar é o sopro da vida e de morte

4.- Para que filho Abraão levava o fogo?

 Nas três primeiras edições de abril (07 / 14 / 21), se pretende publicar três contos que com o de Lilith (Terra) formam a seleta de quatro contos, cada um acerca de um dos quatro elementos alquímicos:  TERRA / ÁGUA / AR / FOGO.

 E águas purificadoras inundaram o Planeta

Jean Jacques du Chambery*


E durou o dilúvio quarenta dias sobre a terra, e cresceram as águas e levantaram a arca, e ela se elevou sobre a terra. E prevaleceram as águas e cresceram grandemente sobre a terra; e a arca andava sobre as águas (Gn 7:17,18).


O mito do dilúvio é uma narrativa de uma grande inundação, geralmente enviada por uma divindade (ou várias). Há usualmente, a destruição de uma civilização, muitas vezes, em um ato de retribuição ou de reparação de erros ou pecados. Paralelos são frequentemente feitos entre as águas da inundação e as águas primitivas de certos mitos cosmogônicos. A água é descrita como um elemento de limpeza ou purificação da humanidade, em preparação para o renascimento. A maioria dos mitos de inundação também contém um herói cultural, usualmente messiânico "representa o desejo humano pela vida". Por exemplo, um Noé para recomeçar uma reprodução.

A temática mitológica do dilúvio é generalizada entre muitas culturas ao redor do mundo, conforme visto em histórias sobre inundações da Mesopotâmia; nos Puranas, os livros religiosos hindus; em Deucalião, da mitologia grega; na narrativa do dilúvio no Gênesis; em mitos dos povos quíchuas e maias na Mesoamérica; na tribo Lac Courte Oreilles Ojibwa de nativos americanos da América do Norte e entre os chibchas e cañaris, na América do Sul.

Parece não existir dúvidas sobre a ocorrência do dilúvio, porém não se pode definir a extensão precisa deste ocorrido, o que se pode afirmar é que ele abrangeu todo mundo conhecido à época.

Mas sobre histórias mitológicas como a dos Maias, não há estudo que aponte sua relação como o dilúvio dos povos do antigo Fértil Crescente, então se pode afirmar que pode ser uma coincidência ou então uma tradição trazida com os primeiros povoadores chegados à América. Esta última é a versão mais aceita no meio científico.

Sobre o dilúvio, parece não restar dúvidas: ele ocorreu realmente, porém, quanto a sua extensão, não se pode afirmar nada de concreto, mas segundo a arqueologia e a geologia contemporâneas, este ocorreu somente na região do Fértil Crescente, o que era, então, o mundo conhecido da época.

Mesmo não leitores da Torá judaica e/ou da Bíblia cristã, em nossa civilização, todos conhecemos algo sobre o assunto e não raro fazemos uma livre associação à arca de Noé. 

Na Bíblia, no livro do “Gênesis”, é mostrado o arrependimento de Javé em ter criado o homem, devido à maldade que este espalhara na Terra. O Todo Poderoso também erra e disto se arrepende e para se redimir de seu erro se vinga e termina com aqueles que não seguem seu script. Neste arrependimento, decide fazer um enorme dilúvio saneador dos erros das criaturas, fazendo desaparecer tudo que havia sido criado até então. Porém, decide poupar Noé, por este ter agido bem, e lhe recomenda fazer uma arca de madeira, e abrigar, junto com sua família, um casal de cada espécie existente.

E E acerca desta arca há dados incríveis (= inacreditáveis; ou que não se pode crer), como por exemplo: arca era um barco muito grande: “E desta maneira a farás: De trezentos côvados o comprimento da arca, e de cinquenta côvados a sua largura, e de trinta côvados a sua altura” (Gn 6:15) (= 135 metros de comprimento, 22,5 metros de largura e 13,5 metros de altura)

O relato fantasioso prossegue, trazido do livro dito sagrado: “Farás na arca uma janela, de um côvado a acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares, baixo, segundo e terceiro. Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a carne em que há espírito de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra expirará. Mas contigo estabelecerei a minha aliança; e entrarás na arca, tu e os teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos contigo. E de tudo o que vive, de toda a carne, dois de cada espécie, farás entrar na arca, para os conservar vivos contigo; macho e fêmea serão. Das aves conforme a sua espécie, e dos animais conforme a sua espécie, de todo o réptil da terra conforme a sua espécie, dois de cada espécie virão a ti, para os conservar em vida. E leva contigo de toda a comida que se come e ajunta-a para ti; e te será para mantimento, a ti e a eles. Assim fez Noé; conforme a tudo o que Deus lhe mandou, assim o fez” (Gn 6:16-22).

A arca, agora completa, tendo sido construída ao longo de muitos anos de acordo com o plano divino, é ocupada ao mando de Deus (Gn 7:1) pelo homem e pelos animais. Antes do início do dilúvio, Deus fecha a porta. O Todo Poderoso quer garantir que seu plano não seja violado pois, Noé poderia ser subornado por algum não eleito que depois quisesse entrar. 

A fonte de água parece sobrenatural. Agora a chuva era torrencial. Além disso, as “fontes do grande abismo” (Gn 7:11) foram abertas. A água, vinda de cima e de baixo, irrompe durante quarenta dias (Gn 7:12). As águas prevalecem durante 150 dias (Gn 7:24) sobre a terra, e, em seguida, diminuem ao longo de alguns meses. Cinco meses após o início do dilúvio, a arca pousa sobre o monte Ararat (Gn 8:4, e Gn 7:11). Leva um tempo considerável para que elas retrocedam e o solo fique seco o suficiente para se andar sobre ele. Noé e sua família passaram pouco mais de um ano dentro da arca. 

Realmente — em muitos textos tidos como sagrado ou de inspiração divina — há a trazida de tantas fantasias que mais parecem histórias da carochinha. Não há como não nos condoer dos crentes. Mais especialmente dos fundamentalistas, que creem em tudo isto.

Há tantos questionamentos que se poderia interpor: como humanos e animais foram alimentados por tão longo tempo? Os carnívoros não se alimentavam de seus pares? Como os animais de clima frio conviviam com os de clima quente (havia ar condicionado na arca)? Quando os animais deixaram a arca como se deslocaram para seus diferentes habitats?

Adito ainda uma preciosa informação para se ter uma quase anedótica cronologia: James Ussher (1581—1656) foi Arcebispo de Armagh, na Inglaterra. Baseando-se na Bíblia, escreveu o livro The Annals of the World em 1658. Neste livro, Ussher fez uma cronologia da vida na Terra baseada em estudos bíblicos e de outras fontes, de tal maneira concluiu que a criação do mundo ocorreu no domingo, 23 de outubro do ano 4004 antes de Cristo (a. C.) pelo calendário juliano. Na época, a afirmação foi amplamente aceita.

Ussher calculou as datas de outros eventos bíblicos, concluindo, por exemplo, que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso na segunda-feira, 10 de novembro 4004 a. C., e que a arca tocou no monte Ararat na quarta-feira, 5 de maio de 2348 a. C.

Aos que creem resta dizer apenas: é um milagre do Todo Poderoso (que por ter errado na produção dos humanos que criara, teve que fazer um dilúvio para dizima-los)! 


Para saber mais: A HISTÓRIA DO DILÚVIO: DILÚVIO UNIVERSAL OU LOCAL? http://www.historialivre.com/univerzo/diluvio.htm


*Jean Jacques du Chambery é doutor em Antropologia pela Sorbonne e Professor na École des Hautes Etudes de Paris. Se diz ateu, mas não faz nenhuma militância de suas não-crenças como não participa de grupos relacionado a ateísmo. Email: jjducham@cnrs.fr 


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