ANO 17*** 24/03/2023*** EDIÇÃO 2077
Na edição anterior (17MAR2023) publicou-se aqui o Lilith revisita a Terra que fora Edênica, ainda no espraiar da celebração do Dia Internacional da Mulher. Este conto, como se narrou então, está inserto em uma seleta de quatro contos, cada um acerca de um dos quatro elementos alquímicos —TERRA / ÁGUA / AR / FOGO. Houve então sugestão da publicação dos outros três contos. Acolhida a sugestão pareceu significativo contar antes o porque da Seleta e como ela se construiu. Nas edições de hoje e de 31/MAR2023 se narra o anunciado. Os textos anunciados são de 2017. Nas três primeiras edições de abril (07 / 14 / 21), se pretende cumprir a publicação dos três contos.
Recebi um atencioso convite de meu colega Márlon, da UFGO: “Oi Chassot! Escrevo para convidá-lo a escrever um CONTO, para um projeto que estou desenvolvendo: CONTOS QUÍMICOS POR QUÍMICOS CONTISTAS. [...] O tema é livre, desde que na história, apareça aspectos da química ou da ciência em qualquer nível ou forma”. Minha resposta foi quase imediata: “Salve, Márlon! Gostei do convite. Pululam ideias. Obrigado”.
Não havia exagero em minha resposta. Em meu lapkopf surgiam renovos de textos para cumprir o prometido. Há muito, brinco: mesmo não possuindo um laptop, tenho um lapkopf. Aqui, a alusão é à kopf, "cabeça" em alemão. No meu lapkopf estou, usualmente, produzindo textos ficcionais, preparando aulas ou estabelecendo sequências para uma palestra. Os textos são lançados no receptivo disco, não tão rígido do cérebro, em vigílias de um chamar o sono ou em insones madrugadas. Há períodos de fertilidade; mas há tempo, em que a imagem do solo crestado é uma metáfora adequada para a esterilidade intelectual.
Ora o solo era fértil. Por tal, surgiam propostas desafiadoras. Para fazer parceria na tese de minha, então, doutoranda Patrícia Rosinke (UFMT Sinop/MT) leio “O sagrado e o Profano” de Mircea Eliade. Isso passou a catalisar a escrita do conto prometido ao Márlon. A proposta se constituía: reunir textos acerca dos quatro elementos.
Organizaria uma seleta ou uma antologia, na acepção de coletânea de textos, em que estão coligidos extratos literários de diferentes autores. O Priberam acenava que o artefato cultural que eu pretendia produzir poderia ser chamado de um florilégio ou uma crestomatia. A primeira sugestão, eufônica, mas nada palatável a meu gosto. A segunda, cacofônica; como outra das possibilidades: analecta. Ora propor-me a fazer uma crestomatia acerca dos quatro elementos. Seria fazer fugar leitores. Ainda pior: organizar uma analecta sobre os quatro elementos.
Estava decidido. A opção dentre as cinco possibilidades ficava reduzida a duas: uma seleta ou uma antologia. Uma e outra eram nomes de capas de livros que usei enquanto aluno da educação básica. Mesmo que antologia parecesse mais sonora, figurava tender à seleta, lembrando a minha saudosa Seleta em prosa e verso de Alfredo Clemente Pinto na qual aprendi tantas fábulas, histórias e poesias.
Aqui, rende-se homenagem a Alfredo Clemente Pinto (Porto Alegre 1854 — 1938) filho do português Clemente José Pinto, escritor e político brasileiro (eleito deputado estadual, à 21ª Legislatura da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, de 1891 a 1895). Seu mérito maior foi ter sido educador. Dedicado ao magistério por mais de 40 anos, foi autor de uma famosa obra didática, utilizada por longos anos nas escolas gaúchas, intitulada Seleta em Prosa e Verso.
Sobre esta Seleta escreveu um de seus editores, quase meio século depois da morte do autor: “quando publicamos, em 1980, a 54ª edição da Seleta em Prosa e Verso, de Alfredo Clemente Pinto, fizemo-lo com a convicção de que a iniciativa seria bem recebida por todos quantos, na juventude, a tinham tido, nas escolas, como livro de texto. Mas como um livro didático que transcendia esta simples condição, de tal forma marcara todos aqueles que o leram e o relera, então, em muitos casos pelo resto da vida. Livreiro, era comum ouvirmos clientes recitarem passagens inteiras do livro que haviam lido em certos casos na distante mocidade”.
Era custoso abandonar a opção ‘antologia’ pois lembrava aquela onde decorara o soneto Deus, de Casimiro de Abreu, no qual declamava “o mar bramia erguendo o dorso altivo para o seu sereno” muito antes de eu conhecer o mar.
Há outro dado que conspirava em favor de Seleta: possuir em minha biblioteca, no setor dos ‘livros raros e preciosos’ tenho um exemplar da 46ª edição ‘consideravelmente aumentada, correta e acompanhada de muitas notas gramaticais, históricas mitológicas etc.’ da Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto ‘adotada nas aulas públicas e particulares dentro e fora do Estado’ em uma edição da Livraria Selbach, na Rua Marechal Floriano, 10 em Porto Alegre. Este precioso exemplar é de 1939, talvez a primeira edição depois da morte do autor. Não é o exemplar que foi utilizado na escola, talvez no meu 5º ano em 1950, (pois minha edição é do ano de meu nascimento), que adquiri por volta de 1970.
Depois de tanta remexida no baú marcado com a palavra ‘saudade’ estava decidido: prepararia para o livro de contos organizado pelo Márlon uma Seleta contendo contos acerca dos quatro elementos imbricados em relações entre o sagrado e o profano. Quando reli o quilométrico título, que mais se parece com uma súmula do texto que pretendo elaborar, dei-me conta que eu era no mínimo um pretensioso. Agora, restava-me procurar e selecionar contos para a dita Seleta.
Ler seu texto "mata" a saudade dos encontros presenciais. Abraço meu amigo.
ResponderExcluirSalve meu grande amigo! ou querido JC da Tabela Periódica!
ExcluirObrigado pelo teu comentário! Temos muito a falar acerca das saudades das aulas que dávamos! Agora tudo é diferente