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EDIÇÃO 1380 |
Na edição de 13AGOSTO2021 posterguei comentários
acerca do
triste retorno do Brasil ao mapa da fome em
consequência dos desmandos dos governos Temer e Bolsonaro. Busco, agora,
cumprir aquela agenda. A edição de agosto do Extraclasse —jornal mensal do Simpro RS — apresenta uma entrevista
com a economista e doutora em Saúde Pública Tereza Campello, professora
visitante da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e
titular da cátedra Josué de Castro, voltada a sistemas alimentares saudáveis e
sustentáveis.
Trago excertos da entrevista — a íntegra merece leitura em www.extraclasse.org.br — que avalia o atual quadro de insegurança alimentar que, em diferentes graus, atinge 121 milhões de brasileiros. “É um paradoxo nós sermos um grande produtor de alimentos e voltarmos à fome, mesmo expandindo a produção. O Brasil aumenta os seus lucros com a exportação de arroz e falta arroz no prato dos brasileiros. Tem o agronegócio com uma lucratividade esplendorosa e um desemprego gigantesco no país!” É importante dar-nos conta que a situação é dramática e tem que ser enfrentada. Segundo a entrevistada há dois equívocos: o primeiro deles é que, em geral, se atribui o retorno do Brasil (ao Mapa da Fome) à tragédia do coronavírus. Isso está errado.
O Brasil já tinha voltado ao Mapa da Fome em 2017, 2018, no governo Temer, por conta do desmonte e da desorganização de um conjunto de políticas públicas. A primeira medida do governo Bolsonaro foi extinguir o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar). O segundo erro crasso é tratar da fome e, ato contínuo, falar da filantropia, da solidariedade; fazer chamamentos para que a sociedade, a população, doe alimentos. Essa solidariedade, principalmente entre iguais – porque, em grande medida, tem sido prestada pela população pobre, da periferia – seja importante e deve ser louvada, nós não resolveremos nem 1% do problema da fome no Brasil, que é gigantesco, com solidariedade e filantropia. Somente políticas públicas são capazes de enfrentar uma mazela desse tamanho.
Tereza Campello afirma: Nós estamos
falando de cerca de 50 milhões de pessoas que não comem o suficiente por dia.
Que só conseguem uma refeição por dia, ou só comem arroz ou só comem farinha. É
uma Argentina inteira que precisa ser alimentada. Dessa população, 20 milhões,
provavelmente 25 milhões hoje, em situação de fome. Temos dados somente de
dezembro de 2020. Hoje, a situação deve estar bem mais grave porque passamos
praticamente quatro meses sem nenhum suporte do governo: isso não é resolvido
com filantropia e solidariedade. Somente com políticas públicas continuadas,
permanentes, com escala e com abrangência nacional.
Por que o país voltou ao Mapa da Fome? Para entender por que nós voltamos para o Mapa da Fome, há que entender por que nós saímos. Não foi natural a nossa saída do Mapa da Fome. O Brasil saiu graças a um conjunto de políticas públicas que permitiram que se enfrentasse a pobreza e a fome. A FAO lista cinco dessas políticas que foram estratégicas. A primeira delas é garantir prioridade no orçamento para essa agenda de soberania, segurança alimentar e combate à fome. Então, não é uma política, não são duas políticas. É um conjunto e o governo todo, inclusive estados e municípios, dedicados a isso. Outra questão é que o Brasil é um histórico produtor de alimentos, exporta, é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. No entanto, convivia com este país e voltou a conviver com este país que produz e exporta alimentos uma população gigantesca que passa fome. Não é por falta de potencial ou capacidade de produzir alimentos. É porque o povo não tinha acesso a esses alimentos. Acesso significa renda. Acesso significa outras formas de se chegar a esses alimentos. [...] É um grande paradoxo nós sermos um grande produtor de alimentos e voltarmos à fome, mesmo expandindo a produção. O Brasil aumenta cada vez mais os seus lucros com a exportação de arroz e falta arroz no prato dos brasileiros. Você tem o agronegócio com uma lucratividade esplendorosa e um desemprego gigantesco no país. Se tem a impressão do PIB melhorando. Mas está melhorando para quem? Somente para um setor que não gera empregos hoje e que não alimenta a população. A população não se alimenta de soja, de milho e de açúcar, que é o que, em grande medida, nós produzimos no agronegócio brasileiro. Os mais variados discursos sustentam que a economia do Brasil é salva pelo agronegócio. Quem produz a comida que os brasileiros come é agricultura familiar. Esta diferentemente do agronegócio produz empregos.
Esta edição do blogue é dedicada ao meu amigo e colega Edni Oscar Schroeder, o meu herói quando reflito acerca da segurança alimentar
Realidade contraditória e triste: mais alimento e mais fome!
ResponderExcluirAttico Chassot - de meu Professor lá dos anos 60 a Amigo até este 2021 . . . seguimos em frente. O nosso Brasil retornou a precisar de nós na Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) pelo nosso Povo! Continuamos c/os nossos compromissos!
ResponderExcluirO desmonte do Brasil, de modo oficial, não creio que seja pensado por quem ocupa o Poder. Não creio que tal criatura tenha conhecimento e pensamentos de coerência mínima para tal planejamento. Mas sua ação - e inação, dependendo da situação - assim como as absurdas defesas que faz para divulgar violência e exclusão, sem dúvida, causam terror à situação alimentar dos mais pobres num país que poderia esbanjar alimentos, se fosse pensado para todos. Não que defendamos o esbanjamento, mas é possível saciar, com largueza, as necessidades básicas que temos: comer - alimentar-se - é uma delas. Meu abraço, Áttico!
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