Lives em página |
EDIÇÃO 3711 |
As
anteriores três edições deste março foram festivas. Foram todas embaladas por
uma exótica e desconhecida palavra: Festschrift. Esta naturalmente se fez senha daquilo que anuncia na
sua desinência inicial (na verdade não uma desinência; há que lembrar que o
idioma alemão junta várias palavras: festa+escrito. Um Festschrift é melhor descrito na edição de 19FEV).
Quando
ainda bimbalhavam sinos desde a Unipampa câmpus de Uruguaiana meu mundo se
toldou enlutado. A festa de 1961*13MARÇO*2021
começara com uma referência aos milhares de brasileiros levados a óbito. Hoje,
já mais de 300 mil.
Antes
e depois da celebração de meus 60 anos de professor março era aziago e cruento.
Os mortos eram muito mais numerosos que há um ano; ...que há um mês; ...que há
uma semana; ...que ontem.
Acompanhávamos a via-sacra dolorosa percorrida pelo Licurgo: peregrinava por hospitais na busca de leito. Depois de acomodação precária e provisória conseguiu leito. Foi entubado. Os boletins diários eram animadores. Tinha-se notícia do pós-op em casa. Éramos esperança.
Na
manhã desta segunda-feira, 22 de março, esperanças se esboroaram.
Nestes
tempos pandêmicos perdera queridos colegas... muitos mesmos. Mas na manhã da segunda-feira
a morte anunciada parecia incrível. A hipótese de um fakenew não era
descartada. Triste ilusão o Prof. Dr. Licurgo Peixoto de Brito, da UFPA, com toda
sua gana de viver perdera a batalha que travava contra o Covid-19. O Licurgo
morreu.
Recebi
mensagem (automática) da Agenda Google, que à tarde ele, a Silvia (a do poema
do prelúdio do Festschrift) e eu tínhamos reunião para continuarmos a
preparação do componente curricular pressupostos epistemológicoda Ciência em
doutorado da UFPA, previsto para iniciar neste dia 5 de abril.
Dentre a centena de live que eu fiz, aquela número 68, é memorável. Tínhamos um trio no WhatsApp ‘Ciência & Religião’ que se originou quando da preparação da live de 10 de novembro e prosseguiu muito intenso. Nele mais recentemente preparava o Seminário. Agora, prossegue com a Sílvia e eu órfãos de nosso guru
O
Licurgo escreveu uma protofonia para a 8ª edição do Alfabetização científica: Questões e desafios para a Educação já no
título instiga: Sobre vidros, diamantes e alfabetização científica. Excerto deste texto está na quarta capa do
qual pinço: Como se disse antes, ele dissemina alfabetização científica
pelos muitos lugares onde passa. Se os tupis o vissem assim talvez o chamassem
de Mestreaçu [Grande Mestre].
Da
conversão do geofísico para o Professor envolvido com a Educação nas Ciência ele
escreve: Testemunho, eu
mesmo, efeitos desta obra. Quando, no início dos anos 2000, eu começava a
reunir argumentos com o intuito de apresentar, a mim mesmo, razões para deixar
a Geofísica, área em que me doutorei, para me dedicar a educação em Ciências,
tive a oportunidade de conhecer o Alfabetização Científica do Mestre Chassot.
Algumas das questões e desafios que pulsavam nas páginas eram já vivenciadas
por mim como docente, particularmente como formador de professores no interior
do Pará, e também como gestor no ensino de graduação de minha Universidade
(UFPA). Mas muitas questões apresentadas no livro eram novas para mim. No
entanto, novas ou antigas, todas foram abordadas com tal propriedade,
racionalidade e pertinência que, ao findar a leitura, eu estava plenamente
convencido que queria investir meus últimos anos de carreira docente a
pesquisar na área de Educação em Ciências.
Há
muito a contar do quanto tecemos juntos afetos de bem-querer e de espraiada admiração
mútua. Deixo de lado as atividades acadêmicas, por exemplo enquanto os dois
envolvidos na formação de doutores para a Amazônia na REAMEC/Rede Amazônica de
Educação em Ciências e Matemática ou em bancas, com estar juntos em Codó MA.
Destaco
apenas um momento de sumarenta fraternidade: em 2019 fui a Belém para pela
primeira e única vez assistir o Círio de Nazaré. Meus amigos belenense (Teresinha
e Tadeu, Conceição e Carneiro, Silvia e Luciano...) me acolheram em diferentes
momentos. Assisti parte do espetáculo com Licurgo e familiares, que ensejou
sumarenta conversação com a mãe dele.
A
doída saudade se abrandará se Licurgo existir. E ...ele existirá quando
narrarmos sua história. Tentei, um pouco, fazer isto, aqui e agora!
A Educação em Ciências na Amazônia brasileira está de luto. Triste e abrupta partida de pessoa tão querida.
ResponderExcluirO legado do grande mestre professor Licurgo jamais será esquecido, seu exemplo de ser humano como uma pessoa de humildade e sabedoria sem fim, um professor dedicado e apaixonado por desbravar os caminhos que levassem a uma formação excepcional!! Como citado sua história chegará a gerações como uma história de vida inspiradora.
ResponderExcluirQue seu legado seja lembrado com muito respeito e carinho!
ResponderExcluirSem palavras para descrever qualquer sentimento em relação a essa perda irreparável. Apenas um profundo suspiro desejando: descansa em paz, grande Mestre.
ResponderExcluirProf. Licurgo será eternizado pela sua generosidade, inteligência e compromisso com a Educação
ResponderExcluirForam em grande número, os professores que tiveram a oportunidade e o prazer de ouvir e dialogar com o grande mestre( mestreaçu) O Licurgo. Seu legado, no campo da Educação, é inestimável.
ResponderExcluirMeus sentimentos e solidariedade à perda de uma pessoa tão querida em seu meio. Que possamos acreditar em um Brasil futuro, em que outros Licurgos não sejam vítimas da ausência de políticas públicas eficazes contra males que poderiam ser minimizados pelas ações corretas, no tempo adequado.
ResponderExcluirContinuamos em choque pela perda de nosso querido amigo Licurgo. Seu entusiasmo e comprometimento, sua dedicação e imersão na área de Educação em Ciências muito me honram por tê-lo convidado a integrar o corpo docente do Mestrado em Educação em Ciências e Matemáticas, em 2000, quando começamos a compor a proposta do Programa a ser apresentado a CAPES, em 2001. Criativo, responsável, estudioso, grande pesquisador, acabou fazendo pós-doc na área, na abordagem CTS, onde se destacou. Grande saudade desse amigo-irmão. Quanta falta já está fazendo!
ResponderExcluirQue a solidariedade una esperança e indignação, abraços e rebeldia, desejos e ações que realizem nossa história como alternativa para a vida, ainda que breve mas cheia de identidade com as crenças e descrenças, pensares e sentires, tudo, porque é assim que somos sobre a superfície da Terra. Até suas entranhas, respondam outros seres que nelas existirem. Meu abraço, Chassot, caríssimo! Abraços pelo Licurgo!
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