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sexta-feira, 27 de março de 2020

27MAR2020 A semana que durou 100 dias



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 ANO 14
AGENDA 2 0 2 0
EDIÇÃO
3473
Chegamos com vida à última sexta-feira de março. Se na edição pretérita dizia que minha agenda estava derruída... imaginem hoje. A manchete da última edição: E ... o março de 2020 terminou dia 17 merece uma revisão. Aposso-me de PONTO* — excelente newsletter semanal do Brasil de Fato — e devo dizer que março não terminou dia 17.  Ao contrário, como assinala PONTO, esta semana durou cem dias. E acrescento: o dia trágico foi a memorável terça-feira, 24, quando o Presidente Messias pareceu tomado de uma diarreia mental, falou por rádio televisão para todo Brasil e além fronteiras. Em 4 minutos proferiu um conjunto de baboseiras, que me permito não evocar. Basta o envergonhamento que vivemos quando falamos com colegas de outras latitudes.
Ontem, quinta-feira, já se atualizou, quando disse algo como ‘o brasileiro é caso de estudo... se atirado ao esgoto, ele volta imunizado’. Parece que uma salutar recomendação seria sugerir que ele fizesse tal mergulho. Talvez, ele teria alguma cura.
Hoje completo meu décimo primeiro dia da quarentena, iniciado dia 17. Devo me reconhecer que fui comportado. Ou melhor: muito comportado. Furei o confinamento apenas duas vezes: dia 18, fui a uma farmácia comprar dopamina, cujo consumo é parte de minha rotina há mais de cinco anos e aproveitei para uma refeição no Manifesto, algo ora impossível. Dia 25, muito temeroso, pois havia restrições de estar em praças, atravessei o Parcão, na busca de um posto de vacinação. Soube, ao atingir minha meta, que as 400 doses disponíveis se esgotaram quase à madrugada. Na volta embalado no dia ensolarado, passei mercado Goethe 43, para comprar de frutas e verduras.
A fala insana do dia 24 encontra ressonância. À meia tarde vejo a passagem de uma carreata bradando pela abertura do comércio, dizendo que povo quer trabalhar. Há um mês, se dizia na Itália: “Milão não pode parar!”. Hoje se reconhece o erro.
Há uma semana apresentei aqui planos para os dias da quarentena: colocar em dia fazeres atrasados (Lattes, IRPF, atualizar a catalogação em minha Biblioteca…). E oferecer uma maior disponibilidade ao meus SEIS orientandos (4 mestrandos, 1 doutoranda e 1 pós-doutorando).
Dos fazeres atrasados devo conferir-me grau zero. Da disponibilidades a orientandos vou auto avaliar com 7. Acenei com uma meta muito saborosa: Ler e escrever ficção. Cada uma das ações verbais tem, respectivamente, notas sete e dois.
Cabe, ante tão parvo desempenho a pergunta: em que ocupei meu tempo? Perdi tempo com tentativa de cancelamento de viagens e agendamentos bancários.
Gastei muito tempo no WhatsApp, lendo e ouvindo mensagens. E, de uma maneira muito crítica selecionar para quem poderia (ou não) repassar determinadas mensagens. O começo quase massivo no entorno de um posicionamento, lamentavelmente, já apresenta disrupção.
Muitos de meus fazeres foram para tornar habitável meu cartuxo monastério. Concedi a D. Ceni — que duas manhãs por semana cuida de minha casa — o direito de não precisar trabalhar, por tal cuido dos jardins, colho pimentas (já houve produção e distribuição de 27 vidros com pimentas em conserva), limpo os cocôs das rolinhas que dormem na parreira do meu latifúndio. Na cozinha o sucesso não avaliado por algo que cozi, pois sou zero em cocção. Meu êxito na área e não ter nem um prato o colher por lavar. E isto eu consigo.  Afortunadamente o viver solitário não exige roupa passada, pois em pranchar sou zero.
Meus quase insignificantes fazeres desta semana de confinamento, já foram detalhados a rodo. Agora é torcer pela vida, antes de priorizar o capital. Perdas monetárias se recuperam. Vidas, não!
É apenas uma opção.
·      *
Esta edição é dedicada a PONTO* — newsletter semanal do Brasil de Fato. Para recebe-lo, gratuitamente peça para newsletter@ponto.jor.br

6 comentários:

  1. Caro Professor Chassot...
    precisava Ler algo interessante, sabia que encontraria aqui, pois também gasto muito tempo no WhatsApp, estou satisfeito agora depois da leitura na certeza que não gastei meu tempo, sou apreciador de pimentas, bom saber que está bem.
    um forte abraço!

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    1. Meu caro Jael, é muito bom receber uma mensagem como a tua. Que bom que chegaste aqui. Temos ainda saborear uma galinha caipira bem apimentada.
      Saudade de estar na UNIFESSPA recordando nossas parcerias

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  2. Caro Chassot
    Estou leitora de teu blog!

    Salve nóis!

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  3. O Mestre sempre muito coerente... o que será de nós, em meio a todo este caos e ainda atrapalhados por governante que não sabe o que fala e faz?

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  4. Vivemos tempos de "Ressignificação do Tempo". Temos a oportunidade em nos apossarmos de hábitos como: um mergulho no mundo literário...ou...um rasante no nada. Fora as 'sujeiradas' do palhaço-mor, já tão previsíveis, nosso amanhã parece a certeza de nada se saber como será. As projeções do campo da saúde nos colocam em situação de PREOCUPAÇÃO. O vírus covid-19 se faz aliado do sonho do messias do capeta: Uma sociedade anarco-capitatista, em que a República rui-se para dar lugar a uma sociabilidade da pós-política, da pós-verdade, em que Igrejas caça-níqueis e seus pastores conduzem a moralidade, as Milícias "garantem" a segurança e a organização comercial e Famílias poderosas economicamente administram pelas armas. Ele, o messias, avisou a que vinha, milhares não compreenderam...agora, tens um aliado forte, mesmo que inesperado, no momento do confronto: Ignorância x Ciência. Não importa o fim, o estrago já é perceptível. Nem mesmo o nefasto neoliberalismo de Guedes tem alguma utilidade: Covid-19 é mais eficaz. Penso que chega o momento de refletirmos sobre: Modo de Vida.
    Saudades...Vanderlei.

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