ANO
10 |
EDIÇÃO
3101
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Neste sábado, um
dos mais admirados escritores gaúchos, em artigo na Zero Hora*, traz um muito
bem argumentado em favor da canonização de Sepé Tiaraju (Redução de São Luís
Gonzaga, circa 1723 — São Gabriel, 7 de fevereiro de 1756) foi um guerreiro
indígena brasileiro, considerado santo popular e declarado "herói guarani
missioneiro rio-grandense" por lei. Chefe indígena dos Sete Povos das
Missões, liderou uma rebelião contra os dominadores portugueses e espanhóis.
Os argumentos de
Alcy Cheuche são convincentes, mas, eu desejo ratificar, aqui e agora, o que
escrevi ainda nos meus recentes dias
sinopolitanos (28/30 outubro de 2015) em direção oposta:
Recebemos (muita gente e eu) mensagem, dizendo ser da direção
nacional do MST, com pedido subscrito pelo João Pedro {Stedile} para que se
subscrevesse abaixo-assinado, pela canonização de SEPE TIARAJU, lider dos povos
guaranis, morto em combate dia 7 de fevereiro em 1756, em São Gabriel-RS A
petição está no avaaz e seu texto está adiante.
À Excia. Revma. Dom Liro Vendelino Meurer
Bispo da Diocese de Santo Ângelo, RS, Brasil
Os abaixo assinados juntam-se à petição – “Santo, ainda que
tarde” - confiando à sua sabedoria o encaminhamento da postulação e da
instauração do processo de reconhecimento da santidade de Sepé Tiaraju segundo
as normas da Igreja. Igualmente, afirmamos a importância de nosso Herói Santo
como símbolo de luta contra todas as opressões ao Povo do Brasil e América
Latina. Deve ser reconhecido como Santo pela percepção popular de que se trata
de um “santo” ao modo dos santos católicos, e de onde advém o título “São
Sepé”, também porque foi não foi vencedor, foi vítima da política dos impérios
coloniais que dominavam a América nos anos 1750. Ainda hoje é exemplo para os
lutadores e Movimentos Sociais de nosso País, pois foi líder e lutou juntamente
com seu povo. Afiançamos que a Igreja deve ir ao encontro das culturas, dos
povos e dos pobres. Apoiar a ideia da canonização de Sepé Tiaraju é confirmar a
importância das memórias históricas, fundantes para uma consciência crítica e
para termos um povo não manipulável. É hora de o povo contar a sua versão da
história e de nossa Igreja apoiar esta assertiva.
Tive dúvidas. Fiz-me indeciso. Em meio aos fazeres em Sinop,
elaborei algo no lapKopf. Passei depois do disco mole cerebral para o disco
duro do notebook. Eis minha resposta.
Nesta quinta-feira, dia 28 de outubro, em cada aeroporto que
parava, no longo deslocamento Porto Alegre/Sinop recebia mensagens que me
faziam, cada vez mais, incréu. Preocupei-me especialmente quando via nomes de
alguns signatários. Tranquilizei-me, à noite, quando constatei que havia bom
senso em alguns. Desde as primeiras mensagens tinha argumentos para NÃO assinar
a petição. Ei-los:
1) Não se pede a
canonização. Há longuíssimo processo: venerável/ beato / santo. Esse processo é
muito demorado e muito caro. Vejamos quem são dito santos pela igreja católica
romana: os pertencentes (especialmente, os fundadores) de ordens religiosas
abastadas, que têm dinheiro para contestar os óbices levantados pelo ‘advogado
do diabo’ que faz tudo para negar a petição. Quem postularia a causa? Quem
sustentaria financeiramente este processo? Não valeria mais com essa fortuna
dispendida em busca de um título nada significativo dar Educação aos povos que
têm em Sepé um mítico ancestral.
2) Admitamos que os
céus bradassem como fizeram com João Paulo II. “Santo súbito!”. Sepé Tiarajú
ficaria confortável com este título. Ser um santo indígena de uma igreja
hipócrita que também massacrou, desculturalizou e aprisionou os primeiros
habitantes desse continente que hoje chamam de América. Quereria Sepé estar
junto, por exemplo, com São José Maria Escrivá?
3) A mais radical
objeção à petição: Teria Sepé realmente existido? Não é ele mais um destes
lindos mitos que se construiu para embalar crenças? Só nesta terceira colocação
o ‘advogado do diabo’ ridiculizaria o postulador da causa.
Mesmo que tenha uma imensa admiração pelos que desencadearam a
petição, NÃO posso assinar e mais, obriguei-me mesmo, com limitações de tempo, a
justificar minha posição. Não posso me omitir.
attico chassot,
Professor, Licenciado em Química e Doutor em Ciências Humanas.
Post-Scriptum: Esta edição já estava pré-postada, quando recebi uma
mensagem de meu colega Luis Otávio Amaral da UFMG, com quem comentara ‘minha não-assinatura’
ao documento aqui assuntado, da qual transcrevo pequeno excerto:
No meio de notícia [acerca de lançamento de livro por
vaticanólogo], algo que ratifica um argumento que você usou: o altíssimo preço
de um processo de beatificação/canonização: "Sobre as beatificações e
santificações, diz o autor que são uma autêntica "máquina de fazer
dinheiro" e que por cada uma o Vaticano chega a cobrar uma média de meio
milhão de euros. Só para abrir o processo podem ser necessários 50 mil euros,
exigindo-se depois mais outros 15 mil para cobrir os custos da operação,
escreve o jornalista. Afinal, o que conta não são os milagres do futuro santo
ou beato, mas o dinheiro que isso poderá trazer à Santa Sé."
A notícia completa pode ser encontrada no endereço http://www.dn.pt/sociedade/interior/meio-milhao-de-euros-por
beatificacao-e-casas-em-roma-a-custo-zero-os-novos-pecados-do-vaticano
4871150.html
Ainda acredito em religiosidade e, sobretudo, na espiritualidade humana. Simples, generosa, transparente e pura. Daí que quando envolve cifras estratosféricas, investimento material ou paira no ambiente duvidas, muitas dúvidas, então vejo que se está longe daquela espiritualidade indígena em que a natureza e a pureza se misturavam. O evento em questão é do interesse dos povos indígenas ou da Igreja? Aquela mesma Igreja que ajudou-os a massacrar. Sei, já pediu perdão. Formalmente. Convenceu?
ResponderExcluirGrande abraço.
Muito bom dia, amigo Chassot!
ResponderExcluirRefletindo sobre sua postagem a respeito de Sepé Tiaraju, imediatamente me vi "viajando" para os tempos das vendas das indulgências.
E novamente cá estamos, quando e onde se vende e até a santidade por ser adquirida, restando que os interessados por tal declaração, tenham dinheiro suficiente.
Penso que se algumas personalidades, ocasionalmente, tivessem um encontro entre "santos", é bem possível que discordâncias e dissabores aparecessem por lá.
E pensando em Heidegger que optou pelos lenhadores e não pela universidade, escrevi o que pretendo publicar no ano que vem: os deuses conversando com os humanos em suas tavernas. No primeiro capítulo, eles explicam porque não querem participar das festividades religiosas e o que elas, para eles, significam.
Obrigado pela claríssima postagem.
Estou acompanhando.
Abraços!
Élcio
Sorocaba/SP
11/11/2015
Meu caro Chassot. Realmente há muito mais na Santa Se do que supõe nossa vã filosofia. Abraço JB
ResponderExcluirMeu caro Chassot. Realmente há muito mais na Santa Se do que supõe nossa vã filosofia. Abraço JB
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