ANO
13 |
AGENDA 2 0 1 9
www.professorchassot.pro.br
|
EDIÇÃO
3396
|
Nesse fatiar a vida em voltas que, como habitantes
do Planeta Terra, damos ao redor do sol, a cada 365 dias um evento faz aniversário...
isto para humanos e outros animais, vegetais e qualquer construto como uma
casinhola ou um complexo de arranha-céus.
Os humanos são muito dados a celebrações de completação
de voltas ao redor do sol e dentre as comemorações a mais usual é o aniversário
de nascimento. Tanto isso é senso comum, que ao perguntarmos a uma pessoa por
seu aniversário. Ela dirá seu dia natalício.
Eu tenho um aniversário que para mim é muito significativo.
No dia 13 de março de 1961 eu dei
a minha primeira aula. Desde então celebro nesse dia o meu aniversário
de ser professor. Assim, nesta semana que está a começar, completo 58 anos de
professor, iniciando então a 59ª volta ao redor do sol enquanto professor, isto
é começarei, na próxima quarta-feira, meu 59º ano letivo.
Em 2011, publiquei um livro [CHASSOT, Attico. Memórias de um professor: hologramas desde
um trem misto. Ijuí: Editora Unijuí; 501p. 2012. ISBN 978-85-7429-986-0] em comemoração aos
meus 50 anos de magistério. O livro tem 51 capítulos: um para cada ano de 1961
a 2011. Encontrei uma alternativa que se diria ser uma solução a duas circunstâncias
(Tive que me policiar para não referir um dito popular: matar dois coelhos com uma só cajadada). Como nos próximos dias
tenho falas na Unicamp; na Unipampa, câmpus de Uruguaiana, RS; na UFF, em Niterói,
RJ e na Unifesspa, em Marabá, PA, defino que as blogadas dos dias 8, 15 e 22 de
dezembro sejam frações do primeiro capítulo do Memórias de um professor: hologramas
desde um trem misto que por só ser encontrado em algum sebo justifica a
transcrição aqui.
Como a publicação do primeiro excerto ocorre no Dia Internacional da
Mulher quero homenagear todas
as mulheres na figura de minha mãe, que como se verá neste primeiro capitulo, foi
decisiva no meu ser professor. A foto é reprodução de cartaz de evento há 9
anos.
1961é o ano que começa a história de professor que quer ser central
nesse livro. Sei só agora que 1961 foi o ‘Ano Internacional da Semente’. Se der
voz a prognósticos talvez deva pensar que hoje, quando olho as dissertações e
teses que orientei, certamente quando falar delas por aqui, vou destacar aquela
acerca do milho crioulo como uma das mais significativas. Há de aparecer, ao
longo da história que começa a ser contada, minha participação nas ‘místicas’
enquanto professor dos cursos de formação de professoras e professores para
escolas de acampamentos e assentamentos do MST, quando a semente é dos ícones
mais evocados.
Nesse ano, houve duas posses em mandatos presidenciais: Jânio
Quadros e John Kennedy, cujos mandatos terminaram colapsados de maneiras
distintas, alterando Histórias que entraram também na sala de aula de um
neo-professor. Se 1957 – o Ano do Sputnik – não entra nesta história, dentro do
mesmo balizador, 1961 foi o ano que o russo Yuri Gagarin tornou-se, em abril, o
primeiro homem no espaço, pronunciando uma frase histórica: ”A Terra é Azul!”
com a primeira foto da Terra, que quase meio século depois muito usei em
palestras ao falar acerca dos cuidados com a saúde do Planeta. Menos de um mês
depois Alan B.Shepard torna-se o primeiro estadunidense no espaço. Recordo-me
que me coube, como professor de Ciências, em uma ‘hora cívica’ do Colégio – no
meu primeiro ano de magistério -- explicar a diferença entre o vôo circular do
primeiro cosmonauta e o orbital do segundo. Esta foi talvez minha primeira fala
extra-classe, dentre as inúmeras que proferi como professor.
Mas para começar a contar a história de meu fazer-me professor
retorno ao ano de 1957, quando ‘me formo’ no Ginásio São João Batista, uma
escola marista, em Montenegro. Os irmãos maristas eram mantenedores de Ginásios
em muitas cidades do interior, que eram responsáveis pela educação masculina. A
educação feminina nas escolas católicas era feita em redes mantidas por irmãs,
que no curso primário eram mistas. Há um capítulo (1983) em que falo de minha
escolarização no primário e no ginásio. Os colégios luteranos eram mistos.
Outras denominações religiosas, além de católicos e luteranos, não tinham
presença muito significativa com escolas. A existência de colégios públicos
para formação secundária era muito rara nas cidades do interior.
Aqui é preciso uma explicação. No começo da segunda metade do
século 20, concluir o curso ginasial [então havia cinco anos de curso primário
que eram sucedidos por quatro anos de curso ginasial; neste se ingressava por
um exame de admissão], especialmente no interior, era motivo de solene
formatura. Esta se realizava no melhor clube da cidade e na mesa que presidia a
solenidade se assentavam além do diretor do Ginásio, do paraninfo e dos
professores homenageados, o prefeito municipal, o vigário da paróquia e
comandante do quartel da Brigada Militar.
Formatura no curso ginasial (hoje seria terminar o ensino
fundamental) merecia até quadro de formatura, que antes de ir para o panteão da
escola ficava exposto na vitrine da principal loja da cidade, bem em frente à
praça. Não eram poucos os formandos que passavam a ostentar a partir de então
anel de grau.
Na minha formatura, além do diploma havia os que ganhavam uma
láurea por bom comportamento e em cada uma das matérias [como se chamavam as
disciplinas] havia premiação com medalhas acompanhadas de prêmios, geralmente
livros doados pela ‘forças vivas da sociedade’. Sei que recebi três medalhas –
fotografias de então mostram que uma menina, talvez de uns seis anos, finamente
vestida, trazia as medalhas em uma bandeja, assim como nas Olimpíadas – na
memorável noite de 8 de dezembro de 1957. Uma foi em canto orfeônico e recordo
ainda o comentário do diretor Irmão Luís Benício, de que eu não merecia o
prêmio, pois desafinava até o hino nacional; conquistei-o porquê a prova era
teórica e eu sabia responder as perguntas do ‘Manual de Canto Orfeônico’ de
Luiz do Rego, uma edição FTD. A outra medalha foi de latim. A terceira parece
que foi de matemática.
Nunca me esqueço, que uns anos antes de minha formatura, talvez
ainda estivesse no primário, quando o meu pai chegou de uma formatura de um
filho da D. Adolfina, viúva de um ferroviário colega dele, dizendo que gostaria
que um dia um de seus filhos se formasse no ginásio. Todos os sete fizeram
isso, quase todos se graduaram na universidade e um deles se fez doutor. Se
vivo fosse talvez contasse com orgulho, em 2002, que tinha um filho fazendo
pós-doutorado ‘no estrangeiro!’.
Neste ano de 1957, venho a Porto Alegre e faço seleção para o
curso científico do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Assim em 1958/59/60
estudo no Julinho. Destes três anos quero destacar uma data.
Nenhum comentário:
Postar um comentário