ANO
13 |
Livraria
virtual
Www.professorchassot.pro.br
|
EDIÇÃO
33668
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Esta é uma edição
para o dia da (In)dependência
deste difícil 2018. A dita semana da Pátria começou em chamas.
Senti-me incapaz de blogar sobre o dantesco episódio.
A escolha da foto
para esta edição foi complexa. Circulam na rede mais de uma centena. Esta que
retrata um heroico
pesquisador do museu salvando preciosidades, mesmo que estas representassem
apenas uma gota d'água em um oceano parece traduzir algo comovente.
Fiz um convite para
quem é autoridade em museus. Seu résumé
está ao final do texto para conferir. Pedi que fosse menos gongórico (= rebuscado).
Usualmente é desobediente. Ratificou.
Vale refletir com o
único amigo museólogo (esse ser de nossa fauna parece que carbonizou antes do Museu
Nacional) que eu tenho.
Diatribe precipitada sobre Fogo e Cinismo
Somente hienas seriam capazes de
escarnecer frente à tragédia da destruição do Museu Nacional. Vi algumas
manifestações cínicas (poucas, porém suficientes para me irritar), menoscabando
e minimizando a catástrofe com argumentos descontextualizados sobre a história
do prédio. O palácio foi completamente ressignificado trâmite as pesquisas ali
realizadas. Era espaço de emancipação intelectual e cidadã, lócus democrático de ampliação de
mundos das comunidades que ali frequentavam. Eventuais dificuldades e falhas
não invalidam sua relevância. O que vimos foi nossa história ser devorada pelo
fogo do descaso, da incúria do estado mínimo sobre o bem comum. Vimos
pesquisadores, pessoas como nós, perderem décadas de pesquisas, de vidas
inteiras dedicadas ao conhecimento. Vimos educadores perderem uma potente
ferramenta de CONSCIENTIZAÇÃO (palavra proscrita pelos esnobes neopatas do
pensamento, jacobinos epistemológicos). A todos estes solidarizo-me e
comisero-me em sua indizível dor.
Perdemos soberania, reiterando intenções imperialistas de relegar-nos ao aterro sanitário da história, quintal do mundo, tremedal da geopolítica mundial. Vimos arder em chamas o testemunho do tempo ido, e apesar de não ter sido este tempo como gostaríamos é, inescapavelmente, nossa história. Não há museu que não tenha valor social, mas este, imolado, era Opus Magnum de nossa sociedade.
Pobre povo, governado por cleptocratas, fascistas e uma elite gananciosa e ignara. Além destes, há esta mínima, porém não inofensiva, submilícia de intelectuais de gabinete, incontornavelmente condenados ao opróbrio, que faz pouco da perda é grei de ressentidos. Em sua necessidade "problematizar" o apocalipse acabam por endossar os algozes. Qual museu hão de ferretear agora estas vespinhas de Academia? Agora que morta está sua Moby Dick, podem fazer sabão com as cinzas, lavar suas mãos e vestes intemeratas e continuar a discursar em seus papers, afinal pdf é à prova de fogo. A ação é antípoda do dizer. Cessou tudo que cantava a antiga musa, pois no vácuo do ar comido pelo fogo não se propaga o som. Miserando país demente.
Entretanto, há resistência. Haverá luta. Há esperança. Viva o povo brasileiro! Vivam os Museus, todos! Viva Mnemosine e suas filhas! Viva o Clássico, o Popular, a Arte e a Ciência. Afinal, como disse Beethoven: "Somente a Arte e a Ciência elevam o homem ao nível dos deuses."
Vamos reconstruir.
Se nossa sina é empedoclesiana, sobraram as sandálias, e com elas temos um caminho a trilhar.
Perdemos soberania, reiterando intenções imperialistas de relegar-nos ao aterro sanitário da história, quintal do mundo, tremedal da geopolítica mundial. Vimos arder em chamas o testemunho do tempo ido, e apesar de não ter sido este tempo como gostaríamos é, inescapavelmente, nossa história. Não há museu que não tenha valor social, mas este, imolado, era Opus Magnum de nossa sociedade.
Pobre povo, governado por cleptocratas, fascistas e uma elite gananciosa e ignara. Além destes, há esta mínima, porém não inofensiva, submilícia de intelectuais de gabinete, incontornavelmente condenados ao opróbrio, que faz pouco da perda é grei de ressentidos. Em sua necessidade "problematizar" o apocalipse acabam por endossar os algozes. Qual museu hão de ferretear agora estas vespinhas de Academia? Agora que morta está sua Moby Dick, podem fazer sabão com as cinzas, lavar suas mãos e vestes intemeratas e continuar a discursar em seus papers, afinal pdf é à prova de fogo. A ação é antípoda do dizer. Cessou tudo que cantava a antiga musa, pois no vácuo do ar comido pelo fogo não se propaga o som. Miserando país demente.
Entretanto, há resistência. Haverá luta. Há esperança. Viva o povo brasileiro! Vivam os Museus, todos! Viva Mnemosine e suas filhas! Viva o Clássico, o Popular, a Arte e a Ciência. Afinal, como disse Beethoven: "Somente a Arte e a Ciência elevam o homem ao nível dos deuses."
Vamos reconstruir.
Se nossa sina é empedoclesiana, sobraram as sandálias, e com elas temos um caminho a trilhar.
Um desabafo do Prof. Dr. Guy
Barcellos, Acadêmico de Academia Nenhuma
Résumé oferecido pelo autor
Résumé oferecido pelo autor
Licenciado em Ciências Biológicas,
Mestre e Doutor em Educação em Ciências e Matemática pela PUCRS. Seus objetivos
na pesquisa consistem em estudos relacionados à Alfabetização Científica, à
Educação pela Pesquisa e à Divulgação de Ciências. É autor dos livros
"Manual de Implantação de Museus Escolares", "Farmacopeia Pedagógica"
e de artigos sobre alfabetização científica, epistemologia e docência, museus
escolares e bioquímica estrutural em periódicos da área e livros no campo da
Educação e da Popularização das Ciências. Ministra palestras, oficinas e
minicursos sobre implantação de museus escolares, alfabetização científica e
educar pela pesquisa em universidades, escolas e museus no Brasil e nos EUA.
Atualmente é Coordenador Pedagógico do OTROPORTO Centro de Cultura e Educação
(Pelotas/ RS) e professor-voluntário no Centro de Convívio dos Meninos do Mar -
Museu Oceanográfico - FURG (Rio Grande/ RS).
Título da dissertação de mestrado: O papel da construção-participativa de um museu de ciências na alfabetização científica dos alunos envolvidos,Ano de Obtenção: 2012.
Título da tese de doutorado: 400 Dias: subjetivações, assujeitamentos e devaneios ontológicos de um professor na escola pública, Ano de obtenção: 2017.
Título da dissertação de mestrado: O papel da construção-participativa de um museu de ciências na alfabetização científica dos alunos envolvidos,Ano de Obtenção: 2012.
Título da tese de doutorado: 400 Dias: subjetivações, assujeitamentos e devaneios ontológicos de um professor na escola pública, Ano de obtenção: 2017.
Ligação para acesso ao livro
eletrônico do "Manual de Implantação de Museus Escolares: http://files.ensinodeciencia.webnode.com.br/200001222-b4c46b6b71/2013_Barcellos_Manual%20de%20implantação%20de%20museus%20escolares.pdf
Chassot, mui caro amigo! Como se diz em Angatuba-SP, gostei por demais do desabafo do Guy Barcellos e também por ser Acadêmico de Academia Nenhuma. A mim, conferiu maior seriedade pela isenção. E, falando do conteúdo da blogada, quero destacar: argumentos descontextualizados (posturas autoritárias e despóticas gostam muito deles!); o fogo do descaso e a incúria do estado mínimo (o que me fez lembrar da minha famosa "teoria do jegue, da mula ou do burro", o que dá no mesmo); aterro sanitário da história (aqueles que a desprezam não se preocupam se um país inteiro é afundado na estupidez, desde que os privilégios de poucos sejam mantidos); vespinhas de Academia (que podem ser, por nós, espantadas até com fumaça de voto); no vácuo do ar comido pelo fogo não se propaga o som (salvo aquele gritado pelos livros, quadros, relíquias e tesouros históricos transformados em cinzas); sina empedoclesiana, sobraram as sandálias (e a tenacidade de quem busca por respostas, sem impunidade). Esclareço aos blogadores deste espaço, que os textos fora dos parênteses são do autor e que meus comentários estão entre os parêntesis. Pois bem, meu amigo Áttico! Que bela blogada pela qual tenho prazer de compartilhar comentários. À tua revolta, meu amigo, somo-me, igualmente, à tua indignação! Meu abraço solidário! Élcio
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