ANO
12 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
3315
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Reconheço-me devedor
de uma resenha. Na última edição fiz promessa aqui do excelente Tio Petros e a
Conjectura de Goldbach do escritor grego
Apostolos Doxiadis. Mas urge dar ouvido ao Poeta: “Cesse tudo que a antiga musa
cantam pois valor maior se levanta!”
Na última segunda-feira,
04/09, atendo sugestão recebida na edição de fim de semana de Zero Hora e vou no
fim da tarde à UFCSPA para participar de parte da programação do II Encontro de Educação e Humanidades nas Ciências
da Saúde: a Utilidade dos Saberes Inúteis. Sugestão que se converteu em uma noite premiadíssima.
Primeiro, retornar à
Católica de Medicina, como chamávamos a Faculdade da Santa Casa, gérmen de
cristalização da hoje viçosa “Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto
Alegre, com uma sigla quase impronunciável e nesse retorno rever amigos que há
um tempo não encontrava: Bombassaro, Maura, Alfredo...
O momento maior foi
a conferência de abertura: A utilidade
dos saberes inúteis proferida pelo cientista italiano Nuccio Ordine.
Talvez, das melhores conferências que já assisti.
Antes houve uma
série de acepipes protocolares (as falas da Reitora, da Chefe do Departamento, da
Coordenadora do evento...). Uma desta me traz surpresas e muita alegria. A
Prof. Dra. Ana Boff de Godoy, que dividia a mesa com o conferencista (foto), ao
fazer a apresentação do evento, narrou a história do mesmo, dizendo que lapso
de seis anos entre o primeiro, em 2011 e este segundo agora, se devia que o
conferencista de abertura de então — Professor Attico Chassot — apontara entre as exigências para que recém
fundada UFCSPA se constituísse plenamente em uma Universidade estava em uma muito
forte presença nas Ciências Humanas. Ressaltou que, as exigências formuladas em
2011 se vêem cumpridas, oferecendo destaque a criação do Departamento de Educação
e Humanidades. Talvez, eu não tenha sido fiel às palavras da Ana, pois me
embarguei emocionado.
A fala do Prof. Nuccio Ordine (nascido em
1958, Professor da UNICAL - Università della Calabria, Itália) foi, como já
referi, excepcional. Ele é crítico literário e conhecido internacionalmente
como árduo defensor dos saberes humanistas; seus livros estão traduzidos em
cerca de 25 países. No Brasil merecem destaque: A cabala do asno e A utilidade
dos saberes inúteis (Zahar, 2016).
Nuccio Ordine,
evidenciando uma muita densa cultura, falou sobre o tema de seu livro "A
Utilidade do Inútil" e por primeiro mostrou a um auditório lotado e
sequioso por saber quais são os saberes inúteis: nos dias atuais, parecem inúteis todos
aqueles saberes que não geram dinheiro. Eis uma situação até
bastante usual: Um aluno que termina o ensino médio de uma maneira brilhante e decide
o que quer estudar na Universidade: Filosofia ou História da arte; Língua latina
ou aprender a tocar cítara ou algo similar. Qual, interrogação mais frequente
dos pais ou dos amigos e até dos professores: Mas, por que não fazer Engenharia
ou Medicina? Filosofia e outras opções profissionais são considerados saberes
inúteis pois não garante um apreciável retorno financeiros.
O empolgado e empolgante
calabrês afirmou, repedidas vezes, não há como se comprovar a
"utilidade" das ciências humanas, porque as ciências humanas não são
palpáveis, não visam a produção de bem durável, mas o saber pelo saber: "O
utilitarismo está causando danos terríveis para as nossas vidas pessoais. Tudo
é reduzido ao valor econômico".
O conferencista
criticou a hiperespecialização dos saberes e o utilitarismo. Enfocou que saúde
e educação são os pilares de uma sociedade, que é preciso nutrir corpo e mente.
Segundo Nuccio, os governos deveriam parar de pensar a educação como uma fonte
de lucros, mas como uma fonte de desenvolvimento: "Uma população saudável
e instruída pode favorecer um crescimento econômico sustentável",
destacou.
A palestra teve
ainda a marca de ser hiperpolitizada e contextualizada especialmente nas crises
de corrupção vividas pela Itália e Brasil. Ordine referiu também que algumas
pessoas poderiam achar estranho o fato de ele, um professor de literatura,
palestrar em uma universidade da saúde. Segundo ele, não deveria ocorrer esta
estranheza, dado que os conhecimentos das diferentes áreas conversam entre si.
A leitura do livro A utilidade do inútil um oportunizará àqueles que não tiveram
o privilégio de ouvir calabrês Nuccio Ordine e usufruir as dezenas de
historietas e citações trazida na palestra. No livro elas estão mais densamente
narradas. Esta é uma sugestão que faço entusiasmado. À leitura, auguri a tuti!
Quem pode resistir ao encantamento desesperado do útil e do rentável frente ao que se considera: produtos de perfumaria? Note-se que aqui, "perfumaria" - nas palavras do Prof. Djalma, de Tatuí/SP - quer dizer do que não é imprescindível, para a compreensão do lucrativo. É com este paredão, quase intransponível, que temos nos debatido. Para que a Filosofia e a Sociologia deixassem de ser "perfumarias", como se afirmava, e se tornassem conhecimentos necessários, ao menos para os estudantes do ensino médio brasileiro, a luta árdua de conscientização, manifestações e protestos suou por mais de uma década. E então, quando conseguiu, somente em 2008, eis que novo golpe as expulsa, afinal, elas não devem ser consideradas importantes. Ao menos, é assim que nossos "Temerosos" tempos refletem uma loucura, sabiamente, construída. Se a utilidade está no aumento da conta bancária e no soldo alcançado, então, desgraçados somos - sem graça -, afinal, a vida que deveria fazer-se também, com poesia e prosa, reflexão e questionamentos, sobre todas as coisas e sobre si mesma, ergue-se a partir do que se conquista como sucesso financeiro. Se é assim, verdadeiramente, somos sem graça e transformados em criaturas inutilizadas, porque, sequer, podemos decidir. Amigo Chassot, permita-me este desabafo e, ao mesmo tempo, minha sintonia com tua blogada, como também, com a manifestação de Nuccio Ordine. Meu abraço, amigo mui caro, hoje, de Campina Grande/PB. (Obs: vai com a assinatura de minha esposa Adriana por confusão desta máquina - PC -. Mas, cá estou. ÉLCIO).
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