ANO
10 |
EDIÇÃO
3114
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Há alguns dias estou sendo alertado,
em diferentes sítios (v.g. caderno dominical PrOA de Zero Hora), para um livro
previsto para o ano novo que já se faz presentes em nossos planos. Junto-me
àqueles que aguardam o livro autobiográfico
escrito por Baquaqua. Tem sido anunciado como o único registro realizado por um
escravo. Está previsto sair pela Editora Civilização Brasileira, no primeiro
semestre de 2016.
Esta edição
sabatina (lembrando tempos que neste blogue aos sábados se publicava dicas de
leituras) se faz com uma apresentação por Bruno Véras
e Paul Lovejoy trazida da página www.baquaqua.com.br
Ele
nasceu livre. Mahommah Gardo Baquaqua, como muitos outros africanos
escravizados nas Américas, teve uma cidade natal, uma família e em alguma parte
de sua juventude sofreu com a violência da guerra. Ele foi escravizado e
exportado através do porto de escravos mais importante na África Ocidental, o
porto de Uidá (Whydah) no reino de Dahomey. Foi então enviado para o Brasil em
um tumbeiro (navio negreiro) e descarregado em uma praia no norte de Pernambuco
em 1845. Naquela época, o comércio transatlântico de escravos já era proibido
no Brasil. Logo, por lei, sua condição de escravo já seria ilegal.
Baquaqua
foi primeiro escravo de um padeiro em Pernambuco. Depois de tentar tirar sua
própria vida ele foi vendido para um capitão de navio no Rio de Janeiro, com o
qual viajou ao longo da costa brasileira, especialmente ao Rio Grande do Sul.
Durante uma viagem a Nova York em 1847, ele foi capaz de escapar da escravidão,
morando posteriormente dois anos no Haiti durante uma época de turbulência
política. Sob a proteção da American Baptist Free Mission
Society ele voltou para os Estados Unidos da América no final
de 1849 para se inscrever no New York Central College em
McGrawville, onde estudou entre 1850-53.
Como
membro de uma família muçulmana na África, Baquaqua aprendeu a escrever em
árabe e ajami. No Brasil ele aprendeu português, assim como um
pouco de francês e créole haitiano
durante os dois anos que passou no Haiti. Em Nova York ele aprendeu inglês o
suficiente para ler e escrever cartas, quando em 1854 publicou sua
autobiografia em Detroit com a ajuda de seu editor Samuel Moore.
No
período em que escreveu sua biografia, Baquaqua estava morando em
Chatham, Canada West (Ontário) que na época era um dos
principais terminais da Underground Railroad dos
EUA. No início de 1855, seis meses após a publicação de “An Interesting Narrative. Biography of Mahommah G. Baquaqua”,
ele se mudou para a Grã-Bretanha onde permaneceu até pelo menos 1857. Nós não
sabemos o que aconteceu com Baquaqua depois daquele ano. Em algumas cartas ele
havia revelado seus planos de voltar à África. Sua volta para Lagos ou o delta
do Níger parece possível.
O
relato das memórias de M. G. Baquaqua é particularmente importante como fonte
para entender a diáspora africana nas Américas e, especialmente, o Brasil onde
é um das poucas de tais narrativas. Tal como outros escritos biográficos, este
relato permite a seus leitores ver o indivíduo para além do escravizado e do
contexto da escravidão, possibilitando assim a construção de empatias e identificações
pessoais.
Mestre Chassot
ResponderExcluirAgora tambem estou curioso pela obra de Baquaqua. JB
Meu caro Jairo,
ResponderExcluiracredito que mesmo tu um historiador sabes muito pouco, como eu, acerca de como viviam aqueles que os brancos fizeram escravos tendo como definidor da situação a cor da pele.
Somos, assim, os dois expectantes da história de Baquaqua.
Entrei nesta fila agora.
ResponderExcluirTavinho
Querido Chassot,
ResponderExcluirpresto muita atenção nas suas dicas de leitura. Agradeço pela anterior do último livro de Olivier Sacks. Vou anotar esse também! Boas Festas!