Porto Alegre * Ano 5 # 1670 |
E o segundo mês do ‘ano novo’ se esvai. O fevereiro que vai para o ocaso sem carnaval. Ontem, de repente o domingo, que se anunciava ensolarado se anuviou: era a crônica de uma morte anunciada há mais de um mês: morreu Moacyr Scliar.
Talvez a pergunta que neste domingo aflorou a muitos: Por que sentimos tanto a morte de alguém que não temos como de nosso clã familiar ou no grupo de amigos? Talvez porque Scliar fizesse parte de nosso cotidiano, onde pelo menos 3 ou 4 vezes por semana tínhamos como parceiro de leitura em pelo menos dois jornais que assino. Perdemos, sim alguém que era próximo. A imortalidade do escritor fica na perenidade de suas obras. Ainda ontem, ao ouvir com entrevistas em espaço-homenagem dei-me conta quantos livros me faltam ler e há muitos que quero reler.
Não vou escrever um necrológio; a maioria dos jornais do brasileiro traz hoje muito merecidas loas. Este blogue ontem, já na madrugada, lamentava: As letras brasileiras estão enlutadas!
Talvez a nota da Presidente Dilma seja uma boa síntese para oferecer a meus leitores: “Recebi com muito pesar a notícia da morte de Moacyr Scliar, um dos mais respeitados escritores do nosso País. Integrante da Academia Brasileira de Letras desde 2003 e ganhador do prêmio Jabuti por três vezes [na verdade foram quatro1988, 1993, 2000 e 2009], Scliar foi um ícone da literatura gaúcha, brasileira e latino-americana. Com mais de 70 obras publicadas e colunista em dezenas de jornais, ele representou nossa sociedade em diversos gêneros literários, sem perder de vista sua condição de filho de imigrantes e sua formação médica. É com tristeza que nos despedimos desse mestre da nossa literatura.”
Nascido em Porto Alegre e formado em medicina, o escritor e membro da Academia Brasileira de Letras desde 2003, publicou nos mais diversos gêneros literários: romance, crônica, conto, literatura infantil e ensaio, editado em dezenas de idiomas em diferentes países. Sua obra tem forte influência nas narrativas bíblicas e na tradição judaica.
Não tive o privilégio de ter privado da intimidade de Scliar. Lembro que uma vez conversamos em uma livraria. Era tempo (1993) em que eu era diretor do Colégio Israelita. Parece-me que seu filho Beto, que neste 09 de janeiro ganhou uma das últimas crônicas em que o pai celebrava a deixada da casa paterna, pelo filho. Outra vez, em 1999, escrevia ‘Uma rapsódia prostática’ e queria citar um texto que Scliar escrevera uns dias antes da cirurgia [O estresse de não ter estresse Caderno Vida, p. 2, Zero Hora, 11/DEZ/1999]. Então ainda não havia edições eletrônicas. Escrevi-lhe uma mensagem eletrônica e ele por correio postal me enviou o texto.
Ontem ao anoitecer estive no seu velório. Os funerais judaicos impedem a visualização de corpos mortos. O esquife fechado era coberto por um pano preto, com a estrela de Davi. Fosse um ato cristão certamente veríamos o ‘imortal’ com o fardão da Academia Brasileira de Letras. A propósito, o presidente da ABL, Marcos Vinicius Vilaça afirmou: Moacyr foi um trabalhador literário incansável, um ser humano agradabilíssimo que nos vai fazer muita falta.
Voltei à pé do Palácio Farroupilha, Calculo que são cerca 2,5 km até a minha casa. Espaço-tempo propício para boas reflexões. Caminhei circunspectos pelas ruas de minha cidade. Pensei na vida. Pensei na morte.
Encerro esta blogada dedicada a Moacyr Scliar, com dois poemetos de Gustavo Dourado um poeta brasiliense, que recebi na manhã de ontem.
Moacyr Jaime Scliar: | Foi-se o mestre Moacyr: |
Mas ao lado de viver lutos, vivemos vida. O Antonio passou a noite conosco e curtimos muito o avonado. Pela manhã. Literalmente deitou e rolou comigo. Depois fomos a dois museus.
Primeiro visitamos a Mostra Panorâmica sobre Henrique Fuhro (1938–2006) no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Serviu para apreciar o trabalho de um pintor, gravador e desenhista conectado com o seu tempo e tocado por questões universais, que bebeu das mesmas influências de outros artistas brasileiros contemporâneos ligados à pop art sem deixar de construir sua iconografia de forma muito particular.
Depois visitamos a segunda edição do FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (assistíramos a primeira em 2008) no Santander Cultural.
Em sua segunda edição em Porto Alegre, apresenta trabalhos interativos, como Games, e de instalações em ambientes imersivos, nos quais o participante é convidado a interagir das maneiras mais diversas possíveis. Há mostra de filmes que tem sido desenvolvido graças aos jogos em 3D disponíveis na rede. Tais filmes, usualmente chamados machinimas ou maquinemas, podem ser tão desenvolvidos quanto os filmes realizados nas mídias convencionais, mas com baixos custos de produção e acessibilidade a todos.
Claro que a segunda atividade da manhã foi muito apreciada pelo Antônio, que tem habilidades motoras com os games que superam em muitos seus avós.
Desejo que este dia que faz a clausura de fevereiro 2011 seja o melhor. A mim está reservado o privilégio de esta manhã estrear em meias uma turma de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa. È um grupo de licenciatura em Música. Lemo-nos uma vez mais, quando for março.