TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

22.- Uma defesa de dissertação muito especial

Porto Alegre Ano 5 # 1541

A sexta-feira começa com um que pena que a eleição não é neste domingo. Nele para os gaúchos a bipolarização é outra: o grenal.

Um dia no qual pela manhã tenho 4 horas de aula no seminário de História e Filosofia da Ciência no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Almoço com meu trio ABC, num aperitivo à domingueira com filhos e netos no próximo domingo. A atividade da tarde é marca maior do dia e faz desta sexta-feira um dia muito especial.

Esta tarde ocorre a defesa de uma orientanda minha. Mesmo que lá tenha levado a término dissertações e teses de 19 mestres e 4 doutores, esta defesa é muito especial. E, não é porque chego à vigésima. Primeiro, estou quebrando um jejum desde março de 2008, quando foi a defesa do Jairo Vieira Brasil, com quem almocei, ainda, ontem. Há algo mais: é primeira conclusão que tenho no Centro Universitário Metodista do IPA. E esta ocorre, agora, por essas imperscrutáveis (man)obras do destino.

Quando a 02 de julho faleceu, quase subitamente, o Prof. Dr. Atos Falkenbach (1968-2010), coube-me por decisão do colegiado do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão assumir quatro de seus orientandos. Digo que me fiz padrasto de quatro mestrandos, que estavam muito bem orientados e de maneira súbita, devem trocar de orientador. Os trabalhos estavam em adiantamentos diferenciados pelo tempo de curso. Hoje defende sua dissertação a Ana Elizabeth Kautzmann. Ela é uma competente enfermeira que reside e trabalha em Santa Cruz do Sul. Fazem parte da Banca a Profa. Dra. Luciane Wagner (IPA) e Prof. Dr. Ygor Arzeno Ferrão da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

No quatro está o título e o resumo de seu trabalho, que em julho já estava bastante adiantado.

O profissional da saúde diante do nascimento de crianças com deficiência: o caso dos profissionais do CTI Neonatal do Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre.

Esta dissertação de Mestrado trata da questão de profissionais da área da saúde, enfermeiros e médicos, do Centro de Terapia Intensiva (CTI) Neonatal do Hospital Mãe de Deus quando do nascimento de crianças com deficiências. O objetivo da mesma foi analisar como estes profissionais avaliam sua formação profissional em relação ao atendimento de crianças com deficiências e como reagiram diante do diagnóstico e/ou nascimento das mesmas, descrevendo suas percepções e analisando como os mesmos avaliaram sua interação/orientação com os pais após o diagnóstico da deficiência dos filhos. Trata-se de um estudo qualitativo, com a utilização de entrevistas semiestruturadas. As narrativas dos participantes foram analisadas e interpretadas a partir das informações obtidas com as entrevistas e o referencial teórico sobre o assunto. Os entrevistados referiram que durante sua formação acadêmica o assunto do atendimento a crianças nascidas com deficiências e também a interação com as famílias destas foi pouco ou quase nada abordado. Também relataram seus sentimentos em relação ao assunto, demonstrando que superaram, com observação crítica e bom senso, as dificuldades que apareceram quando tiveram que atender a estas crianças e seus pais. Com este estudo pode-se recomendar que as escolas que preparam enfermeiros e médicos incluam em seus currículos a questão da deficiência como assunto que se apresenta cada vez mais atual e necessário para que crianças com diagnóstico de deficiência e seus pais possam ser mais bem atendidos e orientados e que também os profissionais da saúde possam prestar um atendimento profissional mais qualificado.

Qualquer leitor que conhece um pouco minha história profissional há de enxergar-me distante do tema de pesquisa. Ainda nesta semana, no afã de dar continuidade a um livro que preparo para celebrar, no ano próximo, meus 50 anos de professor. Ao fazer a contextualização do ano de 1981, vi que este fora proclamado o Ano Internacional dos Deficientes pelas Nações Unidas. O objetivo era chamar as atenções para a criação de planos de ação­­­, na tentativa de dar ênfase à igualdade de oportunidades, reabilitação e prevenção de deficiências. O lema deste ano foi "participação e igualdade plenas", o qual foi definido como um direito das pessoas com deficiência, a fim de que elas possam viver de maneira completa, ter parte ativa no desenvolvimento das suas sociedades, tirar proveito das suas condições de vida de modo equivalente a todos os outros cidadãos e ter direito à sua parte no que diz respeito às melhorias das condições que resultam do desenvolvimento socioeconômico.

Devo confessar que não evocava nada disto que a Wikipédia me recorda já passados 30 anos. Mas, agora me vejo, já há mais de três anos envolvido na temática da inclusão. Como professor do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão e também como colaborador do Mestrado Acadêmico de Biociências e Reabilitação no Centro Universitário Metodista do IPA passei a me envolver em estudos de assuntos nunca antes imaginados. Quando observo o meu atual espectro profissional de orientandos [dos meus atuais oito: dois são Educadores Físicos, duas Psicólogas, uma Administradora, uma Enfermeira, uma Pedagoga e um Terapeuta Ocupacional] dou-me conta do quanto primeiro eu tenha que me fazer incluído.

Parece não haver dúvidas o quanto o registro desta defesa é importante. Mais que reconhecer, aqui, o mérito da Ana Elizabeth, que é daquelas orientandas que todos desejamos (laboriosa e de escritura polida) devo assinalar que rendo uma comovida homenagem ao Atos. Foi difícil sucedê-lo. Muitas vezes me perguntei: Como será que o Atos orientaria isso? Mas paira uma convicção de que tudo que fiz e faço com seu legado, ele aprovaria.

Com votos de uma boa sexta-feira um convite: fruam a fica de leitura de amanhã. Até lá.

6 comentários:

  1. Meu caro Mestre Chassot! Emocionante o que relatas de herdar os orientandos de seu colega Prof. Atos. Tenho a certeza de que cumpriras com extrema amabilidade o papel antes desempenhado pelo orientador que se foi. Quanto ao almoço de ontem, fiquei bastante contente por ter a oportunidade de conversarmos algumas amenidades (Gre-Nal, Política, Educaçao) e outros assuntos que nos fazem mais próximos. Hoje recebi convite para ministrar aula em Goiania. Parece que estou conseguindo seguir alguns passos de meu Mestre. Abraço do JB

    ResponderExcluir
  2. Meu caro Jairo,
    vibro com o convite que recebeste de Goiânia. Tua preocupação com a formação de técnicos te dá merecidas credenciais para tal. Nosso almoço estava supimpa e agora torcer para que nos dois próximos domingos de azul e vermelho respectivamente.
    A minha defesa de estreia no Centro Universitário Metodista do IPA, quebrando um jejum desde a tua, foi muito boa.
    Desejo a ti, a tua esposa e tua filha um estada porteña muito curtida.
    attico chassot

    ResponderExcluir
  3. A minha noite se esvai..entro na madrugada de 26/10 perdida entre livros e artigos sobre História e filosofia da ciência, ansiosa para apresentação de um seminário nessa referida temática e muito cansada me deparei nesse Blog para assim distrair-me.
    Me deparo com esse emocionante relato, o qual me inspirou ainda mais para seguir o que escolhi para minha vida: Educar e carregar no meu peito o orgulho de educar..

    ResponderExcluir
  4. Muito estimada Verena,
    que bom que i relato da defesa da Ana foi um bom catalisador de tua madrugada envolta na História e Filosofia da Ciência. Fazer Educação é algo que me traz a Chapecó, numa madrugada que tem os mesmos objetivos que os teu.
    Depois de sete horas de ônibus um afago do
    attico chassot

    ResponderExcluir
  5. Querido Chassot,
    Como uma boa discípula sempre me inspiro nos seus dizeres..rs
    Recém-formada e uma humilde caloura de mestrado da UnB estou sempre me inspirando nas entrelinhas dos seus escritos..estes se traduzem para mim sempre como uma fonte de saber e de ensinamentos.
    Os seus ensinamentos...tanto da parte academica como também da vida fora dos muros da universidade muito me acrescentam.

    ResponderExcluir
  6. Muito querida Verenna,
    É muito bom tê-la como parceira intelectual.
    Um afago do
    attico chassot

    ResponderExcluir