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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

UMA LIVE MUDA UMA VIDA

ANO 16  ***28/12/2022 ***   EDIÇÃO 2030

Algo inserto, de maneira imprevista no recesso, foi elaborar o relatório do terceiro ano (2021) da bolsa CAPES de Professor Visitante Nacional Sênior na Amazônia (PVNS-Amazônia). A tarefa era árdua. Busquei os relatórios do primeiro (2019) e segundo ano (2020). Então uma constatação: no primeiro ano não existe nenhuma menção à palavra live. No segundo, esta mesma palavra aparece como uma mega-estrela. Este novismo já marca o relatório de 2020, especialmente ao narrar o significado de uma data 13MAIO2020. Então, saboreava minha primeira live. Eu atendia convite da III Semana de Química da Universidade Federal do Cariri, câmpus Brejo Santo: transformar a palestra que fora agendada como presencial em uma fala virtual. Acolho o convite sem qualquer preocupação. Com muita antecipação envio a apresentação. Sou despreocupado. Cumpriria uma rotina... apenas quebrando um jejum de dois meses de vacuidade de aulas ou palestras. À véspera parece que cai a ficha (metáfora que nos remete a algo agora démodé: quando num orelhão ouvíamos cair a ficha se estabelecia a ligação). Agora, estou mais mexido.

Chega a quarta-feira. À madrugada insone. Tenho a sensação que estarei em Brejo Santo de maneira presencial. Nego à pandemia a autoridade de nos transmutar em seres virtuais. O dia se esparrama imenso.Tentava fazer de uma porção de minha biblioteca lócus que me permitisse estando aqui... estar lá. Tudo parecia exótico. O horário aprazado — 18 horas — não chegava nunca. Depois de dezenas de minutos, que pareceram horas, chego ao Cariri. Sinto-me um alienígena. 

Então uma sensação inusual: chegam comigo à UFCA mulheres e homens de todo Brasil. Foi uma sensação fantástica ‘ver’ conhecidos e desconhecidos, que identificavam sua pertença a Universidades e a Institutos Federais de todo Brasil.  Mais de meio milhar. Então não era mais um alienígena. Era, agora, um indígena na minha tribo. E logo me dizia ter vivido minha primeira live.

Lanço redes na internet e ratifico sensações: a
livecização deu certo. Mas agora o 'gostinho' se tornou uma nova realidade e as lives fizeram, então, diferente o meu fazer Educação, já de quase 60 anos. 

Na tabela que segue, se pode observar que em maio, depois da live inaugural, houve mais três. Já em junho, julho e agosto houve 12, 14 e 15. Terminava o pandêmico 2020 com 88 lives realizadas. Os números da terceira linha são os subtotais de cada um dos meses. Em 2020 a média mensal é 11. 

JAN

FEV

MAR

ABR

MAI

JUN

JUL

AGO

SET

OUT

NOV

DEZ

00

00

00

00

04

12

14

15

09

11

14

09

00

00

00

00

04

16

30

45

54

65

79

(88)

 

Na tabela seguinte estão os números das 75 lives (e os subtotais) em 2021:

JAN

FEV

MAR

ABR

MAI

JUN

JUL

AGO

SET

OUT

NOV

DEZ

01

03

09

04

04

08

04

08

10

06

08

10

89

92

101

105

109

117

121

129

139

145

153

163

A média mensal em 2021 ficou em 6,2. Isto é quase metade da média mensal de 2020. Parece não ser difícil explicar a redução de 11 para 6,2: primeiro os três meses (Jan/Fev/Jul) usuais de férias. Em 2020 as lives eram novidades e havia muitas ofertas (de muitos nomes famosos). Também posso referir que 2020 os meus títulos solicitados ficam disponibilizados em dois canais no YouTube. Estas lives podem ser acessadas, a qualquer dia e hora, para visualizações individuais ou para uma aula. Sei que parece ser diferente estar sendo assistido ao vivo ou em uma gravação. Isto vale para quem assiste e para quem fala. Eu recordo pelo menos uma ou duas vezes, em um mega-congresso, gravei minha fala só com uma pessoa da área técnica; a palestra depois assistida por mais de 1200 pessoas. Para mim teve diferença, pois parece ser diferente.

Contar em 31/12/2021, com 163 lives realizadas em 20 meses (cerca de 8 lives por mês ou duas por semana) é uma contribuição significativa na formação de homens e mulheres mais críticos, envolvidos na construção de um Planeta Terra mais justo.  Para plasmar este propósito trago, como prefácio e posfácio de todas as lives que participo, excertos da encíclica Encíclica Laudato Si'  que se fazem como antídoto a políticas ambientalistas, que são agressivas aos cuidados necessários do Planeta Terra, nossa casa comum.  

Qual a situação em 2022? Nesta segunda-feira, encerro janeiro com Zero lives. Vivo uma abstinência que me faz saudoso. Credito a meu recesso (de 18DEZ a 16JAN) e, mais especialmente, a tradição de janeiros feriais. 

Na terça-feira, 01FEV se reinauguram as ‘minhas’ lives: ‘estarei’ em Guaratinguetá, na EE Joaquim Vilela de Oliveira Marcondes, discutindo Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Para um reinício de recuperar saudades, terei mais duas lives, na primeira semana de fevereiro: na quinta-feira, dia 3, falo desde a Universidade Federal de Viçosa, no Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Formação de Profissionais da Educação (GEPPFOR) para dialogar com a Prof. Dra. Rita Márcia Andrade Vaz de Mello sobre Para que(m) é útil o ensino? título do livro que narra minha tese doutoral. Na quinta-feira, dia 3, na Universidade Federal de São Paulo, em Diadema dialogarei com o Prof. Dr. Thiago Antunes de Souza, acerca da defesa de uma Alfabetização científica: direito universal.

Numa agenda ainda em construção (e com disponibilidade), neste fevereiro ainda estarei no IFMG no Campus de São João Evangelista, na abertura do III Colóquio de Ensino e Tecnologias Educacionais propondo uma  Alfabetização científica pré-requisitada por alfabetização digital um direito Universal.

Que tenhamos muitas lives com muitos interrogantes. Estou em oitiva, expectante.



sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

AGORA UMA ÁGORA RETORNA ANO 16 ***21/01/2022 *** EDIÇÃO 2029

Nosso último encontro, aqui, foi em 17 de dezembro, quando 2021 já avançava célere à reta final. Prometia-me férias até 17 de janeiro. Embalava sonhos nos reencontros familiares. Era tempos de fruição, para pensar em paradas para descansos. A agenda de lives se reinicia apenas em 01 de fevereiro. 

Em 18/12, reuni na Morada dos Afagos, depois de mais de dois anos, filhas, filhos, noras, genros, 4 netas e 4 netos. Foi um sábado memorável. Nas luminosas noites de 24 e 31 de dezembro aquietei-me para guardar distanciamentos para fazer abstinência do Covid-19.

Os dias planejados para vagabundear foram traspassados por onerosa semana dada a fazer o relatório do 3o ano como Professor Visitante Nacional Sênior no Programa de Pós Graduação de Educação em Ciências e Matemática (PPGECM) na UNIFESSPA e também propostas de ações para um 4o ano.

Se em março de 2020 dizia, aqui, que deveria aprender a chorar, hoje posso dizer que não aprendemos o suficiente. Houve/há muitos mortos a chorar. E não aprendemos nunca a chorar. Já disse que há duas dimensões de perdas: as familiares e as acadêmicas. Quando nossa ágora estava silenciada, houve três perdas daquelas da segunda dimensão. Trago-as aqui menos pela dimensão universal, mas mais pela dimensão pessoal.  Aquelas tiveram adequados comentários. As dimensões pessoais são trazidas porque adensam saudades. Optei pela ordem cronológica.

Lya Luft (1938-2021) nasceu em Santa Cruz do Sul, de descendência alemã, e faleceu em Porto Alegre. Tradutora e escritora de renome. Conheci Celso Pedro Luft, enquanto Irmão Arnulfo, marista. Parece que CPL deve ter sido da última ‘safra’ de membros de diversas ordens religiosas católicas que trocavam os nomes civis por nomes religiosos (e, com o Vaticano 2o retornavam aos nomes civis). Fui colega do casal LL & CPL na FAPA, onde na sala dos professores, comentávamos as crônicas semanais acerca do mundo das palavras. Depois dos anos setenta não tive mais contatos pessoais com uma ou outro.

Amadeu
Thiago de Mello (Barreirinha, 30/03/1926Manaus, 14/01/2022) foi um poeta e tradutor brasileiro. Foi considerado um dos poetas mais influentes e respeitados no país, reconhecido como um ícone da literatura regional. Talvez seu texto-ícone seja o poema o Estatuto do Homem, que serviu de mote na instalação da assembleia parlamentar que gerou a Constituição de 1988. Muito atual nestes penosos tempos pandêmicos. Meu momento pessoal é singular. Numa viagem Manaus/Guarulhos, Thiago Mello e eu estávamos assentados, lado a lado, em poltronas da primeira fila. Nos apresentamos e a conversação se fez madrugada. Ele escreveu no meu diário e convidou para visitar sua casa em Barreirinha. Foi um dos melhores presentes do acaso. 

EUCLIDES REDIN (1939 /2022) Nesta segunda-feira, dia 17, morreu o Mestre em Educação pela PUC/RJ (1975) e doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP (1985). Foi professor titular da UNIJUÌ/RS; da UFV/MG; da UNISINOS/RS. Com expertise na área de Educação atuou com temas: Infância, História da Criança, Educação Infantil, Políticas para a Infância, Ludicidade e Infância, Cidadania e Educação, Cidade educadora; Gestão e Orientação Educacional. Artigos publicados em revistas, jornais e livros. Autor do livro: “O espaço e o tempo da criança-se der tempo a gente brinca”, 5ª Edição, Editora Mediação Porto Alegre (2004). Era marcadamente o professor das crianças. Minha ligação com o Redin foi muito densa. Primeiro, éramos coetâneos, isso sempre faz laços. Segundo, por mais de 10 anos, nossas salas eram geminadas no Programa de Pós-graduação em Educação; isso determinava saberes partilhados. E em terceiro lugar: éramos parceiros políticos; isso nos autorizava entre-ajudas em nossas ações. Vez ou outra, ele e sua companheira Marita, minha colega no curso de pedagogia, me convidavam para irmos  a casa deles para almoçar. Ele, que fora padre, dizia que eu era o ateu mais religioso que conhecia. É fácil imaginar a tristeza que me fez encharcar a noite quente desta segunda-feira. 

Penso nos muitos colegas que perdemos nessa pandemia. Eles farão muita falta quando voltarmos a povoar as salas de professores, por ora fechadas.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

UMA EDIÇÃO PARA DESPEDIR 2021 ANO 16 ******* EDIÇÃO 2028

 Dezembro já vai à reta final. Este dezembro não é diferente de outros dezembros. Sempre mês que passa voando… no qual nunca tem lugar em nossas agendas. É um mês de  embalar sonhos de reencontros familiares e também de pensar em paradas para descansos.  

Neste dezembro já vivemos tristezas. Na edição passada eu compartilhei em um blogar um desejo de voltar a fazer um estágio-residência na Escola  Nacional de Ensino Médio do Sesc, repetindo meu estar ali em outras oportunidades. Esse sonho se esboroou. Cerca da metade dos professores foram demitidos esta semana. A escola deixará de ter alunos residentes para se transformar em uma escola só com alunos externos. Ao invés de uma escola com alunos de todas as unidades da federação só terá alunos do Rio de Janeiro. Não é fácil ver uma das pérolas educacionais ser dilapidada, na submissão ao deus Mercado. 

Neste  dezembro já houve saborosas partições do conhecimento: ‘voltei’ à Estação Jacuí, à escola onde há 74 anos fui alfabetizado para falar aos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental acerca da alfabetização científica. Estive em Porto Seguro para falar sobre o mesmo assunto na Universidade Federal do Sul da Bahia. No Instituto Federal do Rio de Janeiro, no Campus de Duque de Caxias, respondi mais uma vez a questão: a ciência é masculina? No Instituto Federal Goiano, em Urutaí, falei acerca de diferentes óculos para contemplar o mundo. Ontem,  à tarde, estive mais uma vez na Universidade Estadual do Amapá onde mostrei o quanto a alfabetização digital é requisito para uma assemblage de múltiplas alfabetizações.

A super quinta-feira, 16/12 teve ainda dois momentos significativos, um pela manhã e outro à noite. Primeiro refiro este: Miguel Nicolelis apresentou aula-show "O Verdadeiro Criador de Tudo - Como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos". O prestigiado cientista brasileiro diz que o nosso cérebro é como um camaleão e conforme nossa relação com os sistemas digitais, ele pode mudar sua configuração em sua forma de perceber e sentir o mundo, de se comunicar. Edu Moreira sabendo do quilate de seu convidado soube vender o Instituto Conhecimento Liberta.

Na amanhã de quinta-feira ocorreu o evento heliocêntrico (para mim): o exame de qualificação da Doutoranda Uiara Mendes Ferraz de Pinho, Professora Instituto Federal no Campus de Xapuri  e minha orientanda na Reamec. A tese doutoral "A escrita de si: narrativas sobre trajetórias formativas, singularidades e experiências de docentes orientadores que formam doutores para área de Educação em Ciências e Matemática" foi examinada e aprovada por arguta banca formada por Daniel Aldo Soares (IFG),  Silvia Nogueira Chaves (UFPA), Evandro Ghedin (UFAM) e Terezinha Valim Gonçalves ( UFPA).


Neste mês de dezembro houve duas saídas diferentes daquelas 5 saídas semanais para a academia. Fiz uma visita (o momento é tão afetuoso que não refiro como consulta) ao meu cardiologista ele disse, em brincadeira, que poderia marcar a próxima consulta para daqui a 20 anos. Outra saída foi ir ao banco fazer prova de vida.  Aproveitei para cortar o cabelo. Ainda uma dádiva desse dezembro: tenho realizado algumas vindimas. As  uvas embaladas em caixa para 3 ou 4 cachos se faz mimos para obsequiar amigos.  

 Amanhã, viverei um momento muito especial: receberei minhas filhas e meus filhos, meus 4 netos, 4 netas, noras e genros.  Há os que não encontro há quase dois anos, tempo que para alguns corresponde a um quarto de suas vidas. Há sobejas razões para viver com encantamentos a expectativa deste momento.

Esta postagem marca o início de um recesso que deve se estender até 17 de janeiro. O blogue não circulará então. Honrarei o compromisso da participação em uma banca no dia 20/01/2022 no IFES.

Desejo agradecer às leitoras e aos leitores a parceria nas 49 edições de 2021. Sonho que 2022 tenhamos edições nas quais não precisemos gastar pólvora em chimango. Este ano tal foi recorrente. Adito aqui e agora votos de muitas alegrias nos dias festivos que advêm. Nos leremos, já com saudades, em dias que são próximos. Até, então!


sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

UM SONHO QUE SE ESBOROA ***** ANO16 **** EDIÇÃO 2027

Quando se lamenta os descalabros do governo da República, de maneira especial nas áreas da Educação, da Saúde e do Meio Ambiente, nos referimos ao que se faz e também ao que não se faz nestas áreas nestes  tempos pandêmicos.  Há que lembrar que existe uma grande destruição de ganhos históricos, principalmente na área da Educação. É doloroso reconhecer que conquistas significativas são simplesmente destruídas. Trago um exemplo: na última edição do mês de novembro deste  blogue comentava um sonho que transcrevo “Ontem recebi, enviado pelos meus colegas Gustavo e Frederico, da Escola de Ensino Médio Sesc Rio de Janeiro, o livro Aula núcleo de Ciências da natureza: espaço de inovação, diálogos e práticas interdisciplinares. Se diz, em uma dedicatória: sua produção é uma inspiração. Acompanhava o livro uma camiseta do caminho das Ciências, no qual figuro. Estes mimos só ajudam a querer bisar a residência que fiz em tempos pré-pandêmicos. Agora pensaria em um mês e não uma semana, como antes.”


Parece que sonhar está proibido. Meu desejo em re
petir um estágio-residência na Escola de Ensino Médio SESC se esboroou (pelo menos por ora).  Antes de relatar o catalisador de sumidouros de sonhos vou reavivar relatos mais de uma vez presentes neste blogue acerca da mais preciosa pérola educacional que eu conheço.

Em novembro de 2017 recebi um convite para participar de um seminário com o instigante título: Expansão de Fronteiras para a Educação Científica. Aceitei. Em uma segunda-feira de agosto de 2018 tive o privilégio pela manhã e pela tarde, conhecer um pouco a  Escola Nacional de  Médio. Voltei em 2019 e então por uma semana vivi uma experiência educacional me fez desejar submergir ainda mais na  Escola Sesc de Ensino Médio. Ela  se caracteriza por oferecer uma educação efetivamente integral para uma comunidade de alunos e alunas que representa a vasta diversidade cultural brasileira. Os estudantes vêm de todos os estados do Brasil (selecionados dentro da cota de vagas para cada uma das 27 unidades da federação, para formar, juntamente com a equipe de educadores, uma comunidade de aprendizagem. Instalada em um campus de 131 mil metros quadrados em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. A instituição conta com uma privilegiada estrutura de ensino, com Espaço Cultural, laboratórios, biblioteca, ateliês de arte, complexo esportivo, restaurante, além das vilas residenciais para quase 500 alunos e alunas dos três anos do Ensino Médio. Dos cerca de 80 professores, a metade mora em vilas especiais para professores no campus. As salas de aula foram projetadas para atender até 15 estudantes. Estudar na Escola Sesc de Ensino Médio confere a todos os alunos e alunas direito ao material pedagógico (incluindo um notebook), uniformes, moradia, alimentação, assistência médica e odontológica. 

A oportunidade de viver a experiência da residência é uma das faces mais ricas do projeto da Escola Sesc de Ensino Médio. Viver como residente traz a possibilidade do profundo desenvolvimento da autonomia, estimula trocas entre jovens oriundos de todas as regiões do país, aproxima professores e alunos, e permite a construção de valores de cidadania. O principal objetivo da Escola é a efetiva transformação da vida dos jovens, que se desenvolvem sob todos os pontos de vista e concluem o Ensino Médio prontos para seus projetos de vida. 

Menos do que narrar palestra e os aplausos a mesma ou os sedutores convites para integrar o corpo docente da Escola, queria responder a uma pergunta natural: quando universidades, institutos federais e escolas públicas rede das diferentes esferas então à míngua de onde vem essa abundância de recursos para esta Escola? A resposta é fácil! Milhões de empregados no comércio (e em serviços assemelhados) descontam uma vez ao ano 1% da contribuição previdenciária que se destina a organizações do sistema S (Sesi, Sesc,Senar...). A Escola de Ensino Médio do Rio de Janeiro é um dos exemplos dos muitos que se poderia fazer aumentando o número de escolas do Sesc para todos os Estados da Federação. O exemplo de uma Educação gratuita e de qualidade destinada a estudantes do ensino médio oriundos de famílias cuja renda não é maior que três salários mínimos deve frutificar.

 Mas porque tudo isso corre o risco de esboroar-se? Transcrevo apenas dois parágrafos de boletim do SINPRO RJ*: Por conta de uma "mudança no plano de negócios" proposta pela Direção Nacional do SESC, a Escola Sesc de Ensino Médio está executando um processo demissional de seus professores e professoras, o que fez com que o Sinpro-Rio convocasse a categoria docente para assembleia.

Já foi apresentada à direção da instituição a pauta de reivindicações da categoria, que não foi atendida nem debatida, de forma objetiva, em mesa de negociação do sindicato com a  instituição. Os/as professores/as já estão com suas atividades pedagógicas suspensas, por deliberação da assembleia, e decidiram que continuarão assim até obterem uma resposta clara do SESC sobre o processo demissionário e sobre a existência futura da instituição". Mudanças nos “negócios” da mercadoria Educação para fazê-la mais palatável aos mercadores é a meta. Parece não se saber o que se quer destruir. Vender é preciso.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

PREITO A MARCELO AQUINO **** ANO 16 ** EDIÇÃO 2026

A vida é formada por alegrias e por tristezas. Parece ser natural que umas e outras se equilibrem / alternem dando ao viver múltiplas situações. Vez ou outra,  as alegrias são tantas que nos encharcamos nelas e não conseguimos fruí-las como seria mais aprazível. No outro lado da mesma moeda, não raro, agrandamos tanto as tristezas que quase anunciamos estarmos a naufragar.

À madrugada de terça-feira, recebi duas notícias: uma muito triste e outra muito boa. Durante a sessão da academia não conseguia responder às repetidas perguntas da Márcia, a Personal Trainer: aonde o senhor está viajando, agora? Eu procurava, com a alegria que me dava a carta do Padre Marcelo, expulsar a imensa tristeza que a morte de Sofia, 12 anos, colhida por um caminhão ao voltar para casa de bicicleta desde o centro de Igrejinha. Minutos antes, Sofia dera tchau para a minha neta Maria Clara, com quem passara a tarde. Pensava como os netos Carolina e Pedro vivem esta perda dolorosa e inédita em suas infâncias.

Já muito aprendemos a chorar nestes tempos pandêmicos. Chorei, choro com meus netos pela dor dos pais que na terça-feira sepultaram Sofia no cemitério próximo à Escola, onde ela assistira aula no dia anterior. Esqueçamos momentaneamente as tristezas. Estas, como as alegrias são, de maneira geral, incomensuráveis. 


Sem comparar alegrias com tristezas, foi oportuno memorar ofício assinado pelo  Padre Marcelo  Aquino, Reitor da Unisinos: São Leopoldo, 29 de novembro de 2021. Ilmo. Sr. Alan Coelho Chefe do Cerimonial Palácio do Itamaraty, Prezado Senhor: Fiquei agradavelmente surpreendido pela admissão de meu nome no quadro suplementar dos cidadãos a serem agraciados com a honrosas insígnia do grau de Cavaleiro da Ordem de Rio Branco, conforme decreto publicado no Diário Oficial da União no dia 26 de novembro. Reconheço a legitimidade e importância desta prestigiosa honraria da República E ser lembrado pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Conselho da Ordem de Rio Branco -- prestigiosas instituições brasileiras --, me deixou muito honrado. Apesar disso, declino de receber esta condecoração, em virtude da atual incapacidade do Governo Federal de dar rumo correto para as políticas públicas para as áreas de Educação, Saúde, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia. Respeitosamente Prof. Dr. Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, Reitor. Nada a aditar. Feitos como este do Padre Marcelo são verdadeiros bálsamos que parecem higienizar nossas mentes dos fétidos fazeres do governo da República.

Enviei na terça-feira esta mensagem: Muito querido Padre Marcelo! Suma cum laude. A notícia presente em dezenas de meios de comunicação me fez muito feliz! Que ato revestido de dignidade este teu! Que bom poder dizer: ele é meu amigo. Com espraiada admiração. Embalei reminiscências. Cevei saudades. Evoquei alunos e colegas. Recordei momentos singulares do meu ser professor.

Minha história com a Unisinos é longa e distante; em 1965 e 1966 fui professor de Química Geral do Departamento de História Natural da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, unidade seminal que gerou em 31/07/1969 – dia de Santo Inácio de Loyola – a Unisinos. As aulas então eram no que hoje se denomina de Antiga Sede, no centro de São Leopoldo, próximo ao rio, em um prédio com aspecto de  um claustro interno. Não lembro muito destes meus dois primeiros anos, fazendo a estreia como professor universitário, sendo que em 1965 ainda estava no último ano da licenciatura em Química. Recordo que quando vi meu nome entre os professores do Curso de História Natural, fiquei muito orgulhoso.

Volto à Unisinos como professor, 30 anos depois, em agosto de 1995 por concurso público para o Programa de Pós-Graduação Educação. Permaneço por 25 semestres. Há uma coincidência: no primeiro e no último semestre de Unisinos: no primeiro (1995/2): sou professor simultaneamente da Universidade Luterana do Brasil – Ulbra e no último de Unisinos (2008/2) também sou professor do Centro Universitário Metodista – IPA 

Enquanto professor do Centro de Ciências Humanas, lecionei  Introdução à Filosofia da Ciência no Centro de Ciência Econômicas e Metodologia de Ensino de Ciências no curso de Pedagogia. Desenvolvi atividades de ensino e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Educação e no Programa de Pós-Graduação em Geologia. Fui por 4 anos (1998-2001) Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação; esta foi talvez a mais exigente e difícil atividade acadêmica de minha história profissional. Sempre digo que não foi fácil coordenar um conjunto de eminentes professores doutores (eram muitas estrelas para pouco céu!). Tive a gratificação de ver que a avaliação da CAPES, imediatamente após a minha gestão (onde foi implantado o doutorado) levou o curso a um dos três do Brasil (o único em de instituição privada) a ter a nata mais alta em um Programa de Pós-Graduação de Educação. Também fui representante dos Professores do Centro de Ciências Humanas no Conselho Universitário e Membro da Câmara de Graduação. Fui membro do conselho Editorial da Editora UNISINOS e seu Presidente. Esta atividade na Editora me encantava. Fui co-editor da Revista Estudos Leopoldense e posteriormente editor da Revista Educação Unisinos. Eu, então um jovem doutor (=fizera o doutorado já aposentado) na Unisinos orientei quatro doutores e dezoito mestres.

A saída da Unisinos foi bastante sofrida para mim. Em 2004 completei 65 anos e era previsto minha retirada da Unisinos. Então, o Pe. Marcelo de uma maneira muito pessoal, disse-me que eu ganhara mais três anos de sobrevida. Passaram-se os três anos e vi mais colegas sendo jubilados, sem ganharem os anos plus. Mas passados os anos de sobrevida chegou a minha vez de partir. Afortunadamente já, no semestre anterior  havia iniciado no Centro Universitário Metodista - IPA.

Para encerrar esta primeira edição de dezembro de 2021 duas narrativas evocando o estar com o Padre Marcelo: quando fiz cirurgia em 1999, ele foi muito  próximo antes e depois da cirurgia, visitando-me no hospital e em casa. Não earo, nós almoçávamos juntos. Então convidava: vamos tomar ‘nossa cachacinha’. Era um convite para irmos à biblioteca, cujos livros são acessíveis aos leitores. De meu anedotário pessoal trago extrato de um diálogo:

- Padre Marcelo, é verdade o que se conta: sempre que se pergunta algo a um jesuíta ele responde com outra pergunta?

- Professor Chassot, quem te contou isso?

Esta edição já estará circulando quando está noite falo em Porto Seguro, na Universidade Federal do Sul da Bahia tentando maravilhar-nos com uma assemblage de alfabetizações. Esta chamada do tema desta noite evoca o encerramento dos dois semestres 2021 com mestrandos e doutorandos do IFES. Em https://padlet.com/manuellaamado/z578gwf0jchxs8bn está um excerto do happy end do entardecer desta quinta-feira, no Espírito Santo.