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terça-feira, 23 de setembro de 2014

23.- ENIGMAS DA SERRA DO RONCADOR


ANO
 9
Barra do Garças - MT
EDIÇÃO
 2905
Mais uma cidade inédita em postagem deste blogue. Também para mim é a primeira vez na região.
Meu primeiro dia desta semana não planejada de maneira criteriosa passou. Faltam cinco.
Quanto vi um auditório atento não arredando o pé e ficando após a hora esqueci-me que saíra às 5h30min de casa e chegara ao hotel 12 horas depois.
Professores Vavá, Alvaro, Chassot, Eduardo e Diego
Cheguei ao aeroporto Santa Genoveva às 11h e era esperado por 4 colegas, com os quais almocei e que aparecem no registro fotográfico. Depois dos dois voos havia mais 400 quilômetros entre Goiânia e Aragarças (GO). Só depois cruzar os rios das Garças e Araguaia, passar pelo município de Pontal do Araguaia para finalmente chegar a esperada cidade de Barra do Garça.
A viagem rodoviária foi com os professores Eduardo e Vavá. Aprendi sobre os três tipos de cerrado: limpo, sujo e cerradão. Passamos por Goiás Velho a primeira capital do estado, onde está a casa de Cora Coralina. A bordo também assistimos e discutimos o documentário ‘Enigmas da Serra do Roncador’ produzido e dirigido pelo cineasta mato-grossense Genito Santos e apoiado pela Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso, conta a história de uma das regiões mais intrigantes do país.
Em 59 minutos, o filme resgata lendas e mistérios da Serra do Roncador. O espaço, localizado ao nordeste de Mato Grosso, ficou conhecido em todo o mundo por causa da saga do coronel Percy Harrison Fawcett. O inglês veio desbravar estas terras em busca de uma civilização perdida e aqui desapareceu.
Larissa Ferreira escreveu no infocampusufmt.blogspot.com.br que “diversas versões sobre o seu desaparecimento são apresentadas pelo trabalho. Orlando Vilas Boas, um dos líderes da Expedição Roncador Xingu, declara que Fawcett foi morto pelos índios locais, conforme relatos ouvidos da própria tribo. Já segundo a sua família, Fawcett teria dispensado parte de sua equipe e mandado uma carta à esposa na qual contou que tinha encontrado a passagem que procurava, um portal para outras dimensões.
Devido a essa lenda e a relatos que contam ser possível visualizar e fazer contato com seres de outras dimensões no local, a Serra do Roncador se tornou um polo de turismoesotérico e um campo de pesquisas de ufólogos. O espaço atrai também por suas belezas naturais, aspecto que não deixa de ser explorado no documentário por meio de imagens belíssimas dos mais diversos e inusitados ângulos e pontos da serra.
Além de buscar explicações para o desaparecimento do coronel, o filme apresenta a serra por meio de relatos de pesquisadores e moradores. A veracidade dos depoimentos é mesclada com investidas de ficção. O trabalho sugere, por exemplo, que o espaço, além de abrigar onças, jaguatiricas, cobras e outros animais silvestres, foi a casa do homem pré-histórico do Araguaia.
Fica a ressalva de que neste movimento de apresentação, em nenhuma tomada foi elucidado o motivo pelo qual a serra é assim chamada. Os habitantes da região, em sua maioria, conhecem a origem do termo. No entanto, a veiculação nacional do filme torna imprescindível que se tivesse informado que o espaço ficou conhecido dessa forma devido ao som de ronco produzido pelos ventos ao se aproximarem das montanhas.
Merece destaque a perspectiva da serra trazida pelos populares, historiadores e místicos que têm contato.
direto com o local. Há inúmeros relatos de visualizações e contato com naves, seres interplanetários ou extraplanetários e de luzes de origem desconhecida. Os céticos acreditam que tudo não passa de uma crendice popular. “Enigmas da Serra do Roncador” buscou, dessa forma, fazer um resgate histórico da região e trazer elementos para alimentar as lendas e mistérios que rondam o lugar. Não há verdades finais ou uma tomada de posição do filme. É da natureza das lendas que permaneçam inconclusas e geradoras de sempre novas discussões”.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

22.- INAUGURANDO UMA SEMANA ATÍPICA


ANO
 9
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2904

Muito provavelmente esta semana será uma das mais atípicas dentre meus fazeres. Quando se tem uma agenda, há riscos de colapsação de compromissos. Tenho como norma não aceitar convites para dias que tenho aulas na graduação. Usualmente segundas e/ou terças. Muitas vezes, isso é óbice para definir compromissos.
Não sei explicar bem o que aconteceu: hoje tenho uma fala que adquiriu importância. Quando ainda não sabia meus horários na graduação, uma extensa mensagem, continha esse pedido: Entro em contato para convidá-lo para a III edição do nosso mais tradicional evento, a Jornada de Química do Araguaia, que ocorrerá nos dias 24, 25 e 26 de setembro, na cidade de Barra do Garças/MT, no Campus da UFMT local. Aleguei dificuldades, pois já tinha agendado convite, à mesma época em Macapá. Ocorre que o prof. Eduardo Ribeiro Mueller do Instituto de Ciências Exatas e da Terra (ICET), Universidade Federal de Mato Grosso/Campus Araguaia, buscou alternativas, alterou datas, estudou conexões, estabeleceu triangulações e, hoje à noite, estarei pela primeira vez em Barra do Garças.
Esta cidade tem conurbação com os municípios de Pontal do Araguaia, de Mato Grosso, e Aragarças, de Goiás, sendo separado destes apenas pelo Rio das Garças e Araguaia. A cidade, aprendo na Wikipédia, está encravada aos pés da Serra Azul, um braço da Serra do Roncador. O município é banhado pelos Rios Araguaia e Garças. Sou informado também, que hoje irei, pala primeira vez a uma cidade que tem um "Aeroporto para discos voadores". Acerca do discoporto talvez, comente algo amanhã.
No começo da manhã viajo a Goiânia, via Campinas. O prof. Eduardo desejava que viajasse no domingo. Resisti. Chego a Goiânia pelas 11h e, então, por uma viagem rodoviária de 5 horas vou a Barra do Garças. Faço, então, a abertura de um evento de Química.
Amanhã pela manhã, para garantir minha recuperação física — encantam-me, muitas vezes, as preocupações de meus anfitriões — antes de retornar a Goiânia, foi programado um banho em águas termais. Da capital de Goiás, sigo no final da tarde para Macapá.
A viagem ao Amapá significa minha presença na penúltima das 27 unidades da federação em que ainda não estivera. Agora, resta o Acre. Houve muitos problemas para acertar a viagem à Macapá; especialmente a volta. Há que dizer que a sanha das companhias aéreas para remarcar passagens é voraz. Precisávamos alterar o horário do retorno de Macapá a Porto Alegre de sábado para sexta. Mesmo que esta viagem leve quase o tempo de uma viagem a Europa, parece incrível que remarcar uma passagem fique na ordem de três mil reais. Enfim, são as regras do mercado. Há que resistir.
Mas, isso é apenas o começo da semana. Até chegar o esperado retorno há, ainda, muito céu e muita terra.

domingo, 21 de setembro de 2014

21.- CELEBRANDO A PRIMAVERA EM CASA


ANO
 9
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2903

Cheguei, ontem, de uma viagem extensa (sob os óculos da Geografia; pequena, temporalmente). Vivo o retorno. É bom viajar, mas retornar e parte rica da viagem. Busco, adequada síntese a este domingo: celebrar a chegada primavera na Morada dos Afagos. Para tal, aceitando a tese: uma boa imagem é melhor que um relato de mil palavras, trago algumas cenas primaveris dos jardins, suspensos em um 8º piso, quase na zona central de Porto Alegre.
Abro com cenas de visita que a cada manhã de domingo acarinha meu avonar. A generosidade do Bernardo me presenteia a Betânia.
A florada das azaleias, a beleza das orquídeas, o esparramar-se da buganvília, a viçosa brotação da parreira, a safra de amoras, que permitiu levar uma porção para alunas e aluno da Pedagogia, na última terça. Isso é primavera, a mais poética das estações. Lembro-me de tempos quando, ao referir idade, especialmente dos jovens, se dizia: ela fez 15 primaveras ou, ele ontem completou 12 primaveras, mesmo que o aniversário fosse no invernoso julho.







Assim, a essa imagens, junto anelos de um frutuoso domingo e uma florida e olorosa primavera a cada uma e cada um.

sábado, 20 de setembro de 2014

20.- DESDE A AMAZÔNIA NA DATA FARROUPILHA


ANO
 9
M A N A U S - AM
EDIÇÃO
 2902

Nesta data magna do gauchismo, desde a Amazônia, retorno ao pago. Meu desejo de chegar não é, todavia, para me integrar a festejos farroupilhas.
Este meu fugaz exilar-me da querência não impediu que já não tivesse sentido o ufanismo verde/vermelho/ amarelo que cantam o exagerado orgulho gaúcho. Este, presente nas bandeiras que tremulam nos acampamentos nativistas, nos desfiles gauchescos e na decoração de lojas. Estas manifestações ocorrem na capital e em dezenas de munícipios do Rio Grande. Há CTGs (Centros de Tradições Gaúchas) até além-fronteiras.
Este ano o MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho) — espécie de confraria que autoriza e legitima os CTGs — viveu momentos de crise por divergir da realização de um casamento homoafetivo na sede de discutível CTG filiado.
As exageradas manifestações também estão decantadas em dezenas de anúncios em jornais, alguns de página inteira, que exaltam a bravura da gente desta terra, que já viveu sonhos de ser independente do Império brasileiro na primeira metade do século 19. Aliás, chama atenção o quanto marcas multinacionais (por exemplo, nescafé, subway...) assinam os anúncios mais custosos.
A figura lateral é uma ilustração de peças publicitárias.
Há um aparente paradoxo: os farrapos inscreveram no pavilhão tricolor o mesmo lema dos revolucionários franceses de 1789: Igualdade, Liberdade e Humanidade e o mote das peças publicitárias e dos discursos, esquece a Igualdade e exalta exatamente quanto somos diferentes (mais heroicos, mais bravos, mais politizados...). Somos sim, os mais ufanistas. Das 27 unidades federativas, não sei se há outra que cultua mais o hino e bandeira estaduais do que os símbolos nacionais.
Observo que o hino rio-grandense é cantado com mais frequência e mais emoção que o hino nacional. As belicosas estrofes são presença mesmo em manifestações oficiais em instituições federais. Por exemplos, se entoa o hino rio-grandense nas formaturas em universidades federais.
Vale gastar cerca de 2 minutos para ver e ouvir nossa imodéstia. pois “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra” ttps: //www.youtube.com/watch?v=ZD_WnHMv1w8
Devo dizer que a celebração desta data, que se espraia já não mais por uma semana, mas por todo o mês de setembro, cada ano me faz mais sestroso. Sinto-me mais latino-americano que brasileiro. Logo, não me sinto confortável com esse presunçoso gauchismo.
Mas, acolho de bom grado o feriado independente de cultua-lo. Assim como ‘celebro’ o dia da Padroeira do Brasil, a Sexta-Feira Santa ou dia da Virgem Maria do Livramento. Apenas, lamento que este ano o feriado caia num sábado. 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

19.-DIÁLOGO ENTRE SABERES


ANO
 9
M A N A U S - AM
EDIÇÃO
 2901

Uma sexta manauara. O único dia completo aqui, desta viagem.  Quando cheguei, ontem a quinta já avançava. Depois ela se fez plena de fazeres. Nas primeiras horas de amanhã inicio o retorno.
Hoje, minha palestra centra-se no diálogo entre os sabores. Dentre os meus escritos mais recentes, ofereço como referência CHASSOT, Attico.  A pesquisa de saberes primevos catalisando a indisciplinaridade. p. 115-133, em  O Ensino Médio e os Desafios da Experiência: movimentos da prática AZEVEDO, José Clovis; REIS, Jonas Tarcísio (orgs). São Paulo: Fundação Santillana e Moderna, 2014, 237p. ISBN 978-85-63489-22-7 este livro está disponível na íntegra para download. Basta colocar no Google, “desafios da experiência” e surgirão várias possibilidades de ter o livro na integra gratuitamente.
Anuncio aqui alguns pontos de minha fala desta tarde, que busca estimular a estudantes do ensino médio a procurar saberes populares, estudá-los – com ajuda dos saberes acadêmicos – e, se possível, torná-los saberes escolares. Estes, então, podem retornar à comunidade donde foram garimpados como saberes populares, convertidos agora em saberes escolares.
Quando se propõe aos estudantes a busca de saberes populares, isso ocorre em duas dimensões: a convicção de que há uma necessidade urgente de se preservar saberes populares, até porque muitos correm risco de desaparecer; e o fato de que as ações de alunos e alunas assumem uma dimensão social no fazer educação. Prioritariamente, tem-se buscado realizar aquilo que é central na investigação: transformar saberes populares em saberes escolares, mas lateralmente essa atividade enseja o trânsito por muitos saberes acadêmicos.
Essas duas dimensões assumem significados muito diferenciados. Há nas mesmas ações que determinam resultados às vezes muito significativos, como o diálogo entre as gerações, que chega a superar as duas dimensões antes explicitadas. Ocorre, com frequência, a surpresa do jovem, que vê a riqueza dos saberes detidos pelos mais velhos. Nestes se manifesta a gratificação em ver a academia valorizar aquilo que eles conhecem, mas que, em geral, não tem valor como conhecimento socialmente relevante.
Mas, aqui e agora, desejaria responder mais diretamente a questão central desta proposta: por que fazer dos saberes populares saberes escolares? Vou fazê-lo sob dois focos. Para colocar minhas lentes em um e outro, antecipo dois problemas de pesquisa, recortados do problema central: como preservar saberes populares na tentativa de fazê-los saberes escolares? Problema A: quais os processos usados para a desmineralização da água salobra para torná-la potável? e Problema B: quais os métodos de controle da natalidade usados antes do advento da pílula anticoncepcional (esta considerada como ícone dos assim chamados métodos modernos de contracepção)?
Se apresentasse uma lista bastante extensa de problemas, dos quais há vários exemplos no capítulo que anunciei acima, poderia solicitar ao leitor que agrupasse cada um deles em listas encabeçadas pelos dois problemas, A e B. Para ampliar o exercício, trago mais dois exemplos, colocados respectivamente nos grupos A e B a que antes referi: como eram armazenados os alimentos quando a eletricidade ainda não era acessível à maior parte da população? e como eram eliminadas, nas residências, as fezes humanas, ainda na segunda metade século 20, quando não existiam esgotos cloacais na maioria das cidades?
Os problemas do grupo que chamo de A (desmineralização da água salobra e armazenamento os alimentos) trazem saberes que, nos dias atuais, importa conhecer, pois poderão, ainda, ter utilidade. Enquanto os do grupo B (controle da natalidade antes do advento da pílula e eliminação de fezes humanas anterior aos esgotos cloacais) são saberes que fazem parte de nossa história recente, mas é improvável que precisemos reativá-los, já que foram superados por tecnologias mais recentes e avançadas.
Do ponto de vista da importância, nesta prática de pesquisa os saberes de um e de outro grupo têm o mesmo valor. Quanto a se fazerem saberes escolares, aqueles do grupo A poderão ser usados em atividades de classe, gerando conhecimentos que retornem à comunidade onde está a escola ou onde foram coletados; aqueles do grupo B são igualmente válidos pesquisar, pois serão usados para entendermos nossa história. Quando procuramos encontrar respostas acerca do porquê de pesquisar, surge logo a pergunta: como pesquisar? No próximo segmento, deseja-se mostrar a necessidade de iluminar o problema com estudos que podem facilitar sua resolução.
Uma dimensão de estudos teóricos a acrescentar aqui poderia estar focada em pesquisas de problemas do grupo A ou B, antes apresentados. Enquadradas em um ou outro grupo, discussões diferentes poderão surgir. Agrada-me enfatizar a necessidade de buscar no passado as lições para o futuro. Podemos estudar os métodos anticoncepcionais usados por nossas avós não para que os ensinemos a alunas e alunos de hoje, mas para saboreá-los – práticas que hoje, no mínimo, nos causam surpresa, quando não assombro.
Só fazer os jovens encontrar memórias de sua história próxima já é um sucesso. Cabe-nos ajudar a lembrar do que está olvidado.