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domingo, 22 de dezembro de 2013

22.-DO DIÁRIO COTIDIANO, bis

ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2630
Esta edição domingueira é um espraiar-se da edição sabática. Contava ontem, aqui, que a Gelsa e eu receberíamos, neste sábado em um hotel fazenda, na Porto Alegre rural, para um passadia nossos 10 netos e os seis casais formados por filhas, filhos, genros e noras que nos ensejam, já há quase 15 anos, os sempre renovados, os dulçores do avonar. Nosso objetivo era deslocar (por antecipação) a nossa celebração de fim-de-ano do congestionado 24, onde os diferentes subgrupos familiares têm vários compromissos.
Assim realmente aconteceu. Estávamos com nossos 10 netos com idades de 14, 9, 8, 7, 6, 4, 2, 1, 0 e um em gestação. Pode-se inferir o quando foram fortes as emoções em ver esta ‘escadinha’ andar a cavalo, de pônei, de charrete, pescar, tomar banho de piscina, ir à horta, galinheiros e outras vivências que, ainda, fizeram parte da infância dos nossos filhos, mas, hoje são desconhecidas de nossos netos.
Há três fotos que registram nosso gostoso estar juntos, acolhidos sob uma figueira centenária. Com elas votos de um bom domingo, relevando que ontem e hoje, catalisado pelas emoções destes dias, estas duas blogadas fazem parte do diário do cotidiano familiar.

sábado, 21 de dezembro de 2013

21.-DO DIÁRIO COTIDIANO

ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2629

Desde sábado, com uma pausa na terça-feira, houve seis edições aqui, com uma palavra chave sempre presente: serendipidade (= descobertas científicas acidentais). Voltaremos ao assunto. A edição de hoje — dentro do espírito de festas de fim-de-ano — se tece apenas em um anúncio recolhido do mundo familiar.
A Gelsa e eu receberemos, hoje em um hotel fazenda, na Porto Alegre rural, para um passadia nossos 10 netos e os seis casais formados por filhas, filhos, genros e noras que nos ensejam, já há quase 15 anos, os sempre renovados, os dulçores do avonar.
Entre o Lucas, anunciado para abril de 2014 e Maria Antônia que em 2014 viverá as emoções dos rituais de chegada aos 15 anos, há a Betânia (2013), o Thomas (2012), a Carolina (2011), o Felipe (2010), o Pedro (2008), o Antônio (2007), a Maria Clara (2006) e o Guilherme (2005). Há que inferir que será um sábado cheio de graça.
No esteirar deste relato doméstico, trago para ilustrar esta edição sabatina uma amostra de uma florada de mandacaru que tive esta semana no meu jardim.
Nesses dias houve a produção de mais de uma dezena de flores. Algumas de mais de 15 centímetros de diâmetro. As flores são muito lindas, porém fugazes. Desabrocham durante a noite e aos primeiro raios de sol fenecem, alimentando antes vorazes abelhas com seu sumarento néctar.
Com estas imagens meus votos de um fim de semana muito curtido.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

20.-JOHN CADE ACALMA — SEM QUERER — PORQUINHOS DA ÍNDIA


ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2628

Hoje, a presença da serendipidade, no que se relata, poderia parecer quase impossível. Vale conferir.
John Cade (1912-1980) era um desconhecido psiquiatra australiano, que 1948 perseguia a crença de que pacientes maníacos excretavam ácido úrico altamente concentrado. Para testar sua hipótese, Cade injetava um preparado que fazia a partir da urina dos pacientes em cobaias. Havia, no entanto, sérios problemas de solubilidade nas amostras usadas e, para resolver esse entrave, Cade passou a usar urato de lítio.
Inesperadamente as cobaias ficavam calmas e passivas durante os experimentos, contrastando com seu comportamento usualmente agitado e arredio.
O urato de lítio determinou uma das maiores revoluções na psiquiatria moderna. A partir daí Cade ainda fez testes em humanos em casos extremamente graves de mania aguda.
Embora tenha publicado seus resultados em uma revista australiana, poucos psiquiatras deram atenção a suas observações, até a década de 50.
Então o médico dinamarquês Mogens Schiu (1918-2005) leu o artigo de Cade. Testou os experimentos em pacientes maníacos e viu que eram eficazes. Mas notou que a parte do sal derivado do ácido úrico nada tinha a ver com sua eficácia. O responsável pelo êxito eram os cátions lítios, de quaisquer sais. Como os sais de lítio são comuns e não podiam ser patenteados como uma droga, a indústria farmacêutica foi relutante em se comprometer na sua produção em larga escala.
Outro óbice que atrasou o emprego clínico de lítio foi a previsão da possível competividade dos íons lítio com os homólogos íons sódio e produção de efeitos indesejados. Assim, só em 1970, mais de 20 anos após a descoberta do valor de sais de lítio — controlador de pacientes maníacos depressivos — que ele teve uso psiquiátrico nos Estados Unidos.
Até hoje, quase sessenta anos depois, o lítio permanece como um dos principais tratamentos para pacientes psiquiátricos graças aos inesperadamente calmos porquinhos da índia observados pelo Dr. Cade. A hipótese que o lítio seja responsável pele reativação de sinapse cerebrais.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

19.- DO CARRAPICHO AO VELCRO


ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2627

 Nossa série serendipitosa chega à quinta edição. Hoje, com algo aparentemente trivial, mas com resultados muito significativos. Estes transformaram hábitos, facilitando várias de nossas ações cotidianas.
Quantos de nós, especialmente aqueles que não tivemos uma infância exclusivamente urbana, chegamos, vez ou outra, em casa com a roupa cheia de carrapichos*]. No inverno, quando usávamos roupas mais grossas (lã, flanela...) o encarrapichamento era maior. Não raro as mães punham os filhos a retirar os frutos aderidos à roupagem.
* Carrapicho: nome comum a vários subarbustos das leguminosas, compostas, gramíneas, malváceas e tiláceas, cujos frutos com pequenos espinhos ou pelos aderem à roupa ou ao pelo dos animais.
O carrapicho era tão presente em nosso cotidiano que se apelida(va) de carrapicho a pessoa que permanece próxima de outra sem que seja desejado.
A pergunta que surge: Quem ou quantos de nós nos perguntamos alguma vez como o carrapicho ‘se agarra’ na roupa ou no pelo dos animais?
Ocorre que em 1941, o engenheiro eletrônico George de Mestral (1907-1990), ao retornar de um passeio pelo campo, na Suíça, sua terra natal, percebeu que seu casaco estava coberto por carrapichos. Ao arranca-los, interrogou-se: “O que será que faz que se prendam tão firmemente?” Sua curiosidade levou a um exame mais detalhado com microscópio. Descobriu, então, que os carrapichos estavam cobertos por ganchos e estes se agarravam aos fios de seu casaco. Esta é a maneira que a natureza tem para espalhar as sementes, que se agarram a pássaros e outros animais.
De Mestral levantou a possibilidade de desenvolver um sistema baseado no padrão do carrapicho que fosse útil, ao invés de ser um incômodo.
O resto da história conhecemos: o prendedor Velcro®, que a estilo dos carrapichos acha-se presente no fecho dos sapatos infantis até nos microfones de lapela de um astronauta em um ônibus especial, compreendendo neste interregno miríade de usos. Velcro® deriva de velvet (veludo) e crochê.
Na próxima edição, veremos que o lítio permanece como um dos principais tratamentos para pacientes com manias graves, graças a inesperadamente calmos porquinhos da índia.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

18.- FLEMING E A PENICILINA


ANO
  8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2626

A blogada desta quarta-feira retoma a série serendipitosa, iniciada no último sábado quando o tema foi serendipidade. Domingo e segunda-feira — na mesma dimensão — foram assuntos aqui: ‘princípio de Arquimedes’ e ‘estrutura do anel benzênico’. Ontem houve uma pausa para anunciar que neste dia 18, quarta-feira, no Museu da PUC, o professor Guy Barros Barcellos lança o livro: Manual de implantação de museus escolares.
Agora, a série prossegue com algo que talvez seja a descoberta mais serendípica: a penicilina e seu autor — o escocês Fleming, que possui uma das histórias cheia de eventos, aparentemente, casuais.
Sir Alexander Fleming, (Lochfield, 6 de agosto de 1881 — Londres, 11 de março de 1955) foi um farmacologista, biólogo e botânico escocês. Autor de diversos trabalhos sobre bacteriologia, imunologia e quimioterapia, notabilizou-se como o descobridor da proteína antimicrobiana lisozima, em 1923, e da penicilina, obtida a partir do fungo Penicillium notatum, em 1928, pela qual foi laureado Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1945, juntamente com Howard Florey e Ernst Boris Chain.
De uma história muito rica (Fonte: Roberts, citado na edição de sábado) extraio breves detalhes.
Em 1922, Fleming descobriu serendipicamente, um antibiótico que matava bactérias, mas não leucócitos. Fortemente gripado, fez uma cultura com um pouco de sua secreção nasal. Ao examinar este meio que estava infestado de bactérias amarelas, deixou cair uma gota de sua lágrima sobre a placa de cultura. No dia seguinte, ao examinar a cultura, ele percebeu que havia uma região limpa na área em que lágrima havia caído. Sua percepção perspicaz estava correta: a lágrima continha uma enzima (que denominou lisozima) que destruía bactérias, mas era inofensiva ao tecido humano.
Em 1928, Fleming estava empenhado em pesquisa da gripe influenza. A rotina de laboratório envolvia observações de culturas de bactérias em placas de vidro. Notou que havia uma placa, com uma área limpa. Notou, então que a região limpa se desenvolveu em torno de um bolor, que havia caído quando a placa por equívoco fora deixada aberta. A experiência com a lágrima, seis anos antes, o alertou. O bolor era letal aos estafilococos presentes na cultura. Ele relata: “Não fosse a experiência anterior eu teria jogado fora o material, como muitos bacteriologistas devem ter feito antes” (Roberts, p.201). Fleming isolou o bolor e o identificou como do gênero Penicillium, batizando a substância antibiótica produzida de penicilina — primeira droga capaz de curar inúmeras infecções bacterianas.
Este antibiótico não só salvou milhares de vida na Segunda Guerra Mundial, como estimulou as pesquisas de outros antibióticos quimicamente próximos à penicilina, como as cefalosporinas (também descobertas acidentalmente). Vários destes antibióticos mais novos são eficazes contra bactérias resistentes à penicilina.
Há na história da bacteriologia muito a narrar. Sir Alexander Fleming estava ciente de seus encontros com a serendipidade, pois afirmou: “A história da penicilina é de certa forma romanceada, e ajuda a ilustrar a quantidade de acaso, ou fortuna, ou sina, ou destino, chame-o como quiser, na carreira de qualquer um” (Roberts, p. 205).
Uma nota muito pessoal. Se a produção da penicilina está associada ao seu uso na Segunda Guerra, infiro que minha mãe deve ter sido na remota Estação Jacuí onde nasci, uma das primeiras pacientes a ser tratada com penicilina. Tenho a lembrança da transferência do soro que vinha em uma ampola para dentro do vidrinho hermeticamente fechado onde estava a droga. Entre as crianças disputávamos os vidrinhos vazios. Ganhava quem soubesse pronunciar ‘pe-ni-ci-li-na’. Como ainda não estava na escola, isso deve ter sido em 1945/46, ou antes.
Há, ainda dezenas de descobertas serendípicas, como por exemplo, o Velcro®, uma dádiva da Ciência à vida moderna. Assim, há bons assuntos para este dezembro.