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domingo, 25 de março de 2012

25.- UMA FLORADA MUITO ESPECIAL



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2062
Por dois domingos consecutivos, as usuais curtas e leves blogadas domingueiras falaram de floradas aqui na Morada dos Afagos. No dia 11 mostrei fotos de uma efêmera floração de cactos e no dia 18 contei de uma mais perene floração de strelitzias. Hoje, também faço um registro imagético, mas muito especial.
Ontem ao entardecer a casa e os jardins se enfeitaram de netos. A Gelsa e eu comemoramos com filhas, filhos e genros, uma vez mais, as tradicionais domingueiras, que nesta edição se transmutou numa sabatina. Foram momentos de fruído avonar.
A Gelsa, mesmo com dolorosas restrições no caminhar, desde a cirurgia que fez há dez dias, ante sua quase imobilidade, curtiu contar historinhas, aos seis dos oito netos que estavam conosco (pela ordem de nascimento entre (1999-2011): Maria Antonio, Guilherme, Maria Clara, Antônio, Felipe e Carolina. Faltaram o Pedro (o 5º - em outro compromisso de sua mãe) e o nenê da Julia e do Benjamin, que já está na 13ª semana de gestação. O oitavo se fez presente em foto da Júlia, já com o ventre avolumado.

O encontro foi também para os netos ganharem ninhos com coelhos e ovos, como presentes pascoalinos. A seleção de algumas fotos mostra alguns dos gostosos momentos do encontro.

sábado, 24 de março de 2012

24.- TIO TUNGSTÊNIO



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2061
E a movimentada semana — que decretou inclusive a transição verão/outono — chega quase ao fim. Esta 13ª semana de 2012, para mim, talvez tenha sido a mais prenhe de atividades do ano. E, para, coroar, este sábado não fica por menos.
Ao entardecer, a Gelsa e eu receberemos filhas, filhos, genros, noras, netas e netos para uma das tradicionais domingueiras, desta vez, por agenda num sábado. Se nas duas últimas blogadas dominicais fiz ensaios imagéticos de floradas na Morada dos Afagos — cactos, dia 11 e strelitzia, dia 18 — o tema de amanhã é previsível: as doçuras do avonar.
Mas sábado é dia de dica de leitura e esta vem na esteira de uma das duas dissertações em cujas defesas fui banca esta semana. O Sassá quebrou um paradigma. Trocou a enxada pelo livro. O Guy mostrou as marcas de suas origens familiares e quanto ações da infância o fizeram um apaixonado por museu (ver a edição de otem.
Não é sem nexo, que escolhi para hoje, o livro Tio Tungstênio, no qual o neurologista Olivier Sacks relata suas memórias impregnadas por uma relação muito próxima com a Química, onde um tio que fabricava lâmpadas de tungstênio exerce uma influência marcante em sua infância prenhe de experimentações e descobertas.
SACKS, Oliver Tio Tungstênio: Memória de uma infância química. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 334 p. [Original inglês: Uncle Tungsten: memories of a chemical boyhood, tradução Laura Teixeira Motta] ISBN 85-359-0270-8.
Oliver Sacks (Londres, 9 de julho de 1933) é um neurologista britânico que também escreveu alguns livros sobre seus pacientes que se tornaram best-sellers da literatura. Bacharelou-se em medicina no ano de 1958, na Universidade de Oxford.
Entre os livros que nos brindou cito entre outros: O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, Um antropólogo em Marte e Tempo de despertar (esse levado ao cinema), A ilha dos daltônicos (comentado aqui há duas semanas), Enxaqueca, Com uma perna só, Vendo vozes: Uma viagem ao mundo dos surdos, Oaxaca Journal e Alucinações Musicais.
Em Tio Tungstênio conta com riqueza de detalhes sua infância e adolescência em Londres, particularmente no período da Segunda Guerra Mundial.
Olivier Sacks mostra-nos com relatos emocionados uma história familiar marcada por um convívio muito íntimo com a Ciência. Nascido em uma família judia de emigrantes da Europa Central, com uma forte ligação com a Ciência, filho de pais médicos e convivendo com tios e primos que tinham ligações muito próximas com aplicações das mais recentes descobertas da Física e da Química tem uma infância e uma adolescência marcada pela curiosidade e pela investigação. As memórias que traz de sua família são saborosas, como quando conta que sua avó, quando oferecia um jantar, propositalmente virava uma taça de vinho na toalha alvíssima, para evitar constrangimento futuro, de algum conviva que viesse macular a toalha.
Entre os familiares que direcionam o espírito investigativo está Tio Dave, que fabricava lâmpadas de tungstênio - e está ai a razão do nome do livro - que instigava o seu sobrinho a repetir experimentos químicos em um laboratório doméstico que Tio Tungstênio ajudou a montar.
Aqueles que desejarem se iniciar na história da Ciência da primeira metade do século 20 encontram em Tio Tungstênio um excelente condutor para conhecerem detalhes de realizações como as de Niels Bohr ou as de Maria Curie ou ainda mais conhecer, entre outras, a história da eletricidade, da descoberta do Raio X ou ainda da genialidade de Mendeleiev no estabelecimento da Tabela Periódica.
A edição brasileira é da Companhia das Letras é muito bem acabada e é acompanhada um excelente índice remisso para que se possa melhor usufruir do texto, que recomendo com entusiasmo, especialmente àqueles que não tenham conhecimentos muito adensado de Ciências.

sexta-feira, 23 de março de 2012

23.- UM DIA DE LOAS ÀS MUSAS



Ano 6 ***    PORTO ALEGRE    *** Edição 2060
Depois da maratona cuiabana, estou mais uma vez em Porto Alegre. Se a defesa do Sassá foi comovente e a palestra apreciada, a viagem de retorno não foi trivial. A hora que era para chegar a Porto Alegre, chegava ao Rio de Janeiro. Explico deixei Cuiabá no horário aprazado (15h40min BSB). Quando era para pousar em Congonhas, para iniciar a segunda e última etapa, o voo é desviado para Campinas. Então a alternativa era seguir de ônibus à Congonha (cerca de 2 horas no pico). Fui embarcado (voz passiva, mesmo!) com imensas dificuldades operacionais, num voo para o Rio. Do Galeão depois das 23h, parti para Porto Alegre. Cheguei em casa, à 01h20min desta sexta-feira, bafejado pela sorte de uma muito querida carona da Maria José e do Alorino, meus ex-alunos da Universidade do Adulto Maior. Assim estou escusado por este blogue hoje circular mais tarde.
Nesta sexta-feira, para guardar a tradição das quatro primeiras sextas-feiras quaresmais, havia pensado em propor uma discussão religiosa (talvez, melhor dito: trazer algo da gramática eclesial) na esteira das eleições estadunidenses: Por que, dos dois candidatos com mais chance entre os republicanos: um pertence à igreja católica e outro à seita mórmon? Qual a diferença entre igreja e seita: Esta segunda denominação é preconceituosa? Aqui entre nós, esta discriminação, ao referir-se à religião (dos outros) ser uma seita também campeia!
Mas, o Poeta me alerta: cesse tudo quanto a musa antiga canta, que outro valor mais alto se levanta! Sim, a minha tarde de hoje será de ode às musas. E, isto se faz assunto nesta blogada e determina o afastamento do tom religiosos que tem sido marca das sextas-feiras neste período quaresmal.
E, eis a explicação: Nesta quase inauguração de outono, participo no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul da quinta das sete bancas que tenho neste março. Nesta o Professor Guy Barros Barcellos, das escolas São Mateus e São Lucas da rede ULBRA, traz à defesa sua dissertação de mestrado: O papel da construção participativa de um museu de Ciências na alfabetização cientifica dos alunos envolvidos”. A pesquisa orientada pela Profa. Dra. Regina Maria Rabello Borges, que também tem expertise em museologia.
O Prof. Guy, criador do Museu da Natureza — mais de uma vez referido aqui —, é conhecido de leitores deste blogue por suas fruídas crônicas enviadas das Ilhas Maurício, de Atlanta e de Nova York. Sua dissertação narra a construção por alunos voluntários, em turno inverso, na Escola São Mateus, em Cachoeirinha, cidade da grande Porto Alegre de um Museu.
Assim, está explicado porque a tarde de hoje possa ser pensada como dedicada às Musas. O templo das musas era o Museion, termo que deu origem à palavra museu: local do cultivo e preservação das artes e ciências. Um museu é artefato cultural central das reflexões e ações nesta tarde. Não questionei ao polímata autor da dissertação qual das nove filhas de Mnemosine e Zeus é aquela que tem a capacidade de inspirar a sua criação artística ou científica. Na dúvida faço preito às nove, até porque pelo trânsito do Guy em várias áreas, deve ser amadrinhado por mais de uma delas.
Na sessão de hoje, antes de focar o que fulcral, faço uma intervenção preambular: Por primeiro, celebro estar aqui nesta Universidade. Uma parte de minha história de professor se fez aqui, fui Professor de Química Orgânica III, de 1966-1981. Também lecionei disciplinas pedagógicas. Uma delas era de estágio dos alunos de Licenciatura em Química. Nesta os licenciandos e eu realizamos, o que era então, uma experiência muito original: organizamos um curso pré-vestibular para estudantes da região periférica à PUC. Foi um sucesso. Um dos licenciandos, líderes desta ação, era o hoje coordenador deste Programa de Pós-Graduação, Prof. Dr. Maurivan Güntzel Ramos. Foi uma experiência tão marcante, que passado mais de quarto de século, evoco com saudades cenas de então. No Maurivan, homenageio todos aqueles que foram meus alunos nesta Universidade durante 15 anos, de meus 51 anos de magistério, especialmente aquelas e aqueles que hoje são professores nesta casa.
Mas a esta evocação se faz em saudade gostosa, não posso me furtar em aditar outra saudade mais recente, que tem gosto muito amargo. Neste 24 de janeiro, perdemos o nosso querido Roque Moraes. Ele foi professor deste Programa. Ele foi parceiro, presença continuada e constante em ações que envolvia a Educação nas Ciências. Deixou-nos muitas lições. Talvez a mais importante: a sua magnifica maneira simples de ser. Mesmo diante de ações imensas o Roque sabia ser singelo. Associava esta simplicidade a uma continuada disponibilidade.
Assim celebro este meu retorno à PUC nesta sexta feira outonal como o Deus romano Janus, uma parte de mim é alegria e outra tristeza. Como Janus um lado do rosto sorri, outro chora. Alegro-me por voltar a PUC, estou triste porque o Roque não está aqui.
Acerca da dissertação desta tarde, tenho muita expectativa nas discussões que serão trazidas pelas minhas colegas de banca. Devo confessar aqui que tive dificuldades em fazer uma avaliação isenta do trabalho. Não consegui distanciar-me do Museu da Natureza — que tenho o privilégio de conhecer bastante — e isto me trouxe olhares enviesados. Mais ainda, não consegui abstrair o meu envolvimento pessoal com o autor, permeado por uma relação de amizade. Conheço o Guy há menos de 1,5 ano. O primeiro encontro se fez anedótico. Em outubro de 2010, ministrava um curso de História e Filosofia da Ciência na PUC durante um encontro de Química. Falava van Leeuwenhoek (Delft, 1632 -1723) um comerciante de tecidos, cientista e construtor dos microscópios de Delft, nos Países Baixos, que descreveu a estrutura celular dos vegetais, chamando as células de "glóbulos", utilizando um microscópio feito por ele mesmo (possuía, talvez a maior coleção de lentes do mundo no século 17, cerca de 250 microscópios), foi o primeiro a observar e descrever fibras musculares, bactérias, protozoários e o fluxo de sangue nos capilares sanguíneos de peixes.
Disse lateralmente: ‘Leeuwenhoek em Delfet era amigo do pintor... e a memória me falha. Só consegui dizer: ‘aquele que pintou a Moça do brinco de pérola’. Creditava-me uma dívida com os participantes. Um ou dois minutos depois, um deles disse: ‘Vermier, professor’. Com humildade, o Professor Guy não deixou transparecer o polímata que é. Mostrou o iPhone, no qual o professor Google lhe viera em ajuda.
Ainda em dezembro daquele ano fui fazer uma palestra no Museu da Natureza, ainda, dentro dos ritos inaugurais do mesmo. Depois fui mais duas em 2011 dar curso promovido pelo MN. No último dezembro, estive a quarta vez para fazer a palestra ‘Como formar jardineiros para cuidar do Planeta’ comemorativa ao 1º aniversário do MN, quando recebi o troféu Giordano Bruno que muito me emociona.
Trago estes detalhes muito pessoais para justificar a minha não isenção na avaliação desta dissertação, o que permite que seja empático com o Guy, entendo o quanto deve ter sido difícil para ele não ser como ‘a coruja e elogiar seus filhotes’. Se houvesse que fazer apenas um reparo a este trabalho, seria este: o criador falando da criatura.
Na defesa de ontem em Cuiabá, o agora mestre Valdenor Santos Oliveira, o Sassá, referiu nos agradecimentos:Ao professor Attico Chassot, um homem que escreve com palavras difíceis, mas é compreendido com facilidade, por quem tenho profunda admiração”. Fiquei comovido. Nesta dissertação de hoje, recebo do Guy um qualificativo inimaginável: “mestre dos mestres”. Não sei, se com este título, que a generosidade de seu autor não cerceou o exagero, serei competente na avaliação desta tarde. Estou expectante.

quinta-feira, 22 de março de 2012

22.- ALTERNÂNCIA: TEMPO ESCOLA & TEMPO COMUNIDADE



Ano 6 *** CUIABÁ *** Edição 2059
Estou escrevendo desde Cuiabá, onde cheguei ontem à noite, depois de deixar Porto Alegre no meio da tarde, desta quarta-feira. Ainda não senti o famoso calor que se diz ser o ‘caldeirão de Cuiabá’. Fui, queridamente, recebido no aeroporto pela Irene — adiante refiro nossa história acadêmica — que  ofereceu-me um jantar com mais de uma dezena de pratos de diferentes peixes da região. Também provei, pela primeira vez, jacaré. Devo  dizer que este não me encantou. Valeu mesmo um papo ‘de abrir o baú’ de reminiscências com a Irene.
A cidade de Cuiabá está situada na região mais central da América do Sul, no seu centro geodésico, sendo, assim considerada a cidade do coração da América do Sul.
A determinação geográfica do exato onde se situa o centro geodésico se deve ao marechal Rondon, que em 1909 com cálculos matemáticos, geográficos e astronômicos, determinou o Campo d’Ourique — antigo sítio de supliciamento de escravos —, situado a 15º35’56” de latitude sul e a 56º06’55” de longitude Oeste, como o centro da América do Sul. Para marcar o ponto foi construído ainda no ano de 1909 um marco simbólico onde foi gravado as coordenadas geográficas do local.
Mais tarde foi erguido por sobre o marco original um obelisco de aproximadamente 20 metros de altura — foto — todo revestido em mármore branco. Este obelisco foi erigido de forma a preservar o marco original, o qual se encontra hoje protegido por vidros, sendo plenamente visível.
Já estive aqui muitas vezes. A primeira vez foi em 1975, em quando pernoitamos aqui, em transito em um avião da FAB, procedente de Porto Alegre com destino a Porto Velho, quando participei do Projeto Rondon. Após isto, a convite da UFMT e de escolas salesianas, talvez mais de uma dezena de vezes.
Hoje cumpro uma agenda em dois tempos: primeiro participo da defesa do mestrando Valdenor Santos Oliveira, que apresenta sua dissertação “Ensino de Ciências na escola do campo em alternância: o caso de uma escola do município de Terra Nova do Norte, em Mato Grosso” e depois faço uma palestra: O que é Ciência, afinal? À tarde começo a partir. Amanhã tenho em Porto Alegre a quinta das sete bancas previstas para este março.
 A orientadora da dissertação desta manhã é a Profa. Dra. Irene Cristina de Mello e isto para mim é algo singular.  Dos 25 mestres e quatro doutores que orientei, a Irene foi a primeira. Em 13 de dezembro de 1996, ela defendeu a dissertação: “Contribuições ao ensino da Tabela Periódica privilegiando a História da Ciência”. O Programa de Pós-Graduação em Educação na UFMT era incipiente e eu recém-doutor (fiz doutorado depois de aposentado na UFRGS), ainda não vinculado a nenhum outro Programa de Pós-Graduação, participava aqui da instituição do Mestrado, com um vínculo precário, que terminou cindido por razões administrativas. Dos orientandos que tinha, só a orientadora de hoje, terminou sua dissertação comigo. Mas isto, é muito para me fazer emocionado com a sessão de hoje.
Adite-se a isto estar entre meus colegas envolvidos em alfabetização cientifica como a Profas. Dras. Maria Saleti Ferraz Dias Ferreira e Tânia Maria Lima Beraldo. Por outro lado, a minha relação com mestrando, que conhecerei pessoalmente hoje, teve um lance que deve dar um tom diferenciado a sessão. Se referir aqui que se trata do Sassá, talvez alguns de meus leitores haverão de evocar uma situação momentosa em dezembro passado.
No interregno de poucos dias entre duas viagens a Tocantins e depois a Manaus havia decidido não dar parecer em um calhamaço de mais de setenta páginas. Assomaram culpas. Revisei-me, e aproveitando voos, espera em aeroportos e até a hora da diferença de fuso entre Porto Alegre e Cuiabá, cheguei a tempo com um parecer. Mas, isto é passado.
Antecipo meu parecer: a dissertação trazida pelo Sassá é excelente. Arguo-me: como um agricultor, se faz educador comprometido com a realidade desvalida onde nasceu e se criou? Ele mesmo responde: A escola sempre me trouxe a possibilidade de libertação e crescimento social, o que constantemente me levou a reflexão como aluno e professor sobre a educação oferecida a crianças pobres, especialmente da zona rural.
É por tal que o Sassá se propõe a pesquisar algo realmente que está produzindo transformações na Escola: a alternância, onde os alunos se revezam ficando uma semana na escola e outra na sua comunidade (familiar) durante todo o ano letivo.
O Sassá foi a Escola, conviveu com alunos, entrevistou direção, professores, pais e alunos focando seu olhar na Área das Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias, para entender a trajetória de criação e funcionamentos do curso técnico em Agroecologia. Ele sabe das histórias da comunidade de alunas e alunos do 1º ano do ensino médio.
Depois de ler encantado diferentes depoimentos, especialmente os das mães, eu não saberia dizer se são mais ricas (ou mais produtivas) as semanas que os alunos passam na escola ou as que passam em casa, pondo em prática o que aprenderam nas semanas de escola.
Foi muito significativo conhecer ‘o caso’ de uma escola do município de Terra Nova do Norte, em Mato Grosso, no Território da Cidadania Portal da Amazônia, distante 650 km de Cuiabá. Lá existe um artefato cultural chamado ‘Escola Estadual Terra Nova do Norte’dual Terra Nova do Norte’ [na foto sendo reformada por pais e professores], mas também existe, especialmente no imaginário dos pais um mentefato: “A Escola”, mas também existe, especialmente no imaginário dos pais um mentefato: “A Escola” que opera transformações.
Ainda um comentário final muito denso: se objeto de investigação do Sassá é socialmente relevante, ele ganha outra dimensão na realização de uma pesquisa, não apenas comprometida politicamente, mas por ser, também academicamente rigorosa. Também por isto é bom estar hoje na UFMT, aqui em Cuiabá, me candidatando a ser professor na ‘Escola Estadual Terra Nova do Norte’. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

21.- ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA (*1768 +2012)


21.- ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA (*1768 +2012)
Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2058
Não vou entoar um réquiem à Encyclopaedia Britannica (*1768 + 2012). Não posso dizer que me comovi com sua morte. Na semana passada os editores da ‘Britânica’, como a chamávamos, anunciaram que sua última edição em papel foi a de 2010. No mercado desde 1768, a enciclopédia era atualizada a cada dois anos.
A notícia deu origem a noticiosos especiais, reportagens ilustrativas e blogues com excelentes matérias. Meu colega e amigo Jairo Vieira Brasil, na edição semanal do profjairobrasil.blogspot.com.br que circula aos sábados, narrou, com oportunidade o tempo das enciclopédias. Comentei, então: “Meu caro Jairo, faço minha visita semanal ao teu blogue. Uma vez mais: atual. Não sofro com o adeus à Enciclopédia Britânica em suporte papel. Nunca tive a Britânica. A Gelsa a tem, mas talvez não a tenha aberto nos últimos 20 anos. Tive a Mérito, 20 volumes. Doei há mais de 12 anos a uma escola do MST. Tenho a Larousse, 30 volumes. Meu índice de consulta é talvez uma vez ao mês. Fui um grande consultador de dicionários e enciclopédia em papel. Quando escrevi A ciência através dos tempos, consultei minhas duas enciclopédia e outras mais em bibliotecas, Hoje uso diariamente três dicionários da língua portuguesa e um multi-idiomas, em suporte eletrônico. Meu índice de uso a Wikipédia é no mínimo vinte vezes ao dia. Tenho na Wikipédia o melhor exemplo da democratização do conhecimento. Eu ainda lembras o quanto as enciclopédias papeis eram causadora de exclusão; só os abastados podiam tê-la. Hoje o universo que tem acesso a Wikipédia é imenso. Por tal, também, ajudo financeiramente (vê que ela não tem anúncios) e com verbetes a Wikipédia. Sei que tem erro e que há verbetes que não são neutros. Suporto. A Britânica também tem erros. Assim, não coloquei luto com a notícia desta semana. Com admiração ~~ também ~~ por esta blogada, achassot"
Tenho uma muito afetiva e efetiva ligação com o estudo da história das enciclopédias, especialmente há francesa. Há cerca de 20 anos, publiquei [A enciclopédia, Ciências & Letras. 13, p.77-88, 1993] na Revista da FAPA.
Este texto teve recusa, antes desta edição, de outra revista, pois contava como os jesuítas, no Século 18, conseguiram proibir a Enciclopédia Francesa, pois ‘se as pessoas tiverem conhecimentos serão críticas e então não mais obedeceram ao Rei e a Igreja, pois ela era recebeu o rótulo de teísta e herética, com manifesta tendência antigovernamental, antieclesiástica e anticristã, e foi colocada num Índex muito semelhante aos dos tempos inquisitoriais’ [A ciência através dos tempos, p. 167-172]. Não foi sem razão que logo em seguida Kant brada: “Sapere aude! Tem coragem de saber e liberta-te daqueles que querem pensar por ti e pensa!”
Em minhas aulas História e Filosofia da Ciência acerca da Enciclopédia Francesa, conto que vi no Brasil, a coleção completa da primeira edição (17 volumes de texto e onze de pranchas e ilustrações) em três locais: Biblioteca da UFMG, no Centro Cultural do Banco do Brasil e na Biblioteca da Unisinos. Nesta instituição, mais de uma vez, levei alunos ao setor de obras raras para apreciar esta preciosidade.
A propósito trago, como epílogo, um excerto de texto A essência das enciclopédias publicado por Hélio Schwartsman, na p. 3 da Folha de S. Paulo: É como se o sonho de reunir numa única obra física todo o saber da humanidade tivesse morrido. Era um sonho tolo e que começou a naufragar ainda antes de o primeiro verbete ser criado. É que o próprio termo "enciclopédia" surge de um erro. Copistas latinos que não dominavam o grego derraparam ao transcrever a expressão "egkýklios paideía" ("educação regular", as artes e ciências que todo grego bem-nascido deveria saber) como "egkuklospaideía". Essa forma bastarda deu à luz a palavra latina "encyclopaedia" e seus filhotes em outras línguas.