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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

23.- ENSINO COMO MERCADORIA: MISÉRIA / OPULÊNCIA


Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1968
 Meus leitores são testemunhas de quantas vezes, só neste semestre, comentei cerca da cada vez mais acintosa transformação da Educação mercadoria. Terminei, há um mês ‘Vende-se tabaco, perfume importado, educação e camisetas de marca’, que será capítulo de um livro. Hoje nesta dimensão, mostro duas situações: a miséria e a opulência.
Para os assalariados, dezembro é um mês mais difícil para conseguir um equilíbrio financeiro. Presentes, viagens, adiantar o IPTU e o IPVA para conseguir descontos são alguns dos muitos débitos. Por isso foi criada em 1962 a gratificação natalina ou 13º salário.
Assim é fácil entender a situação dos professores da Ulbra, que souberam nesta quarta-feira, 21 de dezembro, da dificuldade da Universidade para o pagamento dos próximos salários de dezembro, janeiro/2012 e férias. Segundo a instituição, no dia 5 de janeiro, haverá capacidade de pagamento de apenas 50% do salário de dezembro, prevendo-se a quitação do saldo até dia 25 de janeiro. A previsão de pagamento do salário de férias também será parcelado: 50% em 5 de fevereiro e 50% em 20 de fevereiro. O saldo de fevereiro será pago em 5 de março. O terço constitucional das férias também deverá ser parcelado e pago junto com os salários de março e abril.
Está é uma situação de afronta a que são submetidos profissionais da Educação. Agora, veja-se a opulência.
O ensino superior privado brasileiro teve na semana passada a conclusão do maior negócio já feito no país. A mineira Kroton Educacional fechou a compra da Unopar, instituição do norte do Paraná focada no ensino superior à distância, por R$ 1,3 bilhão – cifra que impressionou analistas e bancos de investimento, que viram as fusões e aquisições minguarem no segundo semestre por causa da crise global.
É o segundo meganegócio em menos de três meses do ensino privado brasileiro, setor visto como imune a crises potenciais e que caminha com o aumento de renda da classe média emergente.
Em setembro, a paulista Anhanguera comprou a Uniban por R$ 510,6 milhões. A aquisição da Unopar fará a Kroton somar mais 162 mil alunos (145 mil de ensino superior à distância e o restante presencial) aos atuais 102 mil. Fica atrás em total de estudantes do ensino superior só da rival Anhanguera, que tem cerca de 281,7 mil alunos. A fluminense Estácio de Sá é a terceira no ranking, com 248 mil estudantes.
Este números são impensáveis para quando se tinha como grande uma universidade com 30 mil alunos. O ensino à distância é uma "mina" de geração de caixa, segundo Rodrigo Galindo, presidente da Kroton.
"A principal característica desse negócio é a forte geração de caixa e de elevado crescimento. O ensino à distância cresce mais rápido do que o presencial no Brasil", disse Galindo, para explicar a aquisição aos analistas.
Neste ano, somente os 145 mil alunos de educação à distância deram uma receita estimada em R$ 416 milhões à Unopar. Somados ao faturamento de R$ 699 milhões da própria Kroton, a nova empresa terá receitas combinadas de R$ 1,1 bilhão.
A Unopar é a maior instituição de ensino à distância no país, à frente da Anhanguera, que tem 83 mil alunos nessa modalidade. O trabalho é desenvolvido a partir de 469 polos de ensino à distância, verdadeiros centros de tecnologia, em 422 municípios do país. Todos têm o aval do Ministério da Educação.
Além do ensino à distância, a Unopar tem 16 mil alunos de graduação e pós presencial nos campi de Londrina, Arapongas e Bandeirantes, no norte do Paraná.
A aquisição foi costurada pelo Itaú BBA, maior banco de investimento no ramo de fusões, e será feita por meio da editora da Kroton.
Do total de R$ 1,3 bilhão, 80% serão pagos em três parcelas -R$ 650 milhões à vista, R$ 260 milhões em março de 2012 e os R$ 130 milhões restantes em um ano – e 20% em papéis da Kroton, que ontem recuaram 3,09%.
Para a rival Anhanguera, a consolidação da educação privada está só começando e terá novas operações.
"O mercado educacional brasileiro ainda está em processo de consolidação e são positivas essas movimentações, que demonstram a confiança do investidor na alta atratividade e na geração de valor", disse, em nota.
Sem comentário à esta voracidade.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

22.- LEITURAS ACERCA DA COREIA DO NORTE


Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1966
A abertura desta edição é para desejar feliz verão para meus leitores do hemisfério sul e para os do hemisfério norte um feliz inverno. Há 3,5 anos, ao fazer semelhantes votos quando do início do inverno no hemisfério sul, fui alertado por uma leitora equatoriana que desejasse ventos frescos àquelas e aqueles que têm o sol inclemente todos os dias do ano. Assim estes são meus votos: – ventos frescos – para os leitores de Guayaquil, Belém, Manaus, Araguaína, Boa Vista e todos de geografia próxima linha do Equador.
Aqui nos últimos dias, ainda em dita primavera, estamos tendo temperaturas equatoriais. Assim também para nós que venham ventos frescos e a chuva tão necessária.
Ontem abortei a pauta para dar voz ao Sassa. Trago, aqui e agora, algo sobre os acontecimentos que ativaram o Planeta, no começo desta semana com anúncio de que o “líder supremo” da Coreia do Norte, Kim Jong-il, morrera. A foto reproduz uma cena de norte-coreanos chorando ao receber a notícia.
Durante 14 anos, ele cultivou como poucos o culto à própria personalidade. Enquanto seu povo morria de fome nas ruas nos anos 90 – quando 1 milhão de pessoas pereceram –, ele nadava em gigantescas piscinas em seu palácio. Nos anos 2000, a cada arroubo belicista – como os testes com armas atômicas e rusgas com o Japão e a Coreia do Sul – o mundo prendeu a respiração com medo de uma guerra nuclear.
Seu filho Kim Jong-un, o sucessor, é um mistério – como quase tudo na Coreia do Norte, onde poucos jornalistas conseguiram entrar. Até sua idade precisa é desconhecida: teria 28 ou 29 anos. Especialistas acreditam que tenha nascido entre o final de 1982 e o início de 1983, mas, por parecer muito jovem, o governo parece ter optado por determinar seu nascimento em 1982, sem mencionar dia ou mês.
Filho da terceira esposa de Kim Jong-Il, uma dançarina de origem japonesa morta em consequência de um câncer, teria sido educado na Suíça entre 1998 e 2001 com o pseudônimo Pak Un. De volta à Coreia do Norte, ele se graduou em 2007 na Universidade Militar Kim Il-sung e estaria casado desde 2010 com uma garota de 20 anos, com quem teria uma filha. O retrato de Un, porém, junto com seu pai, aparece em todos os prédios da nação. Torres, outdoors e até mesmo montes rochosos estampam sua imagem.
Eis dez ‘pílulas norte-coreanas, que circulam nestes dias na imprensa.
  •    *1.- Se o grande líder estiver na capa de um jornal, dobrá-lo em local que está sua foto, pode causar detenção, a quem cometeu o desrespeito.
  • *2.- A taxa de fertilidade da Coreia do Norte vem caindo desde de 1984 – de 2,81 para 2,03 filhos por mulher.
  • *3.- Com um PIB estimado de US$ 28 bilhões, sua economia é menor do que a de países como Etiópia e Gana. A fome é alarmante.
  • *4.- Por causa da grande fome, o governo decidiu estimular criatórios de avestruz nos anos 90.
  • *5.- É o terceiro país que mais aplica a pena de morte, atrás apenas da China e do Irã, segundo a Anistia Internacional. Cerca de 60 pessoas foram executadas em 2010.
  • *6.- É o país mais corrupto do mundo, segundo o índice de corrupção de 2011 da organização Transparência Internacional.
  • *7.- Tem um dos exércitos mais populosos do mundo – 1,1 milhão de pessoas. Cerca de 5,7 milhões são reservistas da Guarda Vermelha (milícia do Partido Comunista).
  • *8.- Ao mesmo tempo em que é um país pobre, é também uma potência atômica. Porém, com apenas duas ogivas nucleares, o que o coloca em desvantagem – a Rússia, por exemplo, tem 13 mil, e os EUA, 9,5 mil.
  • *9.- Coreia do Norte e Coreia do Sul travaram uma guerra de 1950 a 1953. O Norte invadiu o Sul, com apoio de China e URSS. Um armistício pôs fim ao conflito, mas a paz nunca foi assinada. Os dois países estão tecnicamente em guerra. Pyongyang foi destruída pelos americanos no conflito, e reconstruída pelos russos.
  • *10.- Na Copa de 2010, a seleção norte-coreana perdeu por 2 a 1 para o Brasil. Nenhuma partida era exibida ao vivo. O jogo contra o Brasil foi veiculado no dia seguinte – apenas o primeiro tempo, quando estava empatado.

Vale conhecer um depoimento do diplomata Ricardo Primo Portugal*, publicado na Zero Hora desta terça-feira. Sua leitura parece ser menos radical que as pílulas acima.
Vivi cinco meses em Pyongyang, a partir do início de 2010, trabalhando na Embaixada do Brasil naquela capital, antes de ser removido para o novo Consulado-Geral em Cantão, no sul da China. Talvez uma das maiores surpresas para o estrangeiro que chega ao país é a aparente leveza da vida cotidiana dos cidadãos, a presença de uma inesperada característica lúdica e bem-humorada no povo de um país que nos acostumamos a encarar com preconceito, a partir dos noticiários, como um lugar extremamente pesado e infeliz.
Pyongyang é dividida pelo Rio Taedong, que tem passeios públicos nas margens. Essas ramblas são enormes e largas, acompanhando a quase totalidade do rio, e são um passeio preferencial da população. Nelas se veem casais de namorados sentados em pontos mais reservados, estudantes reunidos ou sozinhos com seus livros. No inverno, as águas do rio congelam, e em certos pontos, em dias de sol, veem-se grupos de amigos pescando em buracos circulares cortados no gelo.
Há uma verdadeira paixão pelos esportes. Os norte-coreanos são bastante habilidosos, por exemplo, no futebol, esporte no qual o Brasil exerce uma atração especial.
No interior, há penúria em certas áreas. Em Pyongyang, há várias falhas de luz por dia. Embaixadas, hotéis maiores e prédios públicos utilizam geradores por causa disso. À noite, a partir das 22h, a cidade fica toda às escuras, exceto pelos grandes monumentos, que dispendem muita energia em iluminação, chafarizes gigantescos etc.
As comunicações são bastante restringidas. O norte-coreano típico não tem quase informação do que se passa no mundo exterior. Há poucos anos, eles passaram a ter acesso a telefones celulares. São distribuídos em modelos simples por uma empresa estatal, são muito caros e só têm alcance dentro do país. Os celulares vendidos para os coreanos não são os mesmos que para os estrangeiros. Isto é: os celulares de um estrangeiro e de um coreano não conseguem se comunicar entre si.
A internet existe, mas é precária e concentrada em instituições – universidades, escolas, organismos públicos. E a banda larga é bastante restrita.

* Ricardo Primo Portugal é gaúcho de Porto Alegre. Aos 49 anos, é escritor e diplomata e vive há oito anos na Ásia. Publicou DePassagens (Ameop, 2004), Arte do risco (SMCPA, 1992), entre outros livros.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

21.- A IMPORTANCIA DE UMA RECONSIDERAÇÃO



Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1966
Havia pautado para hoje algo acerca da Coreia do Norte e troca de ditador que lá ocorre. Postergo a proposta.
Na segunda-feira contei aqui minhas dificuldades, por estar assoberbado de atividades, em atender, em menos de duas semanas o pedido para dar parecer em oitenta páginas (sem anexos) de um projeto de dissertação Ensino de Ciências na escola do campo em alternância: o caso de uma escola do município de Terra Nova do Norte, em Mato Grosso” [ver nota 1 ao final] produzida por Valdenor Santos Oliveira, sob a orientação da Professora Dra. Irene Cristina de Mello no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Mato Grosso. Comuniquei o candidato minha decisão.
Em mim afloraram culpas. Por tal, termino por refazer minha postura e aviso que farei o parecer. O detalhamento disto está na edição desta segunda-feira, 19/12.
Ontem à tarde recebi a leitura do outro lado. Compartilho com meus leitores por duas razões. A primeira: os comentários de blogadas atrasadas não são usualmente lidos. A segunda: o quanto somos autocentrados em algumas decisões pensando só em nós, esquecendo, de vez em vez, as consequências de nossas decisões. Acredito que eu tenha aprendido a lição.
Eis o que o Valdenor, mais conhecido como Sassá postou ontem, na edição de segunda-feira:
Prezado mestre Chassot,
neste momento nada me resta se não agradecer, agradecer novamente e dizer muito obrigado, não apenas pelas considerações e contribuições apresentadas em vosso parecer, mas pela atenção e compreensão, qualidades estas que fazem do senhor uma pessoa ainda mais admirável.
No dia 05 de dezembro ao receber vossa resposta quanto ao texto que acabará de lhe enviar, passei por um momento um tanto quanto difícil de descrever, pois minha ansiedade para ler vosso email se transformou em tristeza ao concretizá-la.
Ao ler o email onde o senhor explicitava as ocupações que enfrentará no momento e que acabavam por impedir a vossa participação naquele momento, os olhos lagrimejaram, uma mistura de tristeza e culpa tomou conta de mim, já que eu era o único responsável pela situação criada.
Aproveitei a noite para retomar algumas leituras, mas naquele momento queria ler algo informal, mais produtivo, foi ai que o senhor virtualmente através do seu blog me fez companhia ate o dia amanhecer.
Após as leituras um sentimento diferente, que vou chamar de esperança começou a aflorar, passei a imaginar que alguém tão comprometido com a sociedade e com a educação iria repensar o escrito anteriormente.

Passei o dia 06 de dezembro muito confuso, abandonei computador, internet e fui visitar meus amigos da Escola Estadual Terra Nova (local da Pesquisa), onde não consegui esconder minha tristeza, mas aproveitei o momento para refletir o que fazer.
No dia 07 de dezembro ao sair para o trabalho, meu filho Kayros (05 anos), correu me abraçou e perguntou “pai ta indo pro tabalho?” disse a ele que sim, então ele continuou “vai da tudo certo”. Essa fala foi me acompanhando por todo o trajeto, e me chamou a atenção por que ele nunca acorda cedo.
Ao chegar ao trabalho tive uma imensa vontade de ligar o computador e acessar meu email, a surpresa foi maravilhosa estava lá postado um email onde o senhor reconsiderava o escrito anteriormente e dizia que não mediria esforços para realizar a leitura e enviar o parecer até o dia 19 de dezembro. Novamente os olhos lacrimejaram dessa vez de felicidade ao saber que o senhor dedicaria um tempo de vossa agenda lotada para contribuir comigo e com meu trabalho.
Ontem, dia 19, foi minha qualificação, recebi com muita alegria vosso parecer, que foi lido pela minha orientadora professora Irene, na presença da professora Maria Saleti, todos concordaram sem dúvida alguma que vossa presença física seria ainda mais significativa. As contribuições apresentadas pelo senhor, foram complementadas pela professora Maria Saleti, que deixou o momento ainda mais proveitoso, a quem não posso deixar de agradecer.
Todas as contribuições serão aproveitadas na redação do texto final da dissertação a qual pretendo apresentar no mês de março de 2012, contando com vossa valiosa e indispensável colaboração e participação.
Novamente meus sinceros agradecimentos e aproveito a SFA (síndrome do fim de ano), para desejar ao senhor e vossa família um natal repleto de alegria e um ano novo de felicidades, Sassá
[1] Expulsos de terras indígenas Kaingang, posseiros gaúchos foram atendidos pelo Estado de Rio Grande do Sul, juntamente com o governo federal, em 1978. A solução encontrada foi levar os desabrigados para a região do futuro município de Terra Nova do Norte, em Mato Grosso, quase na fronteira com o Pará. O município de Terra Nova do Norte, com cerca de 12 mil habitantes, foi criado em 13 de maio de1986, com território desmembrado do município de Colíder.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

20.- ¿QUEM GANHA MAIS: SOLTEIRAS OU CASADAS?


Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1965
Uma terça-feira, que tem, mesmo que remotamente, ressaibos das adventícias festas natalinas, já com sabores de pré-férias. Mas ainda há exigentes pontos de agenda.
Ontem cedo pela manhã temia pelo envio a tempo à Cuiabá do parecer assuntado aqui na última edição. Durante a noite tive pesadelos. E... se o computador não abrir! Na madrugada houve um incêndio em um apartamento de cobertura não distante do meu. A foto tomei-a desde meu jardim. Não me atemorizei com presságios.
De repente lembrei que tinha uma hora a mais, como na da história de Júlio Verne em “A volta ao mundo em 80 dias”, como o Sr. Phileas Fogg – ele ganhou um dia em sua viagem, pois viajava para o Ocidente em sua volta ao mundo, assim não perdeu a aposta que fizera. Eu poderia chegar a tempo à sessão de defesa com meu parecer devido a diferença de fuso entre Porto Alegre e Cuiabá. Consegui cumprir o prometido.
Agradeço aos amigos que postaram comentários vibrando por eu ter assumido o parecer. Senti que o Sassá teve solidariedades. Isto é bonito.
Em jornal do último sábado uma notícia que me deixou intrigado: Casadas ganham 20% mais que solteiras. Situação no Brasil é inversa à dos EUA, onde solteiras ganham 34% mais que casadas. Mesmo que, na notícia, as análises sejam superficiais, reparto o texto com meus leitores, para ajudar curtir uma apetecível terça-feira.
Com uma filha ainda pequena, a técnica em enfermagem Juliana da Silva Pereira, 28, casada, mudou de emprego há quatro meses por um belo aumento de salário mensal: de R$ 1.300 para R$ 2.200. Atuando no ramo para o qual se qualificou, a trabalhadora faz parte de uma estatística que a surpreendeu: no Brasil, as mulheres casadas ganham, em média, 19,8% mais que as solteiras, de acordo com um estudo do Insper. "Sempre achei que as solteiras, por terem mais tempo livre, ganhassem mais", diz a técnica em enfermagem.
É assim nos EUA, de acordo com Regina Madalozzo, pesquisadora que orientou a pesquisa sobre o Brasil feita pela economista Carolina Flores. No mercado americano, solteiras ganham, em média, 34% mais que as casadas.
"Nos EUA, a presença das mulheres em vagas que exigem maior qualificação, como em empresas, é mais expressiva que no Brasil. Nesse ambiente, ter mais tempo para o emprego e possibilidade de viajar, o que é mais fácil para as solteiras, são pontos valorizados", diz Madalozzo.
A pesquisadora ressalta que, no Brasil, ainda há uma grande concentração de mulheres empregadas em atividades de baixa qualificação, como trabalho doméstico.
"E os patrões parecem encarar o fato de as funcionárias serem casadas como um indicativo de que são mais responsáveis", acrescenta.
O estudo foi realizado com base nos dados do Censo 2000 do IBGE. Outra explicação possível para o resultado é que a mulher casada, pela segurança de uma renda familiar conjunta com o marido, possa investir mais tempo até encontrar empregos mais recompensadores.
"É possível que as solteiras se submetam com maior facilidade a salários mais baixos", diz Madalozzo.
"Mas creio que, à medida que o mercado brasileiro se desenvolva e as mulheres assumam mais postos qualificados, a situação no país se aproxime da dos EUA."
O estudo revelou que, entre as mulheres casadas, as negras, pardas e indígenas ganham menos que as brancas, enquanto as asiáticas ganham mais. "Pode ser um reflexo da qualificação, mas esse grupo é pequeno; representa menos de 1% do total", diz a pesquisadora.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

19.- ACERCA DE ALTERAÇÃO DE DECISÃO


Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1964
Chegou a segunda-feira da assim chamada semana mais estressante do ano. Como a proposta é levar a vida numa boa, nem entro no tema. Trago algo que pode ser rotulado como ‘Excertos do diário de um mestre escola’ precedido de comentário marcado pelas coisas do futebol.
Ontem quando tomei conhecimento da aplastante derrota no Mundial de Clubes do Santos (4 X 0 e que cronistas disseram que 7 X 1 para o Barcelona seria de bom tamanho), ocorreu-me por primeiro uma lembrança. Contei aqui de meu companheiro de viagem no trecho Manaus/Guarulhos, na última quarta-feira, que perdera o pai na celebração da vitória do time santista na rodada anterior. Afortunadamente ele não estava mais aí para sofrer nesta derrota. Talvez aí, esteja um bom exemplo de ‘males que vem para o bem’.
Esta manhã, participo, virtualmente, no Programa de Pós-Graduação em Educação do Instituto de Educação da Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá da qualificação da proposta da dissertação “Ensino de Ciências na escola do campo em alternância: o caso de uma escola do município de Terra Nova do Norte, em Mato Grosso” produzida por Valdenor Santos Oliveira, sob a orientação da Professora Dra. Irene Cristina de Mello.
Dado o contexto que se produziu o meu parecer, elaborei um texto preliminar. Este ofereço aos meus leitores aqui e agora.
Antes de trazer um parecer formal ao projeto de dissertação em tela, permito-me tecer um prelúdio para que se vislumbre o contexto de elaboração desde parecer e se relve uma não tão profunda densidade teórica. Em 5 de dezembro, à noite, imediato a chegada de uma exaustiva viagem a Tocantins, recebo uma mensagem, da qual extraio um excerto: Boa tarde professor, tudo bem? Meu nome é Valdenor (Sassá) orientando da professora Irene. Estou enviando para o senhor uma copia do meu texto para qualificação para que o senhor possa fazer as considerações e contribuições necessárias [...]. Certo de contar com vossa colaboração e atenção, meus sinceros agradecimentos. Valdenor Santos Oliveira (Sassá). É preciso dizer que, há semanas, a Professora Irene, que me oferece o privilégio e o orgulho de ter sido a minha primeira orientanda de Mestrado, convidara-me para esta banca.
Sem muita reflexão e sem me dar conta que naquele dia recebera o troféu Giordano Bruno, que enaltece o meu ser professor, eu, talvez até com uma dose de impaciência (leia-se uma pitada de ira), respondo: Prezado Valdenor & querida Irene, esta semana – até sexta-feira – tenho agenda lotadíssima com aulas, três orientandos em fase final de defesa e avaliações duas turmas da graduação e aula de encerramento no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Domingo cedo viajo para Manaus onde tenho quatro qualificações e uma palestra, Volto na quinta-feira e no mesmo dia viajo para Frederico Westphalen (são seis horas de ônibus de Porto Alegre) onde na sexta e sábado tenho 12 aulas no Programa de Pós-Graduação em Educação. Volto no sábado com mais seis horas de viagem de ônibus. Vocês hão de convir que é impossível eu fazer um parecer em menos de duas semanas, com tantas atividades para a manhã da outra segunda-feira. Pediria que entendessem e estudassem outra data. Lamento decepciona-los, mas pediria que entendessem, attico chassot”
Na mesma noite minha filha Ana Lúcia telefona e estranha-me, dizendo que estou com voz triste. Conto que estou chateado com a uma mensagem que recém enviará. Ela me felicita, pois sabe ‘não ser do meu feitio’ dizer não. Brinca dizendo que ganhara pelo menos um ano de análise. Ao invés de consolar-me, preocupou-me mais. Mesmo que não faça análise, no dia seguinte, fiz algo que pode ter me rendido dois anos de análise. Remeti outra mensagem:Estimado Valdenor & querida Irene, esta manhã numa brecha de agenda dei uma olhadela no projeto. Encantei-me com a qualidade. Reviso minha mensagem da noite de segunda-feira e envidarei meus melhores esforços para enviar um parecer até a manhã de 19. Com expectativa, attico chassot
Imediatamente recebo contestação: Prezado Mestre Chassot... Fico muito grato pela atenção, e por saber que posso contar com vossas contribuições, que certamente serão ótimas. Confesso-lhe que em todo o trabalho percebo as escritas do senhor ao expressar vossa compreensão de sociedade, escola e ciências. Novamente meus sinceros agradecimentos, at Valdenor Santos Oliveira (Sassá)
Agora, não tinha volta. Tinha que dar conta e dizer algo sobre 80 páginas. Li o projeto de dissertação em aeroportos (só em Viracopos, numa manhã de domingo, o Sassá foi companhia por quase três horas), em voos Campinas/ Manaus / Guarulhos e ônibus entre Porto Alegre/ Frederico Westphalen /Porto Alegre e ainda em madrugadas insones em hotéis.
Parece-me fazer este prelúdio, quando não estou fisicamente presente em Cuiabá nesta manhã de segunda-feira, para que o mestrando, sua orientadora e colegas de banca entendam limitações de um parecer que mesmo limitado pelo tempo foi feito com entusiasmo.
Este parecer foi catalisado também, pela leitura posterior de um dos agradecimentos do mestrando: “Ao professor Attico Chassot, um homem que escreve com palavras difíceis, mas é compreendido com facilidade, por quem tenho profunda admiração.
Assim, agora algumas considerações de forma e de conteúdo e parecer à proposta de dissertação.