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domingo, 23 de outubro de 2011

23.- Uma sugestão dominical: 8ª Bienal Mercosul

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1907

Falar deste sábado, após três dias de 31º EDEQ em Rio Grande sabe a cansaço, menos pelas atividades, mas pelo retorno de ónibus que teve a viagem aumentada em tempo. Era 01h quando cheguei à rodoviária de Porto Alegre indormido.

Pela manhã fomos assistir a Maria Antônia apresenta sua pesquisa acerca de bullying. Foi gratificante termos ao Monteiro Lobato.

Ao por do sol estávamos num dos locais mais apropriados para dar ‘um até amanhã’ ao astro-rei: um dos armazéns do cais do porto.

Dedicamos quase duas horas ao A-5 para assistir instalações que fazem parte das ‘Geopoéticas’ que o curador geral da 8ª Bienal do Mercosul, José rova descreve assim:

A mostra central no Cais do Porto examina a criação de entidades transterritoriais e supraestatais que colocam em jogo a noção de nacionalidade. Essas construções político-econômicas contrastam com as noções de Nação estabelecidas há séculos na conformação dos países americanos após as lutas por independência. A exposição explora diferentes aspectos das ideias de Estado e Nação, suas retóricas visuais (mapas, bandeiras, escudos, hinos, passaportes, exércitos) e suas estratégias de autoafirmação e consolidação de identidade.

A ideia de cidadania está baseada etimologicamente nas noções romanas de civitas e urbanitas. Que tipo de cultura de pertencimento se dá em situações não urbanas? Onde reside a nacionalidade quando se carece de território físico? Algumas obras consideram o território rural como uma possibilidade para a utopia e o isolamento como uma condição positiva; outras analisam diversas estratégias de sustentabilidade e de coesão na ausência de território. Algumas dessas construções nacionais – que, em certos casos, possuem território mas carecem de autonomia política – estarão representadas no interior da exposição em “pavilhões” que denominamos ZAP – Zonas de Autonomia Poética.

Desde o mapa invertido de Torres García,a arte tem visitado a disciplina cartográfica para produzir mapas ativistas que não estão a serviço da dominação. A cartografia é um tema recorrente na prática curatorial recente, de modo que se torna inevitável quando se fala de território, pois nela confluem geografia, ideologia e política. A exposição reúne diversas formas de medir e representar o mundo, incluindo artistas que usam mapas para promover a mudança social, psicogeografias, rotas de derivas, mapas afetivos e diversas representações do mundo que contradizem as cartografias convencionais.

Com uma sugestão formulada, para aquelas e aqueles que moram em Porto Alegre. A todo o melhor domingo.

sábado, 22 de outubro de 2011

22.- Uma blogada sabática

Ano 6

EM TRÂNSITO

Edição 1906


Quando esta edição – em parte redigida e postada a bordo de ônibus Rio Grande / Porto Alegre – começar a circular já terei cumprido 8/9 das 4,5 horas de ônibus que separam Rio Grande de Porto Alegre. Deixei a Noiva do Mar às 20h, e agora quando começa o sábado falta cerca de meia hora para chegar.
Acerca do EDEQ vale dizer que pela manhã assisti uma mesa redonda sobre a formação de professores de Química na pós-graduação com representantes da PUC-RS, UNIJUÍ, UFRGS e UFPEL. À tarde, na sessão de temas em debate que participei: “A história e epistemologia da Química na sala de aula” tive no Prof. Dr. Ronei Clecio Mocellin (UFPR) um excelente parceiro intelectual. No meu segmento destaquei a Combustão como uma reação central na Química, buscando mostrar o quanto com ela se pode dar um curso de Química em diferentes níveis do ensino. Quando das discussões, estas centraram-se, quase exclusivamente em questões religiosas.
O tom da palestra de encerramento foi em três movimentos: O primeiro Uma protofonia: com algo muito pessoal; o segundo um adágio: Uma mirada na Educação Química no Rio Grande do Sul e no terceiro um alegro vivo para uma Ciência que celebra o AIQ–2011. Parece que fui muito bem sucedido.
Em seguida anunciamos os locais dos próximos EDEQs: 32º 2012, UFRGS; 33º 2013, UNIPAMPA e 34º 2014, ULBRA. E depois as despedidas com vemo-nos em outubro do ano que vem.
Nesta manhã vamos ao Monteiro Lobato, escola de nossa neta Maria Antônia, para acompanhar sua participação no evento Monteiro, mostra tua cara! que está detalhado em: http://www.colegiomonteirolobato.com.br/detalhe.php?det=34
Hoje cumpro a tradição sabática e trago uma dica de leitura. Influenciado por três dias entre meus pares da Educação Química trago um livro que já esteve neste blogue. Aos meus leitores de há mais tempo peço absolvição por parecer que sirvo algo com gosto de um café requentado. Devo dizer que apresento um texto publicado em Química Nova na Escola em novembro de 1996. Para os mais neófitos aqui, mesmo que o livro não seja novo ele, poderá ter atração.

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THIS, Hervé. Um cientista na cozinha. São Paulo: Atica, 1996. 240 pág. 17 x 24 cm ISBN 85-08-05883-7 [Original Les secrets de la casserole, (Paris: Éditions Belin, 1993)]

O leitor ou a leitora a quem ocorra que a editoria de Química Nova na Escola se equivocou em resenhar aqui este recente lançamento brasileiro da Editora Ática (1996), fruto de uma cuidada tradução de Marcos Bagno do original francês de Hervé This, Les secrets de la casserole (Paris: Éditions Belin, 1993), está esquecendo a histórica associação da química com a cozinha ou não recebe com muita freqüência questionamentos de seus alunos sobre os fenômenos químicos relacionados com a conservação e o preparo de alimentos.
Perguntas como: Por que cozinhar em panelas de cobre? Como recuperar talheres de prata? ou Por que utilizar colheres de pau? estão respondidas em Um cientista na cozinha junto com outras como: Por que a casca do pão tem mais sabor que o miolo? Por que o leite derrama? Por que a sopa esfria quando sopramos? Como misturar óleo com água? Por que a adição de limão ou vinagre fluidifica a maionese? Por que a gema cozinha depois da clara? Como evitar que os suflês afundem? e dezenas de perguntas, que são explicadas, mostrando quais os fenômenos físicos e/ou químicos que estão presentes. Há inclusive algumas mais técnicas entre as que evocam aprendizados de nossas salas de aula: Por que se cozinha mais rapidamente com uma panela de pressão? ou Como ocorre o cozimento dos alimentos em um forno de micro-ondas? Estas até poderiam ser mais cientificamente explicadas no texto.
O livro não é uma coletânea de perguntas e respostas, como o parágrafo anterior poderia ter induzido à leitora / ao leitor. Há, por exemplo, um capítulo sobre a nova fisiologia do gosto onde Hervé This inicia mostrando as concepções de Aristóteles para chegar até as divagações modernas e revelações mais recentes da Ciência sobre tema, passando por preparados dos alquimistas, mostrando a importância histórica da noz-moscada, fazendo-nos recordar quanto ela foi presente nas cozinhas de nossa infância. As cores (e nestas os cuidados para evitar determinados escurecimentos indesejáveis nos alimentos), os aromas e os perfumes tão importantes na nossa sensibilização de nosso paladar são apresentados sob a ótica culinária.
Alguns alimentos são contemplados com destaque: o ovo (segundo This “um astro pouco conhecido na cozinha”), a maionese, o pão, o leite (para este explica como a temperaturas superiores a 74 °C átomos de enxofre reagem com íons de hidrogênio formando o sulfeto de hidrogênio, que percebemos no característico cheiro de leite fervido), as carnes.
As bebidas merecem interessantes observações. Quando os vinhos são comentados, o autor nos convida a aprender a ver com o nariz, explicando também como o glicerol forma as lágrimas dos vinhos. No capítulo sobre chás, o autor mostra porque certas chaleiras fazem com que o chá derrame usando uma ilustração do efeito de Bernouilli (que, enunciado em 1738, ainda hoje é importante em concepções aerodinâmicas); já o texto sobre o vinagre frustanos, pois os vinagres balsâmicos, tão significativos no enriquecimento dos aromas de uma salada, são muito rapidamente mencionado.
Há ainda algo que merece destaque no livro: um cuidadoso glossário de palavras e expressões pouco usuais, e entre estas ficamos conhecendo preciosismo da cozinha francesa. Muitos termos deste glossário, para aqueles que têm uma formação em Química são dispensáveis ou poderiam ser mais completos, mas para um significativo número de leitores devem ser de muita utilidade. Há também um extenso índice remissivo por assuntos e onomástico que facilita a consulta. Aquelas e aqueles que gostam de garimpar em notas de pé-de-páginas vão degustar muitas riquezas culinárias e históricas nas muitas e curiosas notas que tem o livro.
Como chamariz para venda do livro, a quarta capa traz algumas questões que não passam de curiosidades de almanaque e podem, à primeira vista, tirar o crédito da obra: Como fazer 24 litros de maionese com uma única gema de ovo? ou Como transformar em poucos segundos uma mistura quente num sorvete saboroso? Os editores muito provavelmente acreditam — e devem ter razão — que estas perguntas vendem mais do que falar na capa das reações químicas que ocorrem nas panelas ou mostrar explicações culinárias através da reação de Maillard ou dizer como duas moléculas que tenham grupamentos amina se ligam a açúcares numa base de Schiff, composto que depois é transformado num produto de Amadori, como descreve o autor para mostrar o aroma de certos alimentos sápidos (isto é, saborosos).
Acredito que os leitores e as leitoras de Química Nova na escola particularmente aquelas e aqueles ligados ao ensino, vão apreciar esta obra e os que a detestam Química ─ e sabemos que são muitos ─ vão encontrar nesta obra saborosos motivos para talvez até digerir ódio em amor.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

21.- Sobre mais um EDEQ

Ano 6

RIO GRANDE

Edição 1905

Esta edição, ainda de Rio Grande, me convence da adequação do apelido da cidade: Noiva do Mar. Isto pode ser traduzido, por exemplo, por sua Universidade Federal ser vocacionada para ecossistema costeiro e oceânico. No EDEQ isto está presente no logo,

onde aparece canoa de pranchão, declarada pelo IPHAN, patrimônio nacional naval brasileiro. Esta é construída como um puzzle de 48 peças esculpidas, que juntas formam a canoa com 10m de comprimento. A espessura das pranchas é de 10 cm. Estas canoas remontam ao século 19, criadas em Rio Grande pelos construtores navais locais. Com o aparecimento das tábuas no início do século 20 elas foram aos poucos desaparecendo. Sofreram seleção natural. Hoje existem somente três navegando e uma em exposição no Museu Náutico da FURG.

Ontem pela manhã, na conferência inaugural proferida pelo prof. Gerson Mól, Diretor de Divisão do Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) recebi dos participantes do 31º EDEQ carinhosa homenagem pelos meus 50 anos de professor. A propósito, a Editora Unijuí, anuncia no evento, com um volante especial, que Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto* está no prelo.

Outro momento importante foi participar, das 13h-14h, do Programa “FM Café” transmitido ao vivo (e reprisado à noite) pela FURG FM 106,7 e FURG TV. Participaram comigo, o Prof. Guy Barcellos, o sociólogo Guilherme Cury e o jornalista e historiador Fabiano da Costa. Discutimos alfabetização cientifica, ciência e religião. Tínhamos assunto, também catalisado pelos ouvintes, para o resto da tarde.

À noite houve a usual confraternização dos EDEQs. Como nas edições de 1984 e 1995 aqui em Rio Grande, a atração foi anchova assada. Cada um dos participantes recebeu uma anchova inteira (de 600 a 1000 g) que assou em espeto na brasa por mais de duas horas.

Hoje tenho dois momentos de falas: Às 14 h participo de uma das sessões de Temas em debate. A história e epistemologia da Química na sala de aula” com o Prof. Dr. Ronei Clecio Mocellin (UFPR) chegado, há não muito, de Doutorado em Epistémologie, histoire des science et des techniques na Université de Paris X, Nanterre, que terá como Coordenador o Prof. André Maio Ezedim Pinho (E.E.M. Aprendizagem e Cidadania) e às 17 h faço a fala de encerramento do evento. Às 20 h parto de ônibus para Porto Alegre.

Encerro esta edição – quando adito votos de excelente sexta-feira – com a trazida de excertos de uma original mensagem recebida aqui em Rio Grande:

Prezado Mestre Chassot,

espero que esteja tudo bem com o senhor e sua família. Passo aqui para dizer que assisti sua palestra em Viçosa-MG, cujo título era: "A ciência é masculina? Sim senhora" durante o I Simpósio de Educação em Química. Passava por acaso, naquele sábado, do lado da biblioteca central da UFV, quando percebi grande movimentação e curioso fui olhar, como acredito que nada acontece por acaso nesta vida, aproveitei a oportunidade para assistir, mesmo não estando inscrito no evento, tão pouco ser da área da química. Este preâmbulo é para dizer-lhe que fiquei sensivelmente tocado com sua fala, com o seu conhecimento e pela maneira como conduziu a palestra, além do interesse em adquirir duas de suas obras, a que foi tema da palestra, e alfabetização científica, para este fim, como devo proceder? Ah! se possível também, gostaria de uma cópia dos slides que usou na apresentação, já que sugeriu isto aos presentes. [...]

Tenho 37 anos, sou Engenheiro Agrônomo e professor da Universidade Federal da Paraíba no Centro de Ciências Agrárias, Campus II da UFPB, em Areia, Paraíba. Estou por aqui fazendo Pós-Doutorado em Mineralogia do Solo.

[...] Além dos cursos de Agronomia (75 anos), Zootecnia (35 anos), Ciências Biológicas (5 anos), Medicina Veterinária (3 anos), estamos criando no Campus II da UFPB, os cursos de Química Ambiental e Tecnologia em derivados de Cana-de-açúcar (em fase de concepção).

Quem sabe um dia, poderia nos dar a honra por lá de sua presença e participação com minicurso, palestra, etc. em algum evento da Química Ambiental? Vou falar desta experiência que tive aos colegas professores com formação em Química Industrial, Engenharia Química, Bacharel em Química, Licenciado em Química.

Saudações paraibanas! Roseilton Fernandes dos Santos, Prof. Adjunto II

Eis trechos de minha resposta:

Meu caro Roseilton,

uma continuada recomendação que faço é ‘seja curioso’. Tu, na manhã daquele sábado – em que me encantei com aquele auditório repleto, com gente sentada no chão nas laterais –, foste curioso. Essa curiosidade valeu para ti, para mim e talvez para outros.

Já estive na tua Paraíba em Cajazeiras (e em outra cidade onde fui ver pegadas de dinossauros), Campina Grande e João Pessoa. Tomara posso em breve aditar Areia a minha lista de cidades paraibanas onde já estive. [...]

Agradeço tua mensagem e desejo-te saúde e paz, achassot

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

20.- Também, sobre uma jornada museológica

Ano 6

RIO GRANDE

Edição 1904

Nesta quinta-feira, não sem emoções participo da inauguração do 32º Encontro de Debates sobre o Ensino de Química (EDEQ). Mesmo que ontem à tarde houvesse um sumarento aperitivo: uma jornada museológica, que comento adiante, será com a Conferência de aberturaO Ensino da Química no Ano Internacional da Química” que oficialmente será inaugurada mais uma edição do mais tradicional evento de Educação Química do Brasil: os encontros de gaúchos envolvidos com o ensino de Química. A conferência será proferida pelo prof. Dr. Gerson de Souza Mól (Universidade de Brasília); o Gerson é Diretor de Divisão do Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (SBQ).

Os Encontros de Debates sobre o Ensino de Química (EDEQs) têm origem com o primeiro EDEQ realizado em 06 de dezembro de 1980 no Instituto de Química da PUCRS, com o apoio da Secretaria Regional da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) que estava sendo criada. Setenta e três professores dos três níveis de ensino reuniram-se para iniciar um processo de discussão, que neste ano atinge sua trigésima primeira edição. Não existe no Brasil muitos os eventos que têm uma séria histórica tão extensa e densa.

Desde lá, os EDEQs vêm sendo realizados anualmente graças ao esforço de professores que têm se engajado na melhoria do ensino de Química. Na sequência, foram sede dos encontros, as seguintes Instituições: UFRGS - Porto Alegre (1981), UFSM - Santa Maria (1982), UPF - Passo Fundo (1983), FURG - Rio Grande (1984), UCS - Caxias do Sul (1985), UCPel - Pelotas (1986), UNIJUÍ - Ijuí (1987), UFSM - Santa Maria (1988), PUCRS - Porto Alegre (1989), UPF - Passo Fundo (1990), ULBRA - Canoas (1992), UFRGS - Porto Alegre (1993), ETLSVC - Novo Hamburgo (1994), FURG - Rio Grande (1995), UNISC - Santa Cruz do Sul (1996), UNIJUÍ - Ijuí (1997), UNICRUZ - Cruz Alta (1998), UFPel - Pelotas (1999), PUCRS - Porto Alegre (2000), UFSM - Santa Maria (2001), UNIVATES - Lajeado (2002), UPF - Passo Fundo (2003), UCS - Caxias do Sul (2004), UNIJUÍ - Ijuí (2005), UNISC - Santa Cruz do Sul (2006), URI - Erechim (2007), ULBRA - Canoas (2008), UNIFRA - Santa Maria (2009) e PUCRS (2010).

Amanhã, entre outras atividades, cabe-me, na fala de encerramento, fazer uma análise dos reflexos destes eventos em trinta e anos de Educação Química no Rio Grande do Sul. Assim sou desafiado a fazer uma mirada nesta história.

Mas nesta edição, que se faz, uma vez mais em um diário de um viajor, queria registra algumas emoções do dia de ontem. Vim a Rio Grande com o Prof. Guy Barcellos. Acompanhou-nos também o senhor Armando avô materno do Guy. Ao chegarmos a cidade, onde estivera há um ano, logo surpreende-me o intenso crescimento da cidade que agora tem cerca de 150 mil habitantes e que em cinco anos, em consequência da expansão do polo de indústrias navais deverá triplicar o número de habitantes.

Fomos direto ao Museu Oceanográfico da FURG, onde fui recebido pelo seu diretor Prof. Lauro Barcellos, reconhecido como o "guardião do litoral sul", pelo extensivo trabalho de monitoramento da praia e resgate de fauna marinha junto da equipe do Centro de Recuperação de animais marinhos, localizado no Museu Oceanográfico. Já era aguardado também por uma equipe de repórteres e cinegrafista da TV FURG para uma entrevista, de mais de meia hora, acerca de minhas discussões acerca da alfabetização científica.

O almoço, um linguado e outros pratos foram na cozinha-restaurante junto ao museu, instalada sobre palafitas no estuário da lagoa. O chef du cuisine foi o prof. Lauro. Participaram um dezena de convidados, onde os conhecimentos de um engenheiro naval, recém transferido de Singapura para Rio Grande enriqueceram a conversa.

Após o almoço conheci o Prof. Eliézer C. Rios, uma das maiores autoridades em conchas marítimas, que aos 90 anos ainda esta estudando e publicando.

À tarde assisti a oficina "Implantação de Museu Escolar" onde o Prof. Guy mostrou uma forma de fazer alfabetização científica construindo um Museu de Ciências com o trabalho de pesquisa e curadoria dos próprios alunos. Esta atividade foi na CCMAR- Centro de convivência dos Meninos do Mar, que funciona no prédio recuperado com muito bom gosto, a partir de um entreposto de peixe abandonado. Ali adolescentes que vivem em situação de risco recebem cursos de agricultura, cabelereiro, camareiro, jardinagem, canto, informática.

Depois fomos de barco à Ilha da Pólvora onde a FURG mantém um Eco-museu, que tem como sede uma casa centenária, que foi visitada por D. Pedro seguinte à época do Império. O museu conta com o apoio do Exército Brasileiro que, juntamente com a Fundação Universidade do Rio Grande, viabilizaram a sua criação.

Está localizado na Ilha da Pólvora, uma das

ilhas do estuário da Laguna dos Patos. Possui 42 hectares de marismas (áreas periodicamente alagadas pela maré) que servem de habitat para várias espécies de aves, roedores, larvas e juvenis de peixes, moluscos e crustáceos.

No Eco-Museu são desenvolvidos diversos trabalhos científicos de graduação e pós-graduação, destacando-se os estudos sobre a vegetação, os crustáceos, as aves e os roedores. Para o traslado entre os museus será de barco, navegando pelo estuário, tive o socorro do prof. Barcelos, que me emprestou uma jaqueta e um gorro para proteger-me do vento muito frio.

Na volta ao continente visitamos o CRAM – Centro de recuperação de Animais Marinhos. Ali, entre os pacientes, a estrela maior é um lobo marinho. Visitamos, então Museu Oceanográfico Prof. Eliezer de Carvalho Rios que mantém uma exposição pública sobre a vida e a dinâmica do ecossistema marinho e sua relação com o meio ambiente, apresentada em painéis, maquetes e diversos equipamentos utilizados em pesquisas oceanográficas. Nestes painéis são apresentadas várias conchas, que fazem parte da coleção de moluscos do museu. Esta coleção, considerada a mais importante da América do Sul, foi organizada pelo diretor fundador do Museu Oceanográfico, o professor Eliézer de Carvalho Rios. Atualmente, o acervo abriga mais de 50 mil lotes e aproximadamente 50% do acervo representa a malacofauna brasileira. Os espécimens são preservados inteiros secos, inteiros em líquidos e partes de espécimens secos (peles, esqueleto, conchas, ossos, crânios, ovos, penas).

Outra visita foi ao Museu Antártico, uma reprodução das primeiras instalações da Estação Antártica Comandante Ferraz. Seu acervo é formado por painéis, fotos, equipamentos sobre a Antártica e alguns objetos utilizados pelos brasileiros, que detalham a história da conquista daquele continente, a dinâmica dos mares e da vida no Polo Sul e o esforço brasileiro em manter uma base em ambiente tão inóspito. Também fazem parte do acervo amostras geológicas e biológicas da Antártica.

Ainda fui recebido no Gabinete do Prof. Lauro, diretor Lauro Barcellos, que é diretor do complexo de museus da FURG e do CCMar. Foi muito prazeiroso conversar com tão renomado cientista.

Quando cheguei ao hotel, já era quase hora de parir para uma janta oferecida aos palestrantes do evento. Foi um momento de grandes reencontros. Amanhã, certamente trarei novos relatos. Até então.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

19.- Rumo à Noiva do Mar

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1903

Esta manhã, antes de nascer o sol, estarei partindo para Rio Grande. Os 420 quilômetros de ida serão feitos na companhia Prof. Guy Barcellos. Vou para participar amanhã e sexta-feira do 31º Encontro de Debates de Ensino de Química. O EDEQ é um evento do qual sou um dos fundadores e me envolveu em todas as edições.

Antecipo minha viagem para, ao meio dia atender a um atencioso convite do Prof. Lauro Barcellos – diretor do Complexo de Museus da FURG e fundador do Museu Náutico, Eco-museu Ilha da Pólvora e Museu Antártico – para um almoço na cozinha náutica do Museu Oceanográfico. Este almoço será antecedido de uma entrevista à imprensa. À tarde, participo da oficina (que se faz como aperitivo ao 31º EDEQ): "Implantação de Museu Escolar" onde o Prof. Guy mostra uma forma de fazer alfabetização científica construindo um Museu de Ciências com o trabalho de pesquisa e curadoria dos próprios alunos. Após, integro-me à visitação do Complexo de Museus da FURG (os quatro antes citados), o traslado entre os museus será de barco, navegando pelo estuário do Rio Grande. Sobre esta jornada museológica falo amanhã.

Depois deste destaque preambular à quarta-feira que se anuncia promissora, tenho um presente às minhas leitoras e aos meus leitores: Zero Hora do último sábado, publicou em seu caderno ‘Vida’ o texto A profissão mais antiga do médico Franklin Cunha. Ofereço-o aqui, pois faz outra leitura daquilo que trato em A Ciência é masculina? É, sim senhora! isto é as históricas posturas machistas.

Num baixo relevo do templo de Esneh, no Egito, vê-se representado o nascimento de um filho de Cleópatra. Assistem o parto mais cinco pessoas, todas mulheres. No desenho, aparece a parteira, primeira e mais antiga das profissões femininas, embora os historiadores, na sua visão falocrática da história, digam que a prostituição a antecedeu. A segunda das profissões foi a de cuidadora de crianças, a terceira foi a de cozinheira, as seguintes, de enfermeira e de professora de seus filhos e assim por diante. Dizer que a prostituição antecedeu todas estas atividades da mulher é um equívoco histórico, pois assim se admite que o prostíbulo antecedeu o clã familiar, o lar. De qualquer forma, na divisão do trabalho entre os sexos, tanto na função reprodutiva e a de lides domésticas situadas na esfera privada, como na prostituição localizada na esfera pública, o corpo da mulher sempre foi usado e abusado.

Na Ilíada de Homero – relato sobre façanhas guerreiras – entre os espólios arrebatados aos vencidos, incluem-se mulheres e meninas. Em parte alguma da epopeia grega é levantada a questão sobre o direito das mulheres roubadas deixarem de ser objetos de propriedade particular e escravas sexuais dos vencedores. Se o maior relato épico da literatura ocidental assim trata as mulheres, toda a posterior herança cultural greco-romana-judaico-cristã não deixou por menos.

Não é melhor a situação da mulher nas diversas culturas orientais e africanas, às do xador (véu que cobre a mulher da cabeça aos pés) e da infibulação (mutilação genital feminina). E nem melhor na cultura brasílica, da mortalidade materna de taxas medievais, dos salários de nível escravista e de discriminações laborais que incluem até condições biológicas como a gravidez, a tensão pré-menstrual, a menopausa e a própria menstruação.

Enfim, cabe a pergunta: depois da tão decantada revolução sexual, a situação da mulher no Terceiro Mundo melhorou – ou piorou?