Porto Alegre * Ano 5 # 1698 |
Cheguei à Morada dos Afagos quando já era segunda-feira. A viagem teve dois momentos: à tarde tivemos como na ida a fidalguia do casal Iraci – ela uma vez mais hábil motorista – e José Luiz no percurso dos 300 km de Bonito a Campo Grande. Tivemos ainda cortesia dos mesmos nos recebendo em sua casa e depois nos levando ao aeroporto. O segundo momento foi a vigem Campo Grande/ Curitiba/Porto Alegre.

Este dia depois do Bonito Mato Grosso do Sul tem três turnos no Centro Universitário Metodista do IPA. Pela manhã tenho aula de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa, para a turma de Música; à tarde, o meu encantamento da semana: aula na Universidade do Adulto Maior; à noite a minha sexta e última aula inaugural na abertura do ano letivo, que se faz festivo pelo 50tenário, para o Colegiado Ampliado das Engenharias, Tecnologia e Artes do Centro Universitário Metodista do IPA, no auditório do Campus do DC Shopping, onde tentarei responder: O que é Ciência afinal?
Teria muito a contar acerca de ontem, quando pela manhã, a Gelsa e eu, dentro da associação de nossas atividades na quinta e sexta-feira na UFMS estendemos um fim de semana turístico em Bonito. Fizemos um lindo passeio no Balneário Municipal. A ‘nossa praia’ como dizem os bonitenses, para quais o mar está a cerca de 1.000 km.
Foram novos momentos inenarráveis como flutuar em meio a cardumes de piraputangas, algumas com cerca de 40 cm. Este é um peixe que vive em cardumes e se alimenta principalmente de matéria vegetal (frutos, flores e sementes) e, mais raramente, de pequenos animais (crustáceos, peixes e insetos). A Piraputanga é muito apreciada na culinária, pois sua carne é saborosa e, quando cozida possui uma coloração avermelhada.
Na adição que realizei ao meu currículo de emoções significativas devo acrescentar outra: pela primeira fotografei e filmei com uma câmara subaquática, numa operação de mergulho. O Lissandro, um gaúcho de Vacaria, há muitos anos profissional da área do comércio e do turismo em Bonito, foi um excelente professor no ensino de técnicas de mergulho. Trago hoje apenas uma amostra de fotos da manhã de ontem. Em outro momento, provavelmente, editarei aqui a minha mais original produção: um vídeo subaquático que produzi.
Agora, evoco a seguir o poeta maior da língua portuguesa: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta // Que outro valor mais alto se alevanta?” A um assunto maior pautado para hoje, traduzido na manchete desta segunda-feira chuvosa.

Para mim é significativo um registro: hoje, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos o Edmar Galiza defende sua dissertação de mestrado: A ESCOLA EM CENA: JOGOS DRAMÁTICOS NAS AULAS DE TEATRO. Ele é orientando da Prof. Dra. Gelsa Knijnik e fazem parte da banca as Professoras Doutoras Maura C. Lopes (Unisinos) e Claudia G. Duarte (UFSC).
Mesmo tendo acompanhado à distancia do denso trabalho do Edmar, encantou-me o trabalho que envolveu esta produção, da qual trago o resumo:
A dissertação tem por objetivo analisar os jogos de linguagem praticados por alunos das séries finais do Ensino Fundamental, ao criarem jogos dramáticos nas aulas de teatro. A pesquisa serviu-se de ferramentas teóricas provenientes do pensamento de Ludwig Wittgenstein, mormente de sua obra Investigações Filosóficas, tais como jogos de linguagem, semelhanças de família e formas de vida; também das teorizações de Michel Foucault, como discurso e jogos de verdade; igualmente, serviu-se das formulações de Jean-Pierre Ryngaert sobre jogos dramáticos. Do ponto de vista teórico, a dissertação mostrou ser possível articular consistentemente as noções de jogos de linguagem, jogos de verdade e jogos dramáticos, vinculadas a esses três pensadores. O material de pesquisa analisado consiste em quatro jogos dramáticos que foram videografados e posteriormente editados assim como anotações a partir de observações feitas em diário de campo. O exercício analítico realizado mostrou que o teatro produzido na escola está submetido à racionalidade da maquinaria escolar, isto é, o teatro que é praticado na escola é, efetivamente, o teatro da escola. De modo específico, o estudo mostrou como, em um dos jogos dramáticos criados pelos alunos, os personagens gays foram submetidos a humilhações, o que deu visibilidade a suas atitudes homofóbicas.
A trazida de excertos dos agradecimentos que o mestrando faz na abertura de sua dissertação, se faz como homenagem de meu encantamento de um trabalho significativo.
Agradeço muito, a muitos!
A materialização desta dissertação só foi possível porque percorreu diversos caminhos, entrou em labirintos e se desviou por vários “becos”. A potência do caminhar estava no encontro com as pessoas, no contato com as pessoas. O encontro na academia se torna interessante a partir das alianças produtivas que fazemos na “companhia daqueles que seguem “o mesmo caminho”. Agradeço a todas aquelas pessoas que me ajudaram e ajudam a potencializar o pensamento e a própria vida. A estas, meu MUITO OBRIGADO!
Passo agora a nomear em especial aquelas e aqueles que no andar fizeram a “alma e a carne” vibrarem na “passagem”, no percurso.
À minha orientadora, professora Gelsa Knijnik, pela escuta, pelas preciosas sugestões, pela generosidade intelectual, pelo rigor da escrita e pelos “enquadramentos”. GK é como um “alquimista” porque ela pega uma “fumaça” de ideia e arranca dali uma potência de pensamento. Só que ela faz isto à força, inquietando o espírito e os próprios pensamentos, mas sem esquecer-se do conforto e da paz do silêncio. GK é vibrante, uma mulher cheia de vida que vem me presenteando com marcas que vão ecoar por muito, muito, muito tempo.
[...]
À minha mãe, Odete Galiza, mulher negra que, embora escreva mal e mal saiba ler, acreditou que a educação pudesse ser mais do que um ato de “ensino-aprendizagem”. Ela sempre acreditou que a educação pudesse ser um grito de liberdade.
Por isso dedico esta pesquisa a toda a minha família porque, mais do que uma conquista pessoal, esta dissertação é uma conquista coletiva, familiar. A minha passagem pelo mestrado foi um movimento para “denegrir”, para tornar um pouco mais negra a paisagem da pós-graduação deste país, um lugar em que, infelizmente, poucos negros e negras têm a possibilidade de estar, uma barreira difícil de ser passar. Porém, cá estamos.
Grato à vida!
Nesta menção, associo-me aos que desejam ao Edmar, os louros! Esta manhã, estarei muito na torcida.
Nesta vibração, meus votos de uma muito boa segunda-feira a cada uma e cada um. Um convite para nos lermos amanhã, aqui.