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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

21.- "A Rede Social" Tris

Porto Alegre Ano 5 # 1601

Feliz Verão / Feliz Inverno para minhas leitoras e meus leitores dos Hemisférios Sul / Norte. Para aquelas e aquelas da região equatorial (Belém, Bragança, Boa Vista, Guayaquil: “deseo vientos frescos para apaciguar el sol que calienta el año todo” como há 2,5 anos sugeriu a equatoriana Matilde Kalil. Hoje, às 21h38min começa para a maioria de meus leitores o Verão. Há aqueles que estão no inverno rigoroso, há muitos dias e entre este o grupo mais numeroso são os portugueses. Aproveito para uma correção no globo das visitas: O número de Portugal aparece incrementado em 80.000 (esse também é o incremento no número total de visitas). A ordem dos cinco primeiros países em leitores (no último ano) é: Brasil (21959); Portugal (735); Equador (310); Uruguai (137); Estados Unidos (132).

Como antecipei hoje essa blogada replica o mesmo assunto dos dois dias anteriores. Fizemos apenas uma consonância com os jornais e revistas de quase todo o Planeta. Hoje, como prometido, trago o texto Facebook molda o mundo à nossa própria semelhança de Ronaldo Lemos, publicado na Folha de S. Paulo de ontem, opinando sobre a matéria estampada ontem aqui. Afinal, com 26 anos Zuckerberg é o homem do ano, e não há como não palpitar sobre o assunto.

Em 1976 o filme "Rede de Intrigas" fez o balanço da mídia mais importante daquele momento: a televisão.
Nele, um apresentador decadente anuncia que vai se suicidar e começa a falar a "verdade" em seu programa ao vivo. Em vez de ser tirado do ar, torna-se um fenômeno de audiência, justamente por dizer aquilo que ninguém mais diz.
Corte para 2010. O filme "A Rede Social" faz um balanço da mídia que mais cresceu na década: a internet. O Facebook, com seus 500 milhões de usuários, atinge um público jamais sonhado por qualquer rede de TV.
Mas, afinal, qual é a "programação" que garante tanto sucesso?
Quem passa o dia no site acessa o conteúdo mais atraente e valioso dos tempos atuais: a si mesmo.
Ao privilegiar conexões com "amigos de verdade", cria um microcosmo que nos devolve nossa própria projeção social.
Ficamos sabendo de quais notícias nossos amigos gostaram, os temas que lhes causaram indignação, lugares frequentados, vídeos e músicas acessadas.
Nada muito diferente do que nós mesmos faríamos. É como na cena do filme "Quero Ser John Malkovich" (1999) em que o protagonista adentra sua própria cabeça.
O site mostra na prática como os chamados seis graus de separação são uma furada. Se eu conheço Ana, que conhece Bela, existe uma chance maior de eu me tornar amigo de Bela do que de qualquer outra pessoa.
O Facebook foi construído em torno disso: quer que você conheça os amigos dos seus amigos. Experimente adicionar um punhado de pessoas aleatoriamente. Logo ele bloqueia a prática.
É diferente do Orkut. Nos últimos anos, o site passou a incluir boa parte da diversidade do país, incluindo pessoas que não têm computador e acessam a internet por lan houses.
Isso logo gerou um termo pejorativo: a orkutização. Significa ter de conviver com o outro, o "diferente". Muitos incomodados migraram para o Facebook.
Tem gente falando agora na orkutização do Twitter, que também estaria se tornando diverso demais.
O problema de conviver apenas com gente como a gente é que isso nos torna ainda mais iguais e mais radicais nas nossas posições. Quem gosta de indie rock vai gostar ainda mais. Quem acha Sarah Palin legal vai achar ainda mais (e prestar cada vez menos atenção em quem não acha).
Diferente do filme "Rede de Intrigas", em que uma "verdade" dissonante mobilizava as pessoas, o Facebook prepara o terreno para um mundo conservador, em que somos mobilizados principalmente por nós mesmos.

Pontofinalizando espero que cada uma e cada um de meus leitores tenham a melhor terça-feira. Depois deste tríduo acerca de ‘A Rede Social’ prometo para manhã outro assunto. Fruamos esse ocaso de 2010. Temos apenas mais onze dias para o 2011. Repito meus votos de um Verão e um Inverno ameno e também àqueles que têm sol escaldante quase permanentemente, ventos amenos.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

20.- "A Rede Social"bis

Porto Alegre Ano 5 # 1600

Uma segunda-feira que abre uma semana que culmina em festividades. No domingo de ontem, o rescaldos do tsunami da noite de sexta-feira. A lavação da fonte, para retirar quase um quilo de farinha de mandioca ‘oferecida’ aos peixes exigiu cerca de três horas para esvaziar a fonte, lavar pedras e britas, prepara nova água desclorada para as carpas. Foi uma longa tarefa, que terminou com perdas de dois peixes.

Ontem trouxe um pequeno comentário – como soem ser as blogadas domingueiras – acerca do filme que assistira no sábado. A Folha de S. Paulo de ontem dedicou uma páginainteira ao sucesso do filme que já desponta para o Globo de Ouro e o Oscar, expõe mais um aspecto do imenso poder do Facebook. Eis a notícia do jornal:

Mark Zuckerberg – fundador do Facebook foi – eleito o homem do ano da revista "Time", o Facebook chegou aos 550 milhões de usuários e o filme "A Rede Social", em cartaz no Brasil, é o favorito ao Globo de Ouro -mais do que nunca a prévia do Oscar.

Mais do que um avassalador "barba, cabelo e bigode", essas conquistas se complementam para alicerçar o plano de dominação global que Zuckerberg disparou há muitas madrugadas num dos dormitórios de Harvard.

O Facebook se tornou a maior rede de relacionamentos pela reunião de ótimas sacadas para fisgar usuários. "A Rede Social", apesar de traçar um retrato desprezível de Zuckerberg, detalha como elencou as ideias que construíram um endereço tão funcional, amigável e sedutor na internet.

Apesar de uma ou outra declaração contra sua representação na tela, Zuckerberg deve agradecer bastante ao diretor David Fincher. O filme mostra a genialidade do criador e a força da criatura, tão impactante na vida das pessoas que o caráter no mínimo duvidoso do personagem acaba ficando em segundo plano.

Em uma cena, ele compara sua criação à moda. "As roupas mudam, desaparecem, mas a moda nunca vai acabar." Em outro momento, Sean Parker, que destruiu a indústria do disco com o Napster, se une a Zuckerberg e dá um conselho ao sócio: nunca vender o Facebook. "Você não sabe que tamanho isso vai ter, como saber então o quanto pode valer?"

A "nação Facebook" já é a terceira maior do mundo. Por enquanto. China e Índia dependem da disposição de seus casais para povoar territórios; o site precisa de poucos cliques no mouse para engrossar suas fileiras.

A condição de bilionário aos 26 anos de Zuckerberg perde importância. Mais do que os US$ 7 bilhões no banco, sua figura é associada à força política de uma ideia que foi comprada por meio bilhão de pessoas.

A capacidade de mobilização do Facebook ainda não foi testada. Seus usuários navegam em 75 idiomas, 24 bilhões de minutos por dia.

Difícil prever o resultado de uma convocação direta de Zuckerberg a seus seguidores espalhados pelo mundo. Isso sim é ter poder.

Agora volto à Academia depois de duas semanas de um recesso gripal, que está superado. Quando apresento meus votos de uma excelente segunda-feira, em uma semana que no seu ápice terá a festa maior da cristandade, antecipo para esta terça-feira um texto opiniático: Facebook molda o mundo à nossa própria semelhança. Assim, até amanhã.

domingo, 19 de dezembro de 2010

19.- A Rede Social - o filme

Porto Alegre Ano 5 # 1599

Se ontem contei que na noite de sexta-feira, por razões de agendas dos filhos, fizemos uma celebração antecipada da festa de natal, é preciso dizer que aquele dia teve gosto de dia 24 e o sábado de ontem, com uma ressaca, sabia a dia de Natal.

Ao anoitecer a Gelsa e eu fomos assistir ao filme: “Rede Social” [Título original: The Social Network / Gênero: Drama /Duração: 130 minutos / Direção: David Fincher / Ano: 2010 / Origem: estadunidense]. O filme associa o início do Facebook a uma série de traições entre amigos e retrata Zuckerberg, agora um multimilionário de 26 anos, como uma espécie de anti-herói em busca de aceitação social. Após a criação do Facebook, Zuckerberg foi acusado de se apropriar da ideia da rede social, uma causa que terminou com um acordo extrajudicial.

Em uma noite de outono, em 2003, graduado em Harvard e gênio em programação de computadores, Mark Zuckerberg se senta em seu computador e acaloradamente começa a trabalhar em uma nova ideia. No furor dos blogs e programação, o que começa em seu quarto logo se torna uma rede social global e uma revolução na comunicação. Em apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Mark Zuckerberg é o mais jovem bilionário da história... Mas para este empresário, o sucesso traz complicações pessoais e legais. Do diretor David Fincher e do roteirista Aaaron Sorkin, A Rede Social é um filme que prova que não é possível chegar a 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos. O filme é produzido por Scott Rudin, Dana Brunetti, Michael De Luca e Ceán Chaffin; e baseado no livro "The Accidental Billionaires" escrito por Ben Mezrich.

Devo dizer que não me apeteceu muito o filme. Pareceu-me monótono e, às vezes, superficial, no tratamento de certas partes. Lamentei deixar de lado o excelente livro de “A ilha sob o mar” de Isabel Allende, para ir ao cinema.

Esma madruga assistimos na televisão “A semana”, com direito a roubadas cochiladas durante o mesmo. Eis uma gostosa maneira de despertares dominical.

Votos de um muito bom domingo emanados diretamente dos jardins da Morada dos Afagos.Lemo-nos, provavelmente, amanhã.

sábado, 18 de dezembro de 2010

18.- "O Museu do Peixe Morto"

Porto Alegre Ano 5 # 1598

Já era sábado quando encerrávamos nossa celebração antecipada do “Natal na vovó Gelsa e no vovô Attico” quando a Gelsa e eu, recebemos nosso clã. Foi uma memorável festa.

A celebração aconteceu junto ao pinheiro originado de um pinhão posto a brotação em 1999, quando da inauguração da Morada dos Afagos, celebrando o nascimento da primeira neta: a Maria Antônia. O presépio é artesanato de indígenas mexicanos, adquirido em 2007, quando estivemos em um congresso em Queretaro.

Éramos 18 pessoas com idades dentro de um amplo espectro: do Felipe – 0,5 ano – à Liba 89,5 anos –. Esta fez uma tocante fala ao presentear seu amigo secreto, evocando a sensibilidade do Carlos, no Natal passado, que então realizou um sonho da menina imigrante que ganhava pela primeira vez uma boneca. Este ano o amigo secreto foi mais uma vez moderado pela Júlia com o sítio www.amigosecreto.com.br Eu presentei a Laura, com uma bijuteria, assessorado com oportunidade pela Júlia. Minha amiga secreta foi a Gelsa, que encontrou a sugestão que colocara para meu desejo de presente: “Conversas que tive comigo” do Nelson Mandela (Rocco, 2010). O livro é dedicado à bisneta, que morreu de maneira trágica em 13 de junho deste ano.

Duas cenas da noite de ontem.


Era natural que depois de terminada festa, parecesse que houvesse passado um tsunami em algumas regiões da Morada dos Afagos, desacostumado com folguedos (e traquinagens) de netos. Mas restaram muito mais marcas de alegrias que peixes superalimentados em minutos com o correspondente a quase um ano. Já se faz sonhos para uma nova celebração.

Sábado, honro a tradição sabática de mais de dois anos de trazer uma dica de leitura. A de hoje é saborosa: "O museu do peixe morto". O livro traz oito histórias de Charles D'Ambrosio, bom contista estadunidense de quem a quase desconhecida editora Grua Livros já havia publicado "A Ponta".

Delicadeza equilibra cardápio pesado das narrativas de Charles D'Ambrosio. Um bom conjunto de contos, que li em minhas viagens mais recebtes e dele faço esta sugestão sabatina.

D’AMBROSIO, Charles. O museu do peixe morto. The dead fish museum. Tradução de Doris Fleury. São Paulo: Grua Livros, 2010, 255 p. 208mmX138mm ISBN 978-85-61578-12-1

O escritor Charles D'Ambrosio nasceu em 1958, em Seattle, e hoje vive em Portland, Oregon. Graduou-se no Programa Internacional de Escritores da Universidade de Iowa, onde foi, mais tarde, um dos professores visitantes. "O

museu do peixe morto" foi finalista do PEN Faulkner Award, ganhou o prêmio Whiting Writer's Award e também o de Melhor Livro de Ficção concedido pelo estado de Washington. D'Ambrosio recebeu, ainda, bolsas de criação literária de prestigiadas fundações estadunidenses, como a Fundação Lannan.Sirvo-me de um texto de Adriano Schwartz, professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, publicado há meses na Folha de S. Paulo, que com muito propriedade faz apropriada análise de “O Museu do Peixe Morto”:

As situações desenvolvidas pelos textos não são fáceis, como anuncia epígrafe de Camus: "O homem desesperado não tem terra natal."
Em "Drummond & Filho", o dono de uma surpreendentemente bem-sucedida loja de máquinas de escrever -essas relíquias de um passado tão próximo- precisa lidar com o filho adulto e os transtornos causados por uma doença mental.
Em "O Roteirista", o cenário é um sanatório, no qual surge uma estranha relação entre o narrador-problemático e outra paciente.
Já em "Lá no Norte", o leitor segue com crescente angústia a visita do protagonista ao chalé da família de sua mulher, que fora vítima de abuso sexual antes de conhecê-lo, não sentia prazer e o traía repetidamente.
Como se nota, não é um catálogo de temas leves. A força de quase todas as narrativas de D'Ambrosio, contudo, decorre do contraste entre esse universo pesado e a delicadeza com que as histórias são conduzidas, delicadeza que se materializa, para ficar nos contos citados, no amor compreensivo do pai, na autoironia conformada do roteirista apaixonado pela piromaníaca ou na sofrida complacência do marido traído.
Esse tom menor -que se impõe pela redução, pelo tratamento "não sensacionalista"- fica evidente no conto que dá nome ao livro.
A certa altura uma personagem diz: "Estou começando a sentir certa familiaridade perto de você. Não é que me sinta confortável. É como se tudo isso fosse de uma outra vida, como se a gente já tivesse estado aqui antes."
Não há, porém, espaço para aparições grandiloquentes, daí ela imediatamente completar: "Não em outra época da história ou coisa parecida. Não fomos imperadores romanos juntos. Foi numa vida passada, mas há duas semanas, por aí."
Se a premissa indicada pela epígrafe -de que o homem desesperado não tem terra natal-, for válida, essa saída contida presente nos contos não deixa de ser, pelo menos, uma solução digna para lidar com esse – de todos nós – desenraizamento fundamental.

Com votos de um muito bom sábado. Que ele não seja marcado apenas pela azáfama natalina. Se sobrar tempo para leitura, há uma boa dica acima.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

17.- A Paz é possível

Porto Alegre Ano 5 # 1597

A blogada desta sexta-feira, como a de ontem, dentro do espírito natalino é marcada pelo desejo de Paz. Antes de cumprir a proposta para hoje, dois registro de agenda desta sexta-feira:

Esta manhã, encerramos a edição deste semestre de História e Filosofia da Ciência. Catalisará esta clausura o polêmico texto: “La moral sexual católica ¿está en crisis de paradigma? Un estudio desde la historia de las ciencias” de Cristián Barriá, médico psiquiatra e terapeuta de casais, ex-professor de Psicologia Comunitaria, Universidad de Chile, publicado na Revista «Moralia», del Instituto Superior de Ciencias Morales, Madrid, XXXI, 120 (2008) 447-480.

À noite, depois de muitas tentativas de ajustes de calendário, teremos uma celebração muito especial “Natal na vovó Gelsa e no vovô Attico” quando a Gelsa e eu receberemos nosso clã. Lembro, que a recomendação deum bispo argentino: pais católicos devem denunciar para seus filhos a farsa do papai-noel. Isto parece não repercutir por estas plagas.

Agora, dentro do programado, convido a leitura da segunda parte da análise do jornalista Max Altman, publicado na Carta Maior. Ontem vimos a significativa repercussão de ato da politica externa brasileira, reconhecendo o Estado Palestino. Aos que não leram o texto de ontem, permito-me convidar, previamente, sua leitura. Seguem-se, agora, outras análises históricas.

Posição histórica nesse sentido também é a do Partido dos Trabalhadores. Em meados dos anos 1990, membro do coletivo da Secretaria de Relações Internacionais, respeitando criteriosamente as teses defendidas pelo Partido, ajudamos a fundar, organizar e dirigir o Movimento Shalom Salam Paz. Esse movimento congregava brasileiros de ascendência judaica, sionistas e não sionistas, de esquerda e centro-esquerda, brasileiros de ascendência árabe, moderados e menos moderados, os de ascendência palestina e todos aqueles dispostos a lutar por uma paz justa e duradoura no Oriente Médio e em particular, entre Israel e os palestinos.

Foi extremamente difícil conciliar as posições, houve pressão das Federações judaica e árabe e do consulado de Israel, porém conseguiu-se aprovar os pontos básicos: desocupação dos territórios palestinos ocupados com a Guerra de 1967; respeito à Resolução 242 das Nações Unidas com o reconhecimento pelos palestinos do Estado de Israel com fronteiras demarcadas, reconhecidas internacionalmente, seguras e definitivas; criação do Estado palestino, laico e viável; estabelecimento de Jerusalém leste e oeste como capital de ambas as nações; reconhecimento do direito de retorno dentro de limites a serem acordados; direito de acesso à água definidos em acordo binacional; facilidade do direito de ir e vir e do comércio binacional.

Forças internacionais sob a égide da ONU garantiriam o cumprimento das decisões. O Shalom Salam Paz levou essas ideias a dezenas de faculdades e colégios, a diversas instituições, deu dezenas de entrevistas a jornais, rádios e televisões, participou de debates, esteve presente nos Fóruns Sociais Mundiais. O Partido dos Trabalhadores tem relações de camaradagem com partidos e organizações de esquerda, de centro-esquerda e progressistas de todo o mundo, inclusive de Israel. As pontes que deseja construir e manter devem ser alicerçadas em princípios comuns, de soberania, de auto-determinação dos povos, de relações fraternais entre povos e nações, de solução pacífica e justa para os confrontos internacionais.

Uma diabólica espiral de sangue e dor, com raros interregnos, tomou conta da região nas últimas décadas. Guerras convencionais, ações terroristas e retaliações terroristas sem fim e com teor cada vez mais cruel e aterrador atingindo pessoas inocentes, governos árabes massacrando palestinos, assassinato de Rabin, negociações de paz torpedeadas ao sabor de interesses estratégicos e de poder, massacre de Munique e chacina de Jenin, intifada um e dois.

Desde 1948, os palestinos estão condenados a viver submetidos a uma revoltante humilhação. Perderam suas terras, perderam a liberdade e nunca puderam formar e organizar seu Estado. Hoje o cerco se estreitou e se tornou cruel. Sem permissão, não têm acesso à agua, a alimentos, a medicamentos. Não têm empregos nem vida econômica normal. Não podem ir de Gaza à Cisjordania, seus dois pedaços de terra. Não lhes permitem circular extra-muros sem passar por vexaminosos controles. Gaza se transformou numa prisão quando seus habitantes votaram em quem seus vizinhos acharam que não deveriam ter votado.

A Palestina hoje é muito menor que a que sobrou da Guerra dos Seis Dias. Colônias são assentadas em suas terras e atrás vêm os soldados corrigindo a fronteira. Se os assentamentos não são suficientes, que se erga um muro comendo mais pedaços de terra. Se olharmos comparativamente os mapas vemos que pouca Palestina restou.

Sabemos que a atual composição do eleitorado israelense levou ao governo líderes que abraçam a solução de confronto e não reconhecimento de “Dois Estados” laicos e democráticos. Se de um lado, moralmente, não pode um povo que ao longo da história sofreu o que sofreu impor a outro povo sofrimentos que tem de sofrer, de outro, só a pressão dos povos e da comunidade internacional poderá levar as partes a uma séria mesa de negociações. Geograficamente – e isto é ineludível – Israel é território do Oriente Médio, tendo como vizinhos em todas as direções países árabes.

Não é possível sentar-se o tempo todo sobre a ponta da baioneta, ao preço de transformar a nação numa simples fortaleza. Inexoravelmente, vai ter de conviver no futuro, e pacificamente, com seus vizinhos.
Contudo, a comunidade internacional deve abandonar os discursos vazios, as declarações ardilosas, a indiferença, as manifestações altissonantes, comportamentos ambíguos que servem de amparo à impunidade. Que os países árabes deixem de lavar as mãos. Que países europeus, que durante séculos costumavam praticar a caça aos judeus e há décadas passaram a cobrar essa dívida histórica dos palestinos, ponham de lado a hipocrisia de derramar umas tantas lágrimas enquanto celebram secretamente outro lance de mestre. E que os Estados Unidos deixem a parcialidade e ajudem a construir a paz justa entre Israel e palestinos, que seguramente servirá para estendê-la a outros rincões da mesma região.

Quando encerro esta blogada, apresento, com um entusiasmo ainda mais redobrado, votos de uma muito boa sexta-feira a cada uma e cada um. Amanhã há dica sabática de leitura.