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sábado, 24 de abril de 2010

24 * As Brasas // Sándor Márai

Porto Alegre Ano 4 # 1360

Manhã nublada. A madrugada mais fria do ano (aqui) com várias regiões do Rio Grande do Sul com temperaturas em torno de 5ºC. Um sábado de um fim de semana que será marcado por duas festas em um mesmo cenário: hoje à noite vamos comemorar os 30 anos da Clarissa a minha caçula –, cuja data é amanhã. E amanhã, à tarde, na mesma casa, os quatro anos da Maria Clara – presente que a Clarissa recebeu quando fez 26 anos, cuja data de nascimento é segunda-feira.

Ontem foi o Dia Mundial do Livro – o livro terá celebração central amanhã aqui – e esta blogada sabatina se insere na celebração da data. Vale fruir sabor a livros.

Qualquer livro que lemos tem muitas histórias. Destas, uma é poucas vezes revelada ou relevada. Por que / como / quando / onde nos decidimos pela leitura de determinado livro? Eu sinto que tenho um faro: ponho o olho e pressinto se o livro me envolverá ou não. As capas (especialmente a quarta), as orelhas me oferecem pistas. As indicações de amigos são valiosas. Claro que as resenhas são indicadores e penso que é por isso que me faço entusiasmadamente resenhista.

O livro desta dica sabatina tem uma história, talvez com marcas de incivilidade. No último domingo estava em almoço familiar, quando – e aí está pelo menos uma descortesia – solicitei a anfitriã algo para ler. Minha cunhada Neusa, queridamente, compactuou com minha deselegância no ágape e colocou em minhas mãos brasas, não daquelas que estavam sendo usadas para fazer o churrasco. Talvez não cometa o exagero de autor de outro blogue que escreveu: “Abandonei todos os outros [livros], porque, sem dúvida, encontrei o escritor da minha vida. É por ele que estou, de verdade, em brasas”, mas, quase posso fazer a minha adesão a seu escrito.

Essa blogada é sobre a minha descoberta de um livro (e de um autor) que jamais ouvira falar. A Neusa o colocou em minha história de maneira muito forte. É, assim, acerca de As Brasas de Sándor Márai que se constrói essa blogada sabatina, que ofereço para Neusa com imenso reconhecimento. Só não vou dizer à competente psiquiatra que o livro enseja boas horas de reflexões, pois poderia ser pensado como um sucedâneo às artes do divã. Mas um até então ignoto escritor húngaro ensinou-me que “[...] a paixão não se explica pelas leis da razão, e não dá nenhuma importância ao que receberá em troca. Quer se expressar até o fundo, impor a sua vontade, embora só obtenha em contrapartida sentimentos suaves, amizade e indulgência. Toda paixão verdadeira é sem esperança, do contrário não seria paixão mas um simples pacto, um acordo sensato, uma troca de interesses banais” (p.106).

Trago, como usualmente, a ficha técnica, algo do autor e pinceladas do livro.

MÁRAI, Sándor. As brasas. [Original húngaro: A gyertyák csonkig égnek] Posfácio de Marinella d’Alessandro (Tradutora da versão para o italiano Le braci) Tradução (do italiano) de Rose Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 174 p. ISBN 978-85-7164-954-5.


Sándor Márai [Na foto em monumento em sua cidade natal] (Košice, 11 de abril de 1900 — San Diego, USA, 22 de fevereiro de 1989) nasceu em Košice ou Kassa, uma pequena cidade da Hungria, hoje Eslováquia. Seu pai era advogado e sua mãe professora. Poeta, dramaturgo, um dos maiores escritores da língua húngara, Autor de mais de sessenta livros. Escreveu seu primeiro romance aos 24 anos. Alcançou grande sucesso na Hungria. Foi um grande romancista, poeta e cronista das sutilezas da memória, escritor e jornalista. Em 1919, vai viver em Berlim e depois em Frankfurt, Alemanha. Começa a trabalhar como jornalista em 1920. Em 1945, é eleito membro da Academia Húngara de Ciências. No ano de 1948 saí de Budapeste num auto-exílio, inconformado com as idéias do regime comunista em seu país e deseja tornar-se cidadão estadunidense. Márai sempre escreveu em húngaro e produziu a maior parte de suas obras no período entre 1928 e 1948. Pagou um alto preço por suas opiniões contrárias ao regime comunista. Durante toda a sua vida Sándor Márai teve sua sorte modificada e influenciada pela guerra e pelos conflitos políticos em seu país.

Num momento, em que era muito respeitado por todos em seu país e estimado, como um dos maiores escritores da Hungria, e da Europa, toda sua obra foi proibida e Sándor Márai, caíu no esquecimento. Márai foi sempre um crítico inconformado com a ascensão do comunismo. Alguns críticos nunca aceitaram sua posição e por muito tempo desprezaram suas criações literárias, que traziam um retrato fiel da decadência da burguesia. Em 1952, depois de morar na Suíça, Inglaterra, vive por algum tempo em Nova York.

Em 1968 depois de passar um tempo em Salermo, Itália, muda-se para San Diego onde vive até suicidar-se em 1989, com um tiro na cabeça. O suicídio de Sándor Márai que partiu sem dizer por que, talvez possa ser compreendido se levar-se em conta todos os anos de esquecimento a que foi submetido pelo regime e pela falta de liberdade que tanto criticou a vida toda.

Sua literatura pode já foi comprada com a obra Thomas Mann, um dos maiores escritores alemães do século XX e a de Gyula Krúdy, autor húngaro de obra extensa e muito querido em toda Hungria e Europa. Em sua trajetória literária Sándor Márai, falou das armadilhas do amor, da paixão, da vida, da dor, da decadência e da morte. Teve seu olhar sempre voltado para todas as aventuras emocionais do homem. A força da literatura de Sándor Márai sempre esteve em sua descrença e na aceitação de seu destino. Seu amor a linguagem e o cuidado para expressar corretamente o que quer nos mostrar, revelam ao seu leitor que mais do que tudo Sándor Márai estava predestinado a escrever e a revelar a seus leitores o caos e a imperiosa necessidade de mudança. Somente depois de muitos anos, com a desestabilização do regime comunista, Márai pode ter seu trabalho novamente apreciado em seu país e ficou cada vez mais conhecido em todo o mundo.

As Brasas, – na edição em Portugal há um título mais poético (e que parece ser o do original húngaro): As velas ardem até o fim, que traduz (como o da edição no Brasil) cena do final do livro – é segundo a revista espanhola “Guia del Ocio”: “um dos melhores romances escritos no século 20, se não o melhor''. Não tenho como ratificar isso, mas posso dizer que é talvez o romance que mais envolveu. O texto simplesmente me capturou. Acredito que tenha me achado em afirmações como: “Os homens contribuem para o próprio destino, determinam certos fatos que vão acontecer com eles. Chamam o destino, apertam-no contra si e não se separam mais dele. Agem desse modo mesmo sabendo desde o início que esses atos terão resultados nefastos. O homem e seu destino se realizam reciprocamente, moldando-se um no outro. Não é verdade que o destino se introduz às escondidas em nossa vida: entra pela porta que nós mesmos escancaramos, pondo-nos de lado para convidá-lo a entrar."

Em seu castelo na Hungria, Henrik – velho general do Império Austro-Húngaro, de 75 anos –, recebe a notícia de que um antigo e inseparável amigo de infância e juventude, Konrad, está na cidade e deseja visitá-lo. Eles já não se vêem há 41 anos – ou para ser mais exato: 41 anos e 43 dias. O general contou cada um desses dias desde a abrupta e incompreensível separação. Na verdade, Henrik acredita mesmo que só continuou vivo por que sabia que esse “confronto” ainda aconteceria.

Na véspera do dia em que o general e Konrad se viram pela última vez, um episódio tão inesperado quanto surpreendente envolve os dois amigos. que desde a infância eram como gêmeos, durante uma caçada — pelo menos essa é a forte impressão de Henrik: teria mesmo seu amigo pensado em matá-lo? E por que não o consumou? Não, o general sabe que algo muito grave aconteceu — ainda que não consiga precisar o quê. Algo que muda profunda e definitivamente a vida dos dois amigos.

Durante o tempo em que estiveram afastados, Henrik não conseguiu deixar de buscar explicações para o que teria acontecido naquele dia fatídico e tudo o que decorreu a partir dele. Tão sozinho quanto incansável, o general busca respostas, quer descobrir o que realmente aconteceu, e o porquê do ocorrido. Em vão, pois acredita precisar de um interlocutor que lhe diga a verdade, uma única pessoa: Konrad. E eis que agora, no fim da vida, chega o momento do confronto há tanto esperado e que vai deslindar de uma vez por todas a existência estacionada de ambos. Para tanto, o general pede que preparem um jantar de gala para seu único convidado, e — talvez para prosseguir do ponto em que haviam deixado suas vidas em suspenso — procura reconstituir com rigorosas minúcias todo o ambiente em que se encontraram pela última vez, no mesmo castelo, no mesmo salão, na mesma mesa de jantar. Apenas um detalhe estará ausente da perfeita reconstituição: Krisztina, a falecida esposa do general. O jantar como aquele de 42 anos antes se desenrola com o velho general fazendo as perguntas que digeriu desde o jantar anterior. Inquiri quase impiedosamente seu convidado, tão insistentemente que mal dá chance a Konrad de dizer o que gostaria de ouvir — se é que pretendia mesmo ouvir o que já não soubesse…

Depois dessa sedução para entendermos porque As velas ardem até o fim só cabe-me desejar um excelente sábado. Amanhã, um convite especial: o livro, o homenageado com destaque.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

23 * São Jorge & sua espada

Porto Alegre Ano 4 # 1359

Hoje, trago uma blogada simultaneamente esotérica e exotérica. Quem ler verá. Aqui o primeiro desafio. Hoje, ao lado da comemoração título, é o Dia Mundial do Livro –não tenho como deixar de recordar que em 2002 estive nesta data na Biblioteca de Alexamdria, que terá comemoração especial aqui uma blogada dominical. Aguarde que será algo muito diferente.

Hoje é dia São Jorge um dos santos mais controvertidos, cuja cassação do calendário litúrgico já foi intentada, pois segundo alguns sua ‘criação’ não passa de lenda. Há razões para este blogue abrir uma exceção e dar destaque a uma das mais significativas produções da cultura popular em vários países do mundo.

A hagiografia católica o refere assim: Nascido na Capadócia, Jorge

trocou a Turquia pela Palestina onde ingressou no exército do imperador Diocleciano, no qual teve uma carreira de sucesso, chegando a ocupar o posto de tribuno militar.



Quando as perseguições aos cristãos recomeçaram, Jorge não quis negar sua fé e o imperador, sentindo-se traído, ordenou que o então amigo fosse submetido a pesadas torturas.

A todas Jorge sobreviveu com firmeza: enfrentou as lanças dos soldados, o peso de pedras, navalhadas, queimaduras. A cada vitória, convertia mais e mais soldados. O imperador mandou, então, chamar um mago que lhe deu para beber duas poções venenosas. O "filho da Capadócia" resistiu a ambas e ainda alcançou a conversão do próprio mago e da esposa do imperador, que não admitiu este acontecimento e mandou degolar o soldado.

A Jorge atribui-se também, a lenda de que haveria matada um dragão que ameaçava a filha do rei de Selena e dos habitantes desta cidade que fica na Síria.

Entre nós, brasileiros, é celebrado com muita festa e é invocado nos momentos de perseguições e tentações.

Prova de sua popularidade: o santo patrono da Inglaterra, Portugal, Etiópia, Geórgia, Catalunha, Lituânia, da Ordem Jarreteira, da cidade de Moscou e, extra-oficialmente, da cidade do Rio de Janeiro, é por tal hoje é feriado municipal hoje para os cariocas (título oficialmente atribuído a São Sebastião, outro santo de discutível existência), padroeiro da Diocese de Ilhéus, cenário de romances de um dos Jorges mais ilustres: Jorge Amado. Não havia casa portuguesa no Brasil que não tivesse uma imagem de São Jorge. O grito de combate dos portugueses durante a Batalha de Aljubarrota (1385) era: "Por Portugal e São Jorge". O Brasil herdou de Portugal a tradição de incorporar, nas procissões de Corpus Christi, uma imagem de São Jorge montado a cavalo e armado como militar.

É também padroeiro dos escoteiros– cujo dia é hoje – e do S.C Corinthians Paulista. As tatuagens e estampas de camisetas com o santo estão entre as que fazem mais sucesso no Brasil. É considerado o santo padroeiro dos jogadores de RPG; esta informação é trazida como homenagem a ativo comentarista deste blogue.

A devoção a São Jorge pode ter também suas origens na mitologia nórdica, pela figura de Sigurd, o caçador de dragões. A ligação de São Jorge com a lua é algo puramente brasileiro, com forte influência da cultura africana. Tal associação se dá porque na Bahia o santo é associado a Oxossi, orixá associado à lua. Em outros Estados, no candomblé e na umbanda, o santo é associado a Ogum. A tradição diz que as manchas apresentadas pela lua representam o milagroso santo, seu cavalo e sua espada pronto para defender aqueles que buscam sua ajuda. ¿A propósito tu não tens algum conhecido Jorge?

Mas como vimos aqui na blogada da última terça-feira: De Eyjafjallajökull via Popocatépetl até um casal mal-comportado – e tenho por que referi-la depois dos elogios que recebeu – assunto puxa assunto, para que esse blogue não se desvie de seu escopo, é preciso falar de uma planta popular como o santo que lhe empresta o nome: a Espada-de-são-jorge.

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Nome Científico: Sansevieria trifasciata

· Sinonímia: Sansevieria laurentii, Sansevieria trifasciata var laurentii

· Nome Popular: Espada-de-são-jorge, rabo-de-lagarto, língua-de-sogra, sansevéria

· Família: Liliaceae

· Divisão: Angiospermae

· Origem: África

· Ciclo de Vida: Perene

É uma planta herbácea, muito usada como decorativa, mesmo sendo altamente tóxica, cuja seiva pode matar quando em contato com a corrente sanguínea. Além do seu uso ornamental, e esse ocorre inclusive em praças públicas, as espadas-de-são-jorge são também conhecidas como plantas de proteção contra o mau-olhado, devendo ser colocada próximo à entrada das casas.

Devem ser cultivadas a pleno sol ou meia-sombra, em vasos ou em maciços e bordaduras. Resiste tanto à estiagem, como ao frio e ao calor, além de ser pouco exigente quanto à fertilidade. Multiplica-se por divisão de touceiras, formando mudas completas com folhas, rizoma e raízes. É usada como fornecedora de fibras para, misturada a argamassa ou mesmo ao barro, produzir materiais de construção de baixo custo.

Herbácea de resistência extrema, excelente para jardins de baixa manutenção. No entanto seu

crescimento é um pouco lento. Suas folhas são muito ornamentais e podem se apresentar de coloração verde acinzentada e variegadas, com margens de coloração branco-amareladas, todas com estriações de um tonalidade mais escura. As flores brancas não tem importância ornamental. É uma planta de utilização bastante tradicional e a cultura popular recomenda como excelente protetor espiritual.

Nos cultos afro-brasileiros, ela é também chamada de espada-de-ogum (quando tem coloração verde) ou espada-de-ossose (bicolor, com bordas amarelas). Esta folha sagrada é uma folha gún (excitante “quente”), sempre presente nos rituais de sasanha e na realização de águas sagradas denominada de abô.

Para os que seguem a terapia floral a espada-de-são-jorge é indicada para pessoas maledicentes, negativas e mentirosas que, com fofocas e maldizeres, impregnam negativamente seu campo energético. Igualmente indicada para pessoas que se contaminaram com essas situações de maledicência... Recomendada para servir de defesa contra pensamentos negativos.

Este floral trabalha com a intensa energia da proteção, com o verde da verdade... Propicia a defesa do lar, agindo como regenerador e purificador de ambientes. Protege também o corpo, o carro, o trabalho.

Uma blogada tão multicultural, traz como encerramento uma prece oficial da Igreja Católica, que aos crentes trará enlevo e aos não crentes oferece uma boa análise sociológica:

Ó Deus onipotente, que nos protegeis pelos méritos e bênçãos de S. Jorge, fazei que este grande mártir, com sua couraça, sua espada e seu escudo que representam a fé, a esperança e a caridade, esclareça a nossa inteligência, ilumine os nossos caminhos, fortaleça o nosso ânimo nas lutas da vida, dê firmeza à nossa vontade contra as tramas do maligno, para que, vencendo na terra como S. Jorge venceu, possamos triunfar no céu convosco e participar das eternas alegrias. Amém.

Antes da despedida, anunciar que amanhã a dica de leitura será algo caliente, pois As velas ardem até o fim. E dentro do pluralismo uma boa sexta-feira a cada uma e cada um e um muito bom shabath.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

22 * Ainda os 50 anos de Brasília

Porto Alegre Ano 4 # 1358

Um dia histórico esse 22 de abril. Talvez a primeira data histórica que aprendemos na Escola. Dia do Descobrimento do Brasil. Agora começa clarear. Uma quinta-feira que sabe à segunda. Até parece que esta tarde eu tenha aulas na UAM - Universidade do Adulto Maior.

Ontem, no feriado em que se homenageava Tiradentes, referi os 50 anos de Brasília. Por muitos anos – dentro de meu viés de colecionador – conservei uma garrafinha de ‘guaraná Caçula, que tinha um sobre tótulo alusivo ao feito de Juscelino Kubitschek. Recordo que era aluno do 3º científico do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. O ‘Julinho’. Era o ano de conclusão de curso marcado pelo espectro do vestibular. Foi um ano de varar noites estudantes, depois de jornadas de trabalho no Restaurante da Reitoria. O trabalho nos bailes de formatura era estímulo s para estudar e sonhar que um dia trocaria o avental de atendente por toga e beca de formando.

Mas hoje quero homenagear a 50tinha. Numa feliz coincidência faço isso no dia que almoço com meu colega Jairo, que por nove anos foi morador apaixonado de Brasília. Trago para unir-se ao coro dos que cantam a Capital da esperança um texto – do qual ofereci aperitivo ontem – de Moacyr Scliar, médico e escritor, um dos quarenta imortais da Academia Brasileira de Letras.

Brasília, 50 anos

Na primeira visita que fez ao desolado lugar onde seria edificada a futura capital do Brasil, o presidente Juscelino Kubitschek escreveu no Livro de Ouro de Brasília uma frase que ficou célebre: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.

Improviso? Certamente não. Político experiente, Juscelino já deveria ter esse texto na cabeça. E não há dúvida de que ele resume a ideia de Brasília – e as fantasias geradas por Brasília. Juscelino está falando em planalto, numa região sobranceira, elevada; está falando do centro de um país que tinha nascido no litoral e do qual dificilmente saía. E, muito importante, está falando em solidão. A solidão geográfica e também a solidão psicológica, que políticos às vezes conhecem bem e que levou Getúlio Vargas ao suicídio. Mas a solidão a que JK se referia não implicava necessariamente desamparo; estava mais próxima daquele “esplêndido isolamento” que caracterizou o governo britânico na fase áurea do império. O isolamento de quem, graças ao poder, está por cima da carne-seca. No caso de Brasília, o poder viria do fato de que a cidade seria o “cérebro das altas decisões nacionais”, levando o Brasil a “seu grande destino”. Uma grandiloquência que lembra outra frase famosa (e de certo também ensaiada), esta de 20 de julho de 1969, quando o astronauta Neil Armstrong, depois de dar os primeiros passos na Lua, disse: “Este é um pequeno passo para o homem, mas um gigantesco salto para a humanidade”.

Cinquenta anos depois do nascimento de Brasília, qual a atitude dos brasileiros em relação a sua surpreendente capital? Eu arriscaria

a palavra “ambivalência”. De um lado, trata-se de uma arrojada criação urbanística e arquitetônica. É verdade que muitos criticam o planejamento autoritário do Plano Piloto (uma alusão ao passado stalinista de Niemeyer), mas não há dúvida de que criatividade ali foi a regra. A localização também provou-se adequada; a Região Centro-Oeste hoje não para de crescer e a presença de importantes núcleos urbanos ali é fundamental.
De outro lado temos o conceito de ilha da fantasia, a ideia de que o esplêndido isolamento desliga as pessoas da realidade brasileira e faz com que vivam num mundinho à parte, gravitando em torno aos próprios interesses, o que frequentemente envolve corrupção e dinheiro na meia, o que, convenhamos, está longe de ser esplêndido.

A verdade é que Brasília, como o Brasil, está mudando. A prisão de Arruda serviu para mostrar que a impunidade já não é a regra. O país não chegou a seu “grande destino”, mesmo porque este correspondia à expectativa messiânica tão comum na tradição luso-brasileira (segundo o Padre Vieira, Portugal seria o mítico e grandioso Quinto Império mencionado na Bíblia), mas avançou muito no rumo da igualdade e da redução da miséria. De alguma forma o sonho de Juscelino contribuiu para isso.

Concluo com votos de uma muito boa quinta-feira. Adito o convite para nos lermos, aqui, amanhã.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

21 * Dia de Tiradentes & 50 anos de Brasília


Porto Alegre Ano 4 # 1357

Hoje é feriado nacional. Dia de despertar preguiçoso, como requer um feriado. Café devagar e leituras de jornais mais solta. A manhã é nublada. Agora blogar. A propósito, sou grato às manifestações entusiasmadas a blogada de ontem, postadas nos comentários e também as que me foram repassadas pela Gelsa (que desde Belo Horizonte, onde está participando do ENDIPE, considerou como das melhores blogadas que escrevi), pelo meu irmão Emar (que me chamou de Mc Mahon, o poeta referido ontem) e pela minha irmã Clarinha (que dá mostra de memória privilegiada trazendo a constelação familiar do ‘casal sem modos’). O bloguista agradece emocionado e turbinado para outras assim.

Talvez mais alguns brasileiros, como eu tenho colocado em sua agenda ‘fazer (ou pelo menos começar) o Imposto de Renda. Operação anual, usualmente menos justas a que se submetem os assalariados, pelo menos pela diferença de tratamento que estes têm se comparado aos profissionais liberais e aos empregadores. Mas aqui, não é fórum para lamentações.

Esse feriado de hoje, como muitos outros, corre o risco de ter seu significado apagado. A Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira, foi uma tentativa de revolta de natureza separatista abortada pela Coroa portuguesa em 1789, na então capitania de Minas Gerais, no Estado do Brasil, contra, entre outros motivos, a execução da derrama e o domínio português. A conspiração foi desmantelada em 1789, ano da Revolução Francesa. O movimento foi traído por Joaquim Silvério dos Reis, que fez a denúncia para obter perdão de suas dívidas com a Coroa. Se vê que então já existia a atual delação premiada.

Os líderes do movimento foram detidos e enviados para o Rio de Janeiro onde responderam pelo crime de lesa-majestade, materializado em inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Cláudio Manuel da Costa faleceu na prisão, ainda em Vila Rica (hoje Ouro Preto), onde se acredita que tenha sido assassinado, suspeitando-se, atualmente, que a mando do próprio Governador. Durante o inquérito judicial, todos negaram a sua participação no movimento, menos o alferes Joaquim José da Silva Xavier, que assumiu a responsabilidade de chefia do movimento.

Tiradentes, o conjurado de mais baixa condição social, foi o único condenado

à morte por enforcamento, sendo a sentença executada publicamente a 21 de abril de 1792 no Campo da Lampadosa. Outros inconfidentes haviam sido condenados à morte, mas tiveram suas penas reduzidas para degredo, na segunda sentença.

Após a execução, o corpo foi levado em uma carreta do Exército para a Casa do Trem (hoje parte do Museu Histórico Nacional), onde foi esquartejado. O tronco do corpo foi entregue à Santa Casa de Misericórdia, sendo enterrado como indigente. A cabeça e os quatro pedaços do corpo foram salgados, para não apodrecerem rapidamente, acondicionados em sacos de couro e enviados para as Minas Gerais, sendo pregados em pontos do Caminho Novo onde Tiradentes pregou suas idéias revolucionárias. A cabeça foi exposta em Vila Rica (atual Ouro Preto), no alto de um poste defronte à sede do governo. O castigo era exemplar, a fim de dissuadir qualquer outra tentativa de questionamento do poder da metrópole.

Foi alçado posteriormente, pela República Brasileira, à condição de um dos maiores mártires da independência do Brasil e como um dos percussores da República no país.

Frei Betto publicou em www.amaivos.com.br uma releitura não usual da Inconfidência Mineira olhando o mundo das mulheres e seus envolvimentos. É dele excertos que complementa essa blogada.

Nessa cultura machista que nos assola, quase não se destacam as figuras heróicas de mulheres envolvidas com a Conjuração Mineira liderada por Tiradentes. Mulheres que assumiram a coragem de apoiar os homens que amavam, comprometidos com a principal conspiração de nossa história: a que pretendeu libertar o Brasil do domínio português.

Mulheres que padeceram a dor de ver seus companheiros presos, torturados, degredados, os bens sequestrados, a infâmia proclamada sobre sucessivas gerações, sem a esperança de, no futuro, voltar a abraçá-los. Só uma delas o conseguiu.

Tomás Antônio Gonzaga, quarentão, apaixonou-se por Maria Doroteia Joaquina de Seixas, 23 anos mais nova do que ele. Eternizada sob o pseudônimo poético de “Marília de Dirceu”, os poemas apaixonados teriam sido escritos antes de o autor enamorar-se dela. Segundo Tarquínio J. B. De Oliveira, a verdadeira “Marília” é Maria Joaquina Anselma de Figueiredo, viúva enricada, amante de Luís da Cunha Menezes.

Os atritos de alcova entre o governador e o ex-ouvidor de Vila Rica teriam dado ensejo a que este redigisse, sob autoria anônima, as “Cartas Chilenas”, nas quais desprestigia Menezes, tratado pela alcunha de “Fanfarrão Minésio”.

Gonzaga, promovido para a Bahia, valeu-se do noivado com Maria Doroteia para prolongar sua permanência em Vila Rica e, assim, encobrir sua militância na conjuração. A delação de Silvério dos Reis os impediu de casar. O poeta, degredado para Moçambique, ali constituiu família. Maria Dorotéia faleceu em Minas aos 85 anos.

Bárbara Heliodora, mulher de Alvarenga Peixoto, teria evitado que o marido, uma vez preso, passasse de conspirador a delator. Ao ser decretado o sequestro de todos os bens dos conjurados, ela conseguiu provar ser casada em separação de bens e, assim, manter a posse do que lhe pertencia.

O romantismo criou o mito de que Bárbara Heliodora teria enlouquecido ao ver o marido condenado ao degredo na África. As fontes históricas atestam que soube gerir o seu patrimônio e educar os filhos José, João e Tristão, internados no colégio de Itaverava.

Outra mulher que merece destaque é Inácia Gertrudes, a quem Tiradentes recorreu, no Rio, à notícia de que o vice-rei o perseguia. Viúva de Francisco da Silva Braga, porteiro da Casa da Moeda, vivia com sua filha única, de 29 anos, a quem Tiradentes curara de uma chaga cancerosa.

Para evitar maledicências por abrigar o líder conjurado em casa de uma viúva e uma moça solteira, convocou seu sobrinho, padre Inácio Nogueira de Lima, e encarregou-o de procurar seu compadre, o ourives Domingos Fernandes da Cruz, que homiziou Tiradentes. Ali o prenderam.

Quitéria Rita era filha de Chica da Silva com o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. Chica havia nascido escrava na fazenda do pai de padre Rolim; era, portanto, sua irmã de criação. O padre e Quitéria amasiaram-se, embora não vivessem sob o mesmo teto. Antes de ser preso, Rolim cuidou de internar Quitéria e as filhas no Recolhimento de Macaúbas (ativo até hoje).

Rolim passou 13 anos encarcerado em Portugal. Em 1805, aos 58 anos, retornou ao Brasil e bateu à porta do Recolhimento, onde resgatou Quitéria e os filhos, instalando-se em Diamantina. Como fiel Penélope, ela jamais perdeu a esperança de rever o amado.

Hipólita Teixeira, rica e culta, casou-se com o coronel Francisco Antonio de Oliveira Lopes. Preso o marido, e degredado para a África, teve ela todos os bens sequestrados. Foi ela quem contra-atacou, em carta ao Visconde Barbacena, governador de Minas, a delação de Joaquim Silvério dos Reis. E também redigiu e espalhou os avisos sigilosos dando notícias aos conjurados de que Tiradentes havia sido preso no Rio, a 10 de maio de 1789.

Resta fazer uma homenagem à Brasília que faz 50 anos hoje. Fica a dívida, que talvez salde amanhã. Antecipo o primeiro parágrafo de crônica de Moacyr Scliar na Zero Hora de terça-feira: Na primeira visita que fez ao desolado lugar onde seria edificada a futura capital do Brasil, o presidente Juscelino Kubitschek escreveu no Livro de Ouro de Brasília uma frase que ficou célebre: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.

Com votos de uma muito boa quarta-feira com feriado. Lemo-nos amanhã.

terça-feira, 20 de abril de 2010

20 * De Eyjafjallajökull via Popocatépetl até um casal mal-comportado

Porto Alegre Ano 4 # 1356

E de repente ele entrou em cena. Há uma semana um até então ignoto, faz um espetáculo planetário. Como acredito que não exista que alguém saiba dizer seu nome: Eyjafjallajeokull ou Eyjafjallajökull, ele passou a ser chamado simplesmente o Vulcão. Escutei e reescutei o pronunciar de seu nome na Wikipédia. Se o nome é quase impossível de ser memorizado é também impronunciável, pelo menos para mim que tenho minhas naturais limitações com palavras estrangeiras.

Mas o Eyjafjallajökull não é qualquer vulcão como esses que alguns países nossos vizinhos colecionam as dezenas. Por exemplo, na Colômbia, em Pasto, onde estive em outubro, contemplava o imponente Galeras. Ele é um dos 38 vulcões da Colômbia, dos quais 15 estão ativos. Localizado no pico da Cordilheira dos Andes próximo de Pasto, o vulcão atinge os 4.276 m de altitude. Nós brasileiros, não temos nenhum vulcão. Certamente a não posse dos mesmos não nos causa nenhum sentimento de inferioridade. Ao contrário, reforça a tese eivada de senso comum de que Deus é brasileiro.

O Eyjafjallajökull oferece um espetáculo quase dantesco: a lava sendo despejada

aos borbotões de dentro de uma geleira. Lembra um pouco uma taça de sorvete flambada com conhaque. Ocorre que a massa fluída e ígnea se encontra com o gelo produzindo um choque térmico que torna ainda mais densa a coluna de fumaça que chega ter altura de mais de 10 quilômetros. Essa fumaça, por conter partículas de dióxido de silício (areia que se torna vitrificada pelas altas temperaturas) estabelece o caos nos aeroportos. Essas partículas põem em risco as turbinas dos aviões. Há aeroportos europeus que estão fechados há alguns dias com incalculáveis prejuízos às companhias aéreas e a milhares de passageiros. Depois da desolação nos aeroportos da Europa a ameaça também chega aos aeroportos da Ásia e da América do Norte.

Mas o Eyjafjallajökull a 10.681 quilômetros de Porto Alegre – com seu nome impronunciável me ensejou durante o esteirar de ontem outras evocações. Claro que não foram recordações tão vulgares como aquela que a palavra "vulcão" deriva do nome do deus do fogo na mitologia romana Vulcano ou que a ciência que estuda os vulcões – a vulcanologia – ganhou destaque na última semana, sendo que ignotos vulcanólogos são alçados a opinar acerca de questões: quando o Eyjafjallajökull vai voltar adormecer por mais duzentos anos ou quantos outros vulcões do tipo do Eyjafjallajökull existem adormecidos nas geleiras polares.

Se o Eyjafjallajökull (obrigado ao ctrl C + Ctrl V) tivesse o poético nome de Vesúvio ou de Etna, tão frequente em palavras cruzada para vulcão (de quatro letras) não surgiriam as lembranças que amealhei. Ele trouxe-me o nome de outro vulcão: Popocatépetl que agora aprendo que é um estratovulcão. Eu o conheci, a 60 km da capital mexicana. Há registros de que nos últimos dez anos, sempre no mês de dezembro, entra em atividade, soltando colunas de fumaça que cessam gradualmente. Tenho ainda que fazer público meu mais recente conhecimento de vulcanologia: estratovulcão é um vulcão em forma de cone, formado pelo magma extravasado. Linda a explicação.

Mas agora vou deixar a minha erudição vulcamológica. Vou mexer no baú de memórias catalisado pelo Eyjafjallajökull que evocou o Popocatépetl.

Era a metade da década de 50, do século passado. Tinha os meus 15 anos. Aluno marista do Ginásio São João Batista em Montenegro. Mas o Popocatépetl não estava em sala de aula. Lembro a cena na calçada em frente ao 1884 da João Pessoa, casa de meus pais. Ao lado da nossa casa havia uma das duas lavanderias da cidade. A lavanderia Cardoso. Ela me ensejava ganhar alguns trocados. Entregava roupas, ou melhor, fatiotas ou ternos, que não chamávamos de fato. As lavanderias de então era exclusivas para lavação de ternos. Toda a outra roupa era lavada – onde havia a operação coarar ou quarar –, secada e passada (com ferro a brasa) em casa. Se não estou equivocado, a lavação de cada terno custava 25 cruzeiros e eu ganhava pela entrega 50 centavos, se o freguês pagava. Se ele deixava ‘na conta’ o valor da entrega também ficava pendente. Como eu não tinha agilidade do meu irmão Sirne, que fazia suas entregas mais rápidas com bicicleta, não faturava tanto como ele.

Mas o que o Popocatépetl tem a ver com menino entregador de roupa de uma lavanderia? Ocorre que o proprietário da Lavanderia, o seu Cardoso – parece que era seu Odoaldo, o algo parecido; o Sirne, com sua memória privilegiada, me falta neste meu fazer-me memorialista –era uma enciclopédia ambulante. À noite, na hora dos papos na calçada, tão a moda dos tempos em que não havia televisão, reuníamos em torno do seu Cardoso. Havia debates acerca de conhecimento de História e de Geografia. O Popocatépetl, quase um trava-língua, era trazido com muita frequência e seu Cardoso sabia que ele tinha quase 5.500 metros de altitude e é o segundo vulcão mais alto do México.

Mas assunto chama assunto. O seu Cardoso tinha um filho: o Cláudio. Este casou com uma moça de Porto Alegre e mais se dizia filha de um poeta. Havia que desfizesse a linhagem e dizia que a moça era ‘filha de criação’ do vate e mais nem era nascida na capital. Manoel Mac Mahon Pontes, cujos versos podiam ser vistos na revista do ferroviário, que meu pai recebia. Aqui devo me congratular com minha memória, pois googleei o nome e encontrei a ratificação do nome do poeta (adormecido mais de meio século em algum desvão de meu cérebro) e uma poesia que certamente li então. Como sei que tenho pelo menos um leitor aficionado pelas memórias ferroviárias, ela encerra a blogada de hoje. Mas antes, ainda, algo pícaro.

Ocorre que o jovem casal – o filho de lavadeiro e a filha do poeta – passaram a (na)morar em uma casa nos fundos da lavanderia. Fizeram sua lua de mel entre as fatiotas que estavam dependuradas nos varais para secar. Meus pais nos proibiam de ver os beijos dos recém-casados e diziam que tudo não passava de uma sem-vergonhice de um homem e de uma mulher sem modos que não sabem o que são os bons costumes, desrespeitando a honrada vizinhança, especialmente crianças inocentes. Na verdade tudo não passava de inocentes beijos de um homem e uma mulher casados e abençoados pela santa igreja.

Eis como se pode produzir uma blogada: o Eyjafjallajökull – astro deste abril de 2010 – evocou o Popocatépetl, que lembrou a Lavanderia do seu Cardoso e seu entrega de ternos e seu filho que casa com uma moça que para meus pais ao invés de vir de Porto Alegre certamente era remanescente de Sodoma, rediviva nos anos 50. Com versos do pai daquela que era objeto da ira de meus pais, votos de uma terça-feira.

O GAÚCHO E O TREM
Manoel Mac Mahon Pontes

O mundo todo muda, a todo instante,
e a querência não foge à lei geral.
Hoje, o gaúcho, cavaleiro andante,
muda a aparência, mas dentro é igual.

Já não corta o rincão com seu bagual,
a repontar a tropa a um chão distante.
Usa o trem, boitatá da etapa atual,
a cuspir fogo, em rampa ou em lançante.

Domador e tropeiro, o maquinista
o comboio conduz, com gado e gente,
carreteando o progresso, atenta a vista
à paisagem que avista à sua frente,
e une povoados, em veloz conquista,
monarca do passado e do presente
.