ANO
9 |
EDIÇÃO
2852
|
Inauguro
as edições augustanas (sim! o adjetivo existe: relativo ao imperador Augusto,
em homenagem a que foi dedicado o mês que estamos iniciando e segue aquele dedicado
a Júlio César) reapresentando a interrogação final da edição de ontem.
Qual a diferença de
mitos gregos dos relatos bíblicos ou corânicos? Este pergunta impertinente, talvez tenha aflorado a muitos na
leitura do texto de ontem, quando encerramos julho,
comentando algo acerca de mito.
Uma dura afirmação de David Hume (1711-1776)
catalisa as discussões sobre que trago em seguida: “Se
acreditamos que fogo esquenta e a água refresca, é somente porque nos causa imensa
angústia pensar diferente!” Parece que a resposta do interrogante que está acima, está em nos
decidirmos a quem atribuímos a autoria dos textos ditos sagrados.
Há certo consenso em aceitar que a Bíblia foi
escrita por cerca de 40 autores, entre 3,5 e 2,5 mil anos A.P. (o Antigo Testamento)
e 45 e 90 d.C. (o Novo Testamento), totalizando um período de quase 1600 anos.
A maioria dos historiadores acredita que a data dos primeiros escritos
considerados sagrados é bem mais recente: por exemplo, enquanto a tradição
cristã coloca Moisés como o autor dos primeiros cinco livros da Bíblia
(Pentateuco), muitos estudiosos aceitam que foram compilados pela primeira vez
apenas após o exílio babilônico, a partir de outros textos datados entre o
décimo e o quarto século antes de Cristo.
Com esta informação, podem-se discriminar três
níveis de autoria. 1) O autor da Bíblia sagrada é Deus, que legou a obra aos
humanos, assim como foram dadas as tábuas da lei com os mandamentos. 2) Foi escrita
por dezenas de pessoas oriundas de diferentes regiões e nações, que foram
inspiradas por Deus, ou seja, o fizeram por receber a verdade revelada. Assim
afirmam que toda a Bíblia ou Escritura é inspiração de Deus, e o consideram
como o autor. 3) É um livro de histórias, de lendas, mitos e orientações de
vida de povos, que ao longo dos tempos foi se completando.
Destas três leituras podemos afirmar: A primeira é uma postura fundamentalista
radical e não tem a adesão de muitos. A segunda
é a de mais corrente aceitação, até por permitir um espectro muito amplo de
opções de autorias. A terceira tem a
adesão de não crentes e não é aceita pelos religiosos, mesmo não ortodoxos.
Quanto à autoria do Alcorão, não se admite que não seja como os muçulmanos acreditam: é
a escritura divina e é a palavra literal de Deus. Foi o Nobre Alcorão revelado a Maomé (e não escrito por ele), o último
mensageiro de Deus, para tirar a humanidade das trevas do politeísmo e
ignorância para a luz do Islã. O Alcorão ab-roga (anula /retira de uso) todas
as escrituras (inclusive a torá judaica e os evangelhos cristãos) antes dele.
Espraiei-me mais que pensava. Agora, previa
fazer um exercício de comparação entre um mito e um texto sagrado. Permitam-me posterga-lo
para amanhã.
Muito bom o texto de hoje, embora seu conteúdo possa trazer acalorados debates. Completaria ao Mestre que o cerne da questão não está bem em que acreditar, mas sim em aceitar a crença de cada um, já que ninguém, nem a ciência, tem as respostas exatas. O problema maior nesses debates são os antolhos que carregam os radicais, seja de um lado, seja do outro. Para esses, dentro da minha postura, guardo sempre uma última pergunta; " Está bem, big-bang, mas quem riscou o fósforo?"
ResponderExcluirComo escrevi algumas vezes, a Bíblia é um apanhado de crônicas produzidas por pessoas diversas em épocas distintas e sobre assuntos os mais variados. Não é um compêndio científico, tampouco histórico, serve apenas como referência de usos e costumes de povos que viveram num passado que, por coincidência, era antes, durante e algum tempo depois da vida de Jesus.
ResponderExcluir