ANO
9 |
EDIÇÃO
2859
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De vez em vez, me
leio em edições passadas deste blogue. Ou estou à procura de um indez — ou,
para ser mais acadêmico, de um gérmen de cristalização — para um novo texto; ou
estou sendo ajudado pelo Google desktop na ressureição de textos olvidados.
Dou-me conta então, o quanto sou repetitivo em meus escritos e em minhas falas.
Isto é no mínimo desconfortável.
Estou escrevendo um texto que quer analisar, de
uma maneira mais extensa algo que está no título desta blogada. Já amealho
algumas páginas.
Já contei várias
vezes algo que faz parte da coletânea de histórias familiares. Vou repetir
aqui. Parece que se constitui em apropriada protofonia à busca de evidenciar o
dogmatismo da Escola. Uma de minhas filhas estava, talvez, no 5º ano do ensino
fundamental. Ao buscá-la no colégio João XXIII deliciava-me com relatos de suas
aprendizagens.
“Hoje aprendi os
nomes das caravelas de Cabral”. Logo me recitou sonoramente: “Santa Maria,
Pinta e Niña!” Ante minha contestação, ao dizer que essas eram as caravelas de
Colombo, ela foi peremptória. “A professora disse que são do Cabral, logo são
do Cabral!” Chegados em casa, consultamos a enciclopédia, pois há época não
havia Google ou assemelhados. Lá estavam, para orgulho dos conhecimentos de
história de seu pai, que estas eram as caravelas de Colombo. A Ana Lucia não se
deu por vencida: “A enciclopédia está errada, pois a professora disse que são
de Cabral!”. Precisei, com cuidado, telefonar para professora, que
atenciosamente me agradeceu, pois não se dera conta do engano.
A Escola parece
que agora superou a máxima de Santo Agostinho ‘Roma locuta est, causa finita est!’
Hoje a
Escola é assolada pela
informação. Esta superou o ‘Roma falou, a causa está decidida!’ isto é:
É dogma, deve-se acreditar.
Diferentemente da Escola que se esboroou na mítica virada do milênio, a atual
não é mais centro de informação. Por tal, é provável que seja menos dogmática, —
pois não tem mais a verdade — e sim, algumas incertezas para transmitir.
Há uma pergunta
que parece não ser muito recorrente, quando especulamos acerca de como
construímos o conhecimento: aonde
aprendemos? Talvez, ao olharmos o título que encima esta edição e mesmo algumas
das análises e discussões que foram apresentadas em blogada anteriores, se
tenha uma resposta pronta: a Escola e a
Universidade são os dois lócus, mais usuais de aprendizagem*.
A resposta, mesmo
que pudesse ser considerada correta, não pode ser tão reducionista. Há
descritores para elaborarmos uma melhor resposta. Começo com dois: espaço e
tempo, ou onde e quando; talvez, melhor: a geografia e a época. Adiante,
reconheceremos que há que discriminar este
aprender. Será ele apenas informações ou, talvez, conhecimentos ou já conseguimos
produzir saberes.
Já tenho assunto
para mais algumas blogadas. Fazer a circunscrição dos dois descritores. Mas
isso pode ficar para a próxima semana. Deve haver algo mais palatável para um
fim de semana invernoso.
* Permito-me
dizer que, mesmo sabendo que o plural de lócus, na acepção de lugar, é loci
(segunda declinação latina), parece pedantismo referir-me ‘aos dois loci’. Um
pouco diferente da terceira declinação, quando os terminados em __um, fazem o
plural em __a, e por tal nos referimos, por exemplo, aos principia de Newton ou a um
principium.
Mestre Chassot, permito-me ir além em seus excertos, a universidade, a escola e a igreja caminham em dogmas. Nos ensinamentos medievos, em determinado momento, o mundo era uma tábua, criava-se assim um dogma aceito e defendido por todos os doutos da ciência da época. O universo geocêntrico foi ferrenhamente defendido por Aristóteles, sendo durante muito tempo a verdade mais cristalina. Na educação antiga a tabuada era cobrada com uma palmatória, artefato de madeira de lei própria para o castigo aos não estudiosos, hoje nem em casa o castigo assim é permitido. Na escola aprendi que Caxias era um herói nacional, homem de muita coragem e militar cuja atuação foi decisiva na guerra do Brasil contra o Paraguai. Já quando estive nesse país, o Paraguai, escutei relatos dos locais mais antigos sobre verdadeiras carnificinas com direito a matança de crianças dizimando vilarejos inteiros sob o comando do nosso herói. Assim concluo que até as verdades históricas e científicas não são absolutas, dependem muito do ponto de vista de cada um, o aprendizado será o somatório da vivência com os valores adquiridos em bancos escolares, em livros, e principalmente em uma profunda reflexão do contexto.
ResponderExcluirOnde aprendemos?
ResponderExcluirNo início apenas ver e observar
Do visto extrair o conhecimento
Aprender levava a outro patamar
E apressava o desenvolvimento.
E vieram as escolas bem depois
Somente decoreba e descrição
E se decorava dois vezes dois
Mais alguma leitura e redação.
Mas vinha o nível médio então
Por isso aumentava o desafio
De modo que acabava a inação
Em matérias novas até o fastio.
Mas todo ensino é uma ilusão
Somente livro preenche o vazio.