ANO
9 |
EDIÇÃO
2858
|
Como ontem, a edição de hoje é catalisada por comentário que
aditou àquela edição um dos mais assíduos comentaristas deste blogue. “A Bíblia na realidade não é um livro, é
uma coletânea. [...] Em uma de várias interpretações temos a figura de Lilith,
a qual teria sido a primeira mulher de Adão”. Escreveu o Antônio Furtado.rago a
propósito, excertos que retiro de A
Ciência é masculina? É, sim senhora! ao analisar a nossa tríplice ancestralidade
(grega, judaica e cristã), ao referir-me ao nosso DNA judaico, na 6ª ed, 2013,
p. 75-80, escrevo:
Assim, ao se utilizar os trechos que foram extirpados nas
sucessivas edições do discurso mítico. Podemos fazer outras leituras: No sexto
dia da Criação, Deus criou o homem à sua imagem: "à imagem de Deus o
criou: macho e fêmea os criou." (Gênesis, 1,27). Tal afirmação categórica
é uma negação da versão mais difundida: a de que o homem foi criado antes da
mulher. Neste ponto, existem interpretações diferentes. A primeira é a de que
Adão seria um ser andrógino (macho e fêmea) e que a separação de Eva
representaria a cisão da criatura original andrógina em duas. A androginia de
Adão é explicada em alguns textos rabínicos: "O primeiro homem era macho e
fêmea ao mesmo tempo, pois a escritura relata: E Deus disse: façamos o homem à
nossa imagem e semelhança (Gênesis, 1,26). É precisamente para que o homem se assemelhasse
a Deus que foi criado macho e fêmea ao mesmo tempo".
Existe, contudo, outra leitura, que parece mais fascinante, a de
que, a exemplo do que foi feito com os animais, Deus teria criado um casal:
Adão e uma mulher que antecedeu a Eva. Esta mulher primordial teria sido Lilith, figura muito presente/sonegada na antiga tradição
judaica. Lilith não se submeteu à dominação masculina. A sua forma de
reivindicar igualdade foi a de recusar a dominação na relação sexual (com o
homem por cima).
A revolta de Lilith contra Adão e a fuga do paraíso determinou a
necessidade da criação de Eva, esta formada a partir de uma costela de Adão
(Gênesis, 2, 21). É possível, portanto, imaginar uma maquiagem entre o capítulo
1, versículo 28, e o capítulo 2, versículo 21. Para Laraia (1997) é provável
que este corte tenha ocorrido, mesmo em época bastante remota, como no quarto
século antes de Cristo, quando se supõe que o texto escrito tomou uma forma
aproximada da atual. O próprio teor do Gênesis, capítulo 1, versículo 28, sustenta
esta hipótese: "E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e
multiplicai-vos, e enchei a terra ..." Como seria possível abençoar a
ambos e recomendar a multiplicação se Eva ainda não estava criada? Lilith, em gravura de John Collier
(1892).
[...] Eva, porém, à sua maneira – e voltamos à ortodoxia –,
repetiria o gesto de rebelião de sua antecessora. Deus tinha permitido ao homem
comer todas as frutas do jardim, com apenas uma exceção: "Mas da árvore da
ciência do bem e do mal, d'ela não comerás; porque no dia que d'ela comeres,
certamente morrerás." (Gênesis, 2,17). É exatamente esta interdição que é
rompida por Eva. A versão canônica é que a mulher assim procedeu tentada pela
serpente, sob a alegação de que o consumo da fruta proibida a tornaria tão
poderosa como Deus. Acreditando na pérfida serpente, Eva comeu do fruto
proibido e convenceu o seu companheiro a fazer o mesmo. A punição por este ato
de desobediência original foi a perda da imortalidade, a partir de então os
homens tornaram-se mortais. Existem outras interpretações apresentadas por
Laraia (1997) para esta história. Os teólogos modernos acreditam que a serpente
foi a forma tomada pelo demônio para tentar Eva. Existe também a crença de que
Lilith teria se transformado em serpente para tentar Eva e se vingar de Adão.
Uma terceira interpretação é a que faz parte de uma tradição
judaica: "a serpente bíblica era um animal astucioso, que caminhava ereto
sobre as duas pernas, falava e comia os mesmos alimentos que o homem. Quando
viu como os anjos prestigiavam Adão, teve ciúme dele, e a visão do primeiro
casal tendo relação sexual despertou na serpente o desejo por Eva. Por
instigação de Satã ou Samael, ou, segundo algumas versões, possuída por ele, a
serpente persuadiu Eva a comer o fruto proibido e seduziu-a. Como castigo, suas
mãos e pernas foram cortadas e ela teve de se arrastar sobre o seu ventre, todo
alimento que comia sabia a pó, e tornou-se eterna inimiga do homem. (...)
Quando teve relação sexual com Eva, injetou sua peçonha nela e em todos os seus
descendentes. Essa peçonha só foi removida do povo de Israel quando estavam no
monte Sinai e receberam o Torá." (Unterman, 1992). Lilith como serpente em pintura de Michelangelo em
1510 d.C
O versículo do Gênesis (3,16), quando Deus dá o castigo a Eva pela
transgressão “A paixão vai te arrastar para teu marido, ele te dominará”, não
poderia ser mais explícito para marcar as relações de dominação e dependência
da mulher ao homem, anunciando previamente que a mulher sofreria muito na
gravidez e daria à luz entre dores. [...] Não se pode esquecer que essas
releituras são muito recentes e por séculos foi a letra sagrada que determinava
subjugação. Também não se pode esquecer o quanto as interpretações amenizadoras
nem sempre chegavam, ou não eram aceitas pela maior parte dos fiéis.
LARAIA,
Roque de Barros. Jardim do Éden revisitado. Rev.
Antropol., São Paulo, v. 40, n. 1, 1997. Available from .
access on 14 Apr. 2011
Gênesis na versão tupiniquim
ResponderExcluirNo Eden tranquilos estavam Eva e Adão
Perpassava por suas mentes, inocência,
Embora nua a gostosa Eva e ele peladão,
Desse tal pecado não tinham consciência.
Porém havia no ambiente um certo tédio
Faltava-lhes algo que àquilo desse nexo
Para resolver a situação, qual o remédio?
E foi nesse átimo que inventaram o sexo.
Então para viver descobriram uma razão
Transavam entre as árvores e os bichos
Contudo o Criador disse-lhes: essa não!
Se querem pecar vão para outros nichos.
E envergonhados os pecadores se vão
Tornam-se daí felizes catadores de lixo.
Um dia qualquer no Éden
ResponderExcluirPois é, todo arrumadinho o Planeta
Aves, mamíferos, répteis até inseto
E devagar caía areia da ampulheta
Mas parecia um mundo incompleto.
Agitar ambiente resolveu o Criador
Colocar ali um fator desconcertante
Talvez um ser inútil e transgressor
Que mudasse tudo o mais, adiante.
Veio-lhe portanto uma ideia original:
Vocês querem agito? Pois tomem!
Então vou criar o ente mais bestial
Que vocês não, mas ele os comem.
É medonho mas se acha especial
O qual resolvi chama-lo de homem.
A fé é subjetiva, depende de cada um de nós estar ou não em paz em seu íntimo. A religião é objetiva, é criação humana com seus dogmas e ritos. E como dizia Santo Agostinho, quem precisa de oração são os vivos, os mortos já receberam o que lhes é devido. Como não identificar o viés machista nos escritos sagrados das maiorias das religiões. Entre os apócrifos temos o livro de Maria Madalena, também conhecido como Evangelho de Maria de Bethânia onde identifica-se claramente o preconceito contra a mulher, leia esse pequeno trecho : “Pedro precipitou-se adiante e disse a Jesus: “Meu Senhor, nós não podemos mais suportar esta mulher, pois nos tira a oportunidade; ela não deixou falar ninguém de nós, mas sempre ela a falar. Meu Senhor que as mulheres cessem afinal de perguntar, de modo que nós possamos também perguntar”. Mais adiante temos evidência de que Jesus, como todo ser humano, tinha Madalena como esposa, observe-se o relato: E Maria Madalena também disse a Jesus: “Por isso, eu tenho medo de Pedro: ele costuma ameaçar-me e odeia o nosso sexo”. Fica claro que para se crer, é necessário que pelo menos se tenha conhecimento dos relatos históricos.
ResponderExcluirAbraços