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domingo, 30 de agosto de 2015

30.- MORREU OLIVIER SACKS


ANO
 10
Morreu um ídolo...
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 3077

Estava faltando algo triste para este mês tido, usualmente, como mês de desgosto. No quase ocaso de agosto, neste domingo, que sabe a primavera pela floração que tinta a cidade, uma notícia me faz triste. Morreu Olivier Sacks. Por estas coincidências inexplicáveis, ainda, ontem à noite presentei à aniversariante que será aqui assuntada na terça-feira o seu último livro.
Oliver Wolf Sacks (Londres, 9 de julho de 1933 - Nova Iorque, 30 de agosto de 2015) foi um neurologista, escritor e químico amador anglo-estadunidense. Renomado professor de neurologia e psiquiatria na Universidade de Columbia. Passou muitos anos na faculdade de clínica da Faculdade de Medicina Albert Einstein na Universidade de Yeshiva. Em setembro de 2012, Sacks foi nomeado professor de neurologia clínica na NYU Langone Medical Center, com o apoio da Fundação de Caridade Gatsby. Ele também ocupou o cargo de professor visitante na Universidade de Warwick, no Reino Unido. Sacks é o autor de vários best-sellers acerca de estudos de casos de pessoas com distúrbios neurológicos.
Esta notícia era esperada. Este ano fez de maneira emocionante o anúncio de sua morte.
“A vida de um homem não é mais importante para o universo do que a de uma ostra”, escreveu o filósofo escocês David Hume. O escritor e neurologista Oliver Sacks pegou emprestado o título da autobiografia de Hume, “Minha Própria Vida”, para um ensaio no New York Times em que contou de um câncer diagnosticado em 2005 que teve metástase em seu fígado, dando-lhe alguns meses.
É uma belíssima carta de adeus, uma reflexão serena e altiva sobre a morte e o que importa realmente. “Nos últimos dias, tenho visto minha vida como se de uma grande altitude, uma espécie de paisagem, e com um senso profundo de conexão com todas as suas partes”, escreve.
Não é o testemunho de um moribundo. Ao contrário: ele avisa que tem livros para terminar, mas agora há outras prioridades. Não há mais por que discutir política ou o aquecimento global.
“Esses assuntos não me dizem mais respeito; eles pertencem ao futuro”, diz. “Não posso fingir que não estou com medo. Mas meu sentimento predominante é de gratidão. Amei e fui amado; recebi muito e dei algo em troca; li, viajei, pensei e escrevi”.
A muito comovente carta de despedida está em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-cancer-terminal-de-oliver-sacks-gerou-sua-belissima-carta-de-adeus/

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

28.- DESDE PAU DOS FERROS


ANO
 10
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 3074

Mais uma vez, estou em uma cidade que deve ser desconhecida da maioria de meus leitores, como foi, na semana passada, Iguatu. Esta cidade cearense, aliás, não fica muito distante de Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, aonde cheguei ao entardecer desta quarta-feira. Por razões particulares, não participarei de uma mesa redonda esta manhã, pois antecipei meu retorno. Esta manhã, às 8h, viajo por via rodoviária a Juazeiro do Norte. Dali, voo Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre aonde devo chegar quase 22h.
Na quarta, deixei Porto Alegre às 6 horas. Fui ao Rio de Janeiro, aonde fiquei cerca de 30 minutos. Então em uma longa viagem de mais de 3 horas, cheguei à Fortaleza; cheguei depois do meio dia. Ali era esperado pelo prof. Dr. Ulisses, que já em janeiro iniciou as gestões para este estar aqui e pelo Joaby, competente motorista do IF-RN, campus de Pau dos Ferros.
A viagem rodoviária, de cerca de 350 km, praticamente toda em território cearense, é dolorosamente impactante, de maneira especial quando se deixa a zona litorânea e ingressa na região do semiárido, que agora deveria chamar-se superárido. Deste 2008, não chove de maneira consistente na região. Isto a torna desértica. Percorrem-se dezenas de quilômetros sem avistar qualquer plantio ou gado de qualquer variedade. A região é formada por dobradas, fazendo o terreno muito íngreme, pois há muitas serras. Num trecho a estrada é carroçável, e isto aumenta o impacto de desolação.
O Joaby e o Ulisses foram mais que competentes cicerones, narrando a região, a começar pela versão da etimologia do nome de PAU DOS FERROS: ser uma referência a uma árvore que, pela sua grande dimensão, oferecia sombra e consequentemente um local para repouso dos vaqueiros que deram origem ao povoamento da região. Estes prendiam suas montarias com ferros na árvore.
Cerca de hora depois de chegar de uma viagem de mais de 13 horas, fiz a primeira palestra de mais de duas horas “Assestando óculos para ler o mundo” para mais de uma centena de professores. Os docentes e discentes de vários campi do IF-RN, me acolheram carinhosamente. Personalizo na profa. Dra. Ayla, coordenadora do curso de Química, meu reconhecido agradecimento a cada uma e cada um por esta acolhida.
Porém as emoções maiores ocorreram na fala da manhã de ontem. Quando entro no auditório Ariano Suassuna, com capacidade para 250 pessoas; muitos por falta de lugar estavam assentados no chão, todos se põem de pé e aplaudem vigorosa e incessantemente. Nunca, antes vivera tal emoção. Minha fala, apresentada pelo Prof. Dr. Maurício Façanha, amigo de há muito, foi “Das novas exigências de estar no mundo da academia”. Das muitas manifestações destaco a do Prof. Dr. Wyllys, um dos pró-reitores do IF-RN, que ao final da fala veio a público e disse que enquanto biólogo e pesquisador do meio ambiente, em seus 30 anos de magistério, a minha fala foi das mais significativas que assistira. Foi mais generoso ainda: Citando autor que referiu, disse que seu conceito de felicidade é um estado de bem estar que a gente não quer que termine. O prof. Wyllys disse viver uma momento de não desejar que a minha fala terminasse.
O almoço foi com um grupo de professores e dirigentes do IF-RN, na casa da Profa Antônia, diretora do Campus do IF-RN de Pau dos Ferro. Saboreei pratos típicos que desconhecia. A tarde dei um minicurso: “Saberes primevos fazendo-se saberes escolares”.
Tirei centena de fotos e autografei dezenas de meus livros. A propósito fotos, fiz-me fotografar junto a um jovem (5 anos) baobá. Esta árvore evoco sempre as histórias do Pequeno Príncipe de Saint Exupéry. Nunca antes vira ao vivo está árvore. 
Em se tratando de natureza, um registro singular: Em minhas falas aqui, como também nas de Iguatu, abri com um prelúdio, fazendo uma breve referência à encíclica "Laudato Si'. Quase todos meu ouvintes, então, tiveram o primeiro conhecimento da mesma.

À noite confraternizei com um grupo de professoras e professores do IF-RN num centro de eventos, que se diz ser o maior espaço potiguar para concentrações. Mais fotos e autógrafo marcaram esta quase despedida de momentos com novos momentos de aprendizados acerca do que fazem estes docentes, que me emocionaram.
Devo ao cabo deste relato acerca de um rápido, mas muito gratificante estar no Campus do IF-RN de Pau dos Ferros, dizer que é muito difícil estar saindo sem cumprir toda agenda. Muito queria estar na mesa-redonda desta manhã e na entrevista à televisão programada. Agradeço aos que gestionaram para que eu pudesse, não sem dificuldades, antecipar meu retorno.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

24.- APRENDENDO COMO VIVER JUNTOS


ANO
 10
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Começa a última semana de agosto. Se a semana passada foi cearense, esta deverá ser potiguar. Há um entremeio com aulas e banca na segunda e terça no Centro Universitário Metodista IPA.
BANCA: Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão Mestranda: Andrea Duarte de Almeida “A importância da inclusão e apoio paterno durante o puerpério imediato para a motivação e continuidade da mulher que amamenta”. Marlis Morosini Polidori (orientadora), Ricardo Pavani (co-orientador), Daiane Dal Pai (UFRGS) e Attico Chassot (IPA).
 Ainda nesta noite de segunda há uma sessão sumarenta do Fronteiras do Pensamento, pois há uma dose dupla: Richard Sennett e Saskia Sassen, isso comento adiante.
Na semana passada Iguatu entrou em minha história, não apenas pelas cinco
palestras que proferi, mas pelos atenciosos contatos com mulheres e homens envolvidos em fazer alfabetização científica. Na noite de quarta, recém-chegado a cidade cearense, falei na 4ª semana de Química do IF-Ceará, onde recebi demonstrações de bem querer. A quinta foi marcada por três atividades organizadas pela CREDE 16 (Coordenadoria Regional para o Desenvolvimento da Educação): pela manhã e pela tarde falei para alunos e professores do ensino médio, com saborosos diálogos e à noite a palestra foi para cerca de 400 professores de sete municípios da região geo-educacional de Iguatu, que lotaram um auditório que se mostrou muito atencioso. Na manhã de sexta, a quinta palestra foi para mais de meia centena de professoras e professores do SESC. A foto da professora de História da Matemática Jeanne d'Arc Passos, registra uma parte do simpático grupo.
Em cada uma das palestras muitas fotos e autógrafos. Sou particularmente grato aos senhores Raimundo e Uchoa que me conduziram nas duas vezes 3 horas entre Juazeiro do Norte/Iguatu/Juazeiro do Norte em meio às curvas na caatinga inóspita da região do Cariri, que clama por água. Um e outro não foram apenas hábeis motoristas, mas, enquanto conhecedores da região souberam distribuir seus saberes. Personalizo no Professor Tadeu Teixeira de Souza, que catalisou meu estar em Iguatu, a minha gratidão a cada uma e cada um que me acolheram.
Agora, preparo-me para similar jornada em Paus dos Ferros, no Rio Grande do Norte, a partir de quarta-feira.
 Como referi na abertura a sessão de hoje do Fronteiras do Pensamento terá uma sessão centrada no tema de 2015: como viver juntos com Richard Sennett e Saskia Sassen.
Nascido em Chicago, o estadunidense Richard Sennett é considerado um dos maiores intelectuais em sociologia urbana na atualidade. Seu trabalho une sociologia, história, antropologia e psicologia social. Aluno da filósofa alemã Hannah Arendt e com influências do filósofo francês Michel Foucault, seus estudos analisam a vida dos trabalhadores no meio urbano e questões ligadas à arquitetura das cidades. Richard Sennett é graduado pela Universidade de Yale e com Ph.D. em História da Civilização Americana pela Universidade de Harvard. Em seu trabalho, explora como indivíduos e grupos dão sentido social e cultural às cidades em que vivem e ao trabalho que realizam.
Sennett reflete sobre como os sujeitos podem se tornar intérpretes competentes da própria existência, mesmo diante dos obstáculos que a sociedade oferece. Para ele, pensamento e sentimento estão contidos no processo de fazer, transformando em falsa a divisão entre o “homem que faz" e o “homem que pensa". Em reconhecimento aos seus estudos, recebeu os prêmios Hegel e Spinoza, e o doutorado honorário pela Universidade de Cambridge, entre outros.
Saskia Sassen, nascida em Haia, nos Países Baixos, é referência na área da sociologia urbana por suas análises sobre os fenômenos da globalização, da migração urbana e do impacto das tecnologias de comunicação nas formas de governo.
O termo “cidades globais", criado por Peter Hall em 1966, foi popularizado a partir das pesquisas de Sassen. Ela entende que as “cidades globais" estão mudando a geografia do poder, com a intensificação das transações entre elas, e que, ao mesmo tempo, devem ser foco de estudos, pois são também o local onde minorias e vulneráveis encontram espaço para os seus projetos de vida. De acordo com ela, é preciso entender como as pessoas que são expulsas do interior, ou de pequenas cidades encontram, na cidade global, o lugar que lhes resta para viver, mesmo que dormindo nas ruas (mais detalhes em www.fronteiras.com 
Sennett e Sassen se conheceram em meados de 1970, quando ela assistiu à palestra do sociólogo com Michel Foucault no New York Institute for the Humanities, fundado pelo estadunidense. Saskia Sassen, então membro do instituto, foi convidada para um jantar na casa de Sennett e afirma ter ficado mais impressionada ainda com a capacidade do sociólogo de cozinhar, um hobby que o sociólogo cultiva. Casados desde 1987, a parceria de décadas só não acontece na cozinha. Do primeiro jantar até hoje, brinca Sennett, fazer supermercado, cozinhar e lavar a louça são tarefas exclusivas dele. Felizmente, a união do casal no pensamento é inabalável.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

19.- DESDE IGUATU


ANO
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Esta é uma edição especial. Vou começa-la com um senso comum: acredito que a maioria de meus mais de duzentos leitores diários, ao ver o título desta blogada não sabe onde fica Iguatu. Também eu, que julgo que tenha expertise em Geografia (e esse julgamento ancoro no fato de já ter estado, enquanto professor, em todas as 28 unidades da federação), não sabia até janeiro deste ano, quando o Professor Tadeu Teixeira de Souza agendou esta minha estada aqui. Meus conhecimentos em corografia do Brasil [outro senso comum: poucos sabem que: corografia (grego khôros, -ou, espaço, lugar + -grafia) é a descrição particular de uma nação ou de uma área geográfica] espraiaram-se com minhas viagens.
Mas afinal onde estou e o que faço em Iguatu? Cheguei a esta simpática cidade cearense, mais de 12 horas de deixar minha casa nesta quarta-feira. Pela manhã viajei Porto Alegre/Brasília e depois Brasília/Juazeiro do Norte.
Iguatu tem cerca de 100 mil habitantes e dista 380 Km da capital estadual; está cerca de 160 Km de Juazeiro do Norte e por isso a opção não é chegar por Fortaleza. O topônimo Iguatu é indígena: ig ou i (água) e catu (bom, boa) significado rio bom ou água boa. É uma alusão a grande lagoa, a maior do estado do Ceará, situada na parte leste da cidade.
Quando cheguei a Juazeiro do Norte meu anfitrião Tadeu e o Senhor Raimundo, competente motorista, de maneira atenciosa acolheram meu pedido e fomos, antes de vir a Iguatu, ver estátua do Padre Cícero# e o conjunto memorial.
# Cícero Romão Batista (Crato, 24 de março de 1844 — Juazeiro do Norte, 20 de
julho de 1934) foi um sacerdote católico. Na devoção popular, é conhecido como Padre Cícero ou Padim Ciço. Carismático, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará bem como do Nordeste.
Em março de 2001, foi escolhido "O Cearense do Século" em votação promovida pela TV Verdes Mares em parceria com a Rede Globo de televisão. Em julho de 2012, foi eleito um dos "100 maiores brasileiros de todos os tempos" em concurso realizado pelo SBT com a BBC. Na foto se pode ver ele colocando a mão sobre minha cabeça.


Disse, assim onde estou. O que vim fazer em Iguatu? Tenho um conjunto de 5 palestra por convite de três entidades: 1) Instituto Federal do Ceará – Campus Iguatu; 2) Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação, órgão estadual que coordena regionalmente sete municípios e faz parcerias com as redes municipais; e 3) Ações educativas do SESC.
Ontem, à noite falei na 4ª Semana de Química do IF-CE. Recebi o reconhecimento de trabalho de maneira muito carinhosa. Hoje pela manhã e tarde trabalho com professores e alunos do ensino médio, selecionado pela CRED. À noite, falo para professores das redes estadual e municipais. Na sexta, pela manhã falo no SESC e no começo da tarde retorno a Porto Alegre.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

19.- Nós somos os ‘anunciantes’ da Wikipédia.


ANO
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Uma vez aprendi algo como: ‘que não saiba tua mão esquerda, o bem que fez a tua mão direita’. Isto é não devemos alardear o bem que fazemos. Não sei se ainda se prega tal. Se isto é ainda é recomendável hoje. Vou transgredir. Minha transgressão tem uma boa intenção. Afinal tenho que arranjar uma desculpa para o pavonear-me. Fica de mau tom, uma posição: ‘olhem como fiz o bem!’
 Recebi ontem à noite uma mensagem. Eis excertos da mesma:
Obrigado pela sua contribuição inestimável que leva conhecimento a todo ser humano ao redor do mundo [...] Durante o ano passado, doações como a sua alimentaram nossos esforços para expandir a enciclopédia em 287 línguas e para torná-la mais acessível por todo o mundo. Nós nos esforçamos mais para impactar aqueles que não têm acesso à educação de outra forma. Trazemos conhecimento para pessoas como Akshaya Iyengar de Solânea, na Índia. Ao crescer nessa pequena cidade de fabricação têxtil, ela usou a Wikipédia como sua fonte primária de aprendizagem. Para os estudantes nessas áreas, onde os livros são escassos, mas o acesso à Internet móvel existe, a Wikipédia é instrumental. Akshaya seguiu até se formar na faculdade na Índia e agora trabalha como engenheira de software nos Estados Unidos. Ela credita à Wikipédia o fornecimento de metade de seu conhecimento.
Essa história não é única. Nossa missão é sublime e apresenta grandes desafios. A maioria das pessoas que usa a Wikipédia fica surpresa ao ouvir que ela é gerida por uma organização sem fins lucrativos e financiada por suas doações. A cada ano, apenas um número suficiente de pessoas doam para manter a soma de todo o conhecimento humano disponível para todos. Obrigado por tornar essa missão possível.
Em nome do meio bilhão de pessoas que leem a Wikipédia, e milhares de editores voluntários, e dos funcionários da Fundação, eu lhe agradeço por manter a Wikipédia online e livre de anúncios neste ano.
Assim, menos do que para dizer o que fiz, conto que minha oferta foi por um sentimento de gratidão. A Wikipédia precisa e ela merece.
A Wikipédia, criada em 2001, com quase uma década e meia de existência, o site possui mais de 32 milhões de artigos, escritos em 287 idiomas, e uma visitação média mensal de 500 milhões de pessoas. “Quando falamos sobre a distribuição da Wikipédia em todo o mundo, estamos falando de política e de acesso ao conhecimento, pois esta é uma ferramenta muito importante", disse Jimmy Wales, co-fundador da Wikipédia no Fronteira do Pensamento, em Porto Alegre em 22 de junho. 
Globalmente, a Wikipédia não é forte em todos os lugares. Cerca de dez idiomas possuem mais de 1 milhão de artigos. Do restante, 48 idiomas contam com 100 mil artigos; 128 idiomas, com 10 mil; e 234 idiomas, com menos de mil artigos. Inglês, espanhol e português possuem muitas entradas, mas islandês, estoniano, norueguês, sueco e finlandês também são muito presentes na Wikipédia. Para Wales, o clima é uma das explicações disso, além da educação e do acesso à banda larga. “No Brasil, é mais gostoso ficar fora de casa. Mas nesses países do norte, da Escandinávia, não se tem o que fazer, e as pessoas ficam muito em casa e escrevem muitos artigos para a Wikipédia", ressaltou. Do Brasil e escritos em português, há 876 mil artigos. E, refletindo uma posição da Wikipédia de apoiar as pessoas que são apaixonadas por suas línguas maternas, há 2.988 artigos escritos em guarani.
Tudo isso sem anunciantes. São as doações, usualmente pequenas, que garantem a Wikipédia. Está aí uma dica. É muito bom, ajudar. Vale a pena.

domingo, 16 de agosto de 2015

16.- DAS FLORADAS DE MINHA CIDADE


ANO
 10
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EDIÇÃO
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Parece que ao inverno, que deveria por ora estar aquerenciado em nossas geografias, não apetece estar conosco em período de crises. Crises que não são privativas do Rio Grande do Sul, que esta semana teve seus míseros trocados confiscados pela União, por estar inadimplente. A crise não é gaúcha, é nacional. A maioria dos brasileiros está a amargar crises geradas pelos continuados reverberar de dificuldades impostas à/pela Presidente. O Planeta está crise. Ouvimos o escritor português Valter Hugo Mãe, no Fronteiras do Pensamento dizer que, em sua recente visita à Grécia, soube que 25% dos domicílios residenciais não têm água ou energia elétrica pois seus habitantes não ter condições financeiras para pagar por essas duas benesses.
Mas, resolvi falar de flores neste domingo. Ou melhor, falar e mostrar flores. Porto Alegre tem floradas sazonais. Paineiras, guapuruvús, ipês, jacarandás e muitas outras as árvores têm suas floradas em uma palheta governada pelas estações do ano.
Nestes dias, agosto se transmutou em um veranico atípico com temperaturas tórridas próprias de dezembro. Ora, uma secura no ar comparada a clima saariano e ora uma umidade nórdica. Foram registradas as maiores temperaturas mínimas em agosto em mais de 100 anos.
Estamos nos dias dos ipês e das azaleias (a da foto é do meu jardim). Se calores temporãos atrapalham humanos, imagine-se o estonteamento das árvores. Esta semana vi, em Porto Alegre, vários ipês-amarelos, que usualmente solenizam a semana da Pátria, já floridos. Os ipês-rosa estão magníficos. Os ipês-brancos são sempre mais recatados por estas geografias ainda não deram presença. Trago amostra tomada na avenida Goethe, colhida na quinta-feira, ao voltar do Centro Universitário Metodista do IPA.
Não são apenas os sabiás que estão anunciando que frio passou. Minha amoreira (no 8º piso), que está na foto, há não muitos dias estava semidespida. Agora não só vestes com garbo, mas já oferece amoras sumarentas.
Já vencemos a metade agosto. Logo ali, está setembro. Então, teremos uma primavera de verdade. Por ora curtamos as flores temporãs. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

12.- A SAUDADE É A MEMÓRIA DO CORAÇÃO


ANO
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A segunda semana do letivo 2015/2 já chega à metade. Nesta sexta e sábado tenho as primeiras aulas de dois seminários no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Na noite desta quarta profiro a aula inaugural para alunos dos cursos de Engenharia do Centro Universitário Metodista do IPA. Vou com eles tentar assestar óculos para olharem o mundo.
Mas esta data é muito especial na minha história. Faço uma homenagem muito especial para Maria Clara Volkweiss Chassot (12AGO1909—10SET2001), a minha mãe. Hoje, ela faz 106 anos, mesmo sepultada no bucólico cemitério do Faxinal, em Montenegro, no momento que ruíam as torres do WTC em Nova Iorque, o verbo é no presente (ela faz), pois adiro à tese, que uma pessoa só morre quando a esquecemos. Ela está aqui. A vejo muito comigo na saudade, especialmente neste seu dia natalício, que catalisa tantos evocações de temos já distantes. Adiro ao poeta que diz 'A saudade é a memória do coração’.
Alguém, nascido no último quartel do Século 20, se for evocar, a um tempo, a figura materna, muito provavelmente não o faria no mesmo cenário que eu escolho. Parece natural que nessa blogada, rememore coisas de minha infância, pois são essas que nos fazem mais filhos, isso é mais próximos da figura materna.
Hoje, em para recordações de minha mãe, elejo a cozinha para embalar o passado. Esta, muito provavelmente, é o local de nossas casas que mais modificações sofreu no espaço de uma ou duas gerações. Rubem Alves, o educador-poeta, fala em uma cozinha “lenta, erótica, lugar onde a química está mais próxima da vida e do prazer, cozinha velha, quem sabe com alguns picumãs pendurados no teto, testemunhos de que até mesmo as aranhas se sentem bem ali”. Esta só mais existe em nossos sonhos.
A casa de hoje, se comparada com a casa de nossas bisavós ou até de avós apresenta muitas modificações. Mas, se uma destas nossas ancestrais entrasse em nossas casas hoje, muito provavelmente em nenhuma dependência se acharia mais estranha que em uma de nossas assépticas e inodoras cozinhas hodiernas, na qual o onipresente fogão à lenha foi substituído por discreto forno de micro-ondas.
Visitemos uma cozinha do começo da segunda metade deste século. E vejam o quando meu retroceder temporal é pequeno... Nossas primeiras surpresas serão os odores. O fogão à lenha, com um crepitar que começava ainda de madrugada e se estendia, quase ininterruptamente, até noite adentro, quando, terminados os afazeres, a família se reunia junto ao mesmo, para, na evocação do passado, transmitir aos mais jovens a história dos ancestrais. Quanto a televisão hoje castra a transmissão das histórias orais (e das escritas)!
Só o fogão determinava uma série de fazeres domésticos que hoje inexistem. Uma das últimas tarefas da noite era arrumar o fogo para o dia seguinte. Havia rituais. Duas achas de lenha em cada lado da pequena fornalha, no meio destas maravalhas e sobre estas, lenha fina. Nesta simples descrição há alguns trabalhos. A lenha era adquirida em pedaços, de cerca de um metro, e era serrada, em casa, em achas menores. Cada pedaço originava quatro achas. As maravalhas – resultantes do aplainar a madeira – eram requisitos preciosos. Eu era filho de marceneiro, logo tínhamos produção própria de maravalha. Outros havia que precisavam buscar em alguma marcenaria. Um sucedâneo era o papel, mas é preciso recordar que a assinatura de jornais era bastante incomum, e, assim, jornais ou mesmo papéis velhos sempre eram aproveitados para outros fins e menos usados como combustíveis. O preparo da lenha fina (ou gravetos) era faina que tinha suas exigências. 
Outro trabalho noturno, que acontecia sob o olhar vigilante da mãe, ao final das lides, era o escolher o feijão. Uma tarefa muito exigente, também destinada aos mais jovens, pois se precisava ter um bom olho, para saber descartar aquilo que era impróprio para cozer. Havia sempre muita terra, restos de vegetais, grãos estragados e sementes estranhas. Estas sempre despertavam minha curiosidade. Mas era desestimulado a plantá-las, pois poderiam ser algum inço daninho. A eficiência do escolhedor era medida pela quantidade e variedade de rejeitos que ele apresentava no final da sua faina. O feijão, depois de escolhido, ia para uma bacia, usualmente de barro, onde ficava de molho até a manhã seguinte. Quando o feijão era colocado de molho, vinha mais um teste para verificar a habilidade do catador. Se houvesse materiais sobrenadantes, como grãos chochos ou algum resto foliar, é que a escolha não fora bem feita. Vale referir que o feijão era o prato diário, sendo os almoços de domingo distinguidos pela ausência do feijão, o que trazia a conotação festiva aos mesmos
Outra lide desta hora da noite, conhecida como “depois da janta”, era algo que na minha casa ocorria nas noites de terças e sextas-feiras: o amassar o pão. Esse era um trabalho materno. Era algo que tinha muito ritual. Tínhamos uma grande gamela de madeira, feita pelo meu pai. Nesta eram colocadas as rigorosas medidas de farinha. A estas se adicionavam água, sal, ovos e o ingrediente que para mim era mágico: o fermento. Sua eficiência garantia algo importante: o pão não ficaria embatumado. O crescer da massa era algo bonito. Nas noites frias a gamela precisava ser coberta, para as magias não escaparem. Havia frustrações, nas madrugadas, quando a massa não crescia. Às vezes, acontecia algo imprevisto. A massa crescia demais e transbordava. Talvez, foram as interrogações sobre a magia do fermento que me fizeram professor de Química.
Havia, em datas especiais, preparativos diferenciados na padaria doméstica. O pão sovado era apenas para certos dias. O sovar o pão tinha também ares de encantamento. As roscas eram produzidas nos períodos nos quais a colônia produzia o polvilho. A qualidade das roscas atestava também a competência do produtor do polvilho. As cucas eram somente para algum aniversário ou festas religiosas. Em função da temporada as cucas podiam ser de laranja ou de uva. As passas e os adornos solenizavam os acontecimentos.
Nas manhãs de quartas e sábados bem cedo o forno estava em brasas, e depois assistíamos ao ritual de enfornar as diferentes formas com os pães. Esta operação jamais era delegada pela mãe. Havia necessidade de precisão. O forno de barro era algo presente na maioria das casas, mesmo no perímetro urbano das cidades. Havia ainda a alternativa de se usar o “forninho” do fogão à lenha. O pão feito em padaria comercial era algo tão raro, que a eventualidade parecia uma festa, pois sua marca mais característica era não ter a côdea, usualmente mais dura, dos pães caseiros.
Em todas essas tarefas – e em muitas outra como a criação de galinhas e de um porco, a lavação da casa e da roupa, como a costura de todas as roupas, que ainda quero evocar em outro dia – a figura da mãe era onipresente. 
Evocar e narrar esses fazeres é lembrar com saudades minha mãe. Nossos filhos e netos evocarão mães professoras, médicas, engenheiras, arquitetas, advogadas, pesquisadoras... os de minha geração certamente lembrarão a mãe que nas celebrações laudávamos como ‘a rainha do lar’. E é a esta que homenageio, aqui e agora.

domingo, 9 de agosto de 2015

09.- PINGOS E RESPINGOS SABÁTICOS.

ANO
 10
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EDIÇÃO
 3070

Quando na segunda-feira, ouvi o escritor português Valter Hugo Mãe falando no Fronteiras do Pensamento acerca de sua necessidade de escrever, identifiquei-me com ele. É provável que, por tal, tenha resolvido escrevinhar algo desta semana.
Na manhã de ontem, mandei na lista do WhatsApp um convite ratificando a comemoração, em minha casa, pelo dia dos pais. Enderecei-a a “Filhas e Filhos; netas e netos”. Logo, em mensagem particular, fui, carinhosamente, advertido: “Esqueceste noras e genros”. Achei uma desculpa. “Considero as/os como filhas/filhos!” Sem muitos melindres, recuperei-me.
A semana inaugural do 2015/2 letivo foi fabulosa. Mesmo que tivéssemos as maiores temperaturas mínimas em agosto em mais de 100 anos. Dizia aqui, na segunda-feira que dentre os muitos bônus de ser professor, um é o de, a cada semestre, termos novas turmas e, algumas vezes, novas disciplinas. Nesta semana fiz estreia em três turmas.
Na manhã segunda dei a primeira aula de Teorias do Desenvolvimento Humano para um grupo de doze alunas e alunos que iniciava o curso de Licenciatura em Música. É significativo acompanhar os rituais, e de maneira especial, as emoções de acesso à Universidade. Alguns são da primeira geração que chega ao ensino superior.
 No mesmo dia à tarde foi a primeira aula de Enfoque Histórico e Sócio Antropológico na Universidade do Adulto Maior, para um grupo de mais de mais de meia centena de participantes, muitos dos quais estão ‘repetindo’ até a terceira ou quarta vez. Mesmo em sua maioria setentinhas ou mais, estavam gárrulos como alunos chegando a primeira vez à escola.
Na noite de terça tive a primeira aula de Ética, Sociedade e Meio Ambiente para cinquenta alunas e alunos de 5º semestre dos cursos de Música (na sua maioria), de Pedagogia e Educação Física. A maior parte já havia sido meus alunos em semestres anteriores. Anunciei, e causou agrado, que vamos trabalhar a Laudato sí’.
A propósito da encíclica do papa Francisco, nesta semana, por duas vezes, foi tema de minhas falas, além das referências em sala de aula.
Na quinta, como antecipei na blogada de quarta, fui um dos quatro participantes de painel "Oikouméne: a nossa casa comum", que numa promoção do NEEHV–Núcleo de Estudos de Educação, Espiritualidade e Histórias de Vida buscou trazer reflexões acerca da Laudato si’. Foi uma atividade muito enriquecedora pelos diferentes enfoques trazidos pelos outros três painelistas (um biólogo, um teólogo e um educador).
Na noite de sexta, a convite das coordenações dos dois mestrados (Reabilitação e Inclusão; Biociências e Reabilitação) fiz uma fala mais extensa acerca da encíclica Já tendo escrito aqui duas edição acerca da Laudato si’: Sobre o Cuidado da Casa Comum (09 de julho e 05 de agosto) faço apenas uma citação que não trouxe antes.
A teóloga estadunidense Christiana Peppard, professora da Fordham University de Nova Iorque afirma: “A Laudato Si’ é um documento fascinante no tocante à religião e à ciência. Ela recorre aos ensinamentos consagrados da Igreja segundo os quais a ciência e a fé não estão em contradição e diz duas coisas. Em primeiro lugar, a fé não deveria contradizer o que a ciência identifica como verdadeiro. Isso implica que as interpretações da Escritura podem mudar — uma ideia que o próprio Francisco exige em relação ao “antropocentrismo moderno”! — e isso é muito importante. Mas, em segundo lugar, Francisco destaca, com razão, que a ciência, em e por si mesma, não tem uma bússola moral suficiente. É preciso haver fontes de sabedoria e princípios naturais reunidos a partir de culturas e tradições religiosas para ajudar a dar suporte às compreensões humanas da finalidade da ciência, de como ela deveria ser praticada e do que significa para o comportamento humano” (IHU on Line, 03/08/2015 469, p.117).
Ao fim e ao cabo, votos que neste domingo dedicado aos pais, tenhamos muitas alegrias no homenagear e no ser homenageados. Vale curtir (numa acepção pré-facebook) muito esse dia comemorativo.